Mas uma coisa estava diferente, percebeu quando um movimento no canto o fez virar a cabeça a tempo de ver uma sombra, que estava sentada, se levantar e aproximar-se.

— Oi — murmurou ele, suavemente.

— Como você...

— Como eu cheguei aqui tão rápido? Eu vim pela escada dos fundos. Era você no corredor, não era? — perguntou Harry.

— Sim, desculpe-me. Eu não pretendi espionar. É que ou tinha acabado de ir desejar boa-noite a Scorp e...

— Está tudo bem. Você não precisa explicar. Pensei que, uma vez que eu tinha ficado fora por uns dias, ela poderia... Bem... — Ele deu de ombros.

Agora Draco podia ver melhor na escuridão e notou que havia uma mesa baixa com uma garrafa de vinho e duas taças. Harry preencheu uma e estendeu-lhe.

— Você estava esperando alguém? — perguntou ele.

— Sim. Você.

Draco não perdeu tempo com questões inúteis. É claro que ele soubera que ele estaria ali.

— Estava tão quente lá dentro que tive de sair para tomar um ar fresco.

Harry assentiu.

— Saio aqui fora todas as noites para ficar sentado calmamente e tentar aliviar o estresse e as tensões do dia. Eles voltam no dia seguinte, é claro, mas pelo menos sou capaz de relaxar por alguns momentos.

— Lilían o culpa de tudo, verdade? — perguntou Draco.

— Isso é uma adivinhação ou você sabe de alguma coisa concreta?

— Bem, ela tem conversado muito com Scorp...

— Achei que pudesse ser isso, apenas pelo jeito que ele me olha, como se também me culpasse por alguma coisa.

— Sinto muito, ele não pretende ser rude...

— Não lamente. Se Lilían encontrou um amigo com o qual possa conversar, isso é a melhor coisa que podia ter acontecido. Eu sei que ela não fala com mais ninguém, nem mesmo com Mafalda. E minha filha precisa de alguém, porque sua vida virou de cabeça para baixo de muitas maneiras. Imagino que você já sabia de tudo que aconteceu.

— Eu soube que você e Ginevra não estão mais juntos.

— Você também soube que ela teve um filho com outro homem? — questionou Harry.

— Sim — admitiu ele.

— Bem, então você sabe de tudo — concluiu ele com tristeza.

— Harry, eu gostaria de saber o que lhe dizer. Deve ter si do terrível para você...

Mas ele meneou a cabeça.

— Eu não me importo. Lilían amou o irmãozinho. Muitas crianças poderiam ter ficado com ciúme, mas ela tem um bom coração e o adorou. Então, de repente, tudo lhe foi tirado, mãe, irmão, a vida familiar que conhecia. Ela tem de descontar as frustrações em alguém, e sou eu quem está mais perto, portanto, tornei-me o maior monstro da criação. O que eu deveria ter feito?

— Deixar que a mãe de Lilían a levasse quando partiu? — sugeriu Draco em tom amável.

Os lábios de Harry se torceram num sorriso irônico, talvez pela ex-esposa, talvez por si mesmo.

— Você acha que Gina pediu para levar a filha e eu cruelmente bloqueei todo o contato entre as duas?

— Alguma coisa assim?

— Meu Deus, que confusão! — exclamou Harry. — Eu preciso lhe dizer que eu teria deixado Gina ficar com a filha se quisesse, mas ela não quis? O sujeito com o qual está vivendo não quer Lilían por perto, e Gina não lutou por isso. Simplesmente abandonou a filha e partiu sem olhar para trás.

— Ela nem mesmo entra em contato? — perguntou Draco, impressionado com uma atitude tão horrível.

— Não. Ela deveria ligar para Lilían, mas não se importa. Se eu lhe telefono, ela arranja uma desculpa e desliga.

— Entendo — murmurou Draco. — É apenas que Lilían me falou... — Ele parou de repente.

— O quê? É melhor que eu saiba — disse Harry. — Do que a pobre criança se convenceu agora?

— Ela disse que Gina lhe trouxe um celular e que elas se falam todos os dias.

Harry enterrou a cabeça nas mãos e ficou em silêncio por diversos instantes.

— Lilían realmente tem um celular — murmurou finalmente. — Eu o comprei para ajudá-las a manterem contato. E posso lhe dizer, Gina nunca liga no celular. O que é pior,mantém o próprio celular desligado, de modo que Lilían não consegue contatá-la. Toda semana checo os números e recados do celular, portanto, sei exatamente o que está acontecendo.__ Ele deu uma risada melancólica, então falou com terrível amargura.— Seria muito bom se minha filha confiasse em mim e me contasse as coisas, mas, uma vez que não faz isso, preciso checar o celular.

