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— Meu irmão nunca foi uma pessoa fácil de lidar, mas confesso que quando você chegou facilitou as coisas para ele, assim como para todos nós. – Elijah surgiu com as mãos nos bolsos – Isso me faz pensar, se você não é uma das poucas pessoas... Ou talvez a única capaz de nos livrar da maldição Mikaelson. A maldição que nossos pais começaram, e que Niklaus deu continuidade. – olhou para o piso bem encerado.

— Comovente. A órfã que mudou a vida do sanguinário e de sua família perdida. – olhou pela janela mantendo os braços cruzados enquanto o senti andar pela sala silenciosamente. – Prefiro olhar de outra maneira, eu sou aquela que apenas passou pela vida de vocês como qualquer outra pessoa, alguém que talvez vocês vejam daqui 500 anos como Katherine. Talvez mais uma de seus inimigos.

— Por quê tão enfurecida Natalia? – ele a questionou – Ainda não consegue perceber que as coisas continuam como estão só por Niklaus querer?

— Niklaus... ou vocês? – ela se virou o olhando – Ele é um obstáculo, foi um por muito tempo. Vocês são a família dele e ao invés de tentarem o ajudar quando ainda tinha solução resolveram ignorar o problema até que chegasse ao ponto em que ninguém pode mais reverter, até chegar ao ponto de se calar e aceitar. Até o ponto de serem imortais e estarem mortos. Eu não quero isso pra mim, eu não conseguiria ficar feliz estando dessa forma.

— Acredite quando digo que ninguém está. Vivemos na sombra dele por tempo demais, mas as coisas mudam desde agora, Niklaus não tem mais controle algum, está perdido e assustado. Nós precisamos um do outro, como uma família mais do que nunca. Sempre soubemos passar pelos perigos sem a ajuda um do outro, mas quando Niklaus perde o controle e não sabe o que fazer, é o momento em que todos temos que nos unir. – ele a olhou seriamente enquanto segurava a mão gelada dela – Esse é o momento de acabarmos com a nossa guerra, e nos voltarmos para nossos inimigos.

...

Klaus suspirou com os dedos nos lábios enquanto olhava a morena deitada na cama, finalmente após muito tempo de insistência. Elijah se sentou ao lado dele em uma poltrona vendo o irmão passar o dedo sobre o anel de Valerine que tinha a mão sobre a cama, Niklaus deu a volta no local e verificou novamente o soro que caia vagarosamente.

— O quanto? – Elijah questionou.

— Muito. – se referiu a piora.

Nos últimos dois dias Valerine vagou incansavelmente pela casa, entrou em todos os buracos possíveis, andou pelo jardim, mexeu em tudo que aparecia pela frente sem nunca para, sem nunca se cansar. Até o momento que simplesmente Niklaus a jogou na cama e a encheu de agulhas, vomitara por horas, ofegara e tivera dores de cabeças terríveis. As tosses eram extremamente altas e causava agonia a qualquer um que a ouvisse.

— Ela vai morrer. – Elijah disse sem ganhar a atenção de Niklaus, ele já sabia disso, só não queria que ninguém dissesse isso. – Você é sujo. – isso fez o loiro rir, ele sabia disso. – A colocou em nossas vidas, deu motivos para ela ficar... vai deixar ela morrer sem saber e ainda vai se torturar por tudo o que você fez. Pelo seu jogo imundo, isso vai doer Niklaus e então você vai entender que não pode controlar tudo. Você não vai a salvar.

O loiro se preparava para o socar quando Davina entrou no quarto ao lado de Marcel os encarando, a expressão dela era de desagrado.

— Eu não consegui. – ela afirmou – Eu não faço ideia de como inverter isso, usei o sangue que me deu e consegui uma concentração muito baixa da cura, não dá pra fazer nada com aquilo.

— Como uma filtração? -Marcel a questionou.

— Sim. – ela confirmou com a cabeça – Eu precisaria de todo o sangue do corpo dela pra conseguir uma cura decente, mas não teria como resolver o problema dela. Ela vai ter que se tornar humana, e vai ter que ter forças pra sobreviver a transformação. Valerine é uma vampira jovem, talvez se conseguir passar pelo processo dos cinco dias ela consiga sobreviver. A cura só vai ficar por 5 dias ir circulando pelo organismo, até ela se tornar completamente humana.

Marcel ficou completamente em silêncio, recebera a noticia e entrara em choque antes de ir atrás de Davina e basicamente a sequestrar. Vira Natalia, Rebekah e Kol passarem por cada habitante da cidade investigando cada um deles, foram até o corpo de Esther e ele ainda estava lá. Algo de fato muito estranho para Natalia que demorou muito para entender que o corpo de Esther estava completamente vazio e que ela não pretendia continuar usando aquele corpo. Afinal eles a achariam rápido demais. Finn no entanto se encarregara de buscar informações nas cidades vizinhas onde acreditava que Esther poderia estar, já que acreditava que ela tentaria conseguir aliados.

— Temos dois dias.- Klaus avisou saindo do quarto enquanto pensava em Natalia e no próximo alvo de sua mãe.

...

— Eu não entendo. – Natalia falou confusa olhando para Sebastian que a analisava cuidadosamente – Valerine simplesmente está estranha, humana. – comentou com ele tentando o manipular, Sebastian era um ser sobrenatural e talvez soubesse de mais coisa do que aparentava, ela sabia que ele não era Esther... afinal Esther não a beijaria. Ou tentaria.

