Damian não respondia, apenas continuava imóvel sentindo irritantes ardores dos pequenos cortes feitos pelos cacos dos objetos de porcelana em sua pele, eram feridas tão pequenas e insignificantes, talvez estas eram as que mais doíam.

___ Está fraco, băiatul meu, se continuar com esta loucura isto lhe dará ossos quebrados ou talvez o levará à morte! Não quero nenhuma de ambas as hipóteses... Realmente não quero. Grigore começou a dar lentos passos em direção ao moço caído no canto mais escuro da sala.

___ Eu sinto... A dor que corre em suas veias logo terá fim. Nunca mais se machucar, nunca mais sofrer em vão, nunca morrer... Viver como se não houvesse amanhã, amar intensamente a escuridão como se fosse o anjo mais imaculado a lhe abençoar... Ser tudo o que quiser. Eu posso lhe dar tudo isso, meu de tineri, eu posso matar a solidão que existe dentro de você... Eu posso ser o pai que sempre merecera e você, o filho que tanto esperei... É só dizer uma palavra, meu garoto, uma palavra e nada mais...

O vampiro deteve-se quando vira os movimentos do rapaz, Damian começou a se levantar com dificuldade, o braço cujo ombro estava deslocado, estava sendo mantido perto de seu abdômen enquanto o outro segurava fortemente uma das cortinas vermelhas que quase ocultavam o pálido luar.

O lorde olhava para o menino com ternura, ambos aparentemente da mesma idade, porém os olhos de Grigore emanavam uma intensa luz amorosa, uma luz que espantosamente comoveu Petrescu, pois nunca em todos aqueles anos vira tal qual brilho no olhar de Ionel.

___ Você vai ver, meu caro, nada mais será como antes... Tudo nascerá outra vez, nascerá com você! O mundo ajoelhará aos seus pés, será um deus, uma criatura etérea que tudo sabe e tudo vê... Sem dor... Sem mágoa... Sem medo!

O som da voz de Benjamin estava cada vez mais perto dos ouvidos de Damian, as palavras soavam dentro de sua mente, de seu peito, de sua alma, ecoavam como se fossem ditas diante de um poço fundo ou de uma longa e escura caverna nos quais a escuridão lhe devolveria em mesmo tom, prevalecente e sombrio tom, até aos poucos perder a força e morrer no silêncio.

Aquela melodia eloquente que era a voz de Benjamin afagando seus ouvidos, por um momento Damian pensou estar em algum universo paralelo. Vivia um sonho no qual a escuridão lhe envolvia com frias e afiadas garras, não havia para aonde correr, os olhos vibrantes e acesos de Ben eram o farol que lhe guiava pelo pérfido breu, levando-o até a mão de longos dedos estendida em sua direção.

Cada palavra fazia com que os ferimentos em seu corpo se tornassem mais mortificantes, como se os cortes sangrassem tão profundamente e os ossos se partissem como os cacos de porcelana espalhados sob seus pés, cada palavra uma nova dor, uma nova e mórbida sensação, um novo sofrimento tentando-o a aceitar algo que estava além de suas vontades...

___ Venha comigo, meu de tineri, morra jovem e permaneça belo para sempre... Tenho certeza de que irá gostar, venha! Ninguém nos fará mal, seremos filhos da noite para sempre...

Um passo manco fora dado por Damian em direção a Benjamin, um passo e alguns segundos parados, estava difícil se locomover, o ferreiro sentia um nefando calor em sua perna, notou a calça rasgada, alguns cacos devem ter-lhe causado cortes, talvez algo nada sério, logo desapareceriam... Logo.