Maya Clark

–Eu ainda não entendi o por quê de terem escolhido a gente – Lilith sussurrou, se sentando na cadeira ao lado da minha ao redor daquela enorme mesa de vidro na sala de reuniões – Como eles mesmos falaram, a gente não sabe fazer nada! Se essa ideia é alguma coisa, é suicida.

–Eu acho que é isso que eles estão tentando nos explicar –Um garoto falou se sentando do outro lado da mesa, com algumas cadeiras de distancia entre ele e o menino de cabelos claros cujo nome eu ainda não sabia. Lilith sorriu sarcasticamente em resposta.

Eu observei os dois garotos desconhecidos por mim e tentei encontrar algumas características neles. Apenas consegui ver que o de cabelos mais claros usava óculos e parecia mais animado, enquanto o de cabelos mais curtos e escuros mexia no celular ao prestando muita atenção na sala. A única pessoa que eu conhecia daquela sala era Lilith.

Um homem entrou na sala sem olhar para qualquer um de nós. Ele usava uma capa que ia até a altura dos joelhos (o que até combinava com a temática de “heróis” da conversa, para falar a verdade), um tapa-olho e tinha a cabeça raspada. Um pouco mais atrás dele havia uma mulher que tinha o cabelo escuro preso em um coque apertado. Ela usava um uniforme escuro, que parecia ser bem comum nas pessoas daquela organização. Depois ainda tinha uma mulher loira com o cabelo preso em um rabo de cavalo frouxo, com o mesmo uniforme preto da primeira mulher. Eles foram para o extremo da mesa redonda, onde havia um suporte de vidro com nada em cima, ambos de costas para a enorme parede de vidro que cobria o interior do prédio, parede essa que tinha como vista a cidade de Nova York.

–Vocês já sabem o motivo de sua visita, não? – O homem de tapa-olho perguntou, e vi ao meu lado Lilith pronta para retrucar com um “Hm, não!”, mas ela se conteve. – Vocês foram chamados para cá por agentes que explicaram um pouco da nossa iniciativa, mas vou esclarecer algumas coisas antes do treinamento de vocês começar;

Ele não dava muita brecha para perguntas, o que parecia irritar a morena do meu lado, que vez ou outra bufava no tom mais baixo possível.

–Como vocês viram recentemente Tony Stark foi atacado por ter revelado sua identidade– o homem que eu descobri se chamar Fury começou e eu escutei a Lilith falar ao meu lado “porque ele pediu para que o atacassem, você quer dizer” – e por causa disso ele está perdido.

–Vocês querem que nós o salvemos? – O garoto animado perguntou, novamente, animado.

–Não, não, ele consegue se virar –Fury falou dando de ombros.

–Hm, então o que querem que a gente faça? – O garoto do celular perguntou, erguendo os olhos do aparelho pela primeira vez desde que entrei na sala.

–Vocês já sabem a identidade dele. Logo a dos outros deve vir a tona. Nós precisamos de um grupo incógnito, desconhecido. Não queremos que saibam seus nomes ou que tenham falsas identidades. Apenas um grupo ara nos ajudar a ajudar as pessoas. Vocês usariam uniformes da SHIELD modificados, parecendo apenas agentes normais.

–Então por quê não apenas usar agentes reais daqui? Você sabe, pessoas treinadas? –Lilith perguntou.

–Nós queremos um grupo discreto, mas também pensamos que os nossos inimigos, eles têm pessoas modificadas geneticamente, eles usam da ciência para melhorar as pessoas.

–E não temos os recursos para fazer algo parecido por enquanto –a mulher loira disse, interrompendo o homem – então a melhor solução seria selecionar pessoas que já tem essas... Mutações. – ela continuou, olhando para todos do grupo. – Para que assim não tivéssemos que modificar ninguém.

–Como assim? –O garoto do telefone perguntou parecendo desconfortável – O que querem falar com mutações?

