NeoSquad

A Fênix Ressurge


– Ajuda – ela respondeu –. Precisamos de ajuda. Juntem-se à Irmandade Sombria e nos ajude a matar aqueles que com certeza nos matarão, se não fizermos nada.

Mal terminou de falar e o intenso ruído que vinha da arena onde o torneio estava acontecendo foi se tornando ensurdecedor. Primeiro, a quantidade de pancadas e brados guerreiros foi aumentando até que se tornasse uma espécie de burburinho amplificado pelo eco do Coliseu. Depois, como se estivessem aos poucos se organizando, os gritos de guerra se tornaram um só e os sons de batidas, cortes e encontrões passaram a chegar sincronizados nos ouvidos de todos que estavam tendo aquela conversa agradável na humilde biblioteca do Coliseu.

Súbito, todos perceberam o que estava acontecendo. Um ataque. Hynnin tentou correr para a arena para poder ver com exatidão o que havia acontecido, mas foi interrompido por um estrondo ensurdecedor. O teto da caverna que envolvia o coliseu despencou com uma bomba de impacto vinda de fora, metralhando o chão da arena com estalactites perfurantes que, mais tarde todos veriam, haviam matado tantos assassinos da irmandade quanto soldados das forças atacantes.

– É o Governo. – Disse Tannah-Toh – acabei de descobrir que eles sabiam da nossa localização.

– Poderia ter avisado isso antes, senhora do saber – ironizou Hynnin.

– Já tentou ser a deusa do conhecimento? É simplesmente informação demais até para um deus processar – defendeu-se.

Por meio segundo, Valkaria olhou para o nada e pensou em tudo. Foi tempo o suficiente para que chegasse à conclusão de que eles deveriam fazer alguma coisa.

– Vocês – virou-se para Alec, Zero, Addam e Shadow –. Narrador, eu não esqueci do minotauro! – ... ah, e para Leo também – Sigam pela saída secreta que existe atrás da terceira estante à esquerda. Existe uma porta secreta ali, porcamente camuflada. Ela dará acesso a um túnel longo, mas que deixará vocês em um lugar seguro. Vão e procurem por um homem monstruoso cuja pele nunca verão. Ele carrega uma espada quebrada que emana magia e é marcada com runas brilhantes.

– Perguntem a ele qual o próximo passo do plano – completou Tannah-Toh – e deem isso nas mãos dele, caso ele desconfie de vocês.

Ao terminar de falar, Hynnin pousou no meio do grupo, com três duplos twists carpados, e estendeu a mão. Sobre seus dedos se encontravam uma esfera negra de metal do tamanho de um punho humano, cortada por uma faixa vermelha e adornada no topo com um botão circular branco de um marfim falso.

– Isso fará com que ele... saiba – sorriu sarcasticamente o bobo, enquanto se equilibrava sobre a ponta de um único pé.

Alec pegou a esfera negra sem hesitar muito, enquanto Zero processava tudo que estava acontecendo e tentava bolar a melhor estratégia possível. Addam apenas desconfiava de tudo e Shadow se fazia a pergunta mais óbvia, mas que nenhum deles havia pensado em perguntar.

– Ei – chamou Tannah-Toh –, você sabe de muita coisa. Porque acha que ajudaríamos vocês?

– Olha – a deusa respondeu –, não posso obrigar vocês a nos ajudar, mas...

Uma explosão foi ouvida vinda da arena e todos naquela sala pareceram ter congelado por eternos três segundos.

– Temos que ir – gritou Valkaria desesperadamente –, sigam a vida e acharão o guerreiro que falamos – e saiu correndo para a arena, juntamente com seus outros dois companheiros divinos.

Imersos num silêncio indeciso, os cinco se entreolhavam perguntando-se, mentalmente, se os outros aceitariam a missão que lhes fora dada. Ninguém era obrigado a aceitar ou rejeitar caso os outros o fizessem, mas eles haviam chegado até ali juntos. Iriam terminar aquilo juntos.

