Tiffany’s PDV
Me retirei as pressas da sala e bati a porta do banheiro com força assim que entrei. Sentei no chão gelado, encolhendo minhas pernas contra meu peito, procurando um jeito de me refugiar dentro de mim mesma.

Eu estava chorando mais uma vez naquele dia e eu podia ter a certeza de que aquela conhecida dor estava voltando. Aquela dor que lutei tanto pra tirar de mim.
Eu não sabia o que pensar, o que fazer… E eu só recordo de ter me sentido assim duas raras vezes em minha vida. Quando minha mãe morreu e quando voltei para a América. Eu me sentia incompleta e perdida. Parecia que o que eu precisava pra me sentir melhor era algo além do possível. Quando eu tinha tempo para parar e pensar, eu realmente não conseguia. Meus pensamentos estavam uma baderna.

O que eu faço? Pode parecer ridículo para alguns, mas eu não sei mesmo o meu próximo passo. Tenho medo de perdoá-la e me magoar novamente. Não quero fugir como da última vez e eu não posso fingir que nada aconteceu. Eu vou apenas ignorar.

Fechei meus olhos.

Ainda lembro cada detalhe de muitos dias que passei com ela. Éramos tão felizes, tão unidas. Me pergunto até hoje se fiz algo de errado. Se isso tudo foi por minha culpa.

Eu ainda posso ouvir aqueles barulhos martelando em minha mente e meus gritos descontrolados enquanto você tentava se explicar. Tudo isso permanece tão vivo em mim. Por que não consigo te esquecer? Por que é tão difícil?
Nunca acreditei em destino. Acho que tudo acontece por consequência de escolhas. É costume colocarmos a culpa na vida, no tal do destino. Somos hipócritas a esse ponto. E é por isso que até hoje tento me lembrar se eu fiz algo para causar tudo isso. Escolhas erradas, atos mal examinados, talvez.

Próximo passo: Ignorar. Decidido.

Me levantei, indo até a pia. Joguei água em meu rosto para tentar amenizar a vermelhidão em que ele se encontrava. Logo após poucos segundos observando meu reflexo no espelho, ouvi batidas na porta e voz de Jessica pedindo para entrar, já abrindo a porta devagar.
- Tiffany, está tudo bem? – Jessica perguntou, entrando no banheiro e fechando a porta atrás de si.
- Estou melhor – Sorri, secando meu rosto com a toalha.
- Yuri estava apenas preocupada, não fique brava.
- Jessie, se quer saber, eu até tinha esquecido de Yuri – Coloquei a toalha em seu devido lugar e segurei uma das mãos de Jessica, que tinha um olhar sério.
- No que estava pensando?

A puxei para fora do banheiro, indo pegar minha bolsa.
- Eu tenho que ir…
Ela concordou com a cabeça. Jessica continuou segurando em minha mão, me esperando ajeitar a bolsa em meu ombro.
- Não quer que eu vá com você?
Neguei e vi Yuri sair do quarto, me olhando com seus olhos caídos. Sorri, tentando deixar tudo melhor e fiquei feliz ao receber um sorriso de volta. Nossa relação sempre foi de amor e ódio, nossas brigas nunca duraram mais de trinta minutos.

- Já está indo? – Yuri perguntou.
- Sim, preciso levar a moto antes que Michelle chegue de viagem.
- Ah, tudo bem – Ela sorriu, chegando mais perto de mim e Jessica – Me desculpe por an-
- Está tudo bem, mesmo. A gente conversa mais tarde, ok? – Ela assentiu.
Me despedi de Yuri e Jessica me levou até a porta, insistindo em ir comigo.
- Jessie, eu preciso ficar um pouco sozinha.
- Ok, mas você pode me ligar se precisar, ouviu? – Jessica me abraçou.
- Pode deixar, boss.

Jessica’s PDV
Apertei Tiffany contra meu peito e senti um vazio quando a deixei ir. Não gosto de deixa-la sozinha, eu sempre serei superprotetora quando se tratar de Tiffany. Eu tenho medo de que algo aconteça a ela, tenho medo de perdê-la. Tiffany foi a primeira pessoa que realmente se preocupou comigo, que no colégio veio conversar sem ter medo de apanhar ou coisas do tipo. Eu sinto que ela é verdadeira mais do que qualquer um.

Assisti-a entrar no elevador e antes que eu pudesse me virar para entrar no apartamento, vi HyoYeon correndo até mim. Ela parou em minha frente, respirando ofegante e colocou a mão no peito.
- HyoYeon… - Eu disse, assustada pela sua aparição repentina.
- O-olá – Hyoyeon puxou ar – Jessi… - E respirou novamente antes de continuar – Ca.
- Você subiu cinco andares correndo?!
- Não… - Ela sorriu e abri mais a porta para ela entrar – Eu corri pela rua também.
- Só de pensar já me deixa cansada.

