Nascido Do Sangue

Um Novo Prazer Beijando Seus Lábios


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Passaram alguns minutos em silêncio, somente dançando enquanto a música melancólica ecoava pelo solene salão, os casais unidos corpo a corpo, sentindo a tristeza ir e vir de dentro para fora, de fora para dentro, ambos deslizavam sobre o chão de madeira como fantasmas ainda lamentando a morte, pedindo de volta pelo menos um pouco de vida, mas desiludidos sabendo que nunca mais a teriam.

A garota dançava perfeitamente enquanto o rapaz temia pisar em seus pés, havia tomado algumas aulas de dança durante o tempo em que esteve morando na mansão Voiculescu, mas não aprendera muitas coisas, todavia, parecia que a música estava soando dentro de seu peito, os movimentos eram executados automaticamente e suas almas estavam em total sincronia uma com a outra.

A música podia estar alta, mas ainda assim ele podia ouvir as batidas do coração dela, rápidas e ansiosas batidas, seriam de felicidade ou nervosismo? Por fora a jovem parecia tão branda como uma criança adormecida na madrugada, porém surpreendente podia saber o que se passava dentro dela, o que havia por trás daqueles olhos sem luz, havia certamente uma criança, perdida e sozinha, apenas desejando cair no sono ao som de uma canção de ninar.

Damian sentia o cheiro de água salgada entrando por suas narinas, um aroma exalado dos olhos daquele anjinho tristemente interessante. O cheiro de ondas se erguendo imponentes, bravas e inquietas, devastando tudo que encontravam pela frente, ondas pintadas de negro pela noite, ondas ferozes e replicantes, ondas que jorravam aos poucos por duas janelas onde a luz não cruzava o vidro opaco, ondas de desventura.

Deitando a cabeça suavemente no ombro do adolescente, a dama ali ficou, cada vez que o contato corporal entre os dois tornava-se mais intenso, ele podia sentir tudo que estava se passando dentro dela, se se concentrasse poderia conhecer seus medos, suas fraquezas, suas desilusões mesmo se nem ao menos soubesse seu nome ou visse seu rosto, saberia quem era através do reflexo tão nítido que vinha do espelho que era sua alma, ela agora estava calma, sentindo-se protegida como há tempos não sentia. O mar, que antes estava mortalmente agitado, agora parecia dormir sendo velado pelas estrelas.

Damian quis chorar, não sabia por qual específica razão, se era pela história daquela doce menina ou por conhecer agora sua dor ou por ser a primeira e última noite que a veria em toda a sua vida, ele deitou brandamente sua cabeça sobre a dela e ali ficou, um pouco ao longe, Benjamin observava o silencioso casal com uma séria expressão vazia e misteriosa, permaneceu ali por alguns segundos e depois desapareceu entre os convidados.

O jovem começou a sentir um delicioso perfume de rosas e a imagem de uma majestosa roseira veio-lhe a mente, flores desabrochadas e tão rubicundas quanto sangue, o aroma não vinha da pele ebúrnea e macia de Mihaela, não estava ali em meio às pessoas, estava lá fora, além da janela, além do chão de pedras, além...

___ Vamos dar uma volta?___ sugeriu o moço não mais podendo conter o aroma que lhe tentava arrastar para longe dali.

___ Onde?___ perguntou Mihaela levantando a cabeça e olhando nos olhos dele.

Como um cão perdigueiro, Damian seguiu seu olfato até o jardim, que ficava atrás do casarão, um lindo pedaço de natureza com várias espécies de flores impossíveis de serem vistas na escuridão, era um lugar perfeito para uma noite de amor entre uma dama da alta sociedade e o filho de um simplório cozinheiro, entretanto as rosas destacavam-se em meio às demais espécies, seu vermelho tão vivo e reluzente quanto um precioso rubi foi o que chamara a atenção do ferreiro, uma grande roseira perfumada, o mesmo perfume que preenchia o salão, o mesmo perfume que lhe trouxe até ali.