– Senhores – Shadow disse –, acho que essa é a parte difícil em que temos que fazer uma escolha que pode mudar nossas vidas.

– Difícil? – perguntou Alec – Não para mim.

E saiu correndo em direção a arena, enquanto Leo acompanhava ele quase entrando em êxtase de batalha. Zero, ainda imerso em seus pensamentos, não viu a dupla penetrar em velocidade pelos corredores que davam ao campo aberto, seguidos por Addam, em velocidade acelerada. Quando levantou a cabeça, eram apenas ele e a silhueta negra de Shadow que mal podia acreditar no que tinha acabado de ver.

– Doutor, não podemos fugir sem eles, não é? – perguntou Shadow.

– Acho que não seria uma boa. Vamos atrás daqueles babacas e aproveitamos pra ver que merda está acontecendo por lá

– Tudo bem. Acelera a gente

– Pronto – disse Zero, sem fazer praticamente nenhum movimento. Shadow não sabia exatamente como funcionava a área acelerada do Doc, mas assentiu e ambos saíram correndo.

Ao chegar nos portões da arena, viram o campo de batalha que inicialmente era composto por um solo arenoso com pequenas pedras, agora se revezava entre lama, culpa da tempestade sem raios, mas extremamente violenta, que caía, e sangue dos corpos que, se já não haviam morrido, morreriam em muito pouco tempo. Os assassinos restantes estavam agrupados todos à esquerda, tentando se organizar para voltar a batalhar e proteger seus feridos, enquanto os inimigos já identificados como soldados do governo se localizavam no extremo oposto da arena, perfeitamente agrupado e preparado para uma nova investida, enquanto seus companheiros feridos eram simplesmente abandonados. Do teto da caverna, além de grossas gotas de chuva, caíam também cabos da rede elétrica e canos de esgoto, água e gás, todos rompidos, deixando cair algumas faíscas, dejetos e um pouco de gás inflamável que era para ser carregado até uma fábrica que existia ali perto, segundo o mapa oficial do Reinado.

Não era difícil distinguir assassinos da Irmandade Sombria dos soldados negros do Governo. Enquanto os agentes da irmandade usavam trapos, anéis, amuletos e armas de todos os tipos de diversas cores e formatos, fruto de missões e saques, os obedientes cães de guarda do autoproclamado Imperador, cujo nome era desconhecido, usavam armaduras negras padronizadas que cobriam o tronco, ombros e a parte superior das pernas. Alguns usavam também botas, capacete e proteção para os braços, feita do mesmo material. As armas governamentais eram bastões de impacto que possuíam uma haste reforçada de ferro negro e as pontas eram feitas de um acrílico extremamente resistente que emitia um brilho roxo fantasmagórico e parecia oscilar em uma frequência de vibração peculiar. Shadow teve que notar que as armaduras eram bem mais leves do que pareciam, porque quem as usavam, se moviam com bastante agilidade e destreza, em geral.

Seus três companheiros que haviam partido poucos segundos antes deles, haviam chego também antes e já estavam agrupados junto dos assassinos. Nenhum dos dois que analisavam a cena sabia dizer como e nem porque escolheram um lado tão rapidamente. Talvez isso tenha acontecido porque sabiam que não obteriam nenhuma recompensa vinda do Governo, caso ganhassem o combate.

– Doc, vamos sair daqui. Fodam-se eles. – Shadow não tardou em falar.

Mas quando se virou para retornar à biblioteca, junto com Zero e sair pela passagem secreta, percebe movimentação no final do corredor. Os que estavam novamente em combate na arena, logo atrás deles, não haviam percebido suas “quase chegadas”, mas esses certamente perceberiam, se os dois não tomassem muito cuidado.

Foi quando Shadow se lembrou de algo e foi andando calmamente até a saída do corredor de acesso. Na extremidade oposta, ele era ligado na sala onde havia acontecido o banquete e onde se encontrava a porta de entrada e de saída do Coliseu. Lá, seis soldados do governo vasculhavam todos os espaços, até os menores e mais inimagináveis, à procura de algo.

