Capítulo 15

Gambiarra, 2012

– Eu também te amo, silly!- respondeu Megan, saltando no colo dele – Finally…- disse ela, quando ele lhe deu outro beijo de tirar o fôlego.

– Você me acha um panaca, não é? – perguntou ele, ao quebrar o beijo.

– No, mas se você demorasse muito mais tempo para se declarar eu ia acabar tendo que abanar você, baby. – respondeu ela, correndo o seu nariz adorável pela barba rala dele.

Ele riu e continuou a massagear as costas dela. Tinham passado tanto tempo juntos que se podiam tocar de olhos fechados, reconhecendo a anatomia do corpo um do outro recorrendo a memórias passadas e a desejos futuros.

– É weird para você? I mean por causa de dad… - perguntou ela, colocando as mãos na parte posterior do pescoço dele.

– Não, muito pelo contrário.- disse ele, dando pequenos beijos no pescoço dela - Mas para os outros pode ser estranho. Afinal, somos os dois filhos do Jonas.

– Mas não é errado, right? Ou somos like perverts? – riu-se ela.

Ele parou os beijos e olhou sério para Megan:

– Se eu tenho uma certeza, é que nós devemos estar juntos. – Davi a puxou para ele e lhe deu um beijo longo.- Nós nunca vamos ser errados.

Ficaram ali se curtindo, mas com a consciência de que o mundo lá fora aguardava. A voz do povo que acabaram ouvindo foi a de Dante, que bateu na porta.

– Davi, você está aí dentro? – perguntou ele.

Megan saiu de cima do seu baby boy e ele abriu a porta para o tio.

– Ué Davi, tá todo mundo te procurando.- disse ele, entrando na garagem. – A sua mãe está te esperando para cortar o bolo.

Davi trocou olhares com Megan, que já se tinha recomposto.

– Tá tio, a gente já vai. – respondeu ele, acompanhando Dante para a porta.

– So, o que fazemos agora?-perguntou a loira, que já tinha descido as escadas, quando Dante saiu.

– Não sei. – respondeu ele abraçando-a- Mas o melhor é a gente namorar escondido por agora. Só até a gente perceber como as pessoas vão reagir. Vai ser like Romeu e Julieta.- disse ele sorrindo.

– Oh yeah, até porque escondido é mais gostoso.- disse ela, se insinuando- Mas Davi, please, sem nenhuma tragédia no final, ok?

Saíram os dois da garagem com o segredo mais mal guardado de sempre. Sandra queria puxar a orelha do filho pelo desaparecimento, mas pela cara dele compreendeu que tinha sido por uma boa causa.

Depois de cortarem o bolo, Clint e Sandra entregaram a primeira fatia para Davi, a pessoa que inadvertidamente os tinha juntado.

Aquele era um dia que ninguém queria esquecer. A mãe de Davi fez questão de tirar muitas fotografias com o recém-marido e com o filho, puxando Megan para se juntar a eles.

– Então Megan, pensou na proposta que eu te fiz mais cedo? Vir para cá nas suas férias para dar aulas de inglês para as crianças da PLUGAR? – lhe perguntou Sandra.

Davi sentiu vontade de dar um beijo na mãe e olhou para Megan esperançoso.

–Yeah. Me parece uma boa ideia.- respondeu a americana, animada.

Linus veio se juntar aos quatro, se deitando aos pés de Megan. Clint recordou a todos que estava quase na hora de partir em lua de mel e perguntou à loira:

– So Megan, você vai ficar a semana toda?

– Yes. Vou ficar para o aniversário de Grandma Gláucia.- respondeu ela.

– Well, então ainda nos vamos voltar a ver no final da semana.- disse o escocês, dando um toque nas costas da esposa que compreendeu o que ele queria.

Debaixo de mais uma chuva de arroz Clint e Sandra se prepararam para entrar no carro. Sandra ainda se voltou para trás para dizer ao filho, sorrindo matreira:

– Juízo, Davi. Mas também não precisa ser demasiado.

Com uma pontaria admirável, ela virou as costas fazendo mira para acertar com o seu buquê em Megan, que o agarrou com uma prontidão notável.

Foi uma das semanas mais felizes da vida de Davi e Megan. Como um casal de adolescentes (que efectivamente eram) aproveitaram todos os momentos em que conseguiram escapar para namorar.

Linus tinha ciúmes quando via Megan com Davi, se metendo entre os dois, exigindo atenção por parte da americana, o que provocava o riso dela e indignação por parte do nerd.

