São Francisco, 2014

Cautelosamente, Jonas abriu os olhos tentando reconhecer o ambiente em seu redor. O bip rítmico que emanava dos aparelhos a que estava ligado indicava que ainda não tinha sido daquela vez que o Marra-Man tinha sido derrubado.

O corpo dele parecia um caco, mas ele constatou, suspirando de alívio, que a mente se mantinha tão arguta quanto sempre. Após carregar numa campainha para pedir auxílio, uma jovem enfermeira se aproximou dele verificando os seus sinais vitais, sorrindo de uma forma simultaneamente afetada e acanhada com a proximidade ao empresário. Bem, talvez o corpo dele não estivesse assim com tão mau aspeto, atendendo ao rubor que encheu a face dela.

Atualizando os dados na ficha dele, a enfermeira indicou a Jonas que em breve o médico o viria ver, realçando que ele tinha tido muita sorte em ter escapado daquele acidente com tão poucas sequelas aparentes. Tinha sido como se ele tivesse tido proteção divina.

“É mais provável que tenha sido a proteção do próprio demônio.” - tinha pensado o empresário.

Sozinho no quarto, Jonas se perdia entre reminiscências do passado e do presente. Antes de sair, a enfermeira lhe tinha perguntado se ele queria receber visitas. O silêncio do magnata tinha sido a sua única resposta.

Que visitas? Por culpa da sua luxúria tinha precipitado um divórcio que o tinha separado irremediavelmente de Pamela. Por culpa do seu orgulho tinha perdido o amor dos filhos, os afastando quando ele só os queria perto dele. E agora quem é que lhe sobrava para estar do lado dele, relembrando-o da sua humanidade? Talvez o seu fiel amigo Brian, mas mesmo ele se encontrava ausente, resolvendo os seus problemas com a atual namorada, a temperamental atriz Maria Vergara.

Jonas, que estava habituado a auditórios gigantescos, se sentia mínimo assim, sozinho, naquele pequeno quarto de recobro. Sina, destino, castigo ou uma wake up call, o que fosse, ele não sabia se merecia essa segunda oportunidade. Mas talvez não fizesse mal em tentar.

Alguém entreabriu a porta e uma cabeça loira apareceu no espaço entre a porta e a parede, umedecendo os olhos do Marra-Man.

Peanuts….- disse ele com a voz embargada, emocionado até à medula.

Era a primeira vez em mais de um ano em que estava debaixo do mesmo teto que a filha. Deixando correr livremente as lágrimas, ela correu para o seu dad , se aninhando nos braços dele, que perdeu também o controlo sobre os seus dutos lacrimais.

Megan o abraçou apertado, provocando um esgar de dor por parte de Jonas, mas ele não estava minimamente preocupado com isso.

– Você está proibido de voltar like, a dar um susto desses na gente, dad.- disse ela, a tentar engolir as lágrimas, quase já no colo do pai.

Dad. Era tudo quanto ecoava dentro da cabeça de Jonas. A mente dele viajou até dezanove anos antes, até ao dia em que Megan tinha nascido. Numa tribo africana, perdida do meio do nada, a parteira local tinha depositado um pacotinho bem embrulhado nos braços de Jonas. Aflito, sem saber direito como pegar naquele ser tão frágil, ele se enterneceu com um sorriso reflexo daquele bebê que agarrava instintivamente o dedo dele.

Jack, que tinha acabado de chegar, impecável no seu fato de linho branco, tinha resolvido advertir o genro, estando muito bem-humorado.

Careful Jonas, uma little girl tem sempre o seu dad enrolado em volta do seu dedo mindinho.- disse ele.

Todos riram e Pamela, recostada na cama, ainda contrapôs com um “oh, daddy”, mas ela própria atestava a veracidade da afirmação.

Que fosse verdade. Jonas não queria saber. Agora ele seria um dad. E aquela garotinha seria sim uma daddy´s little girl, amada e protegida para além de todos os limites, desde aquele momento até ao dia em que ele morresse. A filha que ele escolheu. A filha que lhe estava destinada. A filha dele.

Jonas foi arrancado dos seus devaneios pelas lágrimas que voltaram a cair dos olhos de Megan. Tentando acalmá-la, ele improvisava uma posição semelhante à que adotava quando ela era bem pequena e ele a queria ninar.

– O doctor diz que você vai ficar alright… mas eu tive tanto medo, dad. Medo de não chegar a tempo, medo de nunca mais te ver, medo de ser too late e não poder dizer que… i love you, dad. Não consigo imaginar um mundo sem você.- disse ela, se certificando que ele estava mesmo ali, in one piece.

