No Rugido Do Leão

Capítulo 29 - Terra Média - Comemorando


O rei caminhava pela varanda do palácio. A lua brilhava no céu, azul e puro, negro da noite. Katherine respirou fundo, tentando recuperar o fôlego.

– Então... - o rei suspirou pesadamente - Este é o verdadeiro estado de Gondor?...

– Sim, meu senhor. E já fazem décadas. Estamos aflitos. Nossa única esperança era o senhor. - ela suspirou.

Ele caminhou até a beira da varanda, e apoiou suas mãos no parapeito de pedra.

– Eu tenho tentado fazer algum contato com o rei de Gondor. Eu já mandei dezenas de mensageiros, mas nenhum retornou. - ele suspirou pesadamente - Minha esposa insistiu para ir, pois ela é uma excelente diplomata. Meses depois, os guardas a encontraram vagando sozinha pela floresta. E está completamente fora de si.

– Meu senhor? - Katherine olhou para ele, confusa - Gondor não tem rei nem governante desde a Guerra do Nascimento! E isso já fazem quase cem anos!

– Mas eu sempre achei que tivesse rei por lá... - ele retrucou - Pelo menos, é o que meus magistrados dizem.

– Pois são tolos mentirosos! - ela se exaltou - Velhos que só ficam em suas salas, com o nariz enorme nos livros empoeirados! Gondor está em ruínas! Fomos reduzidos à miséria! Divididos em clãs familiares, estamos à beira da extinção! E a única coisa que nos mantém vivos é a esperança, mas a peste já está tratando de acabar com isto também!

Katherine se sentou em um banco que havia na varanda. Ela havia esperado muito tempo para dizer essas palavras à ele.

– Eu sou a última de uma enorme comitiva que tentou chegar aqui para te pedir ajuda. Estamos passando fome. Estamos desesperados. Estamos mortos. - ela suspirou - O senhor é nossa esperança. Desde que a Guerra do Anel acabou, ouvimos falar de como o seu reino se recuperou e se tornou forte e grande. O senhor se tornou poderoso agora. Não poderia nos ajudar então?

O homem caminhou até a janela. Lá dentro, rolava solta uma folia muito grande, uma festa animada promovida por ele mesmo. A música tocava alta e agitada, e a grande e comprida mesa estava cheia com as mais finas iguarias, das quais Gimli enchia as bochechas e sujava a barba. Legolas, recostado em um canto, sorria e batia palmas, vendo as moças do palácio dançando no centro do salão.

Caspian tomou um gole generoso de cerveja de cevada, e se levantou. Ele pegou a mão de Samantha e a puxou, levantando-a e levando-a para o centro do salão. Automaticamente, Samantha segurou-se em sua irmã, que acabou indo junto com os dois. Logo estavam dançando juntos, girando de mãos dadas, no centro do salão, enquanto as moças dançavam ao redor deles, batendo palmas e os incentivando. Aqueles três adolescentes alegres chamaram a atenção do rei. Eram diferentes dos demais, mas particularmente parecidos entre si.

– Você mencionou ainda há pouco que os três eram primos. E que a procedência de ambos lhe era desconhecida. - o rei relembrou.

– Sim, ele mencionaram vir de uma terra muito além das fronteiras à leste, acho que se chamava Nárnia, ou algo do tipo. - ela comentou. - O rapaz se chama Caspian. Diz ser filho de fazendeiro, mas eu reconheceria um anel como aquele que ele usa em qualquer lugar: ele é um nobre. E um sinete como aquele, parece da mais alta família. Eu arriscaria príncipe.

O rei analisou o rapaz. Ele realmente tinha um porte mais nobre do que os outros da comitiva, porte este que as moças também sustentavam. E aquele sinete... Era inconfundível. Ele era nobre.

– Primos... Nobres... De uma terra longínqua... - o rei juntou as peças.

– Eu sei no que está pensando, meu senhor. - Katherine fez ele a olhar - Eu penso a mesma coisa. Por mais que meu primo insista em negar, não há dúvidas de que eles se encaixam na descrição. Eles são os prometidos da profecia. E isso está bem claro.

O rei voltou a olhá-los. Tudo fazia sentido.

– Sabe que Gondor não se reestabelecerá até que a profecia seja cumprida... - ele sussurrou.