Mais difícil foi tentar omitir dos outros o que se passava entre eles. Logo no segundo dia tinham sido pegos por Matias no maior amasso no sofá da sala de Rita.

– Finalmente! Tava difícil né cara!- foi o único comentário que o primo de Davi fez, levantando os dois polegares em sinal de aprovação.

Davi ficou mais vermelho que um pimento, atirando com as almofadas do sofá à figura de Matias e Megan sucumbiu a um ataque de riso.

As suspeitas que se começaram a levantar entre os habitantes da Gambiarra sobre o comportamento dos dois jovens Marra nem sempre abonaram a favor do jovem casal.

Eles entendiam que para quem os tinha visto crescer juntos, tendo o mesmo nome de pai na carteira de identidade, podia de fato parecer estranho vê-los juntos como namorados.

Eles estavam pouco se borrifando para os outros. No fundo, a preocupação de ambos estava centrada na reação da família mais próxima e, mesmo sem que Davi o quisesse admitir, na reação da única pessoa que podia ter de fato razão para não aceitar o namoro deles: o pai de ambos.

A semana já estava quase terminando e Davi, que tinha pegado emprestado o carro da mãe, levava consigo Megan para o almoço de aniversário de Gláucia, na casa da avó dos dois.

– Bem que hoje você podia ficar comigo lá em casa, baby. – tinha-lhe pedido Megan.

– Bad girl, não provoca que eu aceito. – respondeu ele, olhando de soslaio para ela.

Visto que Davi queria avançar devagar com ela, Megan tinha dormido sempre na mansão marra naquela semana e eles ainda não tinham passado uma noite juntos.

– Davi, eu estive à sua espera, mas não tenho a mínima vocação para freira, ok?- tinha-se queixado ela, colocando a mão na coxa dele, o que quase provocou um acidente de trânsito.

– Megan!- queixou-se ele, reassumindo o controlo do volante.

Quando estacionaram na garagem do prédio de Gláucia, Davi saiu do carro e veio abrir a porta para Megan, aproveitando para prensá-la contra o veículo, dizendo-lhe ao ouvido:

– A gente vai ter tempo para isso tudo. Calma, sua apressada.- concluiu ele com um beijo rápido.

Quando chegaram na porta dos Marra, foi Danusa quem os recebeu, com um olhar de agradecimento.

– Socorro, me ajudem. Eles hoje, para variar, estão impossíveis.- disse-lhes ela.

Gláucia Beatriz veio ter com eles demonstrando que já tinha começado o dia com um dos seus desportos favoritos: o levantamento de copo e envergando um traje que talvez fizesse sentido numa boate em 1977, mas não num almoço de família em 2012. Tudo normal para ela, portanto.

– Mas é o meu neto favorito! – disse ela, avançando sobre Davi para um abraço tão apertado que o fez quase cianótico.

Com ciúmes, Danilo não perdoou a falta de diplomacia de Gláucia:

– Vó, me lembra de novo: quantos anos a senhora está fazendo?- perguntou ele, levando um sopapo de Sílvio.

Danusa se deixou afundar no sofá e Megan se sentou do lado dela, contendo o riso.

O almoço decorreu com a confusão que não se podia dissociar dos Marra, mas não teria sido uma má ideia afastar as bebidas de Dona Gláucia Beatriz, visto que ela já opinava sobre o recente casamento de Sandra e Clint.

– Ué, ligeirinha a tua mãe! Já fisgou o terceiro!- tinha dito ela a Davi, batendo nas costas dele.

Danusa bateu com a mão na testa e pediu silenciosamente que o teto se abatesse na cabeça dela.

– Hey, Danusa, relax. Nós já conhecemos Grandma. Ninguém liga, ok?- disse-lhe Megan, tentando consolá-la.

São Francisco, 2012

Jonas Marra resolveu sair mais cedo do trabalho naquele dia. Tinha sido massacrado o dia todo por negócios que tinham corrido menos bem e pelos recados incessantes da mãe, que lhe tinha ligado sem parar, cobrando por ele ainda não lhe ter ligado a dar as felicitações pelo seu aniversário. Era o que mais lhe faltava.

Quando Jonas entrou em casa estranhou encontrar as luzes apagadas e um silêncio inquietante.

Subindo as escadas, entrou no quarto, procurando por Pamela que ele sabia estar em casa, encontrando-a numa situação de semi escuridão, apenas iluminada por um gélido abajur.

Quando ela voltou os seus olhos glaciais para ele, ele percebeu que ela havia estado a chorar, o que justificava os seus olhos inchados e a maquilhagem derretida.

