Nezushi - Uma utopia de nós dois

Can't Remember To Forget You


I left a note on my bedpost

Said not to repeat yesterday's mistakes

What I tend to do when it comes to you

I see only the good, selective memory

The way he makes me feel yeah, gotta hold on me

I've never met someone so different

Oh here we go

He a part of me now, he a part of me

So where you go I follow

Acordei com o lento caminhar de Cravat sobre o meu corpo. Suas minúsculas patinhas faziam cócegas em minhas costas nuas. Levantei subitamente, tendo em mente que se ele estava ali, o Nezumi tinha mandado algo para mim. A expectativa de um encontro fez meu cérebro girar, e antes que tomasse posse do bilhete, caí novamente na cama macia, sorrindo. Mesmo que tentasse esquecê-lo, no fim das contas essa era minha reação quando pensava nele. Devia parecer um idiota, provavelmente. Esse era o seu efeito sobre mim, assim como a lua tinha o poder de atrair as águas, Nezumi me atraía. Mas da mesma forma que soava perigoso, era prejudicial. Como se lesse meus pensamentos angustiantes, Cravat deixou o bilhete em cima do meu ombro, e foi embora.
— Espera... — pedi em vão, o que me deixou ainda mais triste. Não devia ser um encontro mesmo... Se ele não precisava da minha resposta... Finalmente li o papel, pondo fim nas minhas suposições.
" hoje a noite terá um festival aqui no distrito oeste... Com dança e comida. Venha... Se quiser. "
Aquilo com certeza não foi esclarecedor. Quer dizer... Ele não sugeria um acompanhante, e nem pedia com clareza absoluta minha presença. Na verdade, nem chegava a mencionar que ele iria. Mesmo sem a certeza de que poderíamos nos encontrar, fui.
Antes de mais nada, fui na casa do Nezumi, mas como de costume não o achei lá. Parecia que ele me evitava e me chamava para perto ao mesmo tempo. Decidi que iria encontrá-lo no festival. Se fosse para descrever, eu descreveria como: barulhento demais, para mim. Ao todo não estava nada mal, havia muitas luzes e barracas com comidas e brincadeiras. Depois que o sistema arbitrário do governo da No.6 caiu, foram unificados os distritos e era possível ter fácil locomoção entre eles. E naquele momento parecia que todos os distritos estavam ali, concentrados no mesmo lugar. Uma aglomeração maluca de pessoas felizes sorridentes. Me deixei levar pela felicidade alheia, até reconhecer uma forma no meio da multidão. Seu cabelo escuro estava mais longo do que me lembrava, mas ainda se mantinha preso no habitual rabo de cavalo. Sua pele aparentava estar mais pálida do que de costume, e também seu corpo ficou mais magro. E seus olhos... Ainda tinham o mesmo poder arrasador. Não percebi estar com um sorriso bobo nos lábios, até ele sorrir de volta. Nossos olhares se perderam um no outro, e antes que pudesse quebrar o encanto com palavras nulas, percebi que não dependia de mim, parar aquilo.
— Então você veio... — exclamou com um sorriso lindo — poderia ter chamado sua mãe também sabia?!
—...Não sabia que iria ser algo tão coletivo assim. — esbravejei por pensamento. Mas por fora apenas senti minha pele esquentando.Por um momento ele não soube o que dizer, e eu tampouco. Surpreendendo-me ele pegou minha mão, e me puxou por entre as milhares de pessoas que ocupavam o festival, mas que naquele momento se transformaram no que nada menos que um borrão ao meu redor. Ele me tocava... e seu toque era cálido demais para mim aguentar. Quando pensei que desmaiaria, Nezumi chegou ao fim de um suposto beco, e transpassou algumas ruelas que nesse momento se encontravam vazias. Fomos caminhando por mais uns cinco minutos, sem direito a uma única palavra, apenas o som dos instrumentos desaparecendo num degradê de ondas sonoras. Sem que isso fosse necessariamente um efeito do seu toque em mim. — Ahn... aonde estamos Ne...— Ergueu a mão, interrompendo-me. Não havia mais ninguém, apenas nós dois e um monte de ... nada. Ele olhava para algo diferente, o que fiz pela primeira vez desde que meus olhos o encontraram. Era difícil desconectar. Toda a No.6 estava lá embaixo, com direito a restos mortais de um muro que já existiu ali. Nezumi voltou os olhos para mim, e percebi que não havia mais ódio em seu olhar, ele aprendeu a admirar tudo aquilo o que já tirou a felicidade dele. — Shion, você cortou seu cabelo? — Suas palavras me pegaram desprevenido, e murmurei alguma monossílaba como resposta. — Ficou bom...O jeito que ele me fazia sentir, era aterrador. E a única testemunha ali era a lua e sua luz roubada. — Nezumi por que me trouxe aqui? — Achei que preferiria um lugar mais... privado. —...— Desculpe Shion... estou agindo como um idiota. — Pela primeira vez soltou minha mão, o que me deixou triste. — Fique a vontade, para voltar para a festa.Não suportava aquela contradição, que ele me fazia passar. Apenas tomei coragem e segurei forte sua mão novamente, me negando a encará-lo com meu rosto que agora devia estar muito vermelho. Pelo canto do olho o vi sorrindo, um sorriso tímido e alegre pela minha decisão. Nezumi tocou suavemente meu rosto, obrigando-me a olhá-lo, o que não foi muito difícil com seu toque gentil. — Obrigado... — murmurou inaudível, enquanto encostava nossas testas. Nossos cabelos se juntavam formando uma coloração interessante, e por mais envergonhado que estivesse, não ousaria me afastar dele. — Você está vermelho Shion... — Disse, sua boca a poucos centímetros da minha. Constatei que ele também corava, o que o deixava ainda mais lindo. — Você também... — sorri, embargado com a emoção da expectativa. E como se ouvisse meus pensamentos, Nezumi sorriu de volta. Bastou um instante para que não houvesse mais nada entre nós. Mesmo que segundo a lei de Newton, dois corpos não ocupassem o mesmo espaço, naquele momento nós quebramos as leis da física.