Elisabeta não estava evitando Darcy. Se não havia comparecido ao jantar na casa dos Williamson, era apenas porque estava muito cansada. Precisava escrever, precisava se dedicar à seu projeto. Se havia evitado sair de seu quarto ao ouvir a voz de Darcy, dois dias antes, era apenas porque tinha medo de como iria reagir. Mas não estava o evitando. Não teria motivos pra isso. E, se estivesse evitando, não estaria ali.

Não importava que há uma semana Darcy não saísse de seus pensamentos. Que fosse a primeira imagem que tinha ao acordar, que ao deitar fosse tomada pelas lembranças dos lábios dele nos dela. Aquele beijo havia mudado alguma coisa nela. Como se, mesmo passando alguns dias, não estivesse bem centrada. E não conseguia parar de pensar sobre aqueles momentos.

Ao mesmo tempo, não sabia o que sentia por Darcy Williamson. Não sabia se não estava misturando gratidão, se não estava simplesmente vulnerável. Era muito cedo para pensar em paixão, para pensar em amor. E por Darcy? O homem que ela costumava pensar que seria o último a interessá-la? O menino irritante, que a contrariava em todas as coisas?

Mas Elisabeta sabia que talvez fosse. Que fosse paixão, amor, desejo. E temia em partes aquele turbilhão de sentimentos. Temia que aquele beijo fosse o divisor de águas, fizesse tudo mudar entre eles. E, se Darcy não sentisse nada por ela? Eles nunca foram propriamente amigos, não seria surpreendente que ele não gostasse dela. E, se gostasse? Ainda assim não sentia que estava preparada.

Não sentia-se pronta para ser a namorada de alguém, a noiva, quem dirá esposa. Tinha sonhos, planos profissionais, objetivos a serem cumpridos. Gostaria de viajar, escrever um livro. Um relacionamento não era a prioridade. E Darcy era um homem tradicional. Certamente sonhava com uma esposa dedicada ao lar, aos filhos. E Elisabeta não era nada daquilo.

Queria ter filhos, queria uma família. Mas não agora. Não quando havia tanto do mundo a ser visto, a ser conquistado. Darcy Williamson não era um homem sonhador. Era prático, pragmático, pés no chão. Talvez Darcy nunca fosse capaz de compreendê-la, como ela não era capaz de compreendê-lo. E então, o que fazer com aqueles novos sentimentos? Com aquela nova visão de Darcy?

Sua única certeza é que não seria capaz de se afastar. Não depois daquele beijo. Não quando ansiava arder nos braços dele. Sentia como se Darcy houvesse acendido uma parte dela naquela noite, uma parte que ela queria explorar. Queria que ele explorasse. E talvez pudessem continuar evitando uma conversa. Varrendo qualquer sentimento para baixo do tapete e vivendo aqueles momentos.

Era o que ela pensava enquanto o observava concentrado em uma partida de carteado. As mãos dele pareciam diferentes agora que ela sabia como eram capazes de segurá-la. E gostaria de estar mais perto para ver as pequenas nuances dos olhos de Darcy. Sentir seu perfume, o gosto dos lábios. Era diferente agora que ela sabia – muito diferente de quando só imaginava.

Darcy remexeu-se na cadeira, ciente demais do olhar dela. Há uma semana havia perdido o controle e a beijado com paixão, com mais desejo do que podia lembrar de sentir por alguém. E então ela parecia tê-lo evitado. Havia feito com que sentisse culpa, pensasse que havia passado de todos os limites. Até agora, quando os olhos dela acompanhavam todos os seus movimentos.

No fundo havia agradecido pelo afastamento. Precisava pensar sobre o que estava sentindo, sobre o significado de pensar tanto em Elisabeta, de sentir o coração acelerado quando ela estava por perto. Era um misto de sensações desconhecidas para ele. Nunca havia se apaixonado, e não sabia se poderia considerar o que sentia como paixão.

O certo era que queria estar perto de Elisabeta o máximo de tempo possível. Queria que ela acordasse em seus braços, que o beijasse com tanta entrega quanto naquela noite. Mas, por quanto tempo? Quando tempo duraria seu desejo até que achasse que não eram compatíveis, assim como acontecera com sua ex, e com a anterior? Elisabeta era uma mulher com sonhos de independência, mas Darcy jamais brincaria com os sentimentos dela.

Talvez fosse mesmo mais prudente que se afastassem antes de tudo sair do controle. Mas Darcy sabia que era tarde demais, porque só conseguiria se afastar se Elisabeta pedisse. Mas Elisabeta era a pessoa mais corajosa que ele conhecia. A pessoa que colocava seus desejos em primeiro lugar. E, se ela o desejasse tanto quanto ele a desejava, os dois estariam perdidos.

