Versalhes, 2010

Pelo interior do Palácio de Versalhes e pelos seus jardins os funcionários ultimavam os preparativos para a festa do ano, talvez do século.

Jonas Marra tinha decidido festejar o aniversário da filha com mais pompa, circunstância e publicidade que os 15 anos dela exigiam.

Claro que, para o empresário, fechar um monumento nacional de valor histórico incalculável não apresentaria dificuldade absolutamente nenhuma.

E se ele pudesse, de quebra, aproveitar a festa para fechar alguns negócios com parceiros da Marra seria ouro sobre azul.

Num dos quartos do palácio, Megan acabava de se arrumar para a festa. Envergando um vestido diáfano prateado, feito especialmente para ela pela casa Valentino, colocava jóias que haviam pertencido à sua avó Branca, falecida mãe de Pamela, e que valiam o resgate de um rei.

Se o fantasma de Maria Antonieta passasse ali naquele momento, a rainha perderia de novo a cabeça com inveja da princesa Marra.

Pelo espelho do toucador, ao qual estava sentada, Megan viu a sua Grand-mère se aproximando.

Os olhos de Berènice brilharam quando a viu:

Chérie, Jerôme teria tanto orgulho de você se ele estivesse aqui.-disse ela, apoiando as suas mãos no ombros da neta.

As lágrimas que teimaram em surgir no olhos de Megan ameaçaram borrar-lhe a maquilhagem profissional.

Às vezes Megan se pegava pensando como teria sido se o seu dad Jerôme não tivesse morrido naquele acidente, antes de ela nascer. Teria sido ela a mesma? Uma rosa por um outro nome continuava sendo uma rosa. Será que Megan Lily Parker Blois teria a mesma essência?

Sacudiu o pensamento da sua cabeça porque se assim fosse ela não teria tido o seu dad Jonas. E, claro, não teria conhecido Davi.

Aquele idiota do Davi que, por continuar brigado com Jonas e com aquela mentalidade mais comunista do que a de Marx, tinha recusado compactuar com o que ele apelidava de “exibição gratuita do dinheiro sujo do capitalismo selvagem”.

O que no caso incluía não comparecer na festa de aniversário da pessoa que ele tinha jurado nunca desiludir: Megan.

Terminando de se arrumar e recolhendo os seus pensamentos tristes, Megan desceu as escadas e saiu pela porta varanda para os jardins, onde alguns convidados já se encontravam.

O casal Marra já se encontrava a recepcioná-los:

– A minha little girl está crescendo tão depressa.- disse Pamela quando viu a filha, ameaçando desabar em lágrimas, sendo consolada por um abraço de Jonas.

Megan completou o abraço do trio. Era uma imagem esteticamente muito agradável, aquela família abraçada.

A decoração envolvente era a mais luxuosa imaginável. Nenhuma despesa tinha sido poupada.

Apesar da noite já ter caído, a equipa de iluminação tinha feito um trabalho tão bom que parecia que o relógio tinha andado para trás algumas horas e se estava em pleno dia.

Jonas estava orgulhoso da vitória do Homem sobre a natureza:

– Então Peanuts, você aprova?-perguntou ele.

Oh dad, está lindo! Thanks! – agradeceu Megan, pendurada no pescoço do pai.

Já eram centenas os convidados que circulavam pelos jardins. Era uma massa heterógenea composta pelos magnatas amigos de Jonas, os companheiros de showbiz de Pamela, as celebridades teen amigas de Megan e ainda a Gambiarra, a PLUGAR e a família Marra em peso.

Eram dois mundos que colidiam. O mundo em que Megan havia nascido e o mundo de Davi, que tinha passado a ser também o mundo dela.

A loira sorriu ao constatar a confusão que se estava a armar entre as celebridades emproadas e a gente da Gambiarra que as estava a abordar.

Se já teve graça ver Vander se queixando do tipo de aperitivos servidos, argumentando veementemente com uma conhecida designer famosa pela sua magreza; Megan achou particularmente engraçada a forma como a sua tia Marisa se atirou a um conhecido ator de Hollywood, sendo repreendida pelo seu aflito tio Sílvio.

