Maria Hill

–Essa é uma péssima ideia.

–Pode falar suas sugestões, sinta-se a vontade – Fury falou dando de ombros, ilegível como sempre. –Você sabe que é disso que a gente precisa. E melhor ainda, o que eles nem ao menos esperam.

Suspirei irritada encarando-o. Ele pode ser o homem mais impossível de convencer de todos, mas tem boas ideias. A final, ele criou os Vingadores. E por esse mesmo motivo estávamos nessa sala de reunião.

–E como pretende fazer essa seleção? Panfletando a cidade de Nova York? – perguntei, tentando ao máximo não fazer meu repentino interesse visível.

–Sabe melhor do que ninguém nossos métodos, Hill. Não vai ficar surpresa quando eu te comunicar em alguns dias.

O encarei novamente, surpresa pela resposta áspera. Soltei um breve suspiro e tornei a questioná-lo.

–Só não entendo a necessidade desse novo grupo, francamente. Se é porque Os Vingadores não o obedecem, por que vai usar o mesmo molde com esses? Já deveria saber muito bem que não deve tentar mandar em pessoas mais poderosas que você.

–Não entendo esse surto de rebeldia, Maria. Já está acostumada a treinar novos agentes, não vai ser muito diferentes com esses.

–Já foram escolhidos?

–Está sendo encaminhado.

Lilith Wood

Oliver não saia do sofá por nada no mundo. Sophia corria de um lado para o outro com uma fralda limpa na cabeça. A casa estava uma bagunça e minha cabeça estava explodindo.

–Argh, fiquem parados! – resmunguei fazendo com que Oliver finalmente levantasse do sofá marrom, carregando o cobertor colorido pelos ombros indo ao meu encontro– Então você vai finalmente me escutar, huh?

–Estou com fome, não com compaixão – o menino falou me encarando.

–Eu sou sua babá, não sua chef pessoal – rebati sarcástica procurando por Sophia.

–Hm –Ele murmurou me seguindo pelo corredor –Você sabe que eu não vou sair do seu pé até você me dar comida, né? Eu gosto de pizza, falando nisso.

Arqueei as sobrancelhas para a criança. Eu já era babá há alguns anos, mas essa era a primeira vez que eu cuidava de duas crianças que já conseguiam andar e falar. Nas outras vezes eram bebês, o que eu considero muito mais fácil. Eles choram, sim, mas eu só tenho que trocar fraldas, dar uma mamadeira (que na maioria das vezes já está pronta quando eu chego na casa) e colocar a criança no berço para que ela durma. Agora crianças de três anos para mais precisam ser entretidas, já tem gostos e são super elétricas.

–Vai fazer lição de casa no seu quarto ou alguma coisa assim que vou pedir sua pizza – Me dei por vencida.

–Tem que ser de calabresa. – Ele falou se distanciando de mim – E eu tenho sete anos. Meu dever de casa é ser criança. Se procurar por mim, vou estar jogando GTA.

Olhei surpresa para o menino que saltitava até a sala feliz, e dei de ombros voltando a procurar pela menina enquanto pedia a pizza de Oliver. Encontrei Sophia minutos depois disso. Ela estava no quarto brincando com algumas bonecas que tinham tutus combinando com os cabelos coloridos.

–Pensei que seria mais difícil te encontrar – Murmurei. A loirinha sorriu para mim, enquanto fazia uma barbie montar em um pônei. Algumas fraldas limpas estavam jogadas pelo quarto, como já era esperado. Ajeitei um pouco o quarto dela e desci correndo as escadas para finalmente buscar a pizza encomendada. Uma mulher trazia a pizza nos braços, com um sorriso forçado nos lábios.

–Hm, obrigada – falei esboçando um sorriso, pronta para fechar a porta após a pagar.

–Espere! – A mulher falou, segurando a porta.

–Eu não posso dar mais gorjeta, eu trabalho aqui – falei sorrindo falsamente, tentando fechar a porta de novo.

A mulher segurou a porta novamente, dessa vez com mais força. Arqueei as sobrancelhas, estranhando o gesto. Ela soprou uma mecha loira para fora de seu rosto e se dirigiu a mim.

