Capítulo 10 - Uma Tarde Maravilhosa, Uma Notícia Não Tão Boa Assim.

– Pela milésima vez, não Caspian! - riu Abelle.

Caspian estava sentado no chão, de frente para ela, olhando para a capa de um livro que pegara na estante. Era como se sua biblioteca imensa não tivesse livro algum, e as palavras que ele acabara de ouvir não faziam sentido juntas.

– Mas e se o Príncipe tivesse beijado uma condessa, ou mesmo uma cortesã qualquer, o reino não acordaria do feitiço do mesmo modo? - Caspian insistia no mesmo ponto de vista.

– Não, Caspian! - Abelle explicou mais uma vez - O Príncipe Encantado quebrou o feitço ao beijar a Princesa Aurora porque a Bruxa Má lançara o feitiço diretamente nela!

– Então, - ele prosseguiu lentamente, tentando compreender - o feitiço só poderia ser quebrado se ele beijasse especificamente essa dama real?

– Exatamente! - exultou Belle.

– Ainda não faz sentido para mim! - Caspian falou, por fim.

– É um conto! Para algo ser bom, não precisa necessariamente fazer sentido! - concluiu Belle.

– Tudo bem, vamos tentar outra vez! - disse Caspian, arrumando-se em seu lugar.

– Tá bem, deixe-me ver... - Abelle folheou as páginas do livro, até encontrar um conto com uma capa ricamente ilustrada, que, por sinal, era um de seus preferidos - Este aqui é perfeito!

E começou seu relato assim:

"Era uma vez, há muito tempo atrás, uma pequena garotinha. Em seu aniversário, sua Vovó deu-lhe um lindo capuz vermelho de lã; que a garotinha amou tanto que usava todo o tempo. As pessoas de sua vila passaram então a chamá-la de Chapeuzinho Vermelho."

– Por enquanto, a história soa engraçada: a garota recebeu um apelido devido a uma roupa que usava! - interrompeu Caspian - Muitos nobres guerreiros são lembrados por suas virtudes, como o próprio Grande Rei Pedro, O Magnífico, ou Rei Edmundo, O Justo, ou mesmo Caspian I, O Conquistador. Jamais pelos trajes!

– É realmente uma grande falta de cortesia interromper um relato! - Belle cruzou os braços.

– Perdão, milade! - Caspian desculpou-se - Por favor, continue!

– Bem...

"O tempo foi passando, até que o aniversário de Vovó chegou. E Chapeuzinho Vermelho, para agradecer, fez um delicioso bolo de passas e mel e o colocou em uma pequena cesta de vime. Ela decidiu levar pessoalmente; mas Vovó morava em uma outra vila, e o único caminho para chegar lá, era atravessar um escura floresta, conhecida dos arredores por ser a habitação de um enorme lobo feroz. Mas mesmo assim, ela vestiu seu capuz, pegou sua cestinha e foi."

– Pela Juba do Leão! Onde está a mãe desta criança?! - revoltou-se Caspian, levantando-se - Onde já se viu, arriscar a vida de uma garotinha por causa de uma idosa solitária! Pois que mandasse um mensageiro a cavalo, assim ninguém correria riscos!

– Sabe que nunca parei para pensar nisso? - Belle concordou - Realmente foi muita imprudência!

– Tragam-me essa mulher! - Caspian gritava - A mãe desta criança merece levar 20 chibatadas pela falta de juízo!

– Mas como é exagerado! - Belle riu.

Eles ouviram o sino do forte tocar suas corriqueiras badaladas. Eram 17:00hrs da tarde, hora do chá em Londres. Caspian e Abelle levantaram-se do chão, e guardaram rindo os livros que retiraram da prateleira, os quais usaram para comparações e questionamentos. Abelle pegou o livro que lera a tarde toda, "Contos da Rainha Lúcia", e o guardou na prateleira, como se fosse a joia mais preciosa do universo. Que belíssima tarde eles tiveram!

– Se os ventos forem oportunos, voltaremos aqui após o café da manhã, amanhã, certo? - disse Caspian, com alguns livros nos braços.

– Sim, e poderei então contar-lhe mais histórias do meu mundo! Existe um escritor que minha irmã acha um gênio, já ouviu falar de Júlio Verne? - ela dizia empolgada, pegando os livros que Caspian segurava e colocando-os nas prateleiras.

– Não, do que se trata? - ele perguntou.

– Ah, ele escrevia obras maravilhosas de ficção, como Vinte Mil Léguas Submarinas, Viagem Ao Centro Da Terra, Da Terra à Lua, A Volta ao Mundo em 80 Dias, 5 Semanas Em Um Balão... – Belle contava, cada vez mais animada.

– Que é um balão? - Caspian perguntou.

Belle riu com a afirmação do primo. Apesar de poucas pessoas terem visto pessoalmente, todos na Inglaterra sabia o que era um balão, para que servia e como funcionava. Mas, bem, ela não estava mais na Inglaterra, e isso não era ruim.

Samantha abriu a porta da biblioteca suavemente. Caspian assustou-se, e até pensou em voltar para seu quarto e evitar de falar do incidente, mas sua prima estava tão estranha, que sua curiosidade agarrou-lhe pelos pés e disse para sua mente "Mas é agora que você não vai embora mesmo!" O rosto de Samantha parecia transtornado, estava com o nariz e as maçãs de seu rosto visivelmente coradas, e seus olhos estavam molhados, mesmo sem derramar uma lágrima. Ela estava ofegante, mas não como se tivesse corrido muito, mas estava como quando você tenta se manter séria por um tempo na frente de alguém, mas assim que sai da presença dessa pessoa, você desaba. Se você já passou por isso, sabe o que ela estava sentindo naquele instante.

– Mana! - Abelle se assustou, vendo agora que sua irmã estava ali - O que aconteceu?

Ela olhou para sua irmã e suspirou, como quem já teve chorando momentos antes. Caspian agora estava mais curioso que nunca. Abelle se aproximou de sua irmã e segurou suas mãos.

– O que foi? - ela perguntou outra vez.

– Passo Largo quer falar com nós três. - ela disse, enfim.