Eu olho para minha mãe e para a menina á minha frente. A minha mãe está de boca aberta, não querendo dizer nada; e a menina… bem, ela apenas olha para mim confusa com um chupa – chupa na boca.
-Ah, mãe? – pergunto por fim – Quem é esta aqui?
A minha mãe encolhe os ombros.
-Esta aqui – Diz a rapariga – Tem nome. Olá, eu sou a Carolli e você é…
Estendo a mão e aperto a dela.
-Raquel. Minha mãe, padrasto, pai e marido do pai. – Apresento. Ela abre bastante os olhos e aperta a mão de cada um.
-Muito prazer. Eu ouvi falar muito de ti.
-A sério? – Pergunto a pensar que ela está a gozar
- Claro. Afinal, és a minha companheira de quarto.
Eu deixo cair o queixo. Ninguém me tinha falado de uma companheira de quarto! Olho para a minha mãe furiosa. A minha mãe, como se tivesse adivinhado os meus pensamentos despacha-nos logo.
-Ok, Raquel, eu e o teu pai, o teu padrasto e o marido do teu pai temos de ir embora. O teu meio-irmão Alexy ficou preso no trânsito. – Eu já falei que tenho um meio – irmão? É, é filho do meu padrasto.
-O Alexy não tem carta.
A minha mãe olha para o relógio imaginário.
-Oh, olha para as horas! Vamos, vamos! – Atira as minhas malas para dentro do quarto – Foi um prazer conhecer-te, Carolli.
-O sentimento é…
Nesse momento Carolli arrota tão alto que os óculos do traste do meu padrinho caem.
A minha mãe diz adeus e fecha a porta atrás dela.
No silêncio constrangedor que se segue, eu e Carolli olha-mos uma para a outra. De repente, estamos a rir, a rebolar a rir, e a chorar de tanto rir em cima de uma cama.
-Eu já gosto de ti… - Digo quando paramos de rir.
-É. Eu também gosto de ti.
Sentamo-nos na cama e olho para o quarto atulhado de caixas. Na parede oposta à da porta está uma grande janela que dá para uma varanda, do lado direito a que deve de ser a minha cama com umas estantes em cima e uma mesinha de cabeceira ao lado; do lado esquerdo outra cama com uma colcha verde, as mesmas prateleiras com fotos e livros, a mesinha de cabeceira e de cada lado da porta, um guarda fato.
-Gostas do quarto? Tiveste sorte em ter este quarto, é um dos melhores.
-Como assim tive sorte? Então e tu?
-Ah, eu já cá estou desde o ano passado. Já estou no segundo ano.
-Segundo ano? Que idade tens?!
-Tenho quinze, tonta. Os anos na Sweet Amoris são diferentes. Vou-te explicar – Ela vira-se para mim, põe as pernas à chinês e agarra-me nas mãos – Na Sweet Amoris, o famoso colégio de magia, temos as turmas júnior – dos seis anos até á puberdade (que é quando a maioria de nós entra na posse dos poderes) - e as turmas sénior – desde a puberdade até aos dezoito anos. Dentro dessas temos as turmas da noite e dia. E depois, temos os anos. Quando é que entraste na posse dos poderes?
Penso um bocado e depois respondo:
-Aos doze.
Um raio de sol parece entrar no quarto.
-À que bom! Então deves estar no segundo comigo! Estás?
-Eu… eu não sei.
Ela parece desapontada. Depois o rosto abre-se num sorriso.
-Tens aí a tua mala?
Faço que sim com a cabeça e aponto para a minha mala Louis Vuitton branca (é imitação, claro). Tento levantar-me mas Carolli é mais rápida. Ela levanta-se numa rajada de vento e volta num segundo com a minha mala. Ela encolhe os ombros.
-Vampira. Depois explico. – Ela estende-me a mala que eu abro. Lá dentro, acho um caderno azul com o nome da escola na capa. – Eu sabia! Eles dão sempre um caderno a todos os alunos. Vá, abre. - Encoraja.
Abro o caderno que tem várias folhas soltas lá dentro. Inscrição, Introdução, Horário…
-Achei! Deixa-me ver… - começo a ler. Tem várias aulas esquisitas: história da magia, geografia do mundo mágico… avanço até ao fim da folha – Está aqui… Raquel, blá, blá, blá, turma do dia sénior, primeiro ano. PRIMEIRO ANO? Como assim primeiro ano?
-Calma Raquel! Pode ser engano.
Faço um esgar de dor ao ler o que vem a seguir.
-“Apesar de ter idade para estar no segundo ano, não tem as competências ou a mentalidade necessárias. Devido a isso, está inscrita no primeiro ano”.
Carolli começa a rir. Mas a rir mesmo.
-Não tem graça.
-Tem pois. Então, foste posta na escola de castigo, certo?
Eu aceno zangada.
Carolli segura o riso e levanta-se. Num esforço de ficar bem comigo outra vez, ela diz:
-Bem, vamos arrumar o resto das coisas, vamos? A escola começa cedo amanhã. Seis da manhã, tem de acordar.
-Seis da manhã? Esta escola é doida!
-Há! Há! Bem-vinda a Sweet Amoris!
Só então reparo no nome da escola.
-Disseste, Sweet Amoris?
-Sim, por quê?
-Eu chamo-me Amoris.