Nós duas rimos e fechei a porta assim que entramos, indo para a cozinha pegar uma garrafa d’agua para a maluca da HyoYeon. Quando voltei, ela e Yuri já estavam conversando.

- Como chegou aqui tão rápido? – Yuri perguntou, fazendo-a sentar no sofá.
HyoYeon respirou fundo mais uma vez, tentando deixar sua respiração normal.
- Eu vim corrend-
- Por que?! Eu disse que posso cuidar dela – Yuri elevou os braços e balançou a cabeça. Aproveitei a falação de Yuri para entregar a garrafa para Hyoyeon. - E você ainda desligou na minha cara!

A mais baixa riu e tomou um gole da água, me agradecendo em seguida.

- Eu estava na farmácia ali debaixo, por isso não demorei – Ela tomou mais um gole e se levantou, indo em direção ao quarto de Yuri, onde TaeYeon estava.

HyoYeon é peculiar, tem alguma coisa nela que me chama atenção. Eu ainda não sei o que é. Talvez a simplicidade que tem para fazer amizades, ela deu uma atenção tão grande para TaeYeon depois de horas que se conheceram. Eu a invejo por isso, como Yuri também. Por essa facilidade de se enturmarem, de serem simpáticas. Eu realmente não sou assim. Eu tento e as pessoas se surpreendem quando eu sou ‘legal’, digamos. Não ligo pra isso, afinal, quem eu quero perto de mim já está, é tudo que eu preciso.

Fui atrás delas e parei na porta, olhando como as duas brigavam indiretamente para ver quem cuidaria de TaeYeon melhor. Estou sentindo pena da baixinha agora.

- Você deu algum remédio para ela? – HyoYeon perguntou enquanto ajeitava os cabelos de TaeYeon, que continuava adormecida.
- Ainda não. Eu ia leva-la ao hospital, mas ela resmungou tanto que acabei não indo.
HyoYeon tirou uma sacola de sua mochila, e pegou uma cartela de comprimidos.
- Yuri, pegue um copo de água, uma toalha molhada e o termômetro, por favor – Ela pediu, sentando-se na beirada da cama, chamando pelo nome de TaeYeon algumas vezes, enquanto acariciava seus cabelos.

Ri por dentro com o comando de HyoYeon.
Yuri concordou apenas com um aceno de cabeça e saiu do quarto.

- Seus pais são médicos? – Me permiti perguntar, enquanto sentava na poltrona perto da cama. HyoYeon se mostra tão caridosa. Fico em dúvida se ela parece mesmo uma médica ou uma mãe, quem sabe um pouco dos dois.
HyoYeon sorriu com a pergunta.
- Não – Ela ajeitou a coberta de TaeYeon antes de continuar – Minha mãe é dona de casa e meu pai é um trabalhador comum de Incheon, mas – Ela me olhou confusa – porque está perguntando isso?
- Você parece estar familiarizada com esse tipo de situação, digo… Como você está tratando de TaeYeon tão bem.
HyoYeon passou os olhos pelo chão e voltou a sorrir.
- Eu sempre cuidei de meu irmão mais novo, acho que é por isso que peguei a prática.
Apenas concordei com um sorriso e vi Yuri entrar no quarto.

Primeiro HyoYeon pegou a toalha molhada e a colocou na testa de TaeYeon, ajeitando-a cuidadosamente. Esta se remexeu na cama, abrindo seus olhos lentamente e fazendo uma cara estranha. HyoYeon continuou seus cuidados, fazendo TaeYeon tomar o comprimido e medindo sua temperatura.
- Trinta e oito e meio – Yuri analisou o termômetro, o repousando na cabeceira da cama, vindo sentar-se ao meu lado, no braço da poltrona – Ela estava mais quente quando a encontrei.
- Como está se sentindo? – HyoYeon perguntou a TaeYeon.
- Bem, HyoYeon-ssi.
- Já que julga estar bem, então me responda o porquê de ter fugido daqui – Yuri perguntou, cruzando os braços.
TaeYeon respirou fundo após a pergunta de Yuri, ela me pareceu estar incomodada.
- Olha, me promete que não vai mais fugir? Eu não quero ter que te prender nessa cama – HyoYeon disse, mostrando seu sorriso em seguida. TaeYeon concordou – Ok, agora me diga o que está sentindo?
- Hm… Só um pouco de dor de cabeça e – Ela sorriu tímida, olhando para a colcha – um pouco de fome.
- Eu quero pizza! – Falei um pouco alto demais, batendo palmas. Yuri me deu um tapa na testa, rindo da minha atitude.
- E a comida que trouxemos do restaurante? – Yuri perguntou – É só esquentarmos ela.
- Eu quero pizza, Yuuuul~ - Insisti, tentando convencê-la com aegyo.
- Eu também quero – TaeYeon disse, sorrindo enquanto olhava para mim e Yuri.
- Não, você vai comer algo decente, não uma porcaria cheia de colesterol e outras coisas ruins – HyoYeon a interveio, enquanto levantava da cama – Eu vou fazer uma sopa pra você.

