POV Ally

Passei o reato do dia a conversar com o Austin e até apareceu mais pessoas para me ver. Não sabia que conhecia tantas pessoas. Para além da Mia e da Trish apareceram o Sam, o Dez e o Ashton.

Todos me contaram um pouco de alguns momentos que passámos e apesar de querer saber mais amos seguiram as ordens do médico e não falaram sobre muito. Claro que fiz muitas perguntas, mas a maior parte, quase todas, não foram respondidas.

Estava a me divertir muito com o Austin. Agora percebo porque éramos assim tão chegados. Mas infelizmente o médico apareceu e disse que eu precisava descansar e tiveram de ir todos embora. Não queria que fossem embora, muito menos o Austin, estava a gostar da companhia deles. Pelo menos teria a companhia da minha mãe, é sempre melhor que ficar sozinha.

Até porque teriam todos de ir embora, por estar a ficar tarde, e assim como eu o Austin também tinha de descansar. Só gostava de saber quem era a sua namorada, queria saber se a conhecia. Fiquei curiosa porque nunca mais falámos desse assunto. Ela é muito sortuda. O que o Austin fez por ela foi muito corajoso e gostaria que fizessem o mesmo por mim.

—E então minha filha, como está?

—Bem eu acho.

—Muito pensativa isso sim. O que vai aí na sua cabeça?

—Nada de especial.

—Nada de especial? A mim parece que é um certo loiro e que por acaso esta aqui há pouco.

—O Austin? Pff. Claro que não!

—De certeza? Não parece!

—Sim, de certeza! - Ele olhou para mim com a sobrancelha arqueada e percebi que não acreditava em mim. - É. Talvez eu estivesse a pensar nele.

—Agora quero saber porque pensava nele.

—Não sei mãe. Eu senti algo diferente quando falava com ele, algo que não senti com os outros.

—Você gosta dele?

—Mãe!

—O que foi? Qual é o mal?

—O mal é que eu não lembro dele, é como se o tivesse conhecido hoje.

—Assim até será melhor. Nunca ouviu falar em amor à primeira vista?

—Como é que será melhor mãe? Pelo que parece somos ou éramos muito próximos. Não quero mudar isso nem estragar algo, mesmo não me lembrando. E não foi nada amor à primeira vista. Apesar de tudo parece que ele tem namorada.

—É, mas não pode dizer que não o achou bonito e atraente.

—Mãe!? ...Eu estou cansada, vou dormir.

—Bons sonhos- Falou rindo e beijando o topo da minha cabeça. Apenas fechei os olhos e logo percebi que estava mesmo cansada porque adormeci logo.

Estava perto de uma lápide. O Sam estava ajoelhado em frente a ela. O mais estranho foi ver lá o nome da minha mãe. Porque haveria de estar o nome da minha mãe numa lápide? E porque o Sam estava ajoelhado em frente dela?

—Ora! Ora! Ora! Vejam só quem está aqui! - Ouvi uma voz que por alguma razão me era familiar.

—O que você faz aqui? - Pergunta o Sam se aproximando de mim e se colocando na minha frente.

—Aww. Vejam só. O irmão tentando proteger, inutilmente, a irmãzinha!

—Responde à minha pergunta Jason!

—Ora essa. Eu vim fazer uma visita e conversar. O que mais poderia vir aqui fazer?

Por alguma razão a minha mente se abstraiu de tudo o que acontecia e só voltei à realidade ao sentir, de repente, o meu braço ser puxado. Os seguintes minutos foram os mais longos que já passai. Foram uma completa confusão.

O Sam tentava se soltar dos homens que o agarravam, mas era tão forte. Pareciam gorilas pelo tamanho e estrutura, era uma luta injusta e invencível para o Sam. Assim como ele eu fazia o mesmo tentando me soltar de Jason, uma outra tarefa difícil tendo em conta que não tenho força.

—Vamos! - Diz e os 'gorilas' empurraram o Sam para o chão e me puxaram para fora do cemitério. Quando saímos de lá me levaram até uma van. - Bons sonhos! - Diz me acertando com algo na cabeça e desde aí tudo se apagou...

Desta vez estava sentada numa cadeira. O lugar era um pouco escuro e na minha frente estava o meu pai. Ele estava com as mão presas na cadeira e o seu aspeto não era dos melhores. O seu rosto tinha inúmeros cortes e machucados, ele não parecia nada bem.

Percebi a presença de mais alguém aqui e vi dois homens. Um estava perto da porta e o outro perto do meu pai. Ambos falavam sobre o que, infelizmente, não conseguia perceber bem.

—Ou me diz onde ela está ou é a sua filha quem vai sofrer! - Fala se aproximando de mim, tirando uma arma sei lá de onde e a apontou para mim.

Senti o meu coração bater mais forte e rápido que o normal, este podia ser o meu fim. Bem o fundo esperei que o Austin aparecesse antes que este momento pudesse acontecer.

—... Não lhe faça nada!

