23

Rebekah se sentou ao lado de Valerine no banco de madeira do lado de fora, Kol lia uma revista do outro lado do jardim enquanto a vigiava deixando que Valerine tomasse um pouco de sol. Ela estava sem agulhas e ficava apenas deitada olhando o céu azul enquanto pensava na vida “breve” que tivera. Valerine por diversas vezes pensou em como seria se continuasse viva. Como seria se fizesse aquilo que tinha vontade, se tivesse se apaixonado... sua vida continuaria sendo tão vazia assim? Se alguém tivesse sentido o mesmo por ela? Provavelmente seria tudo diferente.

Mas esse pensamento não a fez se arrepender, nem mesmo temer a tão esperada morte. Espera um dia que o mesmo acontecesse com Natalia, sua nada doce criação. Valerine era realista, embora qualquer ser “imortal” quisesse se negar, em algum momento a morte chegaria para todos. Viver não é um destino, é uma conquista... mas a morte, ela sim pode ser considerada um destino.

— Kol já havia me falado sobre você antes de eu a conhecer, você trouce algo importante para nós. Natalia se mostra cada vez mais forte e decidida. Eu sinto que você foi a grande mudança na nossa vida, na família.- Rebekah comentou ao notar a mudança de Elijah, uma mudança um tanto quanto dura quando o viu enfrentar Niklaus e se dispor a buscar respostas com Natalia sem se importar com a vontade do irmão.

— Eu sei. – sussurrou vendo a outra rir com uma careta.

— Não se ache. Ainda nos odiamos.- concordaram com um aceno.

— Eu acho que... eu tenho a impressão que talvez, eu saiba o que Esther planeja. – as duas se olharam – Ela está perto demais Rebekah, cada vez mais perto. Ela esteve na casa. – a avisou – Eu achei a receita da cura, na casa. – a loira a olhou surpresa – Antes de irmos para Veneza... e depois que voltamos. Isso significa que ela não quer só Niklaus, ela vai recomeçar a cura... isso vai levar anos. Ela só vai conseguir mais três doses novamente. Para você, Elijah, Kol.

— E Finn? -ela a olhou.

— Ela já tem a quarta cura. – comentou sombria.

— Valerine... – ela suspirou antes de encher os pulmões – Como revertemos a cura?

— Uma cura para a cura. – sussurrou – Eu não faço ideia. Ouvi Natalia comentar com Elijah que Esther tinha perdido sua chance de ouro, que eu e ela havíamos acabado com a sua chance de conseguir contornar o problema. Talvez... eu penso que existe uma cura para a cura e que Natalia está juntando peças, mas que não chega a lugar nenhum. Eu tenho que investigar mais. – sussurrou se levantando e em seguida sendo segurada por Rebekah quando desmaiou.

— Ah claro. – a loira resmungou sentindo o peso em seus ombros – Se você conseguir.

...

Natalia o atormentou por horas e horas e horas, contando todas suas teorias. Enchendo sua cabeça, ele já estava farto. Sabia que era um merda, e por isso a deixou falando sozinha e passando direto por Elijah sem se incomodar em o expulsar do mesmo ambiente que a garota.

— Natalia. – Elijah a cumprimentou e ela sorriu sendo abraçada por ele que apoiou o queixo em sua cabeça.

— Olá. – suspirou engolindo a raiva que sentia no momento, os olhos flamejando de ódio se fecharam enquanto adotava uma postura relaxada – Nada demais até agora, achei algumas coisas em línguas estranhas e entreguei para Davina, talvez ela consiga transcrever disse que levaria algum tempo, mas acho que... não temos esse tempo.

— Ela sabe. - ele apenas a respondeu tentando a tranquilizar – Todos nós sabemos.

