POV Ally

—E então? Como vão as coisas? - Pergunta o Sam depois do Austin sair para levar o tabuleiro para a cozinha.

—Vão bem! Melhores sabendo que o Austin está bem.

—O que vocês têm um com o outro? - Pergunta me deixando chocada. Esperava que ele perguntasse tudo menos isto!

—N-nós... somos só amigos!

—Só amigos? ...Não sabia que os amigos se beijavam. Muito menos daquela maneira que vi você dois se beijarem! - Corei embaraçada e ao me lembrar que ele viu tudo.

—P-pode acontecer!

—Pode acontecer? Pensei que fosse mais sensata que o Austin ou ao menos tentasse arranjar uma desculpa, mas é bom saber que a minha irmãzinha é melhor que ele. - Fiquei um pouco chocada ao ouvir ele me chamar de sua irmãzinha, mas ao mesmo tempo foi tão bom. Como se nos conhecemos bem, apesar de sabermos que somos irmãos à pouco tempo. - Desculpa, não devia te ter chamado assim!

—Tudo bem irmãozinho! - Digo rindo e ele ri também.

—Sabes que sou mais velho certo?

—Certo e ainda bem! Você vai envelhecer primeiro que eu!

—Hey, não sou assim tãão mais velho!

—Nããão! - Rimos e ele me abraçou. Achei o ato repentino e fiquei sem reação no princípio, mas logo me recompus e o abracei de volta.

—Obrigada! - Agradece ainda me abraçando.

—Por?

—Por me aceitares como irmão. Por não duvidares e me ajudares a tentar encontrar o me pai!

—Não tens de agradecer. Tenho a certeza que farias o mesmo por mim se estivesse no teu lugar. Certo? - Pergunto me afastando e o olhando nos olhos.

—Bom... - Abri um pouco a boca incrédula - Estou brincando. É claro que fazia. Até porque neste momento és a única família que tenho!

—Então e os teus pais? Digo, os que têm cuidado de você.

—Eu não sinto que somos uma família. Pelo menos consigo me sentir parte dela. Elas não passam quase tempo nenhum comigo. Estão sempre mais preocupados com o trabalho ou outra coisa qualquer. Passam o dia na empresa e quando chegam a casa ou vão para o escritório ou ficam no quarto. Quem sempre esteve comigo e cuidou literalmente de mim foi a Lucy.

—Lucy?

—A nossa cozinheira. Ela fazia sempre biscoitos saborosos quando eu e o Austin, em pequenos, brincávamos no jardim da casa, nós ficávamos lá a tarde toda com o Ashton, o Dez, a Trish e a Molly. E então, a hora do lanche ela trazia os biscoitos e nós comíamos sempre todos muito rápido! Ela já trazia bebida com os biscoitos no caso de os comermos antes de elas as trazer!

—Isso parece divertido. Vocês divertiam-se muito em pequenos?

—Sim, éramos crianças e estávamos todos juntos sempre que possível, mesmo quando crescemos continuámos a sair e passar dias e noites todos juntos... Quando não haviam problemas!

—Quando somos pequenos é a melhor altura da nossa vida. Não temos problemas nem coisas sérias para fazer. Temos apenas de nos sentar a brincar ou a ver televisão. Ás vezes sinto falta desses momentos.

—Queria poder dizer o mesmo!

—Sinto muito por isso Sam.

—Tudo bem. A culpa não é tua.

—Até pode não ser, mas se eu ao menos soubesse que tinha um irmão...

—Não te preocupes Ally, já é ótimo me estares a ajudar a procurar o meu pai!

—É o mínimo que posso fazer! Além disso...

—Shh!

—O que foi?

—Você não ouviu?

—Ouvir o... - Ouvi a porta de casa se fechar e vozes vinda de lá debaixo. Oh não! O Austin ainda está na cozinha! - O que fazemos?

—Não sei. Será o Ashton?

—Provavelmente. Desde que ele não vá para a cozinha estamos bem!

—Acho melhor verificarmos isso, pois o Austin ainda está lá!

—Eu sei! Ele vai ouvir tanto quando voltar aqui para cima. Eu disse para ele não descer, mas não. O teimoso tinha de fazer o que queria e agora pode estar em risco de ser apanhado! ...O que foi? Porque estás a rir? - Pergunto olhando para o Sam enquanto ele ria!

—É melhor não saberes! - Diz ainda rindo e eu revirei os olhos.

—Vem antes que algo pior aconteça! - Seguro o seu pulso e o puxo comigo para fora do quarto e por estar a descer as escadas a correr quase caímos, mas foi hilariante ver a cara de susto do Sam ao perceber que ia caindo das escadas.

Soltei o seu pulso e percebi que não estava ninguém na sala. O pior, vozes vinham da cozinha, ou seja, o Ashton não está sozinho e o Austin está em apuros, pois não será uma só pessoa que o vai encontrar e descobrir que está bem.

—O que fazemos?

