Pov. Elsa

Segure firme.

Todos os dias pessoas normais fazem coisas normais, mas eu não posso ser um deles.

Eu não sou normal. Pensei já ter me acostumado a isso, porém está me consumindo muito mais agora do que antes.

Perdi tudo o que eu tinha.

Eu não tenho mais Jack, não tenho mais meu reino, não tenho mais minha irmã. Nem mesmo o Olaf está aqui comigo.

Eles não estão aqui comigo, e isso está me matando.

Eu estou sozinha, novamente.

Diga algo, eu estou desistindo de você. E me desculpe se eu não pude te alcançar, se eu não fui o suficiente. Diga algo, pois estou desistindo.

Me sinto tão pequena.

Ele se foi, há algumas horas, ele se foi.

E eu estou aqui, dentro da minha prisão de gelo que acabei de fazer. Minhas paredes estão cada vez mais altas, e não há janelas.

Nunca me disseram que o verdadeiro amor doeria.

Pov Jack

Eu mudei por ela. Céus, eu mudei.

Eu não queria saber de nada, nunca, eu sempre fui o brincalhão, o sem limites, o que congelava por brincadeira.

Em que lugar encontra-se minha diversão agora?

Volte. Volte. Volte. Não a deixe.

Aquelas palavras me cortaram em pedaços pequenos, ainda os estou catando. E a culpa foi minha. Não completa, mas foi.

Céus.

Ela me ama, ela tem que me amar.

Quem não me ama?

Droga. Ela diria algo como "convencido, nem sempre é assim que se lida com elogios"

Me perdoa. Por favor, Elsa. Me perdoa.

Pov Astrid.

Quem sabe há quanto tempo estou acordada agora?

As sombras na minha parede não me deixaram dormir.

Elas continuam me chamando. "Lembre-se, lembre-se."

Quem sabe quantas luzes serão apagadas até que a escuridão se torne completa?

Minha idade nunca me fez mais inteligente. O que estou fazendo?

Por que estou fazendo isso?

Algo dentro de mim, toda vez que entro na cabeça de uma das pessoas daqui, me diz que estou errada sobre elas. Cada uma pensa de um jeito diferente.

Cada um diz ser uma coisa que não é.

As pessoas raramente são o que aparentam.

Será assim com Pitch também?

Eu não sei, não consigo entrar em sua cabeça.

Eu fiz um trato, e tenho que cumprir com isso.

Eu não pensei que magoaria tantas pessoas ao mesmo tempo. Não me lembro delas, mas não me parecem tão ruins quanto Pitch me disse, principalmente Hiccup.

Ele pareceu mesmo ter sentido minha falta, mas será verdade? Eu ainda não consigo ler corações.

–O que está pensando? - Pitch aparece.

Eu estou deitada olhando para cima, aqui, na caverna. Foi onde dormi, por problemas entre Hiccup e o resto do mundo.

–Nada. - ele também não podia entrar na minha cabeça. Ambos bloqueados.

–Eu estou sentindo algo, uma vibração diferente. - ele para de súbito, olhando para os lados, desconfiado. - tem alguém saindo de Berk.

–O que? - franzo o cenho e me sento.

–Na verdade, acho que já saiu! Droga, Astrid, porque você veio dormir aqui? - ele estava gritando. - deveria conquistá-los, até agora você só se afastou, e ainda por cima está fazendo a maioria te odiar!

–Eu pensei que...

–Pensou errado. - ele respira fundo.

–Olha, eu estou fazendo meu possível! - falo alto.

–Não é o suficiente.

–Você tem problemas. - digo e ele me encara. - sinceramente, para que você quer acabar com eles?

–Você não faz perguntas aqui.

–Ah, poupe-me. Aposto que no máximo ele roubou sua namorada na época sombria.

–O que você sabe? - ele me olha, intensamente. Chegando perto demais. Sua expressão carrega dor e muita raiva.

–Eu não... - começo a balançar a cabeça, sem entender sua reação.

–Cansei de você.

–O que você quer dizer com isso? - levanto-me rapidamente, na mesma hora sinto sua mão direita apertar meu pescoço. Com força.

–Eu já tirei a quantidade de energia vital que eu precisava de você. - ele sorri.- estou forte o bastante para tirar o resto à força, não acha?

Eu não conseguia falar, sequer respirar. Sinto minha cabeça começar a girar devagar.

–Não... - falo, me debatendo. - não me mata...

–Me dê um motivo plausível. - ele afrouxa a mão apenas o suficiente para eu falar, sem tom é de pura diversão.

–Eu segui com a parte do acordo. - ele aperta mais ao ouvir isso, eu bato em seu peito com meu pé. Ele me solta com o solavanco, mas logo começa a vir de novo em minha direção, permaneço parada.

–Você não fez nada. - ele diz.

–Claro que fiz, e como eu fiz, estou livre do trato. Siga com o trato e não me mate.

Ele solta uma risada alta, estarrecedora.

–E o que você fez de bom?

–Eu separei Elsa do Jack. - falo devagar, com uma postura de ganhadora.

Mas ao invés de fazer a parte dele do acordo, ele vem para cima de mim.

E uma flecha escura forma-se em sua mão, quando eu entendo o que é, já é tarde demais, e ela encontra-se nesse momento... Parada?

Ela está parada no ar.

–O que é isso? - ele está confuso e nervoso ao mesmo tempo.

"Trato é trato, jamais quebrado até ser completado"

Rio nervosamente com essa voz que penetrou ambas as mentes.

–Você a ouviu. Sua vez de seguir com o trato.

Ele range os dentes e respira fundo.

–Eu nunca pensei que seria tão difícil te matar.

–Obrigada.

–Cale a boca, qual foi o contrato?

–Não me matar e devolver minhas memórias, e me liberar do trato.

–Você é esperta.

–Eu sei.

–Mas não tanto. - areia negra começa a vir de todos os lados e a me prender no chão. - o que você acha de ter suas memórias de volta, e não poder fazer nada a respeito?

–Você não pode fazer isso, está no acordo que você tem que me liberar! - grito.

–Sim, mas não diz quando. Que tal depois de te torturar um pouquinho?

–Me solta...

Ele avança tão rápido que não deu tempo nem de desviar.

Ele estava me beijando, de novo. Eca.

Empurro-o com o pé, e ao vê-lo ali, sorrindo de um jeito ruim para mim, sinto uma dor enorme na cabeça.

O mundo parecesse um carrossel, e o que era antes começa a voltar em grandes ondas.

Eu me lembro. Me lembro de tudo.

O que eu fiz?

Hiccup! Eu separei Elsa... Eu... Eu fiz tudo dar errado.

Grito.

Culpa, culpa, culpa é tudo o que sinto.

–Olhe para mim. - ele chama e eu o encaro, brava. Eu o odeio. Odeio com todas as minhas forças. Porém algo como ele diz a próxima frase me faz pensar que eu estou certa, ele já teve alguém, ele já amou alguém - não é mais tão corajosa agora que ama, não é mesmo? - uma das correntes começa a transformasse em areia novamente.

–Por que...

–Você verá qual é a verdadeira dor.

E some, assim como as minhas correntes de areia. Ele me liberou?

Mas por que?

Meu pescoço dói.

Preciso voltar para aquele que me ama. Para aquele que eu amo.

Preciso de Hiccup. E preciso matar Pitch.

~•~