Depois de informarmos a Roger que não, não seria agora que nos beijaríamos, nos despedimos do mesmo – após alguns agradecimentos pela minha tattoo – e saímos do local, um clima ainda tenso entre a gente.

Estava meio chocada com a situação de Draco pra falar bem a verdade. Quando ele disse que estava jogando justamente para fugir dos problemas, eu não acreditei que as coisas estariam nesse nível. Achei no máximo que o garoto havia ficado inconformado após receber um “não” de sua mãe ou pai e estava extravasando a raiva ali, como ele antigamente faria. Mas Draco não era mais o Draco de antigamente, minha mente lembrou. Ele havia mudado, estava mais maduro, e que Godric me perdoe, mas mais gato também.

Sem querer, acabei me lembrando da fala da recepcionista, citando que o misterioso J.P. já havia deixado tudo pago na loja. Tentei tirar algo dela na saída, enquanto Draco e Roger acabavam de conversar, mas ela não deu muitos detalhes e eu também não acabei insistindo muito. Sabia que o jogo era perigoso em certo nível, assim como sabia que curiosos nunca eram apreciados nesse tipo de situação. Mas eu ainda era a Hermione Granger, rata-de-biblioteca como Malfoy mesmo havia citado, e depois de muito pensar, acabei concluindo que J.P. era mais um que fazia parte do nosso fã clubes de observadores. Acabei contando essa teoria a ele.

— É o mais provável Granger. — ele falou após pensar um pouco. — O que mais tem no mundo mágico são bruxos de famílias com dinheiro de sobra pra gastar. Acredite em mim, estou falando por experiência própria. — brincou.

Acabei rindo. — Já comprou algo por tédio Draco?

— Não tanto como a minha mãe. — deu um sorriso parecendo mais leve ao se recordar da lembrança, diferente da última vez que Narcisa foi citada. — Quando ela estava entediada ela ia as comprar e costumada me levar com ela. No começo aquilo era entediante, eu só era uma criança que queria brincar com a minha nova vassoura mágica, mas depois de um tempo passei a apreciar a companhia da minha mãe e me divertir junto com ela.

— Está explicado o seu gosto por moda então. — apontei pra minha própria roupa, atestando o fato. — Embora nunca tenha imaginado você em um cenário assim.

Ele abriu um sorriso predatório.

— Então como você me imaginou Granger? — flertou. — Espero que vestido, não gostaria de ser o alvo de abuso dessa sua mente perversa. Sou uma alma pura. — colocou a mão sobre o coração.

Revirei os olhos, ainda espantada pela sua falta de vergonha na cara e dei um encontrão em seus ombros.

— Você é impossível.

Seu celular apitou.

— Está perguntando se eu confio em você. — franziu as sobrancelhas.

— E você confia? Porque já sei onde colocar uns piercings maneiros em você Malfoy. — cutuquei seu peito.

— Porque eu tenho a impressão que você está debochando de mim Granger? — mesmo assim ele aceitou. — Está mandando irmos pra BirdCage Walk, valendo 10 galeões. Você conhece?

Assenti. — É ao lado do St. James Park. Fica a uns... 6 quilômetros daqui se não me engano. — respondi após alguns cálculos. — Vamos ter que aparatar. E dessa vez, deixa o trabalho pesado comigo ok?

Depois de mais alguns resmungos da parte de Draco e algumas indagações sobre o que seria um piercing, acabei puxando-o para um beco, nos aparatando direto para uma parte mais escura do parque. Nossa chegada foi discreta e muito mais saudável que a última, fato que me fez provocar Draco até chegarmos ao começo da rua indicada.

Outra mensagem soou, dessa vez em meu celular.

Estou surpreso que ainda não encontrou o nosso pequeno presentinho Granger.

Fiz uma careta. Se era pequeno, não tinha necessidade alguma da palavra “presente” ser escrita no diminutivo. Outra mensagem chegou.

De qualquer forma, ele se encontra no seu bolso interno direito. Espero que goste ;)

— Do que ele está falando?

— Não faço a mínima idéia. — comecei a tatear o forro do meu casaco. — Nem sabia que esse casaco... Aqui, achei. — alcancei um pequeno objeto com a minha mão. — É uma chave. — analisei — De moto.