— Ganhei! – Camilo exclamou, e Darcy bufou.

É claro que não estava prestando atenção em nenhum movimento daquele jogo. Já era a terceira vez que perdia, que não conseguia ficar concentrado em nada além do olhar de Elisabeta. Deixou as cartas na mesa e levantou-se, fazendo Elisabeta rir. Ele a encarou, e quando estava andando em sua direção, Ofélia entrou na sala dos Williamson, suspirando aliviada.

— Ah, ótimo, o jogo já terminou. – ela bateu palmas. – Darcy, será que você poderia me ajudar à colocar Felisberto na cama? E vocês, meninas, está na hora de irmos para casa.

E assim foram todas as Benedito, além de Darcy, para a casa da frente.

##

Elisabeta terminava de preparar um chá na cozinha. A noite estava fria e ela ainda podia ouvir a voz de Darcy conversando com seus pais no cômodo ao lado. Mariana acabara de sair da cozinha, e suas outras irmãs já estavam em seus quartos. Elisabeta logo se recolheria também, aguardava apenas Darcy ir embora. Ou, se fosse sincera, um momento a sós para conversarem.

Não que soubesse o que dizer para ele. Mas a situação parecia pedir uma conversa. Não falavam direito um com o outro desde o beijo. Desde antes do beijo, na realidade. E não parecia certo não poder falar com Darcy, não poder agir quase naturalmente perto dele. Ela esperou na cozinha, mas sabia que existia uma chance que sua mãe acompanhasse Darcy e que eles não pudessem realmente interagir.

Um pouco depois, ela ouviu as despedidas. E viu Darcy passar pela porta da cozinha, sem notar direito sua presença. Então ele retornou, e ficou parado ali, no batente da porta, sem saber se entrava ou saia correndo. Elisabeta ergueu uma das sobrancelhas, e isso fez com que Darcy abrisse um sorriso e desse um passo à frente. Entrou no cômodo e Elisabeta teve aquela sensação de que seu estômago dava um pulo.

— Boa noite. – ele disse, como um cumprimento, como se não estivessem juntos há mais de três horas.

— Boa noite. – Elisabeta sorriu, e segurou sua xícara de chá. – Quer um pouco de chá?

— Chá me faz ficar acordado à noite. – Darcy deu de ombros. – E eu já tenho motivos pra isso.

Elisabeta encarou sua xícara, e então a soltou novamente em cima da mesa. Não poderiam ter qualquer tipo de conversa ali, na cozinha de sua casa, com seus pais no quarto ao lado e qualquer uma de suas irmãs podendo entrar a qualquer momento.

— Vamos lá fora. – ela disse, e não esperou resposta.

Mas Darcy a seguiu, como ela sabia que ele faria. O ar frio da noite abraçou os dois, fazendo Elisabeta abraçar o próprio corpo. Darcy fechou a porta atrás deles e novamente estavam ali, com a luz da lua, um céu completamente limpo e estrelado, nos fundos da casa dos Benedito. Elisabeta apoiou-se no tanque, a pedra gelada fazendo seu corpo tremer novamente.

Os olhos dela brilhavam, e Darcy quis se aproximar. Mas encostou-se na parede da casa, sem ficar de frente para ela. O silêncio os envolveu por alguns segundos ou minutos. Nenhum dos dois sabia o que dizer, como ter aquela conversa. E nem se gostariam de ter uma conversa como aquela. Mas Darcy sentiu que precisava quebrar o silêncio, falar alguma coisa.

— Elisa, sobre o que aconteceu na outra noite... – ele começou, mas as palavras faltaram.

Ela o encarou, e Darcy ficou preso naquele olhar.

— Você está arrependido? – ela perguntou, depois de alguns segundos.

— Não. – ele sorriu, ela também.

Elisabeta assentiu, e voltaram para o silêncio. Elisabeta brincou com as próprias mãos, e então respirou fundo, voltando seus olhos para Darcy.

— Somos amigos, certo? – ela perguntou, um fio de dúvida na voz.

— É claro que somos. – Darcy riu. – Que pergunta, Elisa.

Mantiveram seus olhares conectados, como se quisessem dizer mais do que as palavras poderiam. Como explicar a confusão que sentiam? Como explicar que queriam estar perto, mas que não sabiam se essa vontade seria duradoura? Como saber se eram correspondidos? Elisabeta tremeu de novo, e Darcy deu um passo em direção à ela.