Eles podiam não partilhar um laço de sangue, mas partilhavam um vínculo ainda mais forte, um que não se podia avaliar através de um exame, mas que tinha sido construído tijolo a tijolo por um pai e uma filha que se tinham encontrado um ao outro e que, mesmo que se desencontrassem momentaneamente, sempre descobriam um caminho que os voltava a unir.

– Pensei que você nunca mais me queria ver- provocou Jonas, esperando assim ver um lado mais buliçoso da filha.

Don´t be silly. – contrapôs ela, sorrindo e apertando a bochecha dele.- Você vai ser sempre o meu dad.

– E o Davi? – perguntou ele.

Quando foram avisados do acidente de Jonas, Davi e Megan correram para o aeroporto e apanharam o primeiro voo para São Francisco. Em tempo recorde, já tinham passado a muralha de jornalistas em volta do hospital e esperavam ansiosamente, numa sala reservada para o efeito, por notícias sobre o estado de saúde do pai.

Para Davi era como voltar atrás no tempo. Subitamente, ele tinha de novo oito anos e aguardava sozinho numa sala de espera de um hospital do Rio por notícias que tardavam a chegar. Naquela época, uma médica com os olhos a transbordar de pena se agachou na sua frente e, sem ter como minorar o efeito da notícia, lhe explicou que os seus pais não tinham resistido aos ferimentos do acidente. Davi era, a partir daquele momento, órfão.

Agora ele se arriscava a passar por aquilo novamente. Só que naquele momento ele não estava só no seu sofrimento. Sentada do lado dele estava Megan, com a cabeça apoiada no ombro dele, tentando segurar as lágrimas. Ele entrelaçou os dedos de uma mão com os da mão dela, rezando em silêncio para ter mais uma oportunidade para voltar a ver a cabeça dura do pai dele.

Davi amava Jonas, não apesar dos defeitos dele, mas com defeitos e tudo mais. Podia ser pelos laços biológicos que partilhavam, mas Davi suspeitava que não. Ele reconhecia em Jonas e nele próprio uma sintonia de almas e de personalidades. Eles tinham em comum o se debaterem numa luta interna entre o bem e o mal, tendo o potencial para a grandeza e para a mesquinhez na mesma medida. Talvez a salvação dos dois fosse também a mesma.

Quando o médico se aproximou do casal, eles se levantaram de um impulso e quando ele lhes explicou que os exames indicavam que Jonas iria fazer uma recuperação completa, Megan e Davi caíram nos braços um do outro, murmurando palavras de agradecimento ao universo.

Contudo, quando a equipa médica deu o aval para eles poderem visitar o pai, Davi ficou colado na cadeira, sem se conseguir levantar.

– Megan, entra você primeiro.- disse ele, agarrando a cadeira com as mãos.- Eu entro já de seguida.

Ela compreendeu, afagou a mão dele e o beijou antes de entrar. Ele ficou ali, na indecisão, durante uns bons minutos, mas acabou por entrar também.

Para quem conhecia Jonas Marra era difícil imaginá-lo assim, prostrado numa cama, com um conjunto de fios ligados ao corpo e uma série de ligaduras visíveis, ainda que mantivesse um aparente bom humor pelo ar com que olhava para a filha.

Davi se aproximou deles, chamando imediatamente a atenção do pai, cuja cara se iluminou.

– Meu filho, vem cá…- pediu o Marra mais velho, com a linguagem não verbal de quem pede um abraço.

Cuidadosamente, Davi apertou Jonas num abraço, deixando cair algumas lágrimas.

– Pai… o meu pai…meu pai. – balbuciou o nerd, antes de cair numa crise de choro.

Jonas colocou a cabeça do filho no peito dele e o beijou na testa, mantendo o abraço, enquanto Megan afagava os cabelos do nerd.

– Eu vou ser sempre o seu pai, Davi. E você vai ser sempre o meu filho. – disse o empresário emocionado, puxando Megan para se sentar do lado dele. – Vocês dois vão ser sempre o meu maior tesouro, a razão da minha existência. Eu amo vocês e se foi preciso esse acidente para eu ter vocês dois aqui comigo, então bendito acidente.

Rio de Janeiro, seis semanas depois

Sentados na areia, com o mar azul ao fundo batendo forte no areal, Ernesto conversava com Davi sobre os eventos das semanas anteriores.

