Os primeiros dias de Felisberto em casa passaram lentamente. Havia muito a ser feito, e com quase todas as Benedito fazendo dupla jornada de trabalho, cabia à Ofélia e Lídia a realização das tarefas domésticas e dos cuidados com Felisberto. As demais auxiliavam tanto quanto possível, mas havia sempre trabalho acumulado. Acordavam muito cedo e iam dormir sempre muito tarde.

Aos poucos a rotina da casa se acomodou às mudanças. Felisberto apresentava cada vez menos dor, e por isso conseguia se locomover com a cadeira de rodas, ficando mais independente. Ofélia e Lídia se organizavam entre a limpeza da casa e as refeições, e com a diminuição das despesas, Cecília e Jane conseguiam auxiliar nas tarefas domésticas.

Elisabeta dedicava seu tempo livre à um novo projeto. Apesar de necessário, seu trabalho no café a irritava. Por isso estava decidida a enviar uma coletânea de textos para os mais diversos jornais da cidade. Se recebesse de dois jornais conseguiria dedicar-se inteiramente à sua profissão, e não precisaria aturar grosserias de clientes insatisfeitos com a temperatura de seu café.

Com tantos afazeres, quase não encontrou Darcy naquela semana. Soube por Ernesto que Darcy também estava fazendo algumas horas extras, e por isso chegava mais tarde quase todas as noites. No único dia em que saiu mais cedo da fábrica, Darcy aproveitou para tomar café da tarde com Felisberto, mas Elisabeta o viu apenas de passagem, quando chegava em casa.

Por isso mal houve tempo para pensar naquele – beijo? Elisabeta não sabia se poderia considerar como um beijo. Havia sido um contato de lábios, muito breve, ao mesmo tempo que muito intenso. Mas não havia significado naquele gesto, havia? Eram amigos de uma vida inteira, não era mais do que uma demonstração de afeto. Ou era? Elisabeta já não sabia dizer.

Seus sentimentos por Darcy Williamson estavam embaralhados. Não esperava que aquele adolescente mandão e irritante seria um ponto de apoio tão importante em um momento difícil. Sua principal amizade com os Williamson era Ernesto. Mas, naquele período tão angustiante de ver o pai internado, o abraço de Darcy acalmava mais do que qualquer outro.

Talvez fosse porque Darcy era seguro, responsável. Mas, se fosse sincera, havia algo a mais ali. Uma vontade de tê-lo por perto que ela não sentia com mais ninguém. Uma familiaridade diferente, como se ele trouxesse paz toda vez que entrava no ambiente. E ninguém mais fazia sua pele arrepiar, não daquela forma. E, naqueles dias, com aquele afastamento, Elisabeta sentia falta dele.

Não que fosse proposital. Quando Felisberto estava no hospital, Darcy dormia na casa dos Benedito várias noites por semana. A maioria das vezes no sofá da sala, mas houve duas ou três vezes em que pegaram no sono abraçados, depois dele ouvi-la chorar. E, não importava o horário que Darcy chegava, sua presença sempre era reconfortante. Mesmo nos dias em que ele chegava de madrugada e Elisabeta nem o vi.

Era bom tê-lo por perto, e agora, com Felisberto em casa, não havia tal necessidade. Não havia motivos para que Darcy estivesse sempre na casa dos Benedito, mas Elisabeta ansiava por aqueles momentos. E, naquela noite, onde todos comemoravam a recuperação de seu pai, Elisabeta o observava distraidamente, quase sem perceber. O sorriso dele era largo ao conversar com seu pai, e sua presença enchia a casa de uma forma diferente.

Trocaram apenas um cumprimento breve quando Darcy chegou. Antes de tudo aquilo, não tinham intimidade para abraços ou carinhos. Ao menos não da forma fácil como ela fazia com Ernesto, ou ele com Mariana. Elisa ansiava por conversar com ele. Por passar algum tempo com aqueles olhos focados nela. Mas seria apenas estranho demais interromper a conversa dele com seu pai, ou se aproximar de uma forma que não era natural para eles.