— Precisamos saber qual o próximo alvo e quanto tempo isso vai demorar, se soubermos podemos montar uma armadilha e pegar quem vai utilizar a cura, e obter as respostas. A de Katherine foi um ataque pessoal, ela não queria pegar nem um de nós. Ela queria Valerine e armou aquilo, Esther vai usar no maior alvo que obviamente é Niklaus, não tem sentido ela me transformar. Eu sou uma recém- nascida, posso sobreviver a isso facilmente.

— Não quer dizer que ela não irá tentar algo contra você. – o rosto se retorceu e ele se afastou – Vamos ficar de olho em qualquer um que passe por nós, vampiro ou não. Qualquer um quer ter a sorte de ganhar algo de Esther.

— A cura mata lobisomens e bruxas? – ela o questionou.

— Segundo as pesquisas de Valerine apenas anula os poderes de bruxas e a transformação dos lobisomens e algumas de suas habilidade. Todas basicamente.

A cabeça de Natalia começava a se encher de possiblidades e então o som no andar de cima chamou sua atenção, em menos de meio segundo ela já estava sentada na cama encarando Valerine, o cheiro de sangue inundava o quarto, mas não a atraia em nada. Valerine parecia quase morta e Natalia soube que o tempo havia acabado, Marcel estava sentado do outro lado do quarto as olhando.

— As coisas não são tão complicadas quanto parecem, é só ter a cabeça no lugar. – ela sorriu – Ela sabe que eu sei, mas acha que eu vou levantar e ir atrás dela ao invés de contar pra alguém.- sussurrou – Acha que eu tenho ódio de vocês e que vou os deixar morrer.

— O quê? – Natalia a questionou.

Valerine apontou com a cabeça para a gaveta e Natalia a abriu encontrando papéis antigos em uma língua estranha, outros em um inglês limpo.

— Eu sei que a solução está nisso ai. E você vai entender quando eu for... que uma coisa pode estragar todas as outras coisas. Tudo tem falhas. Não precisa o matar, só acorde ela em seu corpo real. E esteja preparada.

— Você sabe quem é? – Natalia a questionou sem surpresa, sabia que Valerine vinha cavando muito fundo.

— Ainda não percebeu?- a encarou chocada – Ela está no corpo do Finn. Desde que ele voltou.

Natalia desabou olhando surpresa para Marcel que havia ficado extremamente pálido, os dois olharam para Valerine que tinha o semblante extremamente sério, toda sua calma durante esse período era um aviso para os dois. Ajam em silêncio, é uma situação de risco. Não poderiam deixar Esther recuar, nem saber que eles tinham tanta informação.

— Sem pressa. – Valerine pediu – Uma investigação de uma vida.- zombou se lembrando desde o início de tudo.

Os dois sorriram para ela e Natalia a abraçou com força sendo imediatamente retribuída, as duas puderam sentir todo o laço que as uniam, todas as lembranças de uma vida. Em mais de 18 anos aquele fora o primeiro contato sincero que Valerine sentira, Marcel se juntou as duas se sentando ao lado delas e as abraçando. Suas duas irmãs em uma dolorosa despedida.

...

— São duas.

— Três. – Niklaus a corrigiu com os braços ao redor dos ombros dela que mantinha a cabeça apoiada em seu braço, Valerine estava quase completamente coberta. – Seu cérebro vem se deteriorado querida? Tenho certeza que não deveria ficar assim, e nem analfabeta. – ele repreendeu quando viu que ela se quer se esforçava em terminar a leitura do livro.

Valerine suspirou com os olhos cravados nos dele, Niklaus tinha uma expressão carregada, negativa, sombria e pesada. Ela se questionava o motivo constantemente e Niklaus se perguntava qual o motivo para ela não estar enlouquecendo e ao menos entrando em desespero, ele podia sentir que Valerine exalava tranquilidade e até mesmo um pouco de felicidade. Ele sabia bem o motivo, sentia percorrer todo o seu corpo, o incendiar mesmo no momento doloroso. Ele a tinha bem ali, como em nunca tivera antes. Seu experimento.

— Natalia te contou?