Uma sensação sepulcral gelou o corpo do adolescente, uma brisa fria tocou-lhe o rosto, como se alguém acabara de deixar o mundo naquele instante, como se a noite caísse sobre os olhos de uma infortunada alma, porém sua atenção voltou-se à bela moça, ela olhava tudo como se fosse a primeira vez que estivesse ali em muito tempo, certificando-se de que nada havia mudado, nenhum detalhe estivesse fora do lugar, intacto como o toque da morte sobre um semblante já desfalecido.

Mihaela tocava levemente as flores, sentia sua essência adocicada, Damian ao admirá-la percebia que a donzela fazia parte daquele jardim, era um triste botão sem cor que provavelmente nunca iria abrir-se para a vida, nunca iria banhar-se em raios de sol e adormecer recoberta pelo brilho do luar, era apenas um botão desbotado, que logo iria murchar.

Deixou com que a menina despedisse-se do jardim, o qual lhe trazia tantas lembranças, era somente estar perto de seu corpo que já se podia ver as imagens brincando com sua mente, via o rosto dela e do amante, ambos trocando carícias enquanto a lua celebrava aquele amor proibido que não pudesse viver para contar a história, sua alegria se foi com o último suspiro que ele dera, podia ver, podia sentir, podia saber...

___ Conheci sua história ___ falou ele quebrando o silêncio.

Um pouco distante, ainda dava para se ouvir a melodia chorosa de um violino.

___ Deveria ter ido com ele ___ disse a moça apertando um lírio suavemente entre seus dedos.

___ Creio que não era o que queria.

___ Não restou mais nada, por que continuar?

___ Abandonar a vida não é a melhor saída.

___ Por que não? Ele se foi e junto foram-se meus sonhos, meu amor, eu... Não resta mais nada.

Petrescu segurou delicadamente o rosto da garota entre suas mãos, os olhos dela o encontravam como se procurassem consolo, porém ao mesmo tempo conformados por saber que não iriam encontrar, ele então a abraçou, e por um instante sentiu que fosse Rosalind encolhida entre seus braços, tão frágil e entristecida, era apenas uma criança, uma doce criança tendo somente lágrimas amargas a oferecer.

___ Acha que ele sente minha falta?___ perguntou a jovem lutando para conter o pranto.

___ Creio que ele busca por você, em qualquer lugar entre a vida e a morte.

___ Preciso encontrá-lo.

___ E você vai... Ele está te esperando.

Desprendendo-se dos braços do jovem, a adolescente andou até a enorme e florida roseira, tocou as pétalas com graça como se acariciasse o semblante de um anjo, o filho de Ionel observava a cena com ternura e pesar, não sabia o que dizer, o silêncio então abençoou aquele momento e o tornou sagrado.

Começou a sentir saudade de Rosalind, um sentimento sufocante que dilacerava seu coração, ele a havia perdido, não para a traiçoeira morte, porém uma parte de si até melhor aceitaria se este fosse o destino de sua amada, mas não, ele a perdera para sempre, entretanto não sabia ao certo se realmente a perdera, pois ela nunca lhe pertenceu, nem no momento em que se entregou, nunca foi e nunca seria sua.

Algo o fez esquecer-se repentinamente de seus pérfidos devaneios e direcionar sua atenção ao presente instante, seus olhos arregalaram-se ao ver a expressão de dor no rosto da garota à sua frente, pôde ver qual era o motivo para ter soltado um fino gemido de incômodo, havia sangue no verde caule de uma das rosas e entre os dedos de uma das mãos nuas de Mihaela.

Seu coração espontaneamente batera mais rápido, como um vendaval que vinha de longe, o cheiro do sangue dela impregnou suas narinas, todo o seu corpo ferveu fazendo com que uma sensação de nervosismo percorresse cada célula dentro de si, aquele líquido rubente e resplandecente como a chama de uma vela, tão quente, tão vivo, a velha enxaqueca voltou a lhe atormentar e tornava-se mais forte à medida que o olor apoderava-se de seu olfato.