Luene veio ter com Megan, já mais dançando do que caminhando:

– Ué Britney, mas isto tá cheio de gato! – disse a brasileira muito animada.

Megan riu. Nos meses anteriores ela tinha feito as pazes com a funkeira, que se tinha tornado numa grande amiga. Juntas, as duas eram sarilhos personificados:

Oh yeah! Eu já sabia que você vinha!- riu-se a americana.

– E cadê aquele galã de cinema que você arrumou?- perguntou Luene, referindo-se a um conhecido ator de um blockbuster, com quem Megan tinha um namorico sem importância.

Rob, aquele vampiro imprestável, voltou para aquela vampira insossa.- disse Megan, despreocupada.

– E você vai deixar por isso mesmo?- surpreendeu-se a brasileira.

Honestly, não quero saber. Não era dele que eu gostava mesmo. - disse a americana distraidamente, encolhendo os ombros.

Jack Parker interrompeu a conversa das duas, abraçando a neta:

So, a festa é tudo o que você esperava?- perguntou-lhe o avô.

It´s beautiful grandpa! Obrigada por ter fretado o avião para trazer os meus guests da Gambiarra e os kids da PLUGAR.- agradeceu Megan.

– Tudo o que você quiser, princess. Mas estou vendo na sua cara que parece que está faltando alguma coisa.- sondou o americano.

Oh Grandpa… nada que você possa resolver.- disse a loira, se aninhando nos braços de Jack, que sorriu enigmático.

Mesmo no meio de uma multidão que tinha vindo adulá-la, o pensamento de Megan estava cheio com imagens de um certo nerdzinho charmoso que se encontrava do outro lado do oceano Atlântico.

Depois do jantar e dos discursos da praxe, ultimavam-se os preparativos para se abrir a pista de dança. Uma das bandas preferidas de Megan já estava a postos para começar a tocar quando Pamela se aproximou dela:

Sweety, já que Rob não vem, se você quiser seu dad abre a pista com você, ok?

Jack interrompeu:

– Não vai ser necessário Pam, eu trato disso. Come with me Megan.

O avô levou-a pela mão até ao centro da pista, onde já se ouviam os primeiros acordes de música.

– Foi numa noite como essa que eu conheci a sua Grandma Branca e soube que tinha encontrado a minha soulmate. - comentou o velho Parker, arriscando alguns passos de dança.

Really Grandpa? E como você soube que Grandma Branca era the one?- perguntou Megan.

You just know. É aquela certeza de que você só está completo com aquela pessoa e aquela pessoa com você. Really simples. Nós é que complicamos.- respondeu-lhe o seu Grandpa.

Ainda que deslizasse pela pista nos braços do avô, Megan tinha ficado a ponderar as palavras dele. Jack parou de dançar e sorriu:

Oh, finalmente chegou o seu presente.- disse ele.

Megan virou a cabeça para encontrar Davi na frente dela. Os olhos dela passaram a brilhar com a intensidade de mil sóis. Era a primeira vez que o via num smoking e não podia negar que lhe ficava bem. Porque é que o babaca era tão diabolicamente bonito?

Ele abriu um sorriso imenso que vaporizou qualquer ressentimento que ela tivesse com ele.

– Posso interromper?- perguntou ele.

Sure.– disse Jack, entregando a mão de Megan para Davi, dando um beijo na neta e se afastando da pista.

O velho Parker ainda arriscou olhar para trás para ver Megan sorrindo ao rodopiar nos braços de Davi. Olhando para o céu, procurou a lua que 40 anos antes tinha abençoado o seu amor por Branca e que agora iluminava aqueles dois jovens.

Rodeados por vários outros casais, Davi lutava para não cair nos seus movimentos de dança ridículos:

Such a pé de chumbo.- ria-se Megan- Como é que você resolveu vir?- perguntou-lhe ela, já séria.

