Nascido Do Sangue

Só Ferimos Aqueles que Amamos


A raiva cresceu no interior do garoto, Damian então caminhou furiosamente na direção do lorde, certamente Ben não tentou fugir, pelo contrário, esperou com que o ferreiro chegasse tão perto a ponto de enterrar seu punho cerrado em sua pálida e descarada face, para que o arremessasse contra uma parede com uma força sobrenatural, após o golpe, ouviu-se apenas o som sarcástico de seu riso peculiar.

___ Vamos, Damian, é só isso que sabe fazer?___ provocou Grigore ___ Não foi o que vi nos combates simulados... Levante-se, meu campeão! Vamos, Damian, estou esperando!

O jovem levantou-se com certa dificuldade, sentia uma ardência em suas costas, batera ferozmente contra a parede, pôde ouvir a madeira rachar e lascas saltarem de um lado para outro como as faíscas flamejantes quando moldava um metal na ferraria. Seus braços estavam doloridos assim como suas pernas, a fraqueza o envolvia num globo depreciativo que o puxava para baixo, sabia que Grigore estava muito mais forte, alimentara-se não havia nem duas horas, quanto ao ferreiro, nem mesmo um completo imortal era.

Damian deixou que a cólera cegasse seus olhos e dominasse seu ser, pôs-se de pé e novamente correra na direção da criatura noturna mais uma vez tentando golpeá-la de alguma forma, mas sua tentativa fora em vão, Ben o atirou contra o chão com apenas um movimento, como se o adolescente não passasse de um pequeno boneco de pano.

Benjamin observou que desta vez o menino não se levantara, apesar de não pressentir nenhum ferimento no parcialmente morto corpo do menino, caminhou em sua direção para verificar. Ajoelhou-se ao lado do corpo trêmulo do garoto e, de modo lento e suave, retirou algumas mechas de cabelo que ocultavam seu semblante desfigurado pela dor e hematomas. Grigore sentiu o cheiro vívido de sangue, sangue este que vinha de um corte na testa de Petrescu, deslizava livremente delineando os contornos daquele rosto tão cândido e sensual.

O aroma entrava por suas narinas e, no mesmo instante, sentia o calor se alastrando pelo corpo do rapaz jogado ao chão, como era bom tocar a vida, a vida que nascera de seu sangue, a vida pela qual pacientemente esperou e que agora, estava lutando contra ela.

Ainda podia lamentar, era uma das coisas que provavam a Ben que ainda vivia, de uma forma ou de outra, ainda podia sofrer e lamentar, ainda podia sentir dor e a dor de torturar e extrair sangue de Damian, lhe diziam que estava vivo, mas que não era este tipo de vida que queria, que havia sonhado para si, para o menino, para ambos.

___ Vá em frente ___ falou Damian ___, se alimente de mim. Me mate de uma vez!

A voz lancinante do outro ressoou no sombrio âmago do lorde, Grigore afastou seus dedos do rosto do ferreiro, o calor logo se dissiparia e sua pele voltaria a ter o toque frio da morte, a sensação na qual sempre repudiou.

___ Eu jamais faria isto ___ respondeu Grigore pronto para desistir.

Esta foi a oportunidade para que Damian o atingisse rapidamente com um vaso ao lado da lareira, o lorde somente caíra, não estava ferido, mas este fora o tempo necessário para o outro se afastar.

Mais um golpe contra o ferreiro fora desferido pelo vampiro, dessa vez Ben transferira sua raiva para seus punhos, puniu-se mentalmente por não ter percebido que Damian apenas estava fingindo e, por um segundo, o admirou por tê-lo enganado. O garoto se chocara contra um armário com objetos de porcelana, que ficava num canto da sala, ao tocar o chão, sentiu que seu ombro havia deslocado-se e emitira um fino e alto ruído de dor.

A culpa florescera imediatamente no interior de Ben, seu olhar assustado ao avistar o jovem caído, umedeceu os lábios com a língua e, após um pequeno instante em choque, falou gentilmente quebrando o silêncio que se formara no recinto:

___ Prietenul meu, paremos com isto, sim? Eu não quero te machucar, eu nunca faria isso...