—Então me diga, onde está Olivia? - O quê? Porque ele queria saber da minha mãe? Porque nos prende aqui?

—Eu não sei!

—Já lhe disse que não acredito e continuo sem acreditar!

—Mas tem de acreditar, não sei mesmo onde ela está. - E a conversa continuou. Só não consigo perceber porque nos prende aqui e quer saber da minha mãe. Não faz sentido.

—...Já não vou precisar mais de você! - Fala, desta vez apontando a arma para o meu pai.

—Não! Não faça isso!

—Se não quer ter o mesmo destino que o seu pai sugiro que esteja calada!

—Eu não quero saber o faz comigo. Não lhe faça nada, não o mate!

—Desculpe, mas eu já não preciso dele!

—Eu a amo minha filha. - E então o som da arma disparar é ouvido e eu fecho os meus olhos não sendo capaz de ver o que estava na minha frente. Não acredito que ele matou mesmo o meu pai. Não é possível. Não pode ser.

Abri os olhos, não me contendo e o olhei. Não o devi te feito. A sua camisa estava encharcada de sangue no seu peito e a sua cabeça estava para baixo.

—Está tudo bem querida. - Ouvi a minha mãe e senti que me abraçava. - Está tudo bem. - Se separou de mim e me acalmei.

—Parecia tão real.

—O que aconteceu?

—Eu acho que sonhei com coisas que me aconteceram. Como se fossem lembranças.

—Mas isso é bom querida!

—Não, não é. Foi horrível!

—O que aconteceu?

—Não lembro muito bem, apenas que eu e o Sam estávamos no cemitério quando um garoto chamado Jason aparece e nos ataca por alguma razão. No final ele consegue me levar e depois de me colocar numa van e ficar tudo escuro me encontro num outro lugar que não conhecia. O pai estava comigo e foi horrível!

—Que bom que já está lembrando das coisas. É mau que lembrou coisas menos boas, mas ao menos está se lembrando.

—O que realmente aconteceu para eu estar aqui no hospital?

—Querida, já falámos sobre isto. O médico disse que é melhor ser você a lembrar, ele disse que não é bom lhe contarmos muito, para termos calma.

—Mas para dizer isso é porque foi grave e mau!

—Um pouco.

—O pai não está com os avós pois não?

—Claro que está.

—Então porque é que no meu sonho, melhor dizendo pesadelo, ele morreu?

—Se calhar não era o seu pai.

—Eu sei que era mãe. Não faz sentido me dizer que ele está com os avós.

—Querida...

—Não. Eu quero a verdade.

—Você... Sonhou mesmo com o que aconteceu. O seu pai morreu mesmo.

—Porquê? - Senti as lágrimas nos meus olhos e não as consegui conter, as deixando, por fim, fluir. - Porque me mentiu? Quando pretendia contar?

—Eu só queria que não sofresse. Eu ia contar quando começasse a lembrar das coisas. Quando estivesse pronta. - Ela se aproximou mais de mim me abraçando.

Deixei-me ficar nos seus braços, encontrando o conforto que mais precisava neste momento. Ainda não podia acreditar que o meu pai estava morto. Eu presenciei tudo e agora que me lembro só faz com que me sinta pior. Queria que ele estivesse aqui a me confortar nos seus braços e dizer que tudo iria ficar bem.

—Não se lembra de mais nada? - Apenas neguei. Não sei se deveria contar sobre os assuntos em que estava envolvida, talvez seja melhor falar primeiro com outra pessoa primeiro. - Então descanse. Eu sei que será difícil, mas tem de tentar. - Assenti e me deitei. Ela voltou para o seu lugar na cadeira e eu fechei os olhos.

Demorei imenso para voltar a dormir. A imagem do meu pai morto não saía da minha cabeça, por mais que tentasse não pensar no que aconteceu. Mas felizmente depois de longos minutos consegui dormir.

POV Austin

De manhã, quando acordei, fiquei a pensar na tarde, do dia anterior, que passei com a Ally. Foi bom passar aquele tempo com ela. Não é a mesma coisa que quando estávamos juntos, mas mesmo assim foi bom. Apesar de os outros também lá terem estado.

Queria que tudo voltasse ao mesmo de antes. Espero que com o tempo a Ally se lembre de tudo e aí sim, tudo voltará a ser como antes e não haverá nada que nos impeça de estar juntos.

Queria tanto me levantar e a ir ver, mas não sei se já está acordada. Felizmente o médico ontem disse que me deixa sair e ir ver a Ally, desde que tenha cuidado. Se fosse como o meu tio e o Ash não saía daqui.

O problema é a Ally querer saber sobre o que aconteceu. Tanto a mim quanto a ela. O mais difícil é contar o que lhe aconteceu, quanto a mim é omitir sobre a minha namorada. A Ally continua a ser uma pessoa teimosa e persistente, se até agora não desistiu e só passou um dia, não vai desistir até lhe contar quem é. Nem sei como lhe contar que é ela. Acho que não o vou fazer, é melhor esperar até ela se lembrar.

