Chego no quarto e sou logo bombardeada com perguntas.
-Onde é que estiveste?
-O que é isso?
-Estava a ver que nunca mais!
Levo as mãos aos ouvidos e espero que elas se calem. Quando por fim oiço silêncio, tiro as mãos e oiço o que elas têm para dizer.
-Raquel! – A primeira a falar é Havena – Onde estiveste?
-Estávamos à tua espera! – Diz Caroll – Está na hora das compras!
-E apesar de sabermos que não podes ir, - continua Thata – deves ter pelo menos o direito de ver os vestidos!
Olho para elas todas bonitas, e falo da boca para fora.
-Oh suas cabras deslavadas! Eu a pensar que tinha acontecido algo de mal, e afinal é tudo por causa da porcaria de uma saída?
Elas olham para mim, feitas parvas, e depois abraçam-me a dizer: “Estavas preocupada connosco” e “dá cá um abraço”, e depois eu derreto-me que nem manteiga nos braços delas, pena não serem nem o Castiel nem o Nathaniel. Mas que coisas pervertidas estou eu a pensar? Pensa em coisas boas, coisas boas, coisas boas… ah, já sei!
-Então, onde vamos?
Thata arrasta-me até à porta e Caroll e Havena começam a empurrar-me.
-Vamos comprar os vestidos para amanhã!
-Para amanhã? E só agora? Porquê?
Caroll trata de me explicar tudo.
-É que a loja de roupas tem uma maneira diferente de trabalhar. Quando há algum evento importante, as roupas mais bonitas só veem na véspera e estão em super híper mega promoção! É como matar dois coelhos com uma cajadada! O problema é que só há UM vestido. Nada de cópias, então temos de nos despachar!
Corremos até uma casa roxa (isso mesmo, roxo) atulhada de gente e entramos empurrando pessoas e pessoas.
Caroll puxa-me por um braço e corre comigo até um cabide de vestidos e começa a atirar-me com vários para cima. Uns dez minutos ela escolhe um vestido vermelho sem alças e justinho, e depois voltamos a encontrar-nos com Thata.
-Onde está Havena? – Pergunto
-Está a experimentar um vestido – Diz Thata.
Elaine aproxima-se de mim a rir e a cantar, num bonito vestido azul pelo joelho, com uma renda branca e uma faixa rosa.
-O que achas do vestido? – Pergunta-me.
O meu colar começa a brilhar e a minha fada madrinha sai. Aos risinhos aponta a varinha para Elaine e o seu vestido começa a brilhar, com uma cor mais intensa. Umas pequenas borboletas com as asas da cor da faixa aparecem.
-Agora sim, é um vestido bonito – Diz a fada e desaparece.
Thata faz sinal a Elaine para rodar, e ela roda com prazer. A rapariga horrorosa do teste de saúde, a Liliane, aparece e começa a rir, com umas madeixas verdes brilhantes recém-feitas.
-Bonita? E que raio de vestido é esse? Cresce e aparece!
Elaine olha para ela com um brilho maldoso nos olhos.
-Pelo menos não estou vestida de cabra frígida…
Os olhos de Liliane chispam e ela está preste a dar-lhe um estalo, não fosse Ambre tropeçar para cima dela. As duas começam a puxar o cabelo uma à outra, até que o empregado da loja (Leigh, tenho de dizer que ele está muito bonito?...!) aparece e as expulsa. Elaine sorri com prazer.
-Vamos embora?
Thata faz que não com a cabeça.
-A Havena ainda não apareceu. E eu ainda não me decidi – mostra-nos dois vestidos muito parecidos – amarelo ou cinzento?
-Hum… não sei. – Diz Caroll
-Eu vou procurar a Havena – Digo.
Deixo para trás Thata e Caroll que começaram uma discussão sobre o vestido ideal e dou uma volta á loja. Quando não a acho, pergunto ao primeiro que me aparece à frente.
-Desculpe, viu a minha amiga?
O homem vira-se.
-Bem, eu nunca fui bom em achar mulheres, mas posso sempre tentar!
-Raphael! – Digo a rir-me. Ele ri-se também e faz sinal para uma cortina lilás.
-Ela entrou lá dentro à uns quinze minutos. Acho que o vestido lhe fica apertado. Queres que eu a vá ajudar? – Diz com um sorriso matreiro.