TaeYeon abriu a boca e eu a esperei reclamar, mas apenas concordou com a cabeça.

- Sopa serve.

Tiffany’s PDV
Fui para casa o mais rápido possível, desejando que Michelle estivesse se atrasado para chegar, mas infelizmente ela sempre foi pontual. Se ela disser que vai chegar às 17h, ela vai estar lá mesmo com você rezando para ela atrasar 15 minutos.

Desci da moto respirando fundo, pois sabia que ela falaria demais no meu ouvido. Entrei em casa e abri um largo sorriso ao vê-la na cozinha, preparando algo pra comer.
- Hmm, cheguei em uma hora boa.

Joguei minha mochila no sofá e fui até ela na cozinha.
- Fany, você chegou – Michelle sorriu, enquanto limpava as mãos em um pano de prato, me abraçando.
- Eu estava com saudades – Apertei minha irmã a enchendo com beijos em sua bochecha. Ela riu.
- Eu só fiquei um dia fora, não acredito que sentiu minha falta – Ela me olhou, sorrindo e voltou a cortar o bacon. Fiz um bico fofo e peguei um pedaço, comendo-o – Como foi seu primeiro dia?
- Ah… Foi normal, nada demais – Dei de ombros e me virei para subir para meu quarto, mas Michelle me chamou atenção.
- Tiffany…

Apertei meus olhos, porque eu sabia o que ela ia dizer. Virei-me, mostrando meu eyesmile.
- Sim?
- Por que quando cheguei, a moto não estava na garagem?
- Hm… Ótima pergunta!

Ri de um jeito nervoso e ela continuava me encarando, com uma das sobrancelhas arqueadas.
- Ah… Você sabe…

- Tia Tiffany!
Salva pelo Tom! Minhas pernas foram abraçadas por meu sobrinho lindo, maravilhoso de três anos e que me livrou de uma palestra por algum tempo.
- Hey, buddy! – Peguei-o no colo e o abracei com toda força, até ouvi-lo resmungar – Eu estava com tantas saudades – Dei um beijo em sua testa e o coloquei no chão novamente, me abaixando para ficar na sua altura. Olhei para Michelle, que me olhava de cara feia. Dei um sorriso estranho e voltei minha atenção para Thomas. – E então, como foi na casa da vovó?
- Foi muito legal! A vovó fez um bolo só pra mim e ainda me deu um boneco do batman!
- Do batman?! Não acredito, eu também quero um – Fingi estar triste e ele passou a mão na minha cabeça. Sorri com sua atitude. Que menino gostoso! – Cadê o meu presente?
- A vovó disse que se você quiser presente, precisa ir visitar ela, como eu fiz – Ele me olhou com um olhar caído e balançou a cabeça pra cima e para baixo algumas vezes.
- É justo – Apertei as bochechas dele e ele abriu um sorriso – A tia quer ver o batman depois, ok?
- Ok!

Tom subiu correndo as escadas e me levantei, me apoiando na bancada ao lado de Michelle.
- Como está vovô? – Perguntei.
Michelle suspirou, jogando tudo dentro da frigideira. Logo limpando suas mãos e se virando pra mim.
- Ele está bem na medida do possível, ainda está tomando vários medicamentos, mas está melhor.
Confirmei com a cabeça olhando para o chão e respirei fundo.
- Você está bem? – Michelle perguntou.

Virei-me para ela, sem responder sua pergunta. A encarei por algum tempo, pensando em contar sobre Taeyeon e ela me olhou sem entender.
- O que foi, Tiffany?

Decidi não falar com ela sobre isso, por agora. Michelle já está cheia de coisas pra se preocupar e resolver, não quero perturbá-la ainda mais.
- Não… Nada. Eu estou bem - Sorri – Ah… Sobre a moto, me desculpe, eu acordei muito atrasada e se eu não fosse por ela, eu não iria conseguir chegar a tempo na faculdade.
- Tudo bem – Michelle me olhou séria – Eu vou deixar essa passar, mas é só dessa vez. Eu não gosto quando você sai com essa moto por aí, é muito perigoso, Tiffany. Por favor, se precisar ir para algum lugar e eu não estiver em casa pegue um táxi que depois eu pago, ok?

Abracei Michelle e peguei minha bolsa na sala, subindo correndo para meu quarto.