– Então é verdade que o seu pai vai mesmo trazer a Marra para o Brasil? – tinha perguntado ele ao nerd.

– É verdade, sim. – confirmou Davi – Já estão terminando a reforma no prédio e eu não duvido nada que ele consiga fazer a inauguração em breve.

– Caraca, o seu pai é incrível. Nem bem há poucas semanas esteve perto da morte e agora já tem um projeto dessa envergadura. – comentou Ernesto, devidamente impressionado.

Davi ficou em silêncio, sem saber o que pensar. Nem bem tinha feito as pazes com o pai, já Jonas se tinha saído com aquela ideia, apresentando um plano tão bem delineado que o nerd tinha ficado na dúvida se aquele não seria o plano do pai desde o início. Eram demasiadas coincidências na vida do Marra-Man. Poderia Davi realmente confiar nas intenções de Jonas Marra?

Os olhos de Davi se voltaram na direção de Megan que, conjuntamente com Sandra, ajudavam Emília e algumas crianças da PLUGAR a construir castelos na areia. Pelo menos aquela situação tinha contribuído para a felicidade da loira, realizada ao ter o seu dad de volta.

Como transmissão de pensamentos, a americana se levantou e veio ter com eles, tirando as pulseiras que atirou na toalha.

– Onde é que a senhorita pensa que vai? – perguntou Davi.

– Nadar.- respondeu ela, como se fosse o óbvio a se fazer.

– Não vai não, amor. O mar está muito picado e eu estou ficando velho pra te ir buscar. – disse o nerd.

– Tudo bem, old man. – contra-atacou ela, se apoiando na coxa de Davi para se sentar com eles. – So, what´s new?

Ernesto riu com a interação deles e se lembrou de comentar:

– Megan, só hoje vi o seu carrão novo. É lindo. É o modelo novo, não é?

Yeah. – assentiu ela – Prenda de grandpa.

– É.- confirmou Davi, envolvendo com um braço a cintura dela. - Essa aí só gosta de andar de carrão.

Emília veio ter com eles para Megan lhe repassar o protetor solar.

– Pronto. All done, doll. – disse a loira quando terminou, dando um beijo na cunhada.

Reparando na pele branca da americana, Ernesto se voluntariou para passar protetor nas costas dela, ganhando um olhar com uma sobrancelha levantada de Davi.

– No maior respeito, claro. – acrescentou Ernesto.

Davi riu e começou a passar o protetor nas costas de Megan.

– Cara, há outro assunto que a gente nunca mais falou. Como é que ficou aquela situação com o Júnior? - perguntou Ernesto.

Júnior, o projeto da vida de Davi, era um programa que ele tinha levado anos a desenvolver, com o objectivo de facilitar a aprendizagem de competências de informática em crianças pequenas. Sabendo como a programação o tinha ajudado quando ele era pequeno, Davi queria agora ajudar outras crianças com o seu programa, o tornando gratuito.

Contudo, todos os possíveis parceiros que ele tinha contatado para o ajudarem com a produção e distribuição do programa lhe tinham dado com a porta na cara, mal sabiam de quem ele era filho.

– É, cara.- insistia Ernesto – Agora que você voltou às boas com o seu pai, porque é que você não lhe pede ajuda?

– Porque esse é o meu projeto e eu quero mostrar que eu consigo fazer isso por mérito próprio.- respondeu Davi enquanto passava protetor nos braços da bad girl e acabando por acrescentar.- E foi por isso que eu recusei também a ajuda da Pamela e dos avós da Megan.- concluiu ele.

Megan, perdida nas suas ideias, já bolava um conceito:

Yeah, baby. Mas nós já falamos disso. Entre nós os três, nós temos a capacidade de fazer avançar esse projecto. Think about it. Você é um grande programador, Ernesto um grande salesperson e eu a melhor PR que vocês podiam ter. Só precisamos de investidores externos.

Um sorriso enorme surgiu em Davi e Ernesto e os três se entreolharam. Porque não?

As crianças vieram a correr ter com eles por já ser hora do lanche. Não podia ser coincidência. As pessoas do amanhã. Tomorrow people. Alguma coisa muito boa estava nascendo ali.

Não muito longe dali, na mansão Marra, a movimentação não parava. Enquanto não terminavam as obras no edifício da Marra Brasil, Jonas trabalhava a partir de casa. Tinha-lhe sido muito conveniente ter ficado com a mansão do Rio, aquando do divórcio. Com um novo fôlego perante a vida, ele sentia de novo aquele entusiasmo que acompanha um projeto que se inicia.