— Hm... Legal. E o que é uma moto mesmo?

Cocei a cabeça, começando a analisar a área que estávamos.

— Como eu posso te explicar? Hm... Uma moto é como se fosse uma vassoura bruxa, só que obviamente não tem magia e se movimenta com duas rodas. Essa chave — a levantei — é a responsável por ligar o motor, que é o responsável por fazer a moto andar. E ela parece fazer parte dessa... aqui. — parei na frente de uma moto preta, após analisá-la um pouco.

— E você sabe montar nessa coisa?

Ri. — Não se fala montar Malfoy, e sim pilotar. E meu pai é apaixonado por velocidade de qualquer tipo, logo eu sei montar sim. Ele me ensinou aos 14 anos no estacionamento de um mercado lá perto de casa. — expliquei enquanto a analisava, me escorando nela. Ela parecia fazer parte de um modelo mais antigo, daquelas próprias de colecionadores mesmo. — Na verdade imagino que o jeito de pilotar uma dessas seja bem parecido com uma vassoura convencional... — divaguei.

Ele me mostrou o celular, testa fanzida.

Chegue a 100km/h

— Então imagino que cumprir o desafio seja fácil?

Dei meu melhor sorriso. — Vai ser o dinheiro mais fácil de nossas vidas. — lhe entreguei o capacete. Seu celular apitou mais uma vez, e suas feições endureceram.

— Granger...

— O que?

Chegue a 100km/h vendada, valendo 200 galeões.

Arregalei os olhos. Isso era loucura!

— Eles querem que eu pilote vendada? Esquece Draco, eu não vou fazer isso. — lhe entreguei a chave. — Você tá sozinho nessa.

— Como assim sozinho Granger? Eu nem sei falar o nome dessa... desse... disso! Eu preciso de você pra pilotar essa coisa!

— De jeito nenhum eu vou arriscar as nossas vidas nisso Malfoy! — passei as mãos em meu rosto, nervosa. — Esse é o meu limite. — suspirei. — Olha, a noite foi ótima, eu ganhei um vestido novo, um casaco maneiro, e eu me diverti pra caramba! Sério, eu nem lembro a última vez que eu cantei uma música trouxa só por diversão! Mas... pra mim já chega. — fui me afastando enquanto falava, até lhe dar as costas.

— Granger, espera! Granger! Hermione! — isso me fez parar tempo suficiente pra Draco me alcançar, pegando minhas mãos nas suas. Ele nunca tinha me chamado pelo meu nome antes. E eu gostei disso. — Fica! Você não ta curiosa pra saber o que vai rolar?

Alguém gritou meu nome, me fazendo desviar o olhar de Draco. Vindo pelas árvores do parque estava um cara negro, usando uma mistura de roupas trouxas e bruxas, segurando um papel. Ao se aproximar entregou-o pra mim, tirou uma rápida foto minha e se despediu de Draco, falando que se encontraria com ele na final.

Observei-o se afastar com um ponto de interrogação na minha testa. Aquilo tudo tinha durado no mínimo uns 15 segundos e eu não tinha entendido bulhufas do que havia acontecido. Virando-me pra Draco, o indaguei.

— Quem era?

Ele fez cara de paisagem. — Algum jogador? — deu de ombros. — Não sei Granger, nunca o vi na vida.

Eu sabia que ele estava mentindo no momento que ele desviou seu olhar do meu, mas também não insisti. Não ia ficar me metendo em assuntos que não me diziam respeito. Estava pronta pra me virar novamente quando ele voltou a abrir a boca.

— Vamos lá Hermione, faça isso comigo. Eu preciso de você! — Prendi a respiração por um momento, assustada com a sua fala. Ele voltou a agarrar minhas mãos. — Não vou fazer gracinhas, eu prometo. Por favor. Diga sim, diga sim ou só balance a cabeça. — desviei o olhar, fazendo um sorriso começar a florescer em seu rosto. Embora aquilo fosse extremamente perigoso, eu ainda lembrava a adrenalina que era pilotar uma moto em seus 100km/h, e céus, meu pai me ensinou a amar aquela sensação, o vento em meus cabelos, o barulho do motor abaixo de mim... — Eu sei que você quer Granger, só balance a cabeça, vamos lá...

Não contive meu sorriso. E balancei a cabeça.