— Sim.- admitiu lembrando-se que Elijah tivera sérios problemas para o colocar em seu lugar antes que colocasse tudo a perder, embora Marcel estivesse bem pior que ele.

— Existe mesmo outro mundo?- perguntou em voz baixa – Acha que meus pais vão estar lá? Com as pessoas que matei?

— Elas não te farão mal. – ele a garantiu.

— Eu as farei.- ele riu e ela se sentiu sonolenta – Não faça isso. Eu não quero sonhar.

— Não farei. – ele concordou tocando o longo cabelo escuro. - Eu sinto muito, por tudo. – ele reconhecera sua culpa.

— Eu não te odeio. Se eu não estivesse pulando prédios, mordendo pessoas e perseguindo vadias o que eu estaria fazendo? Com meu ex idiota comendo pipoca? Não parece uma aventura. – ela sussurrou – Eu já vivi tempo demais Klaus eu já deveria estar morta há muito tempo, eu me transformei depois de ter sido alvejada até a morte em uma missão. Eu estava acabada. – o reconfortou respirando fundo com os olhos presos no teto – Eu cumpri minha missão.

— Sim. – Klaus se manteve quieto a observando por um breve tempo antes de aproximar seu rosto do dela e pousar seus lábios delicadamente nos dela, como bem sabia o beijo de um vampiro era capaz de transmitir exatamente o que um vampiro sentia.

E ela sentira tudo o que ele jamais a contaria, e ele soube pela reação dela que o mesmo se passava com ela. Ela sentira que ele estava com medo, com culpa, com dor, remorso, carinho, tristeza e amor. Nada precisava ser dito, cada um sabia o peso que o outro carregava. Valerine apenas teve sua mão segurada com força enquanto fechava os olhos respirando ofegante sentindo pela primeira vez em tempos as lágrimas queimarem os olhos, as quais ela não derramou.

— Não precisa ter medo. Eu ainda posso te assombrar por muito tempo. - os dois sorriram e Valerine finalmente dormiu com os lábios puxados para cima, o semblante calmo, tranquilo que mostrava que seu interior estava em paz e feliz. Ela ao menos fora, sabendo que notaram sua existência.

— Até logo. – ele sussurrou.

Quando Niklaus acordou o corpo ao lado estava frio, o peito já não subia mais, o coração não batia. Não havia resquício deque Valerine ainda vivia e muito menos que iria retornar. Ele esperou uma, duas e três horas. Esperou que o sangue que lhe dera no dia anterior fizesse efeito, mas ele não fez. Valerine não mudou, ela continuou sem vida. Completamente inerte e isso lhe doeu.

Ele a usou desde o início, usou suas habilidades, inteligência, sua força, experiência, seu otimismo, sua precaução, seus medos e sua dor. A privou de uma vida feliz, não fizera nada de bom para quem tanto se arriscou e ainda se mostrou mais forte que ele mesmo antes de morrer. Se mostrou leal, Valerine amava e era amada. Só não sabia.

Quando Klaus descobriu o que sentia, ele ignorou completamente. Para ele não havia espaço em sua família para a colocar, Valerine carregou sua própria dor e a dor de todos eles. E só recebera um beijo no final da vida, sem sentir ódio ou rancor dele. Enquanto ele a usava como boneca de teste ultrapassando tudo que sentira, contando apenas com os benefícios que teria sobre os inimigos. Ele se privou e a privou de ter o que necessitavam e ela não o odiava, mas ele não poderia se odiar mais ainda.

Niklaus era um monstro e ele sabia disso.

Eles a enterraram pouco tempo depois no cemitério, não houvera nada demais como sabiam que Valerine não gostaria que tivesse. Todos partiram em breve, cada um preso em seus pensamentos, semblantes pesados e cansados. Niklaus se mantivera diante do túmulo por breves minutos antes de se agachar e deixar uma orquídea diante do túmulo e se afastar.

Aqui está Valerine Gustach

Grande amor, grande irmã. Fomos privilegiados em tê-la, será lembrada e eternamente amada