Carolli mexe no cabelo nervosa.
-É um nome bastante comum, Amoris.
-Desculpa-me contrariar-te, mas não é não.
Ela abre uma caixa, tira montes de vestidos e põe-nos á pressa no guarda fato. Levanto-me e começo a fazer o mesmo.
-Talvez seja coincidência.
-Talvez. – Digo apesar de não achar. Uma escola de magia e uma bruxa com o mesmo nome: quais as probabilidades? Além disso, a maneira como ela respondeu á minha pergunta foi muito suspeita.
É quase noite quando acabamos de arrumar tudo (mais eu do que ela, que ficou a ler mangás). O meu estomago ronca.
-Há! Acho que alguém tem fome! Segue-me – disse. Fez-me sinal para me aproximar da sua cama. Tocou na parede á sua frente e alguma coisa começou a brilhar na sua camisola. Instantes depois, uma porta aparece.
-Uau…
-É fixe, não é? Do teu lado do quarto está uma casa – de – banho.
-E como é que faço a porta abrir-se?
-É só tocá-la. A porta vai reconhecer-te e aparecer.
-Como? – Pergunto fascinada
-Por magia… - Ela abre a porta e entra no que parece ser uma pequena cozinha. Tem um mini frigorífico, microondas, lava louças, uma bancada enorme, muitas prateleiras e uma mesa de mármore.
Carolli dirige-se ao mini frigorífico, tira uma caixa de ovos e meia hora depois estamos as duas a comer ovos estrelados.
-Carolli é com “i” ou com “y”?
-Eu já vi escreverem das duas maneiras… - diz pondo uma garfada cheia de ovo e alface – mas trata-me por Caroll, é menos… formal.
-Ok, Caroll. – Depois, caio na curiosidade – O que era aquilo brilhando há bocado?
-Oh… - diz embaraçada – foi uma prenda. É um colar com o símbolo Delta. Foi a Jolie que ofereceu.
-A tua mãe?
Ela nega com a cabeça.
-Não, a minha guardiã. É minha tia – responde quando eu me mostro confusa – A minha família desapareceu quando eu tinha nove anos. Nunca soube o que lhes aconteceu.
-Oh, desculpa! Eu não queria…
Ela abana a cabeça outra vez.
-Já foi á muito tempo.
Para aquele clima de amigas voltar, pergunto baralhada:
-Espera, tu não és vampira? Como é que consegues comer comida humana?
-Ah, por favor! Acreditas em tudo o que os humanos dizem? Vá lá, pensava que eras melhor. E só para esclarecer, eu vejo-me ao espelho, a luz do sol incomoda mas eu não morro, e sim, eu durmo e bebo sangue. – Aponta para o copo de água – tablete de nutrientes. Todos os vampiros aqui na escola estão proibidos de beber sangue humano ou de outra criatura qualquer. Não que eu bebesse. Já acabaste?
Digo que sim com a cabeça. Lavamos a loiça, deitamos as caixas de cartão no corredor e preparamo-nos para dormir. Depois de vestir o pijama deito-me na cama e fico acordada até Caroll se deitar. Lá por volta das três da manhã, oiço-a chorar.

-Acorda, bela adormecida! – Chama uma voz distante. Uma mão tira-me os cobertores de cima e uma boca começa a assobiar.
-Cala-te, Boris! – Digo chateada.
-Quem é esse? – Pergunta uma voz feminina. Carolli.
Sento-me na cama. Caroll sorri para mim e mostra-me um vestido azul.
-Pensei que iria ficar bem em ti, Raquel.
Olho para o vestido. De alças e mais ou menos pelos joelhos. Nunca apreciei muito vestidos, mas este é lindo demais para ficar no armário.
-É tão lindo!
-Então vai tomar banho rápido e eu ajudo-te a arranjares-te.
Levanto-me e tomo um banho rápido. Foi como a Caroll disse: é só encostar a mão na porta e ela faz o resto. Lavo os dentes, penteio-me e decido-me por levar uma fita azul no cabelo. Saio da casa de banho e deixo que a Caroll me aboneque toda. O vestido é mesmo o meu número, mas para ficar perfeito, ato a echarpe à cintura e calço umas sandálias.
-Estás linda. Então e eu?
Eu sei que tenho peitos e que sou alta, mas a Caroll tem 100% mais peito que eu: e deve ser pelo menos cinco centímetros mais baixa.
Caroll arrasa num vestido parecido, só que vermelho com fios dourados bordados.
-Ok, vou dar-te a conhecer os conceitos básicos da escola: temos uma cafetaria onde a maioria dos alunos come. Eu pessoalmente prefiro cozinhar, mas comer e ver rapazes giros é muito mais interessante. Temos várias salas de aula, e um pátio. Mas mais importante, a escola também tem várias passagens secretas. Vamos?

Saímos para a rua no preciso momento que o sol passa por cima de uma árvore enorme. Atravessamos o largo, passamos pela enorme estátua de um homem com uma espada, e finalmente chegamos ao pé da escola onde vários alunos conversam e bocejam.
-Olha as gémeas Olsen! – Diz uma voz alegre atrás de nós.
Viro-me ao mesmo tempo que Caroll e vejo um rapaz com cabelos vermelhos e roupa muito escura encostado ao pilar que segura a escola.
-Oi, Castiel. – Diz Caroll timidamente.
-Oi. Quem é a novata?
-Raquel. Muito prazer. – Digo esticando a mão.
-O prazer é todo meu. – Até lhe sinto a ironia na voz. Adopto outra táctica.
-Sabe, eu já tinha visto rapazes burros e pensei: este é o estado baixo da idiotia. Mas afinal enganei-me – Digo olhando o rapaz de alto a baixo. Caroll tenta segurar o riso, mas não consegue e deixa escapar risinhos histéricos.
Ele faz uma expressão afectada.
-O que foi que eu disse?
-As gémeas Olsen são loiras. Eu e Caroll NÃO somos loiras, entendido?
-‘Tá. Tudo numa boa. – Diz indo se embora. Ninguém se mete comigo – brincadeira ou não, já fui muito magoada. – Ah, e ruiva… gostei dos sapatos.
Entro na escola com Caroll muito calada atrás. Os corredores são enormes e têm muitas portas. Estou perdida.
-Caroll, onde é a cafetaria? – Olho para ela com cara triste – O que foi?
-Ele elogiou-te.
-Quem?
-Castiel.
-O mocinho de cabelo vermelho? Quando?
-Quando disse que gostava dos sapatos. Ele nunca o disse para mim, antes.
Olho para ela divertida.
-A sério? Bem, se elogiou os meus sapatos também deve gostar dos teus, porque são iguais.
Ela ri mais convencida.
-Espera aí! Tu gostas dele!
-Não gosto nada!
-Gostas pois!
-E se gostar?
-Se gostares nunca mais falo com ele na vida.
Ela pensa nisso durante uns minutos.
-Nã, sem competição conquistar um rapaz é chato. Podes até namoriscar com ele, a ver quem é a primeira a conseguir um beijo.
-Ok, a primeira a conseguir ganha… - meto a mão na mala e tiro um bocado de cotão.
-Cotão? Acho que não.
-Espera…
Fecho a mão à volta do cotão e começo a dirigir a minha energia para o cotão. Primeiro, sinto um arrepio na espinha, depois uma corrente eléctrica corpo abaixo até ao meu braço, e depois até ao cotão. Abro a mão e fico confusa: um amendoim? Era suposto ser um alfinete. E depois percebo… o alfinete está dentro do amendoim.
-Pronto. A primeira a conseguir um beijo ganha o amendoim.
-Ah! Apostado.