No Rugido Do Leão

Capítulo 17 - E começa a jornada


Quando os primeiros raios de Sol brilharam nos Mares Orientais, Caspian encontrava-se encostado na frente do estábulo, observando o movimento matinal dos cavalos e seus cuidadores. Apesar de se manter em silêncio, seu coração estava inquieto, pois sabia que aquele poderia ser seu último momento no seu reino, partindo para uma viagem que duraria semanas, talvez meses.

– Bom dia, majestade! - Rip-Chip fez uma reverência.

– Bom dia, amigo. - Caspian respondeu, olhando para os outros.

– Majestade, seus mais fortes animais já estão prontos para a partida! - disse Darlon, capitão da guarda.

– Obrigado, mas creio que minhas primas vão querer escolher suas prórpias montarias. - ele disse, sorrindo ao ver Abelle correr em sua direção.

– Mesmo?! - ela pulou em seu pescoço - Obrigada! Obrigada!

– Tá bem, tá bem! - Caspian a empurrou gentilmente, não estava acostumado com demonstrações de afeto - Vai escolher seu cavalo, vai!

Abelle saiu saltitante, à procura de seu cavalo já escolhido. Caspian observava-a sorrindo. Ver a alegria nos olhos dela o deixava feliz. Era bom trazer felicidade para alguém de sua família, e ao olhar para o lado, logo sentiu o dever de um irmão mais velho.

– Se continuar a olhar nesta direção, - Caspian rosnou - será a última coisa que verá. Vai celar Destro, meu cavalo.

– Perdão, milorde! - Darlon saiu, envergonhado.

– Poderia eu ter uma conversa franca com o rei? - Rip-Chip perguntou, subindo na cerca, de modo a ficar mais alto.

– Não vejo porque não. - Caspian apoio-se na cerca. Na verdade, sabia o que o ratinho queria.

– Meu senhor, acha mesmo necessário ir nessa empreitada? - ele perguntou.

– Seja mais específico. - Caspian olhava Belle montar em seu cavalo.

– Milorde, não é seguro para um reino que seu rei já em uma aventura rumo ao desconhecido. O que sabemos sobre este peregrino? Quem garante que, assim que vocês deixem os limites de Nárnia, ele não os mate em uma emboscada? Ou pior, antes disso! - Rip-Chip retirou seu aro de ouro da orelha e o segurou - Eu temo pela sua segurança, meu rei. Pela de vocês três.

Caspian suspirou. Sabia que já era hora deles terem esta conversa.

– Meu caro amigo. - Caspian olhou nos olhinhos brilhantes do roedor - Eu vivi a minha vida toda preso nas muralhas deste castelo, e agora, a aventura me chama mais uma vez, e meu coração quer segui-la. Se eu correr risco nesta empreitada _ e sei que vou _ não consigo imaginar ninguém melhor para cuidar de meu reino do que você, meu amigo. Tens um coração nobre, Rip-Chip. Vai ficar tudo bem.

– Também tens um coração nobre, meu rei. - Rip-Chip sussurrou, vendo o rei correr na direção de Destro, seu cavalo. - E é por isso que temo por sua segurança.

Quando o relógio da torre bateu 9 horas, eles quatro montaram em seus cavalos e pegaram o caminho que sai do castelo e leva para a floresta, cortando a cidadela. O povo aplaudia, e jogava flores e ramos verdes pelo caminho, desejando sorte aos viajantes nobres. Não demorou muito, e adentraram a floresta.

– Não me lembro da floresta narniana ser tão escura... - Belle retraiu-se.

– É que o Sol ainda não teve tempo de aquecer o chão úmido e frio por causa do orvalho da noite! - explicou Samantha.

– Pessoal, vocês ouviram isso? - Caspian alarmou-se.

O vento quente erguia folhas secas e flores do chão e dos galhos das árvores.

– Deve ser um cervo. - Passo Largo desdenhou.