—Não faço a mínima ideia Sam. Temos de pensar rápido.

—Será que já o descobriram?

—Não me parece. As vozes vindas da cozinha estão normais. E se o Austin tivesse sido apanhado ou não se ouvia nada ou então ouvíamos demasiado. Mas só temos uma maneira de descobrir. Vem! - Sigo em direção à cozinha e paro ao ver o Ashton e a Mia bem sorridentes, sentados à mesa a rir e comer. O grande problema? Nada do Austin. Olhei em volta da cozinha e mesmo assim nada do Austin. Onde será que ele está?

—...Ally? - Ouvi o meu nome ser pronunciado e olhei para a Mia.

—Ahm? O quê?

—Eu perguntei se está tudo bem.

—Oh, sim. Está tudo bem e com você?

—Também. Podia estar melhor se soubesse como o Austin está, mas não se pode ter tudo não é? ...Vocês não se querem sentar e lanchar connosco?

—Claro! - Diz o Sam e eu olhei séria para ele. A sério que ele está a pensar em comer agora? - O que foi?

—Não viemos aqui para comer! - Sussurro.

—Mas o Austin não está aqui e eu já estou com fome. Estivemos a falar faz horas lá em cima!

—Hey! O que tanto conversam?

—Nada Mia. Nós aceitamos lanchar com vocês!

—Muito obrigada maninha! - Diz sorrindo vitorioso e eu revirei os olhos.

Nos sentamos à mesa e começamos a comer. O Austin não saía da minha cabeça pois ele pode estar em qualquer lugar e tenho a certeza que está perto! Olhei para o Ashton e ele estava sério.

—Está tudo bem?

—Sim. É só que...vocês à pouco fizeram me lembrar do Austin.

—Não podes ficar assim. Vais ver que o vamos encontrar rápido. Temos de pensar que ele está bem. Ele tem de estar bem. Nós conhecemos o Austin e sabemos como ele é forte.

—Espero que ele esteja mesmo bem. Não sei o que irá acontecer se o perder. Já bastou a morte dos meus pais, não sou capaz de superar se for ele. Eu amo sim os meus pais, mas o Austin é o meu irmãozinho! Sempre que precisei ele esteve lá para mim e apesar de este ano ele ter mudado, continua a ser o meu irmão e eu o amo!

De repente senti movimento perto dos meus pés e estava prestes a gritar pelo susto quando reparei em fios de cabelo loiro. Austin! ...Oh não! Tenho de o tirar daqui rapidamente! Não deve ser nada confortável estar debaixo da mesa ainda por mais onde estamos todos.

—Vocês não ouviram?

—Ouvir o quê Ally?

—Não ouvem? Acho que está alguém na sala!

—Pode ser o meu tio!

—Ou alguém entrou aqui dentro! Acho melhor irmos ver! - Digo me levantando.

—Espera. Eu vou. Vocês ficam aqui!

—Nem penses Ash, não vou ficar aqui sabendo que alguém perigoso pode estar na sala!

—Eu também vou!

—Está bem, mas não façam barulho! -Eles foram em direção à sala e eu fiquei na porta.

Ouvi barulho de cadeiras serem arrastadas e de repente o Austin se levantou e ficou de costas para mim.

—Ao menos foram embora! Pensei que iam ficar aqui para sempre!

—Podes me agradecer por isso! - Ele se vira para trás rapidamente bastante assustado.

—Que susto Ally! Quer me matar do coração? - Pergunta com a mão no peito. Apenas levei as mãos à cintura e olhei séria para ele. - Porque estás a olhar assim para mim?

—Porque nunca ouves e por seres teimoso quase que te apanharam!

—Eu não tenho culpa nenhuma disso!

—Tens sim, mas agora o importante é te tirar daqui sem que te vejam!

—Porque não foste com eles à sala ver quem está lá?

—Porque não está lá ninguém! Eu inventei tudo aquilo para te poder ajudar a sair daqui!

—E como vou fazer isso? Eles não tarda vão perceber que não está lá nada e voltam para aqui!

—Então vamos até eles.

—O-o quê?

—Eu vou até lá e vou fazer com que consigas subir sem ninguém te ver!

—Ok. Boa sorte!

—Boa sorte para você quando chegarmos lá em cima! - Digo saindo da cozinha e todos os olhares se viraram para mim.

—Não encontrámos nada Ally!

—Provavelmente ouvi mal. Desculpem!

—Tudo bem. Venham, vamos acabar de lanchar!

—NÃO! - Grito me colocando na frente deles. Pensa Ally! Pensa! - Preciso falar com vocês! - O Sam olhou confuso para mim, mas depois balancei a cabeça indicando para ele olhar para trás e viu o Austin.

—E não pode ser na cozinha?

—Não, não pode! - Digo séria. - Vamos nos sentar! - Digo e todos nos sentámos. Reparei o Austin na porta da cozinha e voltei a falar. - Eu sei que o teu tio disse que tratava das coisas sozinho, mas preciso que investigues umas coisas.