Empurro-o no gozo e ele faz-se de ofendido. Aceno-lhe e vou até à cortina, que descubro ir dar aos vestiários. Há vária roupa no chão: vestidos, camisolas, saias, roupa interior, e começo a ouvir risinhos abafados e sons… íntimos. Avanço até à única cabine fechada e começo a sentir a tão esperada corrente eléctrica no meu braço. Meto a mão no puxador e abro.
Um grito. Um soutien a vir na minha direcção. Um pontapé.
Quando recupero do choque, encontro Havena com o cabelo todo em pé, Lysandre em cima dela e várias peças de roupas no chão.
Havena lança-se sobre mim (ainda bem que ela tem a roupa interior posta) e agarra-me no braço.
-Não é o que tu pensas!
Enxoto-a e olho-os com repulsa e nojo.
-Por favor, não contes à Thata!
Olho-a indignada e não digo nada.
-Devias ter vergonha… - Digo por fim – e tu, Lysandre, pensava que ias ao baile com a Thata!
Ele olha para mim zangado.
-Não está numa boa posição para me criticar.
-Ai não? Pelo menos não sou eu que ando por aí, a desflorar a primeira que aparece.
Aponto a minha mão para o Lysandre e em vez de uma corrente eléctrica a passar, sinto um choque parecido a um térmico, uma brisa fresca a passar por mim e um clarão sai da minha mão. Os olhos do Lysandre ficam cinzentos e sem reação e puxo Havena para mim.
-O que lhe fizeste? – Pergunta com medo
-Apaguei-lhe a memória. E vou fazer o mesmo com a tua… - Digo
-Não! – Diz cheia de medo – Por favor, eu conto à Thata, prometo!
Fico na dúvida mas acabo por aceitar. Mando-a vestir-se e vamos embora.
-Espera! – Digo quando saímos do vestiário – Vai buscar um vestido.
Ela acena, vai até um cabide e tira um vestido muito bonito, com alças que começa rosa e acaba verde; com os desenhos de pétalas de flores e folhas castanhas (algumas das quais a arder) a serem levadas pela brisa. Tenho de admitir: combina perfeitamente com Havena, mas a única coisa que consigo pensar é: “Galdéria”.
Encontramo-nos com as meninas e vamos para casa.

Sinto uma dor enorme na cabeça e dobro-me ao meio. Uma outra pancada na barriga e penas na boca. Penas?
Abro os olhos e consigo escapar-me de uma almofada na cara. Agarro na minha almofada e dou uma pancada com toda a força a Caroll. Surpreendentemente, ela começa a rir-se.
-Bom dia. – Digo quando ela para de rir.
-Bom dia…
-É a de manhã, da tarde, ou da noite? – Pergunto, como faz a minha mãe.
Ela olha para mim confusa.
-A quê da manhã, da tarde e da noite?
-A pancada – Digo com um sorriso.
Ela ainda me dá com uma almofada na cabeça, antes de eu ir tomar o pequeno-almoço na nossa cozinha. Caroll junta-se a mim. Por fim, caio na curiosidade.
-Então, vais com quem ao baile?
-Oh, eu sou a presidente do comité de boas vindas, então estou demasiado aterefada para ter um par.
Olho para ela.
-Ele não te convidou, pois não?
-Não. – Suspira
Conforto-a ao dizer que pode fazer-me companhia nas bancadas/bastidores do baile (descobri na noite passada que apesar de estar de castigo e não poder participar, tenho de ficar nas bancadas do ginásio a observar o baile – apesar de haver uma cortina a separar-nos). Ela sorri e corremos as duas para a aula de Química Mágica. Na aula não fazemos grande coisa, apenas mistura-mos uns líquidos e fazemos aparecer u, canário. Nada fora do normal. Depois vamos almoçar e finalmente, temos ordem para nos arranjar-mos.
Ajudo Caroll a atar o cabelo num coque perfeito e preparo-me para a ajudar a vestir, mas Castiel vem-me chamar para o castigo.
Sigo-o por entre os corredores, mas quando saímos da escola, ele agarra-me nas mãos e prende-me à parede. Começa a beijar-me a boca, com beijos escaldantes e muito, muito sexy’s, e depois passa para o meu pescoço.
Eu sei que chamei a Havena de galdéria e que agora estou a fazer isto, mas eu NÃO tenho escolha!
Ele passa a mão debaixo da minha saia e antes que eu faça alguma coisa de que me arrependa, aparece Nathaniel.
-Sai já de cima dela, seu filho de uma _____! – Atenção, por motivos de segurança aos mais novos, eu prefiro não dizer TODOS os cinquenta e três nomes que Nathaniel proferiu. Só posso dizer que o Castiel se foi embora vermelho de raiva e envergonhado.
