No Rugido Do Leão

Capítulo 30 - Terra Média - A Manhã Seguinte


Katherine entrou no salão. Era por volta de seis da manhã, e o sol brilhava lindo no céu. A cena na sua frente, porém, não era das mais agradáveis. As cadeiras estavam reviradas e havia pedaços de frango aqui e ali no chão. A grande mesa estava coberta de canecos vazios de cerveja, e da cabeceira dela, Gimli dormia, deitado no chão.

Pela luz da Lua! O que aconteceu aqui?! – ela suspirou.

Um gemido baixo chamou a sua atenção, fazendo-a se virar. Uma mesa estava quebrada, e no meio da rachadura, uma figura conhecida adormecia. Ela correu, ajoelhando-se ao lado dele.

– Acorde! Por favor, acorde! – ela disse.

Mamãe?... – ele gemeu, dormindo.

– Mas nem que me paguem! - Katherine bufou. Ela pegou-o pelo braço e passou ao redor de seu pescoço, levantando-o - Vamos, seu idiota! Você precisa de um banho!

Ela o carregou pelos corredores, até entrar em um quarto que o rei designara para PL. Lá dentro, encheu uma banheira de madeira com água fria, e o mergulhou, com roupas e tudo. Mas ele ainda adormecia.

Lentamente, ela começou a despi-lo, e a banhá-lo. Depois, tirou-o da água, e o vestiu, com uma blusa branca e uma calça marrom. Com muito esforço, deitou-o na grande cama, e ele se virou, abraçando um travesseiro.

Obrigado mamãe... Feche as cortinas... - ele gemeu.

Katherine riu. Sentou-se ao lado dele, e acariciou seus loiros cabelos.

Ah, meu primo! ... Você ainda continua o mesmo menino irresponsável que fugia de casa ... Que caçava orcs na floresta ... Que voltava para casa bem tarde, com vagalumes e sonhos nos bolsos ... – ela sussurrava, olhando para o rosto adormecido dele - O que aconteceu com você? ... Por que não acredita mais? ... Você quem me ensinou tantas coisas ... Você quem me contou sobre a profecia ... Por que não acredita mais nela? ...

Ela o olhava. Sua pele era pálida, muito diferente da dela, era alva e clara como o leite puro e fresco. Seus cabelos loiros e levemente ondulados estavam molhados, e se prolongavam suavemente até o início de seus ossos do maxilar, dourados como espigas de trigo maduras. Os músculos definidos de seu peito se moviam suavemente, conforme ele respirava. Ele havia crescido, não era mais o garotinho ingênuo que caçava borboletas com ela. Ele agora era um homem já feito, e particularmente belo, como ela admitia silenciosamente.

– Por que você quer esquecer? ... - ela sussurrou uma última vez.

Inclinou-se para frente, aproximando-se lentamente. Ela depositou um beijo na testa dele, apenas mais uma singela demonstração de afeto. Depois levantou-se, fechou a porta e saiu.

Mais tarde, no grande salão, todos conversavam animadamente, bebendo suco de laranja ao redor da grande mesa, relembrando os momentos divertidos da noite anterior.

– ... Então, parece que a festa foi animada... - o rei comentou, bebericando seu copo.

– E como! Não vejo uma festa animada assim há décadas! - Legolas riu.

– Eu nunca tinha visto alguém beber tanto! - Belle comentou.

– Verdade! - Caspian concordou.

– Falando nisso, onde está Gimli? - Sam perguntou.

– Deve estar em algum lugar, morrendo de dor de cabeça! - a moça que os servia riu.

– Não, espere... - Sam falou.

Todos ficaram em silêncio. Ouviram um ronco baixo, que começou a se tornar bem alto. A princípio, parecia um ronco de urso, escondido na floresta. Mas começou a ficar tão alto, que logo concluíram que estava muito próximo.

Legolas curvou-se para o lado esquerdo. Gimli ainda estava deitado, no mesmo lugar que caíra na noite anterior. E dormia profundamente. Legolas olhou para os outros, com um sorriso maroto no rosto.

– Eu cuido disto.

Ele pegou o copo dele, encheu com água, e bebeu um pouco. Depois, virou-se para Gimli, mas ficou olhando para todos. Despejou todo o conteúdo do copo sobre o rosto do anão adormecido, despertando as gargalhadas em todos.

– Ah! O quê?! - Gimli acordou, e levantou-se - Eu estou bem! Estou bem!

– Bom dia para você também. - Legolas pegou uma maçã da fruteira.

Todos riram, enquanto o desengonçado anão sentava-se à mesa. Katherine entrou no salão, silenciosa. Embora fossem apenas nove da manhã, seu semblante indicara que ela estava acordada há muito mais tempo.