– Senhores – disse Shadow, arregaçando a manga esquerda de sua camisa e mostrando para os soldados um distintivo que ele ainda possuía desde a época em que fora quase um capataz da polícia –, departamento de Valkaria. Força de segurança pública.

– Olhem, o cara roubou o distintivo de um amigo nosso e acha que vai conseguir nos enganar. – Virou-se para Shadow – Se você é mesmo um dos nossos, cadê sua armadura?

Shadow até pensou em responder, mentindo com uma história meio fantasiosa, meio realista, mas não teve tempo. Muito antes de conseguir pensar em algo, a voz de Zero, que havia ficado escondido no meio do corredor foi ouvida.

– PUTAQUEPARIU! AGORA FODEU!

– Ei, que voz é essa? – Outro dos soldados respondeu, percebendo a expressão de medo que se revelava na face de Shadow – você está escondendo assassinos da gente? E ainda se diz um dos nossos? – Virou-se para os companheiros – Não vamos deixar ele escapar. Peguem ele!

– MAS QUE MERDA, DOC! EU TINHA TUDO SOB CONTROLE! – Gritou Shadow em resposta.

O mutante correu em direção ao corredor novamente, sem pensar. Segurou Zero de qualquer jeito nos braços, como um noivo bêbado que carrega sua noiva para o quarto, na noite de núpcias.

– ACELERA! ACELERA! ACELERA! – Gritava para Zero.

CELERA JESUS! CELERA! DEVAGAR! ISSO, CELERA!

– Não posso fazer mais nada, já estamos acelerados – respondeu calmamente.

Mesmo com a corrida desesperada de Shadow e a aura de aceleração de Zero, os soldados do Governo não pareciam se afastar. Pelo contrário, estavam chegando cada vez mais perto e ainda havia mais quinze metros para o túnel terminar.

– Mas que droga, seremos alcançados.

– Ou não – Doc respondeu calmamente –. Olhe para cima, gênio. O teto é bastante alto. Eles não conseguiriam alcançar a gente ali.

– Tá, e o que eu tenho a ver com isso?

– Você tem adesão, seu retardado.

– Ah...

Shadow saltou para a parede, ainda correndo e aos poucos foi parar no teto, ainda com Zero em seus braços e ainda correndo, mas dessa vez de cabeça para baixo.

Ele sabe mesmo como carregar uma noiva.

Os soldados até tentaram arremessar os bastões, mas esses eram pesados demais para atingirem o alvo com precisão. Shadow e Doc saíram para a arena e o que viram no campo de batalha era ainda mais nojento do que haviam visto há momentos atrás. Corpos, lama e sangue agora chegavam à altura do joelho em certas partes da arena. Dos dois lados, sobraram apenas sete ou oito bravos guerreiros que ainda resistiam de pé. Addam estava caído no chão com uma expressão de extrema dor no rosto e as mãos apertando a perna em desespero. Não havia como saber se o sangue que empapava suas roupas era dele ou de outras pessoas. A sua frente, estavam Leo e Alec, protegendo-o.

Quando os seis soldados que entraram na arena perseguindo Shadow e Zero viram o que estava acontecendo, congelaram. Não imaginaram jamais que as forças da Irmandade poderiam competir de igual para igual com as do Governo. Antes que pudessem entrar no combate para desequilibrar e trazer a vitória para o lado do governo, Alec arremessou uma de suas katanas gêmeas na direção do peito do mais distraído, enquanto usava a outra para mirar na primeira e se atirar para a que foi lançada, em forma de corpo elétrico. Assim que a primeira das duas perfurou o pescoço do alvo, saindo pela nuca, Alec saltou de corpo em corpo do inimigo, aproveitando o solo molhado de chuva e sangue parar eletrocutar todos eles. Reassumiu a forma humana depois de se assegurar que todos estariam mortos. Retirou uma de suas armas gêmeas do pescoço do inimigo morto e pegou a outra no chão, enquanto voltava para a posição em que estava antes dos intrusos aparecerem.