— Uma cura? – ele suspirou – Uau, eu realmente não esperava por isso. – ele a puxou para o lado a colocando na parte seca da calçada – Eu sinto muito pela sua mãe, deve ser algo difícil ver isso. E para Klaus deve estar sendo também. – comentou pensativo – Não é fácil perder uma filha. – ele deu de ombros quando percebeu o olhar intenso dela – É o preço que se paga quando entra para o mundo sobrenatural. Vai ficar com eles?

— Klaus vai me expulsar. Não temos ligação, eu não sou importante pra ele. – mentiu – Ele só me aceita devido a Valerine. Você deveria saber disso, para Klaus somente a família dele e o sangue dele é importante. – Sebastian concordou com a cabeça e pousou a mão no ombro dela respirando fundo e a encarando.

— Eu irei te ajudar.- ele sorriu calorosamente - E espero que assim você decida me dar uma chance. – piscou se afastando.

...

— Me perdoe.- Marcel olhou dentro dos olhos escurecidos de Valerine e limpou o suor do rosto dela – Eu não imaginava que iria acabar desse jeito.

— O que me faria querer continuar sendo imortal? Relaxe, com sorte um dia nos encontramos. – ela brincou recebendo um olhar feroz – Nossa Marcy que mal humor.

— Eu não imaginava que...

— Imaginava sim, no momento que me transformou você sabia que eu iria morrer cedo, foi por isso que você me escolheu, mas você não imaginava que iria se apegar a mim não é?- sua voz era fraca e baixa, a pele pálida e gelada.- Não seja mentiroso e não deixe que Klaus engane Natalia, eu conheço o que ele guarda, eu sei que não é o suficiente para impedir ela.

— Natalia pode se virar sozinha. – Valerine suspirou enquanto Marcel pensava em suas palavras.

— Ela só vai aprender a se virar sozinha, quando eu finalmente parar de prender ela a mim. Marcel... Natalia sempre precisou de alguém pra mostrar a ela como lidar com Niklaus e o mundo sobrenatural, o que ela não sabe...é que ela nunca precisou de mim. Eu sou só a figura que incentivou ela a se libertar, por quê assim como Klaus, eu a oprimi quando tentei tornar ela mais humana, e talvez tarde demais eu tenha percebido que isso foi um erro, eu estava tirando sua coragem de lutar contra isso.- confessou, no fundo Valerine sabia, sabia muito bem de seus erros. – Você me deu a maior diversão que eu poderia encontrar em anos, mesmo nada disso tendo me feito feliz.

Ele confirmou com a cabeça e se afastou dando um aceno em direção a ela quando Natalia tomou o seu lugar, Marcel não estava preparado para despedidas tão cedo, afinal ainda acreditava que o problema possuía solução. Ele apenas dera uma morte mais lenta a Lerry durante esses anos.

— Como pode estar tão tranquila? – Natalia a questionou de imediato vendo a expressão neutra da mulher que se concentrava apenas em olhar o teto.

— Eu vim esperando por isso. Quando Marcel me contou o que eu faria como babá eu quase não acreditei. Fiquei em fúria, eu não queria ser imortal, nunca quis... e tantos anos como uma vampira não me fizeram pensar o contrário. Eu vi sua família, e vi Niklaus... eu o observei por todos esses anos e tentei entender o quê fazia ele ter tanta vontade de viver, o analisei por anos tentando entender como ele conseguia. Tentei o imitar, mas isso nunca entrou na minha cabeça. Eu não senti como é ter uma família, se me perguntarem se um dia eu senti vocês como minha família eu irei negar. Por que é a verdade, por mais que eu tenha passado tantos anos com vocês, não existe um único momento em que eu tenha me sentido viva de verdade. Eu devo ter nascido com algum defeito, me aproximei, protegi, ensinei e isso não me tornou uma pessoa melhor. Nada me fazia me sentir melhor, as coisas boas pareciam não existir Natalia. – a olhou intensamente – Nem sempre a imortalidade é capaz de trazer alguém a vida. Não desista de tudo como eu.

— Não consegue gostar de nós?- elas se encararam – Esse foi o seu problema durante tanto tempo?

— Eu não consigo me sentir parte de vocês. Não me sinto parte desse mundo, nem como humana e nem como vampira. Por que acha que eu nunca tentei me manter viva? Por quê nunca me importei com os problemas? Eu fiz tudo o que podia, o que faltou? Marcel contou que eu sequestrei um bebê e aguentei brincar de mamãe só por duas horas antes de quase o matar? Contou que eu viajei o mundo? Conheci pessoas? Alguns caras? Que fui a festas e tentei ter amigos? Que eu tentei ao máximo encontrar um ponto positivo na imortalidade?

E então dolorosamente Natalia entendeu. Valerine sempre cuidara de todos eles, e jamais recebera nada em troca, nem mesmo um simples favor. Ela estiver com todos a favor de todos, mas sempre sozinha. Valerine fora usada como se fosse um monstro descartável e se tornara exatamente isso, ela não se sentia parte deles, por que nunca foi parte deles. Assim como vinha sendo com Natalia, Elijah ainda não lutava por ela, por não sentir ela como parte dele. Eles nunca haviam visto Valerine mais do que uma máquina de terror e nunca fizeram se sentir diferente de tal.

Isso era doloroso, era cruel. Era esmagador, era como receber uma apunhalada no coração. Era gélido e ao mesmo tempo quente, era horrível e mesmo assim Valerine não os culpava. Ela achava que o problema era ela, quando na realidade eram eles. Eles destruíam os de fora e os de dentro, Natalia agora tinha uma visão mais ampla do que era ser um Mikaelson. A imagem era imunda.

— Eu sinto muito. – a vampira sussurrou segurando as mãos dela antes de desaparecer do quarto a deixando confusa, com a mente trabalhando a todo vapor.

Valerine tinha respostas e agora precisava de soluções antes que fosse tarde demais.