Benjamin exibia um enorme sorriso em seu lúrido semblante, o luar penetrou em seus olhos dando-lhes um prateado e apaixonante fulgor, não conseguia parar de fitar o garoto que vinha calmamente em sua direção, se seu coração ainda batesse provavelmente saltaria de seu peito.

___ Venha, doce criança... Venha para mim.

A criatura noturna sentia um tênue ardor banhar-lhe de dentro para fora sufocando-o com intensa alegria, uma alegria que não era ilusória naquele momento, queria chorar e sorrir, porém procurou ser apático, apenas tentando demonstrar entusiasmo no tom trêmulo e ansioso de sua voz.

Damian e Benjamin estavam somente a alguns centímetros de distância, a caminhada trôpega do rapaz fora executada com a cabeça baixa e as mechas enegrecidas ocultando seu rosto pintado com leves toques de vermelho, entretanto quando sua postura tornou-se ereta, o outro pôde ver estreitos fios de sangue escorrendo dos lábios rosados e da pálida fronte, caindo até os celestes olhos.

Grigore fitava o ferreiro com amor, um amor tão puro e tão forte que não havia palavras para o descrever, nem ao menos um som era precisamente relevante para explicar tal qual sentimento, um olhando para o outro num agonizante e quase eterno suspense, sorrateiro e emocionante. Mal podia saber quem era quem, ambos admirando um ao outro como se estivessem diante de um espelho buscando imperfeições que o tempo traçava em seus corpos.

Benjamin nunca olhara para o garoto daquela maneira, nunca sentiu-se tão alegre em poder contemplar semelhante beleza e sem igual coragem e bravura, seu rosto poderia ser de um jovem herdeiro burguês, porém sua alma pútrida trazia a sabedoria de um presente e amoroso pai e senhor, era tudo que mais queria ser para o menino a sua frente, tudo o que mais queria.

O vampiro começou a se aproximar lentamente, Damian não se impressionou por não poder sentir vestígio algum de respiração quente em sua pele ferida, já lera muitas vezes sobre estas trevosas criaturas e sabia que após sua morte não mais respiravam, porém sabia que seria excitante para o lorde sentir os suspiros cálidos em sua tez tão fria.

Deixou que se aproximasse, que tocasse gentilmente com seus dedos longos e frios seu rosto retirando algumas pequenas mechas que ficaram grudadas no sangue em sua testa, Ben queria ver seu semblante como se admirasse a si mesmo, queria olhar no fundo dos olhos do ferreiro e ver a vida pulsando dentro dele. Petrescu percebia os olhos do rapaz cruzando-o de cima a baixo.

Grigore envolveu seus lívidos dedos no pescoço do adolescente e levemente o conduziu até encostá-lo em uma das paredes da sala, um não tirava os olhos do outro como se houvesse um silencioso confronto no ar e a primeira piscada seria a cruel derrota para quem a fizesse. O garoto sentiu a superfície da parede quando recostara sobre ela, não havia para aonde fugir.

Benjamin inclinou a cabeça do jovem para o lado, Damian ainda não reagia, como se fosse um boneco no qual o vampiro tomava o controle, ambos pareciam ligados em um elo sobrenatural, nada mais existia entre eles, apenas tinham um ao outro naquele momento, provando de seus medos e ilusões na noturna e imaculada quietude.

___ Não posso crer que este momento chegara, fiul meu, finalmente seremos um... Apesar do fato de que sempre fomos iguais... Sempre seremos, pois você sou eu e eu sou você, Damian... Não pode se livrar de mim.

No reflexo de seus penetrantes olhos, Damian pôde ver as afiadas e ebúrneas presas de Benjamin saltando para fora da gengiva, os olhos do outro não eram mais tão idênticos aos seus, tomaram um tom de vermelho-sangue, tão reluzente quanto o próprio líquido, pôde ver grossas veias azuis em seu pálido pescoço, mesmo assim não emanou nenhuma reação, apenas admirou... Era assim que ficaria quando fosse se alimentar?

Grigore estava tão perto do pescoço do filho, o cheiro do jovem e pulsante sangue correndo tão brando em suas veias, não estava com medo, não havia por quê ter medo, não iria machucá-lo, nunca lhe faria mal, apenas o queria... Para sempre. Não iria demorar muito, apenas sugaria a quantidade de sangue humano que restava em seu corpo semimorto, seria o processo mais fácil e rápido na história do vampirismo.

Fechou os olhos avermelhados, queria saborear os poucos segundos de prazer que aquele momento lhe proporcionaria, sentiria a dor pulsando em seu interior ao ouvir um fino e mortiço gemido emanado pelo menino quando suas presas acariciassem a carne de quem amava.

Estava tão perto...