– Oh! Katherine! Venha juntar-se à nós! - Belle convidou - Estamos rindo da ressaca alheia.

– Bom, então hoje vocês terão muitos motivos para rir, quase todos os guardas ainda estão dormindo! - ela avisou, sentando-se à mesa.

– É bom saber... - o rei disse, fazendo Katherine se tocar que dedurara todo mundo PARA O REI.

Todos riam outra vez. De repente, o rei olhou para Katherine. A chegada da moça lembrou-o de um assunto que o perturbara durante o sono.

– Então, senhores, quando pretendem partir para Gondor? - ele perguntou sem rodeios.

– O mais breve possível, majestade. - Caspian pronunciou-se - Mas precisamos ainda conversar entre nós... É que, não sabemos bem o que vamos encontrar...

– Fome, miséria e morte. É isso o que vão encontrar. - uma voz fez Sam e Katherine se voltarem para a entrada do salão.

PL aproximou-se da mesa, mantendo a mão direita sobre a testa. Puxou uma cadeira, ao lado de Legolas, e sentou-se.

– Minha cabeça parece que vai explodir. - ele comentou para o elfo. - Como você aguenta?

– Nem todos são elfos. - Legolas se limitou a dizer.

– Mas se a situação está tão terrível assim, precisaremos de ajuda. - Sam se pronunciou. - Não sabemos ao certo quantas pessoas estão padecendo. Famílias, clãs, um reino inteiro! Apenas nós sete não poderíamos fazer muita coisa por eles.

– Quanto a isso, não precisam se preocupar. Eu providenciarei tudo o que precisarem. - o rei se ofereceu.

– Majestade? - Belle olhou-o.

– Sim! Como bem disse Lady Katherine, meu reino já está bem forte e estabelecido. Estamos em plenas condições de ajudar eles a se reestabelecerem. - o rei explicou.

– Bom, então, sejamos sensatos. - Belle falou - Não seria prudente irmos todos. É melhor mandarmos uma pequena equipe de busca, e os outros ficam, aguardando ordens.

Sam olhou para a irmã. Ela estava sendo uma excelente estrategista, tinha que admitir. Apostaria que tinha aprendido tudo aquilo com Edmundo.

– Eu vou. - ela segurou na mão da irmã, que sorriu.

– Eu também. - Caspian se pronunciou.

– Se me permitem, gostaria de ficar. - Katherine pediu - Mesmo sendo uma causa nobre, eu já sinto orgulho em apenas ficar aqui e esperar.

– Eu também ficarei com você. - Legolas falou - Se vossa majestade permitir, gostaria de auxiliar com as tropas.

– E eu também. - Gimli se pronunciou.

– Eu não vou arrumar um caixote para você conseguir olhar por cima da muralha desta vez! - Legolas protestou.

– Eu cresci cinco centímetros desde a última batalha! - Gimli retrucou - Acho que já consigo enxergar sozinho!

– Tudo bem, Gimli, pode ficar! - Katherine riu - Será muito bem-vindo aqui.

– E você, PL? - Belle perguntou. - Vai ou fica?

Todos olharam para o rapaz de ressaca. Na verdade, ele não opinara muito desde que se sentara à mesa com eles. Mas a resposta estava em sua mente, embora estivesse bem conturbada. Não queria deixar eles irem sozinhos, pois sabia dos riscos que isso implicaria, mas também não queria voltar para casa. A vida de peregrinações era divertida, sim. E as preocupações e responsabilidades de seu lar o assustavam.

– Eu vou e fico. - ele respondeu, enfim.

Todos o olharam, confusos.

– Vai e fica? - o rei repetiu.

– Eu vou com eles até Gondor, e quando for necessário, retornarei com a mensagem. - ele explicou.

– Muito bem, então somos um grupo de quatro pessoas. - Belle falou - Iremos para Gondor. E que Aslam nos ajude.

As palavras de Abelle deram um novo ânimo a todos. Na verdade, falar sobre Aslam sempre dava um novo ânimo. Era sempre muito bom ouvir e falar sobre ele, e esta era a primeira vez que isto era feito fora de Nárnia.

Passo Largo levantou-se. Não queria mais ficar ali. Já não aguentava a ideia de ter que voltar para casa, e agora todos ficavam felizes pela simples menção de alguém que não existe.

– PL! - Belle falou, fazendo-o parar - Obrigada. Por nos ajudar.

– Só faço porque quero que isto tudo acabe logo. - ele respondeu friamente - Entenda isto como quiser.

– De qualquer forma, obrigada. - ela repetiu.

– Como quiser. - ele respondeu.