—Claro. Tudo o que precisares.

—Quero que investigues sobre os casais mais importantes na empresa. Temos de saber tudo sobre eles e tentar perceber se estão mesmo a roubar dinheiro ou foi outra pessoa.

—Então queres que investigues as pessoas da empresa dos meus pais? - Perguntei e reparei no Austin ir silenciosamente até as escadas e as subiu.

—Sim, só não deixes que percebam o que fazes.

—Ok!

—Era só isto. Eu não tenho muita fome por isso vou para o meu quarto! - Subi as escadas e entrei no meu quarto. O Austin estava sentado na minha cama e eu respirei fundo.

—Espero que tenhas aprendido a lição! Você sabe o risco que correu?

—Eu sei. Desculpa Ally!

—Não preciso que peças desculpa Austin! Foi você quem quis não contar a ninguém, então acho que devias ter mais cuidado. Tens de deixar de ser teimoso e não fazer aquilo que digo. Imagina que eu e o Sam não estávamos aqui? O que iria acontecer? E se te encontravam? Sei que se perceberem que estás bem o Jason poderá voltar para o atacar e sei que os queres proteger, mas você também tem de estar protegido!

—Eu não preciso de proteção Ally!

—Precisas sim Austin. Queres sempre proteger os outros e ao fazeres isso é você quem fica em perigo e isso não é bom!

—Pelo menos sei que ficam bem!

—Pois, mas não ficamos! Pelo menos não psicologicamente! Saber que você está em perigo e que a qualquer momento algo de mal pode acontecer não é ficar bem Austin! Nós nos preocupamos e só de pensar em te perder é horrível!

—Mas não me vão perder!

—Mas isso pode acontecer. Quando o Jason te levou fiquei tão mal. Só pensava em como você poderia estar. O que te estavam a fazer. Se estavas bem ou se estavas magoado! Não conseguia suportar nunca mais te poder ver! - Senti as lágrimas escorrerem pelos meus olhos. - Você já fez tanto por mim. És a pessoa mais importante na minha vida e não te posso perder.

—Ally...

—Não Austin. Tens de perceber que nos preocupamos com você. Eu me preocupo e não consigo te ver mal, ainda por mais para me tentares proteger. Eu sinto que todos estes problemas que têm acontecido são porque me tentas proteger e te colocas em perigo. Sinto que fui eu quem trouxe os problemas! - Digo e ele segura o meu rosto limpando as lágrimas que escorriam.

—Mas não foste Ally. Eu só te quero proteger porque me preocupo! Porque não te quero ver magoada. Não seria capaz de suportar se algo de mal te acontecesse! Não seria capaz de ultrapassar a dor de perder mais alguém importante na minha vida. E o mesmo acontece com o Ash. Vocês dois são as pessoas com quem mais me preocupo e eu seria capaz de tudo para vos proteger! Tens de entender!

—Eu entendo. Mas, também tens de entender o meu lado. Tens de entender que também não seria capaz de te perder. Eu não tenho mais ninguém! Quer dizer, tenho o Sam agora e estamos cada vez mais próximos, mas...

—Tudo bem. Eu prometo ter mais cuidado! Eu só...só queria sair um pouco daqui. Estou farto de estar fechado no quarto e aqui em casa. Sei que não tenho outra alternativa, mas não sei, não consigo!

—Eu sei que não é agradável ficar fechado na própria casa e teres de ficar no quarto para não te apanharem, mas pensa que é para o bem de todos!

—O problema é que não é! O Jason pode aparecer e atacar a qualquer momento. Ele vai querer saber onde estou e se tiver de vos forçar a dizer ele fará. Eu não vai desistir e ficando aqui fechado não vou conseguir fazer nada para o parar! - Não consegui dizer mais nada. A verdade é que já não sabia o que dizer. Apenas o abracei e deixei que as lágrimas fluíssem mais uma vez.

Os seus braços passaram em volta da minha cintura, os meus estavam em volta do seu pescoço e a minha cabeça estava sobre o seu peito. Ele se tornou uma pessoa tão especial na minha vida. Já não sei viver sem ele. Sem a sua teimosia. Sem o seu carinho. Sem o brilho no seu olhar. Sem o sorriso que tem quando está feliz!

Nunca me senti assim com ninguém. Nem mesmo com garotos com quem já estive e namorei. É algo diferente. Especial. E eu gosto! O Austin consegue me fazer sorrir quando o que me apetece fazer é gritar e chorar. Ele esteve lá comigo quando o meu pai desapareceu e ainda me deixou ficar aqui em casa.

Ele me salvou naquele dia no beco mal me conhecendo, me salvou do Jason duas vezes e isso só o torna mais especial. Mais importante para mim. Ele mudou a minha vida para melhor e eu não sei o que seria se algo de mal lhe acontecesse.

Acho que ao fim de muitos meses, posso dizer, estou apaixonada!