Sem entender muita coisa, Shadow colocou Zero no chão, próximo aos outros amigos e avançou na direção dos inimigos. Com apenas uma mão e já correndo, ele puxou seu cutelo gigante das costas e se preparou para partir pelo menos um inimigo ao meio, mas quando fez o movimento, seu cutelo emperra bem atrás dele e ele não consegue descrever o arco que queria. Ao olhar para trás, viu uma viga de metal grossa atravessada no furo que existia na ponta do cutelo que era usado para arrancar membros.

... E eventualmente decapitar com estilo.

Shadow libertou o cutelo da viga e reiniciou sua investida, mas os soldados inimigos simplesmente assumiram uma posição de sentido e permaneceram confiantes e imóveis. O golpe seria desferido, se uma mão gigante e forte de minotauro não tivesse apertado o ombro de Shadow, dois segundos antes.

– Pare. Saiam daqui pela porta secreta – disse Leo com um tom mais sério do que jamais mostrara –. Tenho que resolver antigas pendências.

– Mas...

Mal pôde terminar de falar e Leônidas, sem dar atenção, se volta para o buraco que há no teto da caverna.

Pelo visto o autor adora abrir buracos em tetos. Será algum tipo de fetiche?

– SEU MALDITO! – Gritou Leo para o céu que já estava mostrando sinais da alvorada – DESÇA AQUI E PARE DE FAZER SHOWZINHO!

Nada.

Três longos segundos se passaram.... Nada.

Cinco.... Nada.

Dez.... Nada.

Os companheiros de Leo já encaravam ele como se ele fosse louco, mas nada tirava aquele semblante sério do focinho de touro.

Quinze segundos.... Um ponto negro começa a aparecer caindo através de um céu meio lilás.

Dezesseis segundos. Uma massa humanoide aterrissa de pé sobre a viga metálica que estava meio fincada no chão, afundando-a completamente e chegando a quebrar o solo ao redor dela.

Humanoide? Sim, era um humano, mas bem diferente da maioria. Aquele humano possuía a armadura dourada que somente os comandantes da milenar instituição do Protetorado do Reino usavam. Isso significava que ele era não só o líder daquele ataque, como também um forte representante do Governo manipulador que todos ali tanto odiavam. Além disso, os cabelos, sobrancelhas e cílios dele pareciam levemente chamuscados, mas o que ele tinha de mais peculiar não era cabelos despenteados e chamuscados, e sim escamas vermelhas pelo corpo.

Salmão?

Escamas vermelhas de dragão que ocupavam toda a metade direita de seu corpo, culminando em um braço de apenas três dedos e garras perfurantes e uma perna extremamente mais forte do que a outra.

– Saiam daqui agora. Essa luta é entre eu e ele – disse Leo –. Me esperem do lado de fora. Não vai demorar muito pra eu partir esse cara em cinco.

O guerreiro virou-se para os soldados que comandava.

– Digo o mesmo pra vocês. Não interfiram aqui.

Ambos os lados acharam melhor obedecer. Shadow, Alec e Zero carregaram Addam, com a perna já muito inchada para fora da arena e depois para a porta secreta da biblioteca, mas não antes de se assegurarem que os representantes do governo haviam saído e muito menos antes de verem a épica cena do humano com pele de dragão, em cima de sua viga de metal do tamanho de um homem, encarando um minotauro com braços de aço, que lhe davam uma força incrível até mesmo para os padrões de sua raça, e que portava um machado de batalha tão grande quanto pesado e que, bem sabiam, ele manejava com extrema maestria.

****

Aegis abriu os olhos novamente, como se tivesse acabado de despertar de um transe. Se encontrava novamente na sala de muitas portas, onde estavam ligados todos os pontos do espaço-tempo.

– Esse esquentadinho sempre precisa aparecer, não é?