Katherine sentiu seu coração apertar. Aquelas eram palavras duras, principalmente para ela, que já tinha passado por tanta coisa para conseguir chegar ali. Uma lágrima rolou pelo seu rosto. O pensamento de que tudo fora em vão não conseguia sair de sua mente. Estava ali, estampado nas palavras do rei. Ela se levantou, pronta para sair. Não precisava ouvir mais nada. Já tinha sua resposta.

– O que eu posso fazer? - ele perguntou, convicto.

Ela se virou, olhando-o. Seu rosto estava iluminado, com o sorriso mais lindo que já dera em toda a sua vida. Era o brilho da esperança.

***

– Muito bem, Legolas! - Gimli sentou-se à mesa, puxando um enorme caneco de cerveja para si - Já conhece as regras: sem parar, sem derrubar, e sem vomitar!

Legolas olhou para a mesa. Estava cheia de copos altos, que por sua vez estavam cheios de cerveja. Um homem estava parado no meio da mesa, perto dos dois, como juiz.

– O que estão fazendo? - Belle perguntou para Samantha.

– Isso, minha irmã, é uma cena épica! Jamais pensei que chegaria a ver! - ela disse, orgulhosa - Eles estão competindo, para ver quem bebe mais. O que desmaiar primeiro, perde!

Belle olhou para a mesa. Parecia ser uma disputa acirrada. Anões são famosos por beber, mas elfos tem resistência alta. Caspian se aproximou das duas, pronto para torcer.

Legolas arqueou uma sombracelha. Há anos ele não fazia isso, seria divertido fazer outra vez. Gimli começou a disputa, pegando um copo. Ele o bebia a goles rápidos, deixando entornar um pouco em sua barba castanha. Legolas olhou para o seu copo, meio confuso, pelo que pareceu. Com a maior classe, bebeu todo o conteúdo, sem derramar nada.

Ele colocou outro copo na mesa, enquanto o juiz lhe entregava um caneco cheio. Na sua frente, exatos sete canecos vazios estavam. Gimli tinha os seus dez canecos amontoados, uns sobre os outros, e continuava a beber freneticamente.

Gimli olhou para os canecos do adversário, e ficou receoso.

– São os anões que vão vencer! - ele falou, e muitos homens gritaram, apoiando-o.

Mas Legolas não se deixou abater. Continuou bebendo e bebendo, e agora eram 15 copos vazios.

– Como conseguem beber tanto? - Caspian sussurrou para Sam - Eu já quero ir no banheiro denovo, só de assistir eles!

Samantha riu. PL aproximou-se dela, segurando um caneco de cerveja. Claramente estava bêbado.

– Masss essse teu priminho aí é fraco, não? Parece uma mulherzinha! - e ele bebeu um gole - Eu ganharia desse anão, se ele já não estivesse competindo!

– Pois eu duvido que você consiga ganhar de mim! - Caspian cruzou os braços.

– Pois fique sabendo que eu ganho de você em qualquer lugar, a qualquer hora! - PL retrucou.

– Então veremos! Assim que eles acabarem, começamos! - Caspian disse.

– Negócio fechado! - PL cabaleou, derramando um pouco da bebida em Samantha. E saiu, bêbado.

– Isso não vai dar certo! - Belle riu.

– Eu sei que não, mas do jeito que ele está, não vai aguentar nem esperar até esses dois terminarem de competir! - Caspian riu.

Legolas abaixou seu caneco. Ele olhava para a mão, e mexia nas pontas dos dedos.

– Eu sinto algo... - ele falou, embora não parecesse nem um pouco bêbado - Meus dedos estão formigando... Acho que está me afetando...

– Depois de vinte canecos, teria que acontecer alguma coisa, né! - Belle cruzou os braços, rindo.

Gimli largou seu vigésimo caneco, e apontou para o elfo, embora na verdade, seu dedo indicasse o homem à esquerda dele.

– O...o que eu disse?! - ele se riu, com a voz embaçada - Ele não aguenta beber!.........

Seus olhos se encontraram, ficando vesgos. Seu corpo amoleceu, e ele caiu para trás do banco, completamente desacordado. Legolas apenas observava-o. Ele pegou o seu último caneco, e bebeu-o todo. Depois, levemente tonto, ele olhou para o juiz.

– Acabou o jogo?

Todos no recinto comemoraram avidamente, incluindo os três primos.