-Obrigada, Nathaniel. – Digo tirando o pó da saia.
Mas eu cantei vitória cedo demais. Nathaniel toma o lugar do Castiel e prende-me à parede, dando-me beijos de tirar a respiração. A sua mão passa por debaixo da camisola e ele começa a brincar com o soutien. Ponho as mãos no seu peito e tento afastá-lo, mas ele é forte. Penso em lançar um feitiço, mas depois lembro-me de algo melhor. Junto as pernas e quando ele se aproxima de mim (ainda mais), dou-lhe um pontapé no… vocês sabem onde. Ele dobra-se em dois e começa a arfar.
-Mas o que é que se passa com os rapazes daqui! – Grito furiosa.
-Des… cul… pa… - Diz entre respirações – Não… me… consegui… conter… -Ele olha para mim – és… muito… bonita…
Farta, dou-lhe um pontapé na barriga. E depois, arrependida, ajoelho-me e tiro-lhe as dores com um feitiço simples para tirar as dores menstruais (ei, não me olhem assim, funcionou!). Ele olha para mim corado e diz-me que é para eu ir para as bancadas, ver o baile. Agradeço e vou-me embora, deixando-o com uma bengala na mão e a coxear de dores.
Quando chego ao ginásio está tudo uma confusão: a diretora e os professores de um lado para o outro, a arrastar cadeiras e por comida em cima das mesas; Castiel e os outros a arrastar cadeiras e a limpar tudo.
Castiel acena para mim e sinto-me corar. Primeiro, foi o meu PRIMEIRO beijo; segundo, ele teve as mãos no MEU traseiro; e terceiro, o Nathaniel fez o mesmo! Quer dizer, à primeira vista ele parece bonzinho, mas quando o conhecemos… pervertido!
Avanço com eles e ajudo a colocar batatas e carnes frias na mesa, e quando chegam as oito da noite, vou para as bancadas e sento-me ao lado de Raphael.
Olho por cima do seu braço e vejo que está a desenhar… a mim.
Ele apercebe-se da minha presença e olha para mim assustado. Ok, nada arrepiante.
-Raquel…
-Desenhas muito bem…
Ficamos a escrever uma composição sobre o baile, a decoração, o que acontece… etc., até que Thata aparece num elegante vestido amarelo, com umas manguinhas pequeninas e folhos brancos. Passa através das cortinas e puxa Lysandre consigo; um Lysandre muito elegante num fato e gravata amarela.
-Estás ai! – Diz-me. Dá-me um beijo na bochecha e olha para Raphael ainda a desenhar-me. – Uau, nada arrepiante. Está muito parecida.
-Obrigada, Raphael.– Diz Raphael.
-Thata.
Caroll aparece no seu vestidinho super híper mega curto vermelho, muito corada.
-Oi, Raquel! Thata, estás aqui! E com o Lysandre… boa. O torneio vai já começar.
-Torneio? – Pergunto. Caroll olha para mim entusiasmada
-Sim! É um torneio entre os rapazes, quem ganhar recebe um lindo colar para oferecer a uma rapariga, e para ela lhe agradecer, os dois tem de dançar!
Thata e Caroll começam a dançar feitas tontas.
-E, é apenas uma dança!
Thata olha para mim zangada.
-Uma DANÇA? Raquel, por onde tens andado! Nunca ouviste dizer, que o primeiro casal, um rapaz e uma rapariga, que se juntarem e dançarem sobre a luz da lua cheia, no primeiro baile do ano, vai ter sorte no amor PARA SEMPRE!
Raphael levanta-se num pulo entornando a bebida que Lysandre tinha ido buscar.
-Tu disseste, para sempre?
-Sim.
-Eu posso participar?
-Sim.
Raphael dá-me as suas coisas e começa a correr em direcção às cortinas.
-Onde é que vais? – Pergunto.
Ele olha para trás corado.
-Ganhar o colar. Ficaria lindo com os teus olhos.
O meu coração bate descompassado. Ok, pronto, os rapazes daqui estão doidos, mas ele foi amoroso.
Thata olha para mim confusa.
-Ele ainda nem viu o colar…
Caroll dá-lhe uma cotovelada e sorri para mim.
Espreito por entre as cortinas e vejo a professora Jolie subir ao palco (umas mesas de um lado do campo), num vestido vermelho semelhante ao da Caroll. Ela pega no microfone, e anuncia numa voz sedutora.
-Senhoras e senhores, que o torneio pela donzela mais bonita comece!