Gotham, precisa de um verdadeiro herói, um herói que a cidade precisa agora.
Não o herói que a cidade merece. Não agora.
Estas palavras ecoavam nas paredes, ecoavam na mente do Coringa. A carta branca do baralho, o vilão que Gotham não precisa nem merece.
O cachorro louco.
***
—O que você acha?
—O que eu acho sobre o que?
—Sobre isso, o caos pairando sobre Gotham City. -A voz dele era algo que beirava a loucura, como ele sempre disse, a loucura é como a gravidade, tudo do que precisa é um empurrão. -
Não tinha nada errado com aquela analogia, não mesmo. As pessoas poderiam levar a sério, se essas palavras não saíssem da boca do Coringa. Mas ela não ligava, ela estava ali para entendê-lo, para analisá-lo. Ela estava ali para desmascará-lo, para ver o que ninguém mais conseguia ver, de baixo de toda a maquiagem, de tudo aquilo o que ele queria que as pessoas pensassem que ele era.
Ela tinha esperanças, era uma tola por isso, ela sabia disso tanto quanto o paciente sentado à sua frente.
Mas o que ela não sabia, era que ele não pensava o mesmo que ela. O que ela não sabia, e que ele não pretendia deixá-la descobrir, era que ele tinha esperanças nela, ele não achava tolice.
De alguma forma, alguma forma, ele gostava do sentimento de ter algúem, de ter alguém que por qualquer motivo, que ele próprio desconhecia.
—Diga-me, por quê quer saber o que eu acho? Por que quer saber a minha opinião?
—Porque, minha querida doutora, eu não quero. Eu preciso saber a sua preciosa opinião.
Ela se atreveu a sorrir, um sorriso tímido, mas para o Coringa valia muito.
—Já te disseram que você tem um sorriso lindo? -O Coringa sorriu, seguido de uma gargalhada. -
No fundo de sua mente, algo gritava, ela devia estar com medo, ela devia estar, tudo dentro de si, sabia que aquilo era errado, era imoral. Mas ela não podia evitar, ela estava completamente apaixonada por ele.
Aquela risada, que Gotham sempre temeu, o som da morte, por mais irônica que pudesse ser, não era engraçada, era o fim;
Mas ela não conseguia sentir o mesmo, aquela risada, aquele som, não a assustava, não a fazia sentir como se toda a sua vida estivesse prestes a passar diante de seus olhos.
Aquela risada, a atraia. Seu corpo, e sua mente tinham o instinto de se submeter a ele.
Ao Coringa.
***
—Quem ela é? -O policial perguntou, pelo menos ela achava que era um policial. -
—Harleen Quinzel. Dra.Harleen Quinzel.
—Mas, como assim? Ela não é louca.
—Não, ela não era louca, tudo o que ela tinha que fazer era tentar curá-lo. Harleen Quinzel, era a única que poderia ser capaz de fazer com que o Coringa visse algo de bom no mundo.
—E então, o que aconteceu?
—E então ela fez exatamente isso, ela fez com que ele visse algo de bom no mundo, algo que ele pudesse ter, possuir. Algo que fizesse tudo por ele. Algo cuja a loucura fosse capaz de ultrapassar suas próprias barreiras.
—O que foi que ele viu?
—Ela.
Harleen os ouvia falar, mas de repente, era como se todas aquelas vozes, as vozes dos policiais na sala, tudo aquilo se esvaiu de sua mente, tudo se tornou distante instataneamente.
De agora em diante, ela só conseguia ouvir uma voz, a única voz que ela queria ouvir.
—Harley, meu amorzinho, não diga nada a eles, nada que não quiser. Eu estou aqui por você, eu estou aqui Harley...Eu te amo.
Harleen ouviu a voz de seu amor ecoar em sua mente, como se ela quisesse se lembrar de cada palavra que ele tinha dito, para sempre. Era tão real, ela podia ouví-lo, era quase como se pudesse sentí-lo. Harleen começou a rir, risadinhas agudas e baixas. Mas chamou atenção;
—Pudinzinho...-Harley sussurrou. -
—Harleen? -Um dos policiais se aproximou dela, agaixou ficando bem junto a ela. -O que foi que ele te disse?
—Ele...-Ela riu novamente, baixinho. -Ele disse que...
—O que ele te disse Harleen?
—Ele disse que ele me ama. -Ela começou a rir, gargalhar. -
Os policiais a tiraram do chão e arrastaram para um solitária.
***
"Batman, o vigilante de Gotham City.... "
Assistindo o noticiário, tudo o que ouvia era Batman. O Coringa riu, alto e em bom som. Mesmo que ninguém pudesse ouví-lo, aí estava, a ironia.
Ninguém podia ouví-lo.
—Você...Seu morcego maldito!
—Achei que gostasse de ficar sozinho. -Batman logo estava parado em frente à ele. -
—Você tirou de mim a única que...
—A única que te deu a liberdade de abusá-la de todas as formas e depois fazê-la acreditar que a ama. Você acabou com ela. -O Coringa pareceu alterado, seu maxilar se contrariu, e engoliu seco por um momento breve, mas Bruce percebeu. -
—Você não sabe como funciona! -O palhaço se irritou, gritando em direção ao Morcego. -
—Eu não sei? Acha que eu não sei como funciona um relacionamento abusivo? -Retrucou. -
—Eu a amo!
—Não, você não ama, você a fez acreditar nisso, e está tentando convencer a si mesmo, mas nós dois sabemos que você não a ama.
—Cale a boca! -O palhaço se aproximou, dando um soco em Bruce, que cambaleou. -
—Não está acostumado a ouvir a verdade , não é? Me diga, o que acontece quando ela se recuperar, o que vai fazer quando sua preciosa Harley Quinn, voltar a ser Harleen Quinzel? -Bruce cuspiu as palavras, mas Coringa não moveu um músculo, Bruce pôde ver a veia em seu pescoço, era como se fosse saltar para fora. -
—Você realmente pretende me atingir? -O Coringa riu. -
—Eu não pretendo, eu já consegui.
—Ela me ama, e você a levou. Mas não pense que eu irei me esquecer, agora, você me responda, Morceguinho!
Bruce já estava de pé novamente, assim como o palhaço a sua frente, apenas esperou a pergunta.
—Você já se apaixonou?
A resposta não foi ouvida, apenas abafada pela risada que aterrorizava Gotham City.
O Coringa estava de volta.