Eu gosto quando ela se preocupa comigo, quando ela se mostra tão protetora assim. Eu realmente me sinto protegida e agradeço por ter uma irmã como ela. Tudo bem que papai me deu a moto para que eu não precisasse incomodá-la, mas ela não gosta muito dessa ideia e por eu estar em sua casa, eu vou respeitar suas regras.

Joguei minhas coisas em cima da cama e fui tomar um banho pra me refrescar. A melhor parte do dia é quando eu posso ficar sozinha embaixo do chuveiro. Eu paro de pensar e de me preocupar com tudo. Parece que a água me purifica, quem sabe?
Sai do banho, coloquei uma roupa confortável e desci para pegar algo para comer, quando percebi que eu não tinha comido nada até agora. Olhei no relógio e eram 4:23 PM.
Preparei um sanduíche com tudo que fui achando na geladeira, enchi um copo com suco de morango e me sentei no sofá para comer enquanto via algo aleatório na televisão. Estava passando High School Musical na Disney e como eu estava com preguiça de mudar, resolvi assisti-lo pela sexta vez.

Depois de um tempo acabei cochilando no sofá e fui acordada por Michelle.
- Fany… - Ela me cutucou.
- Hm…?
- Jessica está no telefone, quer falar com você.

Me sentei, esfregando meus olhos e pegando o telefone das mãos de minha irmã.
- Oi Jessie…
- Por que não atende o celular?
- Eu estava dormindo no sofá – Bocejei e me levantei indo em direção à cozinha.
- Que inveja de você. Eu queria dormir, mas Yuri e HyoYeon não param de fazer barulho aqui.
- Vai para casa. O que está fazendo ai ainda?
- Não quero ir pra casa, você sabe, minha mãe está ‘naqueles dias’.
Ri de sua resposta e coloquei o copo na pia.

- Então…?
- Ah… Só liguei para saber se estava bem.
- Estou sim, não se preocupe. E eu disse que ligaria se eu precisasse. Você realmente não vive sem mim, não é?
- Na verdade eu vivo, mas seria chato demais.
- Sei – ri novamente, indo para meu quarto – Então a gente se fala amanhã, ok?
- Tudo bem, até amanhã.
- Beijos, Jessie.

Depois que desliguei conferi as horas no relógio de meu quarto. 6:45 PM. Então resolvi fazer logo as tarefas que foram passadas essa manhã. Como eu não consigo estudar sem música, peguei um CD aleatório na pilha que se encontrava na minha escrivaninha e coloquei no rádio.
Sentei-me à mesa de estudos e abri minha apostila sobre História da Música e comecei a ler o primeiro capítulo. Fiquei algum tempo lendo e anotando tudo que eu achava importante em meu caderno. Acabei me empolgando e li mais uns dois capítulos. Ao menos quando a professora for falar sobre isso eu já estarei por dentro do assunto.

Parei de escrever quando uma música no rádio me chamou atenção…

Flashback

- Hm… Pany-ah? – Taeyeon chamou sua atenção.
- Hm, TaeTae?
- Eu ouvi aquela música... Daquela cantora que você gosta.
- Que cantora e que música, TaeTae? Você sempre me enrola pra ouvir as músicas que te falo pra ouvir... – Tiffany fez um bico mostrando estar magoada.
- Nah, anniyo. Só não sou boa em inglês, aí eu acabo esquecendo... Mas bom, foi aquela música da Mariah Carey, We belong together. E eu gostei, eu consegui entender o titulo por sua causa, Pany-ah... – Taeyeon sorriu tímida, mas se sentindo vitoriosa.
- Jinjja? Você ouviu mesmo?! – A mais nova sorriu, mostrando seu eyesmile, o que fez Taeyeon ficar mais envergonhada – E você gostou mesmo? Ah, eu sabia que você ia gostar, a Mariah é a melhor! – Dessa vez foi Tiffany quem sorriu vitoriosa, sentindo seu coração se alegrar por ser uma grande fã da cantora - Mas você entendeu o título por minha causa? Como assim, TaeTae? – Ela a olhou curiosa.
- Hmm... Porque... – A mais velha hesitou, abaixando a cabeça para tentar esconder a vermelhidão de suas bochechas que começavam a corar.
- Por que...? – Tiffany a olhou confusa, esperando por uma resposta.
- Porque, bom, você sabe... We belong together, eu quero dizer... – TaeYeon passou a falar mais baixo, sussurrando sua última frase – Nós pertencemos uma à outra, Pany-ah...
Tiffany abriu ainda mais seu sorriso, corando de leve com a resposta de sua namorada.
- Ne, TaeTae... Nós pertencemos uma à outra e sempre vamos pertencer...


Fim do Flashback

Me levantei devagar, desligando o rádio e me jogando na cama, tampando meu rosto com o travesseiro.

- Quando é que vou parar de pensar nela?

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