Muito desse ânimo vinha das visitas dos filhos, que tinham voltado a frequentar aquela casa. Tudo tinha voltado a encaixar nos eixos e ele faria o possível e o impossível para manter as coisas dessa forma. Ele nunca mais deixaria os filhos se afastarem dele.

Murphy veio ter com Jonas para o avisar que a candidata a nova assessora de imprensa da Marra havia chegado. Tendo sido escolhida a dedo pelo próprio empresário, ele se levantou para a ir receber, apoiado numa bengala que incrivelmente só lhe aumentava o charme. O apoio seria temporário, só até terminarem as sessões de fisioterapia.

Verônica Monteiro tinha ficado muito surpreendida quando recebeu um convite para integrar a equipa da Marra Brasil. Logo ela, que não percebia rigorosamente nada de tecnologia. Só podia ser erro, com certeza.

Ela não podia negar que tinha ficado mexida ao voltar a ver aquele homem, que tantas vezes tinha esbarrado nela no passado. Ele sempre a intrigava, com as diferentes camadas intricadas da sua personalidade. Talvez Jonas Marra fosse a grande personagem de um livro ainda por escrever.

Eles começaram por discutir trivialidades ligadas ao cargo, mas a consciência de Verônica impunha que ela se abrisse com ele.

– Jonas, eu agradeço muito a oportunidade, mas eu acho que não tenho a capacidade para fazer o trabalho que você espera.

– Verônica, você tem o que me interessa: integridade. O resto você aprende.

Extraordinário como Jonas nunca deixava de a surpreender. Verônica aceitou o trabalho na hora.

Com a equipa quase completa e as obras terminando, Jonas se sentia mais tranquilo. Se aquele era o Hail Mary dele, então ele sairia por cima.

Quando ele teve alta do hospital e fez uma declaração pública avisando que iria levar a Marra para o Brasil, um colérico Jack teve uma conversa séria com ele.

Are you crazy?!!! O que você fez foi altamente irresponsável, Jonas.- se queixou o americano.

– Qual é o problema, Jack? Eu quero estar próximo dos meus filhos e as ações da Marra até subiram.

– Por pura sorte. Dumb luck. Jonas, não é de hoje que as suas decisões estão colocando a empresa em perigo, por isso it´s over. A partir de hoje, você deixa de ser o presidente da Marra.

O Marra-Man deixou transparecer a sua raiva, apertando nervosamente o apoio de braço da poltrona.

– Jack, você não manda na minha empresa.

Oh, yes, i do.- respondeu o velho Parker, rodando o copo de uísque - A Pam me passou uma procuração das ações dela e tenho o apoio dos restantes acionistas. Vamos esperar alguns meses até fazer o anúncio oficial, para não perder mais dinheiro na bolsa, mas depois disso eu passo a ser o presidente oficial e a sede legal volta a ser na Califórnia.

Jonas estava atônito. Esperava um ataque de muita gente, mas não daquele homem que tinha sido o seu mentor durante tantos anos.

– Você não pode fazer isso, Jack. Não depois de tudo o que a gente passou.

– Apenas estou protegendo você de si próprio, Jonas.

Jack pausou momentaneamente. Durante anos, Jonas tinha sido como um filho para ele. Mesmo após o divórcio, Jack continuou a sentir o mesmo respeito e carinho que tinha por Jonas desde que ele era um garoto lutador de vinte e poucos anos a tentar singrar no mundo dos negócios e o velho Parker o ajudou.

Listen, Jonas, eu não te vou abandonar. Para não magoar a Megan, eu vou te deixar à frente de uma pequena sucursal no Brasil, mas i think… i know que você não tem mais estrutura para ficar à frente de tudo.- disse Jack, tentando apaziguar o ex-genro.

Jonas não o queria ouvir. Ele pensava que já deveria ter aprendido que não devia confiar em ninguém. Na vida era ou matar ou ser morto. Não poderia existir uma terceira opção.

Não se conseguindo levantar, por conta dos ferimentos, Jonas não conseguiu seguir Jack quando este abandonou o cômodo, só lhe restando berrar, para quem o conseguisse ouvir:

– Isso não fica assim! Ouviu, Jack? Você vai pagar muito caro por essa traição!

Gambiarra, 2014

Poucos dias antes da inauguração da Marra Brasil, Jack Parker se deslocou à Gambiarra para se despedir da neta. Ele tinha passado uma temporada no Brasil, mas tinha negócios urgentes para tratar em Lisboa e tinha um voo para apanhar em poucas horas.