Por isso Elisabeta distraiu-se com suas irmãs, conversou com Veridiana e Ofélia, implicou com Jane e Camilo de forma carinhosa. Passou algum tempo com Ema e Ernesto, indicou livros para Charlotte, e quando, mais tarde, Veridiana pediu carinhosamente que ela fosse buscar a sobremesa na casa dos Williamson, Elisabeta não pensou duas vezes em ir. E, nem por um momento, percebeu que Darcy não estava na casa.

Não sabia o que teria feito se notasse aquele fato. Provavelmente não teria se recusado, não evitaria a presença dele. Mas, talvez, seu coração batesse mais forte e as mãos tremessem. Talvez antecipasse o inevitável. Porém, ao tentar abrir a porta dos Williamson e senti-la fugindo de suas mãos, ao perder o equilíbrio e dar um passo a frente, não tinha qualquer expectativa.

Não até sentir a mão de Darcy em sua cintura, ajudando a equilibrá-la. A luz já estava apagada, e Darcy poderia simplesmente desviar dela. Poderia ignorar a lua que iluminava a casa pela janela. Poderia acender as luzes, fechar a porta atrás de si, e encontra-la alguns minutos depois na casa de Elisabeta. Mas os olhos procuraram os dela, e o ar pareceu mais pesado.

Elisabeta deu um passo à frente, instintivamente. E Darcy não soube porque não tirou a mão da cintura dela. Não soube porque fechou lentamente a porta atrás dela, isolando os dois do mundo. E Elisabeta acompanhou o movimento da porta, encostando-se nela, atraindo Darcy como um imã. Ela duvidava que seu coração pudesse bater mais rápido do que naquele momento.

Os dois poderiam sair daquela situação. Um passo para o lado, se ao menos um fosse capaz de desviar o olhar. Mas não fizeram. E Darcy buscou as mãos dela, enlaçou seus dedos. Como um impulso, prendeu as mãos de Elisabeta acima da cabeça dela. Como se, mantendo-as longe, mantendo-as nas dela, fosse capaz de não tocá-la. Ela deixou um suspiro escapar com o gesto, e Darcy prendeu a respiração.

Darcy colou a testa dele na porta, ao lado das mãos dela. Era quase um abraço, o corpo grande dele cobria o dela. Darcy buscava controle, mas o perdia a cada segundo. O ângulo do pescoço dele estava praticamente em seu rosto, e Elisabeta não resistiu ao impulso de inalar o perfume que vinha dali. A barba cutucando de leve seu rosto, e a vontade que tinha era beijar o pescoço de Darcy. Ele apertou ainda mais as mãos dos dois, mas escondeu o rosto nos cabelos de Elisabeta.

Talvez tenha sido o perfume, ou a respiração dela em sua pele. A forma como sentia todas as curvas grudadas ao corpo dele, aumentando a temperatura daquela noite fria. Não havia mais raciocínio e parecia um caminho sem volta. Por isso Darcy deixou suas mãos descerem pelos braços dela, de uma forma lenta e quase torturante para Elisabeta.

Darcy acariciou os ombros dela, e uma de suas mãos invadiu os cabelos. Sua boca desceu em sintonia, e Darcy mordeu o lóbulo da orelha de Elisabeta. Ela tremeu em seus braços, e os lábios dele colaram em seu pescoço. Debilmente, uma das mãos dela também o segurou ali, com ela. As outras mãos se entrelaçaram novamente, e Elisabeta gemeu baixo ao sentir a língua de Darcy acaricia-la.

As sensações eram intensas demais. Como se fosse uma experiência fora de seu corpo. Elisabeta não sentia-se capaz de controlar nenhum músculo, a respiração irregular, os sons escapando sem controle a medida que Darcy beijava seu pescoço de uma forma quase pecaminosa demais. Porque era mais íntimo do que ela imaginaria ser possível entre duas pessoas.

Darcy parou, depois do que pareceu uma deliciosa eternidade. Colou a testa na dela, e respirou fundo. Estava buscando o controle, mas Elisabeta não estava disposta a parar. Não quando ele estava tão perto, quando aquele toque havia tirado seu mundo do eixo. E porque ele era o cauteloso, e não ela, porque era Elisabeta quem insistia nas brincadeiras perigosas, mesmo com os protestos de Darcy, e porque no final ele acabava concordando com suas aventuras, por tudo isso, foi ela quem buscou os lábios dele.