Era tudo, menos um cervo. O vento tornou-se forte, e fazia redemoinhos de folhas em muitos locais. Belle olhou para samantha e sorriu, tinha quase certeza do que era.

– Será que... - Samantha sussurrou.

Então, fez-se ouvir o som de cascos pisando no chão macio de terra, assustando aos rapazes, e deixando em júbilo o coração das moças.

– Saquem suas armas! - Passo Largo pegou sua espada.

– Guarde já isto! - Samantha sussurrou - O único pensamento mau que encontrará aqui será o que tiver trazido consigo!

Contrariado, Passo Largo colocou sua espada devolta na bainha. Assim que retomou as rédeas, algo maravilhoso e assustador aconteceu. Um vento quente carregou flores e pétalas de flores rosas pelo ar, que flutuavam, voando ao redor deles. Essas pétalas se dividiram e se concentraram, formando belos corpos.

– O que é isso? - perguntou Caspian, maravilhado.

Ouviram-se risos femininos pelo ar, gargalhadas debochadas. Caspian teria ficado envergonhado, se a cena não fosse tão bela.

– São dríades, primo! - Belle sorriu - Não é maravilhoso?

Ouviu-se na floresta uma melodia harmoniosa. Primeiro, pensaram que era uma flauta solitária, mas depois muitas e muitas outras juntaram-se à primeira, bem como harpas e pandeiros. Seres saltitantes começaram a surgir por detrás das árvores. Tinham pernas peludas, pés de bode, e pequenos chifres na cabeça, alguns retorcidos para trás. Uns eram castanhos, outros, brancos, e ainda outros eram negros. Quando as dríades os viram com seu pandeiros, flautas e harpas, voaram ao redor deles e dos viajantes, cantando uma canção, um soneto, que fez a todos sorrirem.

Aqui agora passam por nossa calma estrada

Belos cavaleiros e donzelas armadas

Buscando grandes aventuras

Acreditem, eles encontrarão

Em meio à florestas escuras

Agora, daqui partirão

Guardando sempre em seu coração

A bênção do Grande Leão

Oh sim! A bênção do Nobre Leão

E repetiam em uníssono a última estrofe. Passo Largo observava tudo, mais abismado que encantado.

– Que lugar é esse? - ele sussurrou para si mesmo.

– É Nárnia, meu senhor! - disse sua égua - Simplesmente Nárnia.

Passo Largo tomou o maior susto de sua vida. Sua égua falara! Estaria ele ficando louco?

– Mestre Passo Largo, - Caspian apeou Destro, para irem mais devagar - tudo bem?

– Ele logo se acostuma, - falou Phill, cavalo de Belle - não é mesmo, Lady Samantha?

– É sim! - riu Samantha, e aproximou-se de Passo Largo - Minha senhora, qual é sua graça?

– Sou Safira, - respondeu a égua - Sou neta de Phillip, o cavalo do Rei Justo.

– Pois bem, agora já vi de tudo nessa vida... - Passo Largo sussurrou.

Pouco antes de cruzarem a fronteira da floresta narniana com a floresta que circuncida as montanhas da Arquelândia, os faunos, dríades e esquilos falantes despediram-se deles, desejando-lhes sorte em sua aventura. E desapareceram, cantando, por entre as árvores.

– Mestre Passo Largo, - Caspian quebrou finalmento o silêncio. O sol já agonizava no crepúsculo. - já viu um dragão?

– Perdão, como? - Passo Largo não entendera a pergunta.

– O senhor disse que já viu de tudo em suas viagens e em sua terra, então, já viu um dragão cuspidor de fogo? - perguntou Caspian outra vez.

– Na verdade, não aparecem dragões por aquelas bandas há mais de 200 anos, então, não. - ele falou.

– Quer dizer então que existem dragões lá? - Belle perguntou, empolgada.

– Bem...sim. - Passo Largo admitiu.

– Gente, acho melhor irmos verificar o que é aquilo lá! - disse Samantha, correndo com seu cavalo.