–Tenho que conversar com você. Agora.

–Eu trabalho aqui, não vai dar – Falei com um sorriso sarcástico – E tenho certeza que estou mais interessada nisso do que em qualquer coisa que você esteja tentando me falar agora – comentei fechando a porta novamente na cara da mulher. Escutei ela bufar e chamei Oliver, que matou mais duas pessoas no jogo até decidir que era hora de comer.

–Chama a sua irmã lá em cima, ela deve estar com fome – falei– estou preparando algo para ela comer agora...

Ele pegou dois pedaços de pizza (segurando um em cada mão) e enquanto mordia ora um, ora outro, subia as escadas atrás de Sophia.

Escutei um barulho na sala e larguei a papinha na bancada da cozinha.

–Oliver, eu pedi para você ir chamar a sua irmã! – falei procurando por ele com os olhos, encontrando no lugar a mulher da pizza novamente. –Olha, isso é invasão de domicilio. E eu já falei que essa casa não é minha! Você deve ser meio doida para pular uma janela atrás de gorjeta, porque né...

A mulher bufou e sacou uma arma do bolso da calça marrom, tirando o colete da pizzaria.

–Ok, isso continua sendo crime – falei arregalando os olhos.

–Só escuta logo – A mulher falou parecendo cansada. Ela apontou com a arma para o sofá. O ambiente não estava muito bom de qualquer jeito. Se eu olhasse para um lado eu via uma loira apontando uma arma para um sofá. Olhando para o outro lado eu via um GTA pausado com uma mulher morta no centro da tela. Sentei no sofá esperando por uma explicação. Não havia nenhum jeito de fugir, já pensei nisso. – Não precisa se assustar ok? – Ela disse finalmente guardando a arma novamente no bolso– Eu fui enviada para cá para te convencer, e seria muito bom se você fizesse minha tarefa mais fácil. Sou Sharon Carter.

–E de que isso me interessa?

–Eu pedi para facilitar, não para aumentar o sarcasmo – ela falou irritada (que parecia ser seu estado natural àquele ponto). – Sou da SHIELD. Você já ouviu falar d’Os Vingadores, tenho certeza. Pois é, estamos por trás disso. E você está selecionada para participar de um grupo como esse.

–Você é a pior pessoa que eles poderiam ter enviado para me convencer – comentei– E isso não quer dizer que eu estou acreditando da sua maluquice, mas o que vocês sabem sobre mim?

Ela sorriu falsamente pelo meu primeiro comentário e escutei passos no andar superior.

–Eles estão descendo. Sai daqui logo, já vou lá fora – falei a empurrando até a porta, fechando essa novamente na cara dela. Por prevenção tranquei todas as janelas do primeiro andar, esperando pelas crianças – Demoraram, hein! – disse, agradecendo internamente por essa demora.

Deixei os dois na cozinha comendo e sai da casa, procurando pela mulher loira. A encontrei ao lado de uma van preta; ela se apoiava no carro com os braços cruzados, com a aparência novamente amarga.

–Olha, você pode continuar a inventar essas coisas, mas faz isso longe daqui, por favor – disse – Ainda não sei como você conseguiu pegar a pizza do entregador, mas sei que você não está bem agora.

–Eu não sei o que eu tenho que fazer para te convencer, mas você está me irritando agora! – resmunguei um “idem”, mas ela pareceu ignorar minha fala– Vai nesse endereço amanhã e alguém mais paciente vai te explicar tudo, ok? Se você não aparecer lá vou ter que te visitar de novo.

Coloquei o papel no bolso revirando os olhos e observei a van se distanciar.

–Aconteceu alguma coisa? – Sophia perguntou sentada em uma das cadeiras da cozinha, com papinha de bebê espalhada pelo chão todo. Oliver comia um pedaço de pizza enquanto manuseava o controle do console que estava mergulhado em molho de tomate.

–Deixa pra lá, criança – falei sorrindo de leve, enquanto pegava um pano para começar a limpar a bagunça que os dois fizeram em tão pouco tempo.

–Ela definitivamente vai estar aí amanhã.