Damian sentiu-se zonzo como se tivesse levado uma pancada na cabeça, sua visão ficara embaçada, novamente seus lábios estavam secos e a fraqueza o dominava misturando-se ao medo e ao pânico. Por quê? Por que lhe estava acontecendo isso? Por que o cheiro do sangue dela era tão doce e tão excitante, por quê? Lembrou-se da carne crua, do rato morto, do guaxinim, das galinhas, de Ionela... A adaga e os rubis caindo ao chão, um grito cruzando a noite.

___ Oh, meu Deus, sou tão desastrada ao manusear as rosas, îmi pare rău, vou entrar e limpar isto.

Antes que a dama pudesse se afastar, o rapaz a segurou com uma estranha força, pois sentia-se fraco por dentro, sua voz soara diferente, trêmula e nervosa, sua respiração era ofegante, ele então diz:

___ Não, não vá, por favor.

Ele olhou nos olhos dela e depois baixou-os para fitar a ferida que ainda sangrava, segurou ternamente a mão tão lúrida da moça e falou:

___ Permita-me.

Vagarosamente levou o dedo indicador da jovem até os lábios e quando o sangue tocou seus lábios, uma terrível força inexplicável enegreceu sua visão, era como se um milhão de sensações explodissem por dentro, era mais doce que vinho, mais suculento que uma carne assada recém-saída do forno, era algo vicioso que o fez querer continuar, mas era uma dose tão pequena, eram somente algumas gotas, não foi o suficiente, queria mais, muito mais.

Cada gota absorvida parecia-se com um lascivo toque no intuito de provocar-lhe prazer, um prazer dantes desconhecido por ele. De olhos fechados, Damian sentia cada pequenina gota carmesim beijando sua boca e explodindo ardentemente em sua língua, isto lhe fazia lembrar a primeira vez em que fora apresentado aos prazeres da carne, numa calorosa e vitoriosa manhã de primavera.

O que sentia naquele momento igualava-se a ansiedade de quando Andreea lhe tocara de forma tão erótica e sem pressa, apesar de o rapaz estar impaciente, deixou-se levar pelas voluptuosas sensações que, como ondas de um mar agitado, propagavam-se por todo o seu corpo.

O sangue tinha o sabor do ato sexual, a cada gota absorvida era um intenso orgasmo, podiam ocorrer centenas deles sem que Damian se cansasse, poderia passar a noite toda atingindo o ponto mais alto do seu prazer e surpreendentemente esta ânsia voraz que agora vendava seus olhos não iria diminuir ou se findar.

Era ainda melhor que o gosto salgado de uma carne crua e fria, impossível de se comparar ao cadáver grotesco de uma praga frígida e ensanguentada no chão de seu quarto, era magnífico, como se estivesse ascendendo aos céus tendo como trilha sonora o cântico suave de anjos prontos para lhe receber perante aos portões dourados do Paraíso.

Eram apenas poucas gotas, como se fossem o início do clímax, os toques delicados, as carícias delirantes, porém somente isto, nada que fosse mais além. Petrescu então deixou com que seus lívidos dentes penetrassem lentamente na quente e macia tez da jovem Mihaela, assim tão ternamente, intimamente, de modo que a dor não se tornasse um incômodo e que esta ação fosse prazerosa para ambas as partes, principalmente para o ferreiro.

Não conseguia pensar em mais nada que se comparasse àquela sensação que tornava-se ainda mais intensa, Damian não estava satisfeito, queria ir mais além, queria alcançar o clímax e mesmo que pudesse optar por não prosseguir não faria, mesmo que pudesse desistir não desistiria, a emoção e a razão estavam entrelaçadas rumo a um único objetivo e iria até o fim.

