nota nove:

mistletoe (visco)

Os lábios permaneceram dormentes. De certa forma, ainda formigavam, já que tinham se acostumado rápido demais à pressão colocada inesperadamente sobre eles. As mãos que traçavam antigos caminhos cálidos, desviaram as rotas e subiram de forma despretensiosa pela lateral do corpo curvilíneo de Rose Weasley; primeiro as coxas, inquietas debaixo da saia lápis que inutilmente as escondida, depois a fina cintura, e logo o indicador de Scorpius se perdeu perigosamente perto do fecho rendado do sutiã que ela tinha escolhido usar justo àquela noite. Sentada em cima da solitária mesa deixada dentro daquele cômodo, Rose não raciocinava direito, desconfiava que não fazia muita questão de pôr os pensamentos em ordem também; o aroma de ébano e alecrim que se misturava rápido a deixava tonta e levemente anestesiada. O fogo queimando as costas também não melhorava em nada a sensação torpe que deixava as pernas de Rose Weasley bambas apenas o suficiente para que Scorpius não tivesse dificuldade alguma em afastá-las.

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O farfalhar encobria os arquejos. Manter-se sã só vinha se provando a cada instante uma tarefa bem mais complicada do que de fato deveria ser. Não só para Rose, que apertava os olhos na esperança de controlar a respiração — entregue pelo subir e descer acelerado do peito, como também para Scorpius Malfoy, que sentia as palmas das mãos arderem. Tinha de tudo um pouco ali, mas principalmente desejo. Reprimiu por tantos anos que as coisas explodiram em menos de cinco minutos; nem sabia mais para onde olhar, o que fazer ou como prosseguir. Afinal, como as coisas iriam se desenrolar dali pra frente parecia a ambos uma verdadeira incógnita. “Não seja um idiota.” Pensou consigo mesmo. Analisava os botões da saia de Rose com uma curiosidade latente; as sobrancelhas erguidas e os lábios vermelhos sofriam uma difícil decisão; à medida que o cérebro tentava lhe mostrar o caminho mais lógico, o mais racional possível, seu coração gritava próximo aos tímpanos: estridente e desesperado; queria ser ouvido uma mísera vez, só para mostrar que não era de todo ruim seguir as intuições e sentimentos quando necessário fosse. “Foi só um beijo.” Tentava se convencer daquilo a todo custo. Estava desesperado para fazer entender que as coisas tinham saído do controle rápido demais.

“E você esperava algo diferente disso?” Scorpius Malfoy tirou as mãos de cima das coxas de Rose e afastou-se o suficiente para ser olhado do jeito que mais detestou em toda a sua vida. Odiava quando ela chorava, odiava quando via as expressões de Rose serem tomadas de raiva, ódio e mágoa. Aquilo acabava com ele do jeito mais miserável possível. Mas Scorpius sabia quem era, além de saber em que enrascada estava prestes a meter a prima do seu melhor amigo. Para ela, o melhor seria que os dois jamais comentassem publicamente sobre aquele beijo, preferível até que esquecessem que àquela noite tinha acontecido de fato.

Tá tudo bem?Rose tinha descido da mesa. O toc que o salto dos seus sapatos proporcionou ao entrarem em contato com o piso de madeira do cômodo só fez o sentimento de culpa no peito de Scorpius parecer maior e mais pesado. Afastou-se quando as mãos pequenas dela fizeram menção em se aproximarem do rosto anguloso dele; o cabelo ruivo tinha sido preso desleixadamente em um coque muito mal feito e que cairia do topo da cabeça a qualquer momento. Aquela parecia uma metáfora perfeita. Riu amargo com a constatação. Não sabia se culpava o pai pela angústia, a si mesmo por ser tão hesitante, comedido e medroso, ou qualquer outra coisa que pudesse tirar dos ombros aquele fardo pesado. Suspirou cansado. Olhava para o teto por detrás das sombras escuras que o ambiente produzia e mordeu os lábios com força. Não queria chorar, porque além de parecer idiota da sua parte, só faria Rose ficar mais tempo dividindo o mesmo espaço físico que ele. Repousou as mãos na cintura; os três primeiros botões da camisa de poliéster estavam abertos de modo a exibir um pouco do peitoral marmoreado. Fungou alto o suficiente para parecer apenas um respirar casual e piscou algumas vezes na tentativa infame de afastar as lágrimas que ardiam os olhos densos e cinzas.

Acho melhor você ir embora.Rose Weasley não entendeu de imediato. Na verdade, ela riu por uns dois segundos, e Scorpius podia jurar que tinham sido os dois segundos mais longos e tortuosos de toda a sua vida. Rose procurava algo atrás dele que pareceu não ter encontrado, vasculhava o rosto de Scorpius Malfoy na tentativa de captar qualquer coisa sequer que indicasse uma brincadeira — de péssimo gosto por sinal. Mas nada encontrou, e aquele sorriso singelo deu espaço a testa franzida, um olhar de desapontamento e decepção e um balançar afirmativo de cabeça, como quem diz: eu entendi tudo agora, você não vale absolutamente nada do que eu achei que valesse.

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Rose ajeitou a blusa: refez o laço que a prendia fragilmente ao pescoço e passou a mão na saia de modo a desamassar o tecido. Não consegui enxergar direito as nuances que cobriam seu rosto porque: primeiramente, não queria. Parecia doloroso demais fazer mais do que já tinha se proposto a fazer e, segundamente, porque desconfiava que se abaixasse os olhos uma outra vez para encará-la, veria os lábios de Rose trêmulos, os olhos opacos e as bochechas franzidas. Tudo que ele mais detestava expresso num quadro perfeito que Scorpius sequer tinham pintado. Jamais cogitou a possibilidade, mas depois daquela noite, quem sabe.

Rose Weasley saiu do cômodo sem hesitar muito mais e por onde quer que passasse o rastro era de fúria e ódio. Ao abrir grotescamente a porta encostada da biblioteca em que estavam, um visco pendurado no portal balançou raivosamente e caiu no chão, sendo pisoteado sem piedade pelo scarpin preto que batia irritadiço contra o carpete.