A mulher loira sorriu de canto, e encostou no suporte de vidro que estava sobre a mesa. Uma imagem saiu dele imediatamente, como se fosse um tipo de holograma, já que as imagens não precisavam de superfície alguma para serem apresentadas. A imagem de inicio parecia ser um tipo de pássaro, provavelmente uma águia, com um circulo desenhado atrás dele, com alguns desenhos nele. Imagino que essa deve ser a logo da organização – a SHIELD.

O homem de capa apontou para o holograma, que mostrou outra imagem. Um garoto vestido com um uniforme azul e vermelho, com algumas coisas que se assemelhavam a teias de aranha pretas por si. Eu não conseguia ver o uniforme muito melhor que isso, já que a foto foi tirada há uma certa distância do homem. Depois de alguns segundos a imagem começou a mexer, mostrando ser na verdade um vídeo. O garoto soltava algo branco os pulsos, e isso o levava como uma corda (na falta de melhor explicação) até o topo de um segundo prédio; ele fez isso mais algumas vezes até estar completamente fora de nossa vista.

–Eu conheço esse uniforme – comentei, assim que o vídeo foi pausado – Homem aranha, certo?

O garoto animado que estava do outro lado da mesa sorriu olhando para mim, e os outros não falaram mais nada. Dei de ombros e voltei a olhar para as imagens.

Dessa vez a pessoa da imagem era Lilith. Ela parecia mais nova, provavelmente com quinze anos apenas. Olhei pelo canto do olho para ela, que parecia bem apreensiva. A imagem começou a se mexer novamente e mostrou ela no topo de algum prédio antigo, talvez abandonado. Ela parecia estar bem mal. Lily andava de um lado para o outro mexendo no cabelo. Ela estava muito mal e eu mal conseguia a reconhecer. Depois de alguns segundos ela respirou fundo e asas saíram das costas dela. Asas pretas, com penas grandes e longas. Elas cobriam as costas e tinham um formato um pouco angular. Ela estava de costas no vídeo, então não era possível ver as reações dela para a mutação presente. O vídeo parou em seguida, e todos encaram Lilith, que parecia bem irritada.

–Então vocês basicamente espionaram a gente por anos? – ela questionou, levemente alterada.

–As perguntas podem ser feitas no fim da apresentação – a mulher que tinha o cabelo preso num coque falou, e percebi que tentava ao máximo parecer gentil. Em resposta Lilith bufou sarcasticamente.

Eu estava confusa demais para falar alguma coisa, e acho que boa parte da sala se sentia assim também. Por esse motivo o próximo vídeo foi acionado para começar. Dessa vez aparecia o garoto do celular. Ele estava numa casa imensa. A imagem era razoavelmente ruim, parecia ter sido filmada por trás de um vidro, quem sabe de uma janela, o que eu acho bem possível.

A filmagem parecia ser recente, já que ele não está muito diferente do garoto que está na sala. Imagino que devem ter filmado em menos de uma semana. O garoto erguia objetos com a mente. No filme ele erguia um vaso de flores roxo, que segundos após ser levitado, caíra no chão, se quebrando em algumas dezenas de peças menores.

O projetor foi desligado (novamente com apenas um toque) em seguida, e o homem de tapa-olho tornou a olhar para a gente, provavelmente esperando por reações.

–Como vocês conseguiram essas imagens? Isso não é invasão de privacidade?

–Allen, nós temos autoridade para isso –A agente loira falou.

–Não parece muito certo –murmurei e ela pareceu me ignorar, revirando os olhos.

–De qualquer jeito –a agente morena chamou nossa atenção –Vocês já devem estar entendendo o por quê de terem sido escolhidos para esse grupo, não é mesmo?

–Eu não sei controlar – Lilith falou, relutante. A mulher a encarou com surpresa, mas parecia não querer transmitir o sentimento.

–Bem, é por isso que vão ser treinados aqui. E não planejamos em ter que usar a ajuda de vocês tão cedo aqui. Mas planejamos, sim, deixar vocês prontos para o que pode vir.

–E quando esse treinamento começa? – O moreno animado (que imagino ser o homem aranha, de acordo com aqueles vídeos mostrados) perguntou.