Estava tão perdido nos meus pensamentos que nem notei a entrada da enfermeira e do Ash. Só os percebi quando senti uma dor no meu braço, por o Ash me ter batido.

—Está louco?

—Não, estou bem lúcido devo dizer. E você? Na lua? A pensar na Ally?

—Talvez! Mas isso não lhe dá o direito de me bater.

—Nós estamos te chamando faz quase três minutos, pelo menos assim consegui a sua atenção!

—Bom dia. - Falo para a enfermeira e agora se encontrava na minha frente.

—Como se sente?

—Melhor. Podia até ir embora já hoje!

—Desculpe, mas isso não será possível.

—A Ally está acordada? - Ela sabia quem era porque ontem esteve lá no quarto com o médico.

—Não sei. Não precisa de nada?

—Apenas de comida!

—Muito bem. Já voltarei com o café da manhã. - Ela saiu rindo.

—E você que não pensasse na comida!

—O tio? - Pergunto ignorando o seu comentário.

—Ele foi a casa, disse que vinha mais tarde.

—Está alguém lá fora?

—Só a Mia, o Sam e Olivia. Eles estão a comer. - Em alguns minutos a enfermeira voltou com o café da manhã e disse que a Ally já estava, sim, acordada.

Não perdi tempo e comecei a comer, assim que se foi embora. Estava com fome e queria ir ter com a Ally. É difícil saber que não se lembra de mim, mas poder estar com ela já é bom e gratificante. É melhor assim do que não estar perto dela sequer.

Em minutos devorei a comida e o Ash me ajudou a ir até o quarto da Ally. Ela sorri para mim quando entro, mas conseguia ver tristeza nos seus olhos. O Ash me deixou perto da cama e saiu, dizendo que ia ter com os outros.

—Não precisava vir.

—Claro que precisava, até porque estava aborrecido naquele quarto.

—Eu podia ir ter com você.

—Você acordou ontem não me parece bom andar aí de um lado para o outro.

—Acredito que o meu estado seja melhor que o seu e isso não o impede de vir aqui. O que me impediria de ir até lá?

—É justo... Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa?

—Não. Porque perguntas?

—Eu te conheço. Consigo ver que alguma coisa não está bem. - Dito isto o seus olhos se enchem de lágrimas e logo estas começam a fluir pelas suas bochechas. - Hey, o que aconteceu?

—O meu pai Austin. Ele morreu! - Por momentos parecia que tudo tinha parado. Ela lembrou do que aconteceu com o pai.

—Como sabes?

—Eu sonhei com isso. Com a morte dele. A minha mãe confirmou. - Suspirei e não perdi tempo. A Abracei. Com tantas coisas foi logo se lembrar da morte do pai. Não queria nada que ela passasse por isto. Custa tanto a ver sofrer assim. - A imagem dele morto na minha frente não me sai da cabeça. - Chora mais e me desespero a suportando mais nos meus braços.

Não a iria impedir de chorar. Ela tinha de deixar sair. Era melhor libertar tudo. Não a iria largar até saber que estava bem. Só queria poder ficar assim para sempre, com ela nos meus braços.

—Porquê ele?

—Shh! - E assim ficamos por um longo tempo. Ela nos meus braços, a chorar, destroçada, e eu a confortar da melhor maneira possível. - Melhor? - Pergunto ao nos afastarmos.

—Sim. Obrigada. - Apenas sorri e limpei o seu rosto observando cada detalhe.

—Não tens de agradecer.

—Há mais.

—O quê?

—Não foi só com o meu pai que sonhei. Há mais, mas ainda não contei a ninguém, nem mesmo à minha mãe.

—Podes contar. - Segurei a sua mão.

—Estava no cemitério com o Sam e então apareceram uns homens que nos atacaram. O mais grave foi ver o nome da minha mãe na lápide e... - É interrompida pelo bater na porta.

—Posso? - O Sam pergunta abrindo a porta. - Uma enfermeira disse que me tinha chamado.

—Sim. Entre. - Ele entrou e se sentou numa cadeira do outro lado da cama, bem em frente a mim.

—Eu sinto que posso confiar em vocês dois. - Não consegui não sorrir ao ouvir aquilo. - E como estava a contar ao Austin eu sonhei com umas coisas esta noite e percebi que eram coisas que aconteceram. - Ela parou e suspirou. - E já disse ao Austin, estava no cemitério com você e então apareceram uns homens que nos atacaram, mas o mais grave foi ver o nome da minha mãe na lápide e um dos homens falar para você como meu irmão.

—Sim, isso aconteceu. Você se lembra de quem eram esses homens?

—Não. Quer dizer, apenas de um. O nome dele era Jason... Mas o que quero saber é se você é meu irmão.

Eu estava sem palavras. Primeiro a morte do pai, agora saber que o Sam é irmão dela só vai complicar mais, ela vai sofrer mais porque teremos de contar verdade. Não há como esconder mais. O pior será contar sobre a mãe.