Nezushi - Uma utopia de nós dois

Can't Take My Eyes Off Of You


Perdoe o jeito como eu olho fixamente,
Não existe nada mais para se comparar.
A sua visão me deixa fraco,
Não sobram palavras para falar.
Mas se você sente-se como eu me sinto,
Por favor, deixe-me saber que é real.
Você é linda demais para ser verdade,
Não consigo tirar meus olhos de você...

Finalmente uma ruptura na minha rotina. Depois de semanas sem ir para o distrito oeste, finalmente surgiu uma oportunidade para me encontrar com ele. Na verdade, eu só iria ajudar a guarda-cães a limpar os cachorros, mas quem sabe ele não poderia aparecer.

— Como anda a vida, Shion? — perguntou enquanto me observava esfregar a quem eu carinhosamente apelidei de Nostradamus. — Depois que você voltou para a cidade perdida, não o vejo mais com tanta frequencia.

— Eu não queria deixar minha mãe sozinha, você sabe disso. — respondi, cansado. — Mas ... e ele?

Deixei a palavra criar seu próprio significado, enquanto pairava no ar.

— Ele? — Se fez de desentendida — ah... ele.

Fiquei em silêncio.

— Não entendo isso. — Respondeu, deixando outro cachorro se secar nela — Ficam os dois vindo aqui, como se estivessem interessados, em fazer companhia para mim, e sutilmente perguntam um do outro.

— O quê? Ele perguntou de mim? — Gaguejei desconcertado.

— Está me zoando né Shion? — suspirou — Por que você não vai até ele de uma vez?

— porque talvez não seja real. — Parei um momento apenas para me aconchegar no pelo macio da Vina. — Outro dia, eu vim aqui assistir uma peça que ele representava.Ele não sabia que eu estava lá, e... Foi lindo. Ele estava tão incrível, que não soube o que dizer. Sabe... Eu não consegui tirar os olhos dele. Era como se fosse o paraíso, uma visão utópica demais para ser verdade.

— Deixa eu ver se entendi... Você está com medo de que o Nezumi não exista de verdade?

Ri com sua ironia sem limites.

— Não leve tão ao pé da letra. O que quero dizer, é que sinto que se eu chegar perto demais dele, o Nezumi pode desaparecer. E o que eu sinto por ele, também.

— ah... vocês ficam o tempo todo dizendo isso e aquilo, e inventando desculpas, quando na verdade a única coisa que precisam enfrentar são vocês mesmo. Não saberá se ele irá desaparecer, até tentar.

— Não acha isso arriscado demais? — ponderei — Quer dizer não posso arriscar tudo.

— Tudo? — me encarou como quem dissesse “complete a frase”.

— Tá... quase tudo. Ainda tem minha mãe ,o Hamlet, Cravat, os cães, você...Depois disso, o meu “tudo” é completado por ele.

— Fico lisonjeada por fazer parte desse 1% no seu “tudo”. Mas como estava dizendo, mesmo que seja arriscado, você tem que tentar.

— Você não entende guarda-cães... eu prefiro observar ele de longe, e suprir meus desejos, do que arriscar nunca mais vê-lo.

— ah... vocês complicam tanto. Bem, o motivo por eu ter te chamado aqui foi porque hoje é a última apresentação de Hamlet, encenado pelo Nezumi como Ofélia — Suspirou — Mas como você disse que já assistiu alguns dias atrás, então não vai querer ver.

— Está brincando? — levantei de súbito — Nem se tivesse visto um milhão de vezes, me entediaria. Eu não me canso de olhar para ele, até porque não há nada que sirva para comparar.

— Arg. Quanta melosidade. — se virou caminhando para ir embora.

—Mas sabe guarda-cães... — suspirei novamente —eu me pergunto de vez em quando... e se ele se sentisse como eu me sinto... Poderia ser real?

Ela apenas me encarou com um meio sorriso nos lábios, me indicando uma resposta que eu sabia que não poderia ser dita. E quetampouco poderia se tornar realidade.