Depois de limpar os óculos, ele tocou no bolso interno do casaco e entrou na PLUGAR, procurando o escritório dos fundos. Davi se levantou para o receber e Jack lhe deu um abraço apertado.

– Tudo bem, Jack?- perguntou o nerd, acrescentando - A Megan está lá fora, com as crianças.

I know. – anuiu o velho Parker.- Primeiro queria falar com você, kid.

– Claro, Jack, fala.

O último dos verdadeiros cowboys passou familiarmente o braço em volta dos ombros de Davi.

– Se para um dad, já custa se separar da sua little girl; para um grandpa é duas vezes pior. – disse ele, sorrindo – Mas eu tenho a certeza que a minha Megan soube escolher muito bem.

– Obrigado, Jack.- agradeceu um meio encabulado Davi, sem entender onde é que ele queria chegar.

O empresário percebeu a atrapalhação do jovem e resolveu concretizar a sua ideia. Jack tirou do bolso uma caixinha que abriu na frente de Davi.

– Este foi o anel que eu dei a Branca, quando a pedi em casamento. Pensei que não seria má ideia se você ficasse a tomar conta dele durante algum tempo, if you know what I mean?

Davi riu com o humor do americano. Ele não tinha dúvida que um dia ia pedir Megan em casamento, só não sabia ainda nem quando, nem como.

O nerd agradeceu a confiança de Jack, garantindo que ia tomar bem conta do anel e da sua futura dona.

Well, kid, só não me façam esperar muito porque eu ainda quero ver os meus bisnetos. – rematou o velho, batendo bonacheiramente nas costas de Davi.

Quando Megan entrou no escritório, eles se entreolharam divertidos, levantando as suspeitas da loira, mas rapidamente ela resolveu aproveitar o tempo para se aninhar bem nos braços do avô. Numa família espalhada por vários continentes, todos os abraços deveriam sim ser como aquele. Plenos, felizes, verdadeiros.

Bem no final do dia, estavam finalmente prontos para fechar a PLUGAR. Como se estavam a preparar para uma auditoria, estiveram todos ocupados a verificar a contabilidade, mas felizmente tinham conseguido terminar.

Só tinham sobrado Megan, que já estava encostada no ombro de Davi e Sandra que esperava Clint chegar da rua.

– Mãe, a gente está morrendo de fome. Será que o Clint vai demorar muito? – perguntava Davi.

Atirando um “não sei”, Sandra resolveu ligar a TV, para passar o tempo. Escolhendo um canal ao calha, os três ficaram petrificados com a notícia de última hora.

“Um avião de passageiros que descolou do aeroporto do Rio de Janeiro, com destino a Lisboa, terá caído a 450 quilômetros da costa portuguesa. Fontes adiantam que seguiam 278 pessoas a bordo, incluindo figuras conhecidas como o magnata da comunicação social Jack Parker. A companhia aérea confirmou que perdeu o contato e a probabilidade de existirem sobreviventes é ínfima….”

A voz da jornalista foi abafada pelos gritos de Megan, que não sabia como ventilar o seu desespero.

No…no….please, no….

Davi a abraçou de um lado e Sandra do outro. Aquilo não podia ser a ordem natural das coisas. Aquele buraco que tinha surgido repentinamente no peito de Megan, a esmagando, sugando as forças dela, reduzindo-a a uma casca oca, nada tinha de natural. De repente, Megan só viu a escuridão diante dela e perdeu a consciência.

Quando Clint chegou na casa de Megan, Davi saía do quarto.

– Como está a Megan?- perguntou o escocês.

Correndo nervosamente as mãos pelo cabelo, Davi acabou respondendo:

– A minha mãe deu um calmante para ela e ela apagou. Clint…. não dá mesmo para ter esperança, pois não?

I´m sorry Davi. Já começaram a operação para recolher os corpos.- explicou Clint, dando a entender que precisava dizer uma coisa séria ao nerd.

– O que é que você não me está dizendo? – perguntou Davi.

Se sentando e incentivando Davi a fazer o mesmo, Clint acabou por dizer:

– Davi, estão comentando que a queda do avião se deveu a uma falha estranha do software de navegação.

– E? – perguntou o mais jovem, sem nada entender.

– Esse software foi desenvolvido pessoalmente pelo próprio do Jonas Marra e ele tinha garantido que ele era impenetrável.- completou Clint, lançando a semente de uma terrível suspeita dentro da cabeça de Davi.