– It´s over, Jonas.- disse-lhe ela, sem mexer mais um músculo.

– O quê? O que é que houve, Pam?- perguntou ele, se aproximando dela.

Ela fez uma cara de repulsa e ele acabou por se afastar dela. Pamela esticou o braço e ele pegou no tablet. Na página aberta via-se uma reportagem com provas fotográficas da ligação amorosa de Jonas com a esposa de um conhecido político inglês.

Eram ao fotos de Jonas com a ruiva, naquele malfadado elevador do hotel Ritz de Londres, três anos antes, onde Davi havia descoberto a traição do pai.

– Pam, me diz o que eu posso fazer. – pediu Jonas, colocando um joelho no chão, ao lado da esposa.

– There´s nothing to do Jonas. Dessa vez foi demasiado. Não há como voltar disso Marra- Man. – respondeu ela. – Quero que você deixe esta casa e a minha vida.

– Pamela, por favor, vamos tentar de novo. – suplicou ele.

Ela olhou para ele incrédula e abanando a cabeça respondeu:

– Who do you think I am? Eu sou Pamela Parker. Sai imediatamente daqui, antes que eu faça você se arrepender por ser um bastard, Jonas. Não pense que você vai sair incólume pelo que fez.

Atenta à expressão assombrada dele, a princesa Shelda se levantou e antes de sair do cômodo perguntou, tendo de tirar a dúvida da sua cabeça:

– Tell me Jonas. Não foi tudo uma mentira, pois não? Houve um tempo em que fomos really felizes, não houve?

– Claro que sim Pamela. – respondeu ele, com um fio ténue de esperança na voz.

Pamela deu-lhe as costas e saiu do quarto. Ela sairia daquela situação com a cabeça erguida. Ela era a Princesa Shelda, mas acima de tudo ela era Pamela Parker, uma sequoia inquebrável, com raízes bem assentes na terra, mas que se elevava acima dos outros.

Rio de Janeiro, 2012

Quando finalmente conseguiram sair da casa da avó, a noite já estava muito avançada. Davi levou Megan diretamente para a mansão Marra e ela o convenceu a entrar.

Aquela casa, que um dia tinha sido também a dele, estava agora cheia de memórias que Golias queria colocar para trás das costas.

Não ligando para as reticências dele, Megan puxou por Davi até chegarem no quarto dela. Davi a beijou, mas deixou bem claro que não ia passar a noite com ela.

– Você é muito cute, mas também é muito teimoso, baby boy! – respondeu-lhe ela, puxando o colarinho dele.

O celular dela apitou com um alerta e Megan se sentou na cama para ver que notícia era assim tão importante.

Davi notou quando a expressão facial dela se alterou e lágrimas de raiva brotaram nos seus olhos.

– O que foi, Megan? – perguntou ele, se sentando do lado dela.

Ela lhe entregou o aparelho e Davi reconheceu os protagonistas das fotos. Jonas e a sua amante inglesa. Megan se aninhou nos braços do nerd, deixando correr as lágrimas.

– Why? Porque é que ele fez isso? Davi… a minha família vai acabar!

Agora ela já estava descontrolada, sem conseguir raciocinar direito e não conseguindo evitar tremer violentamente. O nerd a segurou e beijou o topo da sua cabeça. Nesciamente e sem ter consciência do que estava a fazer, ele acabou dizendo:

– Por favor, tenta ter calma Megan. Se eu soubesse que você ia ficar assim , eu tinha te contado antes.

Como se tivesse levado um choque eléctrico, ela se afastou dele com um salto.

– What???!!!! Você sabia e não me disse nada?

Ele estendeu o braço para ela, esperando que ela se acalmasse, mas Megan só ficou mais agitada.

– No, Davi. Você não. Qualquer outra pessoa me podia ter mentido, but not you. Eu confiei blindly em você, you bastard!

Ela se dirigiu na direção da porta e ele foi atrás dela.

– Megan, por favor espera. – pediu ele.

– No, Davi. Você não pode decidir pelos outros.- respondeu ela, de semblante fechado.

Antes que ele tivesse tempo para reagir, ela saiu do quarto trancando a porta por fora. Davi ainda bateu com força na porta chamando por Megan, mesmo tendo a consciência que ela não iria regressar.

Após um período de tempo que lhe pareceu uma eternidade, ele finalmente conseguiu arrombar a porta e correr atrás da sua bad girl.

Era tarde demais porque ela já estava muito longe e ele não tinha como a alcançar.