E ele resmungou, como faria quando era criança ou adolescente, sempre que era vencido por ela. Mas, naquele jogo, queria desesperadamente que a impulsividade dela o vencesse. Não deu tempo à Elisabeta para que fizesse mais nada. Pediu passagem pela boca dela, como se Elisabeta fosse dele. Elisabeta se rendeu sem esforço, sentindo a língua dele tocar a sua em uma dança lenta e exigente.

Nenhum deles pode pensar em outro momento mais excitante em suas vidas. Elisabeta nunca desejara tanto ser tocada, nunca sentira ninguém despertar tantos desejos. E como se lesse seus pensamentos, Darcy tentou se aproximar ainda mais. Elisabeta soltou a mão dele, e tentou puxá-lo para mais perto dela, como se fosse possível ocuparem o mesmo espaço.

Beijaram-se como se estivessem fazendo aquilo por toda uma vida. Porque parecia impossível que encaixassem tão bem, que antecipassem os movimentos, que não fosse nada além de perfeito. Por isso não pararam quando o ar começou a faltar, mantendo a intensidade de um beijo que parecia fazê-los queimar.

Quando se separam, os dois estavam ofegantes. Engoliram em seco praticamente juntos, mas não queriam se separar. Darcy sorriu ao ver o brilho travesso no olhar dela, mas quando se aproximou para beijá-la novamente, Elisabeta o empurrou de leve.

— Alguém pode chegar. – ela sussurrou, como se alguém pudesse ouvi-los.

Darcy franziu a testa, mas a puxou pela mão até o corredor. Pensou, por um segundo, em levá-la para o quarto dele. Mas não era seguro, não tinha certeza se poderia controlar seus impulsos. Por isso encostou-se no aparador no corredor, e a puxou para ele, suas bocas automaticamente se encontrando.

Naquela posição, tudo ficou um pouco mais intenso. Darcy não estava exatamente sentado, mas Elisabeta estava no meio de suas pernas. As mãos dela foram para a nuca dele, e as de Darcy pararam em sua cintura. Quando aprofundaram o beijo, Elisabeta grudou-se ainda mais nele, fazendo-o gemer baixo, impossibilitando qualquer disfarce de sua excitação. E, se deveria fingir recato, Elisabeta faltou tal lição. Repetiu o movimento, fazendo Darcy apertar sua cintura ainda mais.

Ele queria descer suas mãos, queria tocá-la de formas ousadas e indecentes. Queria provar cada parte do corpo de Elisabeta, e se ela pedisse, não teria forças para resistir naquele momento. Mas, o máximo que fez foi descer os lábios em movimento sensual, capturando o pescoço dela novamente, acariciando a lateral de seu corpo em movimentos rítmicos, cheios de promessa.

Desceu um pouco mais para o colo de Elisabeta, e ela apoiou-se nele, puxando levemente os cabelos de Darcy. O contato com o corpo dele era quente, e Elisabeta não resistiu a acariciar o peito de Darcy, a mão brincando com os primeiros botões da camisa dele. Darcy deixou a língua correr pela pele dela, e quando suas mãos ameaçaram ganhar vida própria, voltou a beijá-la.

Foi mais urgente dessa vez, a pelve de Elisabeta buscando à dele por instinto. Darcy respondeu beijando-a com mais paixão, e quando sentiu que não poderia tolerar mais, levantou-se totalmente, grudando-a a parede novamente. Sua mão desceu um pouco pela lateral do corpo dela, e Elisabeta mordeu o lábio de Darcy de leve, fazendo-o abrir as pernas dela com uma das duas.

Precisavam de mais, precisavam mais contato, menos espaço. E, quando parecia que nada mais poderia fazê-los parar, ouviram a porta se abrir.

— Elisa, você está ai? – Mariana perguntou, acendendo a luz que quase chegava a eles.

Os dois se afastaram e Elisabeta tentou arrumar o que podia das roupas e do cabelo. Menos de um minuto depois, entrou novamente na sala dos Williamson. E quando se reencontraram, alguns minutos depois, nenhum dos dois foi capaz de não ruborizar.