nota seis:

carmim

— Rose Weasley?!

Aquilo não soou nada bom aos meus ouvidos.

Alvo não falou de um jeito que parecesse surpreso ou, no mínimo, espantado. Tinha um pânico palpável ali, quase dava para ser tocado de tão presente. Uma coisa que sempre tive em mente é que todos os Potter-Weasley possuiam olhares expressivos demais; dava para saber quando qualquer um deles estava triste, chateado ou simplesmente desconfortável com qualquer mínima coisa que fosse, e naquele momento Alvo Severo parecia em completo desespero.

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Nunca soube se ele jamais havia desconfiado ou se só fingia não associar as semelhanças dos desenhos espalhados pelos cantos do quarto com a prima que compartilhava junto dele muito além do que apenas a mesma escola. Rose Weasley estava em todas as comemorações e festividades dos Potter tanto quanto Alvo, e era exatamente isso que tornava as duas famílias únicas e inseparáveis, dividir qualquer momento, por mínimo e insignificante que fosse, juntos.

Cara, — lembro daquele dia tanto quanto do anterior porque todas as sensações mágicas que vivenciei dentro da Dedos de Mel simplesmente desapareceram na manhã do dia seguinte, ainda quando o sol ameaçava subir pelas cortinas de cetim do quarto e todo o resto parecia apenas um mesclado de sombras quase indistinguíveis. Alvo Severo sentou na ponta da cama, ficava me perguntando milhares de vezes sobre o que de tão interessante eu encarava pela janela da loja enquanto todo mundo corria enlouquecido pelas prateleiras, enchendo sacolas com sapos de chocolate, bombons de menta e bengalinhas de alcaçuz. Hesitei por um longo período de tempo, lembro que até pensei em desconversar, contar qualquer outra coisa e dar o assunto por encerrado ou só ficar ali deitado fingindo que nem tinha ouvido a pergunta de fato. Mas qual seria a chance? Alvo era meu melhor amigo, sabia mais de mim do que qualquer pessoa, e acima de qualquer coisa, era primo da garota que eu estava afim. Então, por que não? — a Rose tá saindo com o Lorcan há dois meses.

Aquilo sim foi um soco no estômago. Mas não só isso, acho que a partir daquele momento entendi que tudo o que estava acontecendo ia muito mais além do que uma simples paixonite aguda da adolescência.

Grande parte do meu círculo social era composto por pessoas que já estavam a um passo de saírem do colégio; a gente tinha de dezesseis para dezessete, mas lembro perfeitamente que foi perto dos meus dezoito que comecei com o cigarro. Eu não gostava de fumar, nunca gostei, mas de um jeito ou de outro, era o que deixava tudo mais fácil de lidar. Tinha em casa quase o tempo inteiro e se meu pai sabia, nada falou. Acho que ele se sentia um pouco culpado, às vezes frustrado, por ter passado um dos piores legados que alguém pode carregar sobre os ombros. Draco nunca foi mentiroso, violento ou agressivo comigo, acho que no fundo ele tentava ser o que nunca se esforçaram para ser com ele e eu o admirava muito por causa disso. Ele não era um excelente pai, mas se doava em coisas minúsculas, e eu o amava por isso.

Fumar se tornou uma constante tanto quanto desenhar. Não me considerava nenhum grande artista, mas Draco achava as pinturas boas demais para ficarem mofando no sótão da casa. Demorou quase dois meses para que eu conseguisse digerir a ideia, quando finalmente aceitei a proposta. Sentei na mesa de jantar certa noite, um castiçal posto no centro, com todas as velas acesas, brilhava reluzente; alguém tinha limpado com afinco cada peça da prataria. Mexi na comida sem realmente ter vontade de colocar qualquer coisa para dentro, parecia que o que entrasse, logo mais sairia.

— Aceito a proposta. Acho que podemos expor as obras em algum lugar. — Draco nada disse, mas pude sentir um micro sorriso ir se abrindo aos poucos. Tinha orgulho naquela minúscula expressão facial, consegui sentir queimar debaixo da pele.

E fiquei feliz por isso.