Mihaela franziu a testa incomodada quando viu claramente os afiados caninos do belo jovem enterrarem suas pontas lúridas em seu dedo fazendo com que o sangue saísse pelas lacunas e as gotas logo eram sugadas uma a uma, ao tentar de livrar dos lábios sequiosos do garoto, ele apertou o magro punho com uma força raivosa e respirou pesadamente, contudo, sem desviar a atenção do que estava fazendo.

___ Damian, solte-me, está me machucando ___ falou ela deixando o nervosismo crescer por dentro.

Um de seus braços prendia o corpo pequeno e esbelto dela junto ao seu enquanto a outra mão segurava firmemente o dedo indicador da rica donzela dentro de sua boca, dava leves, porém dolorosas mordidas para que saísse mais e mais sangue e a cada tentativa de fuga da jovem, mais Petrescu queria seu sangue e mais excitado com o doce sabor ele ficava.

___ Damian, o que está fazendo? Solte-me ___ a adolescente já estava ficando assustada.

Sempre que se machucava no trabalho, o moço lambia o sangue que saía de suas feridas e nunca havia sentido tão claro sabor como naquele momento, o perfume dela misturado ao sangue, aquilo despertava sua fome e sua sede, por dentro estava nervoso, confuso, assustado, tanto quanto ela, mas não podia parar, odiaria a si próprio pelo resto de seus dias se ousasse parar.

___ Solte-me, Damian, está me machucando, solte-me, solte-me, por favor!

Mihaela a cada vez aumentava o tom de sua voz, logo tornar-se-iam gritos histéricos, todos poderiam ouvir, até o Conde, iriam até o jardim, encontrariam ambos juntos no escuro, ela tentando se livrar da força sobrenatural enquanto ele tentava dominá-la e tê-la somente para si. Ouvia o coração dela batendo mais rápido, o sangue latejando em suas veias, estava enlouquecendo a cada segundo.

Seus olhos estavam fechados, como se estivesse no meio de um ato sexual, estaria se concentrando nas sensações proporcionadas em seu corpo. Sentiu desejo por aquela jovem desde o momento em que pousou seus olhos nela, mas naquele instante era diferente, totalmente diferente, não queria penetrá-la, chegar ao orgasmo e deixar seu esperma dentro do corpo dela, não... Queria apenas sugar aquelas poucas gotas de sangue que saíam de sua ferida.

Aquilo parecia ser melhor do que a penetração, do que sentir seu pênis dentro de um corpo quente e virginal como o de Rosalind, era ainda melhor, era uma sensação difícil de ser descrita, nunca a sentira antes, mas chegou perto e quando chegou, foi da vez em que comera a carne crua, o rato morto, a vez em que sentira o cheiro das vísceras daquele guaxinim, o calor emanando pelos corpos emplumados das galinhas, apenas estas vezes ele chegou perto de atingir o prazer mais extremo que sabia que nenhum humano havia conhecido até o presente momento.

___ Damian, solte-me já! Solte-me!

Ela gritava, debatia-se e parecia não perceber que aquelas ações só fariam o ferreiro excitar-se ainda mais, como a pele dela era tão perfumada, tão macia quanto um pedaço de carne, sentia isso ao cravar cada vez mais fundo seus dentes na ponta do dedo indicador da garota. Estava em transe, ouvia os gritos, sentia o cheiro da pele e o gosto do sangue dela, nada mais, apenas deliciando-se com os três mais preciosos sentidos.

Damian então deteve-se por um momento, algo o fizera congelar suas ações, certamente era alguma coisa tão mais poderosa para fazê-lo parar, um som. Um ruído que há algum tempo já o assombrava, que já conhecia tão bem que podia descrevê-lo detalhadamente, o som de sangue correndo profundamente por milhares de veias enterradas entre uma perfumada pele macia.