– Jack falou comigo e eu percebi que era importante para você. Você ficou chateada comigo?- perguntou ele, preocupado.

– Eu nunca vou ficar really chateada com você. Só tenta não aprontar essa de novo.- respondeu ela,encostando a cabeça no ombro dele.

Sem querer, Davi acabou calcando Megan.

Ouch!- disse a americana.

– Desculpa! Você está desiludida com a sua segunda escolha?- perguntou Davi apavorado, com as mãos na cintura dela.

– Você vai ser sempre a minha primeira escolha, Davi.- respondeu Megan, a centímetros da face dele.

– Vamos sair daqui.- pediu ele.

De mãos dadas , abandonaram a pista de dança e ele deixou-se conduzir por Megan até chegarem perto de uma fonte, que se encontrava suficientemente longe do barulho da festa.

Ele tirou do bolso do casaco um embrulho que estendeu a Megan:

– Seu presente. Espero que você goste.

Megan abriu a caixa para encontrar uma pulseira simples em prata, com uma série de pendentes de diferentes formatos.

–Este é o Big Ben, este o Empire State Building, este G é de Gambiarra, right?– perguntou ela, tentando decifrar o significado de cada pendente.

–Até agora tudo certo.- concordou ele, sorrindo.

Ok. Oh no, Davi. Esta bicicleta é daquela vez no Santa Monica Pier?

Oh yes, bad girl. E esse trevo...

–.... é daquela vez naquele castelo irlandês? Oh God!- completou ela.

Involuntariamente riram-se os dois, ao viajarem nas suas memórias em comum. Eles nunca eram tão felizes quanto quando estavam juntos.

Megan acabou por perguntar:

–E esse espaço vazio, what is it?

–Esse espaço está reservado para as aventuras que a gente ainda vai ter.- respondeu ele.

–E quando a pulseira estiver preenchida?- continuou Megan.

–Te compro outra. E a gente começa de novo.- respondeu Davi, que não conseguia tirar os olhos dela.

Foram interrompidos por Brian, que andava à procura deles para os avisar de que faltava pouco tempo para lançarem o fogo de artifício.

Sem sair do lado da sua bad girl, Davi respirou fundo e avançou com ela pela festa, cumprimentando sem vontade as figuras públicas e os empresários que ele abominava e que soltavam felicitações hipócritas para Megan.

Soltando o laço, que desde há muito o incomodava à volta do seu pescoço, foi surpreendido por Megan, que pegou na mão dele:

Come with me, baby boy!

Sabendo que ele era um grande fã do duo, ela tinha conseguido apresentar Davi para os Daft Punk.

Sendo o duo grande fã de Megan, a quem tratavam como musa oficial, Guy-Manuel e Thomas estavam inclusivamente sem as suas habituais máscaras.

O dinheiro que Jonas tinha despendido com a iluminação tinha sido desnecessário porque o brilho dos sorrisos de Megan e Davi, que não tiravam os olhos um do outro, teria sido suficiente para iluminar cinquenta festas.

Pouco depois já era hora de ocuparem os seus lugares para o início do espectáculo.

O núcleo central da família Marra ocupou o lugar de honra. Ainda que surpreso pela presença de Davi, Jonas sorriu sinceramente na direcção do filho. Davi apenas acenou na direcção do pai, ocupando o seu lugar ao lado de Megan.

O expetáculo de fogo de artifício que Jonas havia planeado era digno de um reveillon no Dubai. No quesito show off o empresário nunca faria por menos.

Enquanto todos se encontravam ocupados a apreciar o espectáculo, a atenção de Megan continuava tomada por Davi. Ela olhava fixamente para ele quando o nerd se voltou na direcção dela com o seu meio sorriso registado.

Os seus olhos se encontraram e, pela primeira vez, ela se viu reflectida nos olhos dele. Então, Megan percebeu que não teria outra opção que não assumir para ela mesma o que se passava dentro dela.

Foi naquele momento em que Megan Lily Parker-Marra percebeu que estava total, completa e irremediavelmente apaixonada por Davi.