— Oh, meu Deus! — exclamou Draco. — Eu gostaria de saber o que dizer.

— Dizer coisas é inútil. Não melhora nada. Descobri isso há muito tempo.

— E Lilían o culpa por tudo isso?

— É claro. Ou ela faz isso ou tem de admitir que a mãe não a quer. O que a pobrezinha poderia fazer? Desejo muito ajudá-la, mas estou chegando à conclusão de que não posso, não sou a pessoa certa para isso.

— Uma situação difícil — concordou Draco com cumplicidade.

Harry deu-lhe um sorriso sofrido.

— Isso é como os velhos tempos. Lembra-se como eu costumava confidenciar-me com você?

Draco quase pronunciou uma exclamação de choque. Ele confidenciava-se com ele? Procurou na memória algo que pudesse justificar tal declaração, mas, embora se recordasse que eles conversavam muito enquanto andavam ou cavalgavam, não podia lembrar-se de nada que pudesse descrever como confidencias pessoais. Entretanto, era daquilo que Harry se recordava.

— Eu sei que costumávamos conversar muito — disse Draco com cautela. — Especialmente quando estávamos aqui.

— Eu adorava nossas conversas — confessou ele. — Sempre senti que podia dizer-lhe tudo que eu estava pensando e você entenderia. Eu nunca tinha sentido isso com ninguém antes. E nunca senti depois.

— Mas as coisas que nós conversávamos — começo Draco — eram apenas...

— Não importa sobre o que conversávamos. Sua mente sempre me acompanhava. Ou pelo menos, era como você me fazia sentir. Era uma sensação muito agradável.— É claro — acrescentou Harry. — Anos passados ao lado de uma mulher que não poderia se importar menos com o que eu estava pensando devem ter me ajudado a enxergar a pessoa especial que você sempre foi. Quando Albus me contou que havia contratado o sr. Black, eu não tinha a menor idéia que seria você.

— E não lamentou porque era eu? — ele quis saber.

— É claro que não. Na verdade, é maravilhoso o fato de termos nos encontrado dessa forma novamente. Pensei muito em você ao longo desses anos todos.

Draco o olhou com uma expressão tão incrédula que o fez perguntar.

— Por que você está me olhando assim?

— Eu teria pensado que era a última pessoa que você quisesse se lembrar.

— Por quê? Nós não brigamos. Tenho apenas memórias amáveis sobre você. A menos que esteja se referindo ao fato de que me comportei mal.

— Você não se comportou mal. Foi apenas honesto. E terminar o nosso noivado foi conveniente para mim. Você sabe disso.

— Mas não da maneira que aconteceu, certamente? -perguntou Harry.

— Você quer dizer que eu devo ter me sentido rejeitado? Ora, eu nunca me senti assim — mentiu Draco. — Você devia ter me visto dançando no seu casamento.

— Sim, eu vi. Uma dança após a outra com a mesma mulher. Quem era ela, a propósito? —perguntou Harry. — Ninguém que perguntei parecia conhecê-la.

Draco quase perdeu o fôlego com a descoberta de que Harry o notara naquele dia e questionara as pessoas sobre a sua parceira. Ele tinha achado que Harry nem percebera sua existência na festa.

— Ela era amiga de um amigo — replicou Draco. — Falou diversos nomes e agiu como se pertencesse ao lugar. É o estilo dela, sempre jogando charme e sempre convencida de que ninguém a desafia.

— Você fala como se o conhecesse muito bem — observou Harry.

— O nome dela é Astória Greengass Malfoy— murmurou ele com um sorriso.

— Você quer dizer...

— Sim, eu me casei com ela.

Houve um leve barulho quando ele colocou a taça em cima da mesa com mais força que o necessário.

— Você estava apaixonado por ela o tempo todo? -questionou Harry. — Adorou a chance determinar comigo por causa dela?

— De modo algum. Aquele foi nosso primeiro encontro. Depois, eu não a vi mais por um ano.Então nós nos encontramos novamente e aconteceu. Não teve nada a ver com o que ocorreu entre mim e você.

— Entendo — murmurou ele devagar, parecendo pensativo.

Draco acabou com o vinho da taça, e Harry imediatamente preencheu-a.

— Cuidado — disse ele. — Eu não quero ficar tonto.

— Você não ficará — ele o assegurou. — Eu me lembro da cabeça boa que sempre teve boa tolerância ao vinho.

— Que coisa estranha para se lembrar.

__Eu me lembro de tudo — disse ele calmamente. — Absolutamente de tudo. Você não?