O barulho estava tão perto, beijando seus ouvidos de modo tão excitante e doloroso, o ruído vinha do pulso da donzela. Pela primeira vez em longos minutos abrira os olhos, Mihaela gemia de medo e fora silenciada ao notar que os olhos do rapaz estavam ainda mais azuis que o eventual, brilhavam tão intensamente como a chama de uma vela na escuridão, duas deslumbrantes safiras reluzindo no soturno negrume.

Seus lábios ainda traziam o calor e o doce sabor do sangue da filha do Conde, eles deslizaram até beijarem sensualmente a superfície ebúrnea do pulso dela, ao entrar em contato com a cútis da garota, as vibrações do sangue correndo lhe excitaram e lhe ordenavam para que seus caninos novamente unissem-se àquela carne tão deliciosa.

Como um animal selvagem, Damian seguira seus instintos, penetrou lentamente mais uma vez seus dentes naquela carne deleitosa e para seu regozijo, um fio grosso de sangue escorreu da ferida que provocara.

Mihaela teve o rosto empalidecido pelo horror, não compreendia o motivo pelo qual levava Petrescu a fazer aquilo, estava apavorada e inocentemente continuava deixando com que seu coração disparasse loucamente transportando ainda mais daquele adocicado fluido até a grande lacuna provocada em seu corpo.

Damian não pedia por mais nada naquele instante, agora saboreava a dose certa de um prazer tão mais intenso e indescritível. Seu corpo todo contorcia-se em completa ledice, seus lábios chegavam a salivar pedindo por mais daquela essência tão delirante, agora era somente se deliciar com os múltiplos orgasmos que cada gota lhe proporcionava ao entrar em contato com suas papilas gustativas.

Porém aquela alegria não durou muito. Com um tapa em seu rosto, Mihaela conseguiu livrar-se do rapaz jogando seu corpo para trás, tomando o máximo de distância. Damian estava atordoado, não podia entender o que havia acontecido, sua boca ainda pedia por mais daquele fluido vital, sua cabeça pesava, sua visão estava turva, sentia o chão desfazendo-se sob seus pés, outro desmaio viria em breve, tentou aproximar-se da jovem que lhe admirava com espanto, um diferente espanto do qual o observara quando aceitou seu pedido para dançar há alguns minutos.

___ Mihaela, iartă-mă, eu...

Ao tentar tocá-la, a adolescente se afastou, havia lágrimas em seus olhos, uma dor brotou no peito de Petrescu, ele então tentou novamente chegar perto, mas a moça mais uma vez se distanciou.

___ Ouça-me, Mihaela, eu...

___ Fique longe de mim!___ ordenou ela com tremura na voz.

___ Por favor, deixe-me explicar.

___ Explicar o que? Que estava sugando o meu sangue?

___ Por favor, não fuja de mim... Mihaela.

___ Você é um monstro!___ vociferou a dama entre soluços desesperados.

Aquelas palavras entraram dolorosamente no coração do moço e no fundo, achou que tinha razão, pois não havia uma lógica explicação para o que acabara de fazer.

___ Não, por favor, ouça-me, por favor...

___ Não chegue perto de mim, deixe-me em paz.

Ela deu-lhe as costas e começou a correr, Damian tentou segui-la, mas suas pernas tornaram-se bambas e fracas, não puderam mais sustentá-lo, caindo sobre a relva, o garoto apenas esperou a escuridão tomar seus olhos, porém antes disto acontecer, ele ouviu um grito cruzar a noite, olhou para frente e lá estava Mihaela caída e em pé ao seu lado, um enorme vulto.

Estava tudo tão escuro e deserto, não havia mais ninguém ali a não ser ambos, os olhos dela estavam abertos e mirando fixamente o rapaz, sem esperança, sem luz, como há minutos e foi assim, com o soturno olhar da jovem o condenando em silêncio, que Damian abandonou a realidade e flutuou na negridão.