— Eu não sei o que dizer. – ele sussurrou, já de frente para ela.

Elisabeta buscou a mão de Darcy, e a colocou em sua cintura. Darcy respirou fundo, dando mais um passo, invadindo o espaço dela. A enlaçou pela cintura, puxando-a contra seu corpo. Suas testas estavam quase em contato, e Elisabeta sorriu.

— Então não vamos falar nada. – ela também sussurrou.

Não demorou para que os lábios de Darcy estivessem nos dela, em um beijo quase calmo demais. Ao menos até o momento em que Darcy mordeu o lábio inferior de Elisabeta, e ela deixou escapar um suspiro. Darcy aproveitou o momento para beijá-la com ainda mais paixão. Brincou com a língua dela, enquanto acariciava sua cintura. Elisabeta apertou o braço dele, e Darcy sorriu entre o beijo.

Darcy encostou-se na parede, levando Elisabeta com ele. O breve movimento fez com que o beijo parasse, e Elisabeta aproveitou o momento para explorá-lo. Deixou seus beijos caírem para o pescoço de Darcy. Ousou, como nunca havia feito, e tocou com a ponta de língua na pele sensível. Ele tirou as mãos do corpo dela, em um reflexo, mas quando Elisabeta novamente passou a língua por ali, subindo até sua orelha, Darcy a puxou contra ele.

Uma das mãos dele subiu lentamente pelo corpo dela, e Darcy a sentiu vacilar quando o polegar dele acariciou a lateral do seio. Sabia que não deveria tocá-la assim, mas Elisabeta o fazia perder o raciocínio lógico. Quando ela não se afastou, e mordeu seu pescoço de leve, Darcy deixou sua mão correr. Elisabeta gemeu quando sentiu o pepo dele roçar em seu mamilo, por cima da roupa.

Ela queria que ele a tocasse. No ar frio, sob a luz da lua, atrás da casa dela. Inverteu as posições dos dois, sem ouvir qualquer protesto dele. Darcy deveria mudar sua mão de lugar, voltar para a segurança da cintura de Elisabeta, para seus ombros, seus cabelos. Mas não conseguiu. E acariciou de novo aquele ponto que ele sabia estar sensível. Capturou o gemido dela em um beijo avassalador.

Darcy gostava daquela sensação, de que Elisabeta estava entregue à ele. De que era capaz de agradá-la, porque só ele sabia o quanto respondia à qualquer coisa que ela fazia. E a deixou brincar novamente com os botões da camisa dele, porque sua mão continuava acariciando um dos mamilos dela. Sem controle, ele já tocava a borda do vestido, ansioso por vê-la, por tocá-la sem barreiras. Então beijou o pescoço de Elisabeta, porque gostava dos sons que ela fazia quando ele a tocava.

Sua outra mão invadiu os cabelos dela, em um aperto firme, e Darcy beijou cada parte do pescoço dela, guiando-a para onde ele precisava. Sabia que a estava enlouquecendo em seu toque, ouvia na respiração descompassada, sentia o coração dela bater contra sua mão, que agora segurava firme o seio de Elisabeta, tentando controlar a vontade de expor aquela pele sensível.

Mas, era Elisabeta, e ele deveria saber disso. Porque antes que percebesse sua camisa já estava quase toda aberta. Uma das mãos dela arranhava sua pele com leveza, explorava seus músculos, a penugem que recobria seu peito. E enquanto ela suspirava em seus braços, o provocava igualmente, deixava que ele pensasse que estava no controle.

Ela gostava da sensação do corpo dele em suas mãos. Terminou de abrir a camisa, e mal notou que Darcy agora apenas respirava pesadamente perto de seu ouvido. Ela tocou o peito de Darcy, seu abdome, deixou que suas mãos explorassem as costas fortes dele. E quis beijar cada centímetro daquele corpo. Assim como queria que ele a beijasse.

Darcy a beijou novamente, mais calmo dessa vez. Porque um deles precisava ficar calmo. Com esforço, tirou suas mãos dela e afastou as dela de seu corpo. Diminuiu um pouco a pressão que fazia para manter Elisabeta no lugar, mesmo sob protestos de seu próprio corpo. E quando nada mais parecia fazer efeito, se afastou completamente dela, com um sorriso no rosto.

Elisabeta também sorria. Mantinha os olhos atentos ao movimento dele, à cada botão que Darcy colocava no lugar. E quando estava completamente vestido, Darcy se aproximou e beijou a testa de Elisabeta.

— Você é perigosa, menina. – ele riu, e então virou as costas para ir embora.

Mas ele gostava. Ah, como gostava.