Ao chegarem ao segundo andar, precisamente no quarto principal, Damian fechou a porta sentando-se na cama, a mulher logo ajoelhou-se diante do rapaz começando a desabotoar seu colete lentamente, seu olhar parecia distante, como se não se importasse com coisa alguma que estivesse acontecendo naquele momento.

Após retirar sua camisa de linho branca, a moça o inclinou para trás subindo sobre o garoto e beijando seu peito nu. Os lábios delineados e pintados de cor púrpura deixavam um rastro carmesim sobre a lúrida pele do jovem, erguendo por um momento a cabeça em direção a ele, comentou:

___ Sua pele está tão fria.

O ferreiro nada disse, nem sequer ao menos ouvira tal comentário. Sua cabeça estava pendida para um lado, os olhos fixados em um ponto qualquer do aposento apenas sonhando acordado, não tinha certeza com o que precisamente estava sonhando, entretanto temia que novamente sua mente lhe pregasse pérfidas peças.

Sentia as mãos delicadas da meretriz em sua tez ouvindo o som estalado dos beijos em seu pescoço, a cada carícia sua repulsa por ela crescia, não queria fazer amor ou sentir qualquer tipo de prazer carnal, estava espiritualmente enfermo para isso, tendo também um imenso vazio que não seria suprido por uma noite de sexo casual. Pensou até em esquecer tais pensamentos e entregar-se à luxúria, uma vez que estava bem ali caída em seus braços esperando que respondesse aos toques. Todavia, o jovem viúvo sabia que não iria conseguir, tantos fantasmas e antigas questões em sua tenra mente, sentia uma enorme pressão cada vez mais forte em seu crânio e além de tudo, ainda havia a incontrolável fome por sangue.

Julgava-se um estranho monstro, algum tipo incomum de aberração que aparecia nas histórias de terror contadas pelos pais com o intuito de assombrar as criancinhas, tinha medo... Muito medo, porém a cada amanhecer a culpa e o temor lhe deixavam um pouco mais e a cada anoitecer sentia-se mais tentado, mais próximo de seu novo e incompreensível vício, a cura para todas as suas dores, a resposta para todas as suas perguntas, até mesmo aquelas que nunca foram pronunciadas.

Estava difícil aguentar àquelas mãos em seu corpo acariciando-o frivolamente, fazendo por fazer, apenas isto e nada mais, a que custo? Apenas algumas moedas douradas e uma garrafa de rum? Por que uma linda jovem usaria de forma tão descuidada e banal um corpo tão sublime?

Sentou-se novamente sobre o colchão tendo a garota sentada em seu colo, com as longas e femininas pernas envolvendo seu tronco e seus braços alvos envolvendo a delicada silhueta dela. Ela lhe beijava em silêncio, porém exalando alguns suspiros mentirosos, o adolescente podia sentir, sabia que não estava excitada, sabia que era tudo uma mentira, sabia que ambos não queriam, mas precisavam fazer, como algum tipo de acordo informal.

Ela o envolvia e roçava seus lábios no frio e pálido pescoço retirando algumas mechas negras e jogando-as para trás, nada lhe atraía, lhe fazia alguma diferença, exceto quando olhou para a jugular perfumada e desnuda da prostituta.

Não sabia se aquilo era um devaneio ou se era mesmo real, mas podia ver claramente a veia de seu pescoço tão rente à pele como se a qualquer instante ficaria exposta e o convidasse a se aproximar. O silêncio era desleal, sempre lhe enganando e não fora diferente naquele momento, ouvia o coração dela batendo amargamente, num ritmo ameno, porém doloroso e o sangue correndo fadado a sustentar uma carcaça fria e descartável.

Podia sentir o aroma tão suculento daquele líquido carregando mágoa e prazeres ilusórios exalando pelos poros, o coração batendo ainda no fúnebre e contínuo compasso, estava tão perto... Tão perto... Mais que perto. Era capaz de conhecer todos os sonhos perdidos daquela estranha em seu colo, saber das lágrimas silenciosas e provar um pouco de suas lamúrias amargas, aquilo parecia ainda mais delicioso.

Estava sozinha, sempre estivera, desde seu primeiro suspiro, o choro que a despertou para a vida, desde o primeiro raio de sol que tocou sua encanecida cútis estivera sozinha, sem pai ou mãe ou qualquer parente consanguíneo por perto, viveu nas ruas e inevitavelmente começou a deitar-se com estranhos insaciáveis e asquerosos para ter algo em seu estômago vazio, porém o que matava sua fome não confortava seu coração.

Buscava companhia, alguém que a compreendesse, porém tudo o que recebia eram tapas e gritos enquanto sentia a dor de ser usada tão e somente para o prazer, um prazer tão pouco e tão pobre, um breve e nojento prazer que por um segundo a reconfortava, pois mesmo que forçosamente, sentia um outro corpo, mesmo que vociferante, sentia uma outra voz e sons que não fossem os choramingos que rompiam o silêncio de um mofado e pequeno quarto de hospedaria.

O garoto sentia um penoso calor envolver-lhe o peito, contudo misturando-se à sua fome, à sua sede voraz e que a cada dia tornava-se mais forte. A melancolia de poder saber claramente o que aquele ser humano em seus braços havia passado fez a culpa aumentar, mesmo que cada célula de seu ser o ordenasse para tirar a vida daquela mulher, não podia, não seria certo.

Era linda, o martírio que carregava era tão belo quanto um esplêndido e colorido alvorecer, suas lágrimas solitárias eram tão puras quanto as palavras de uma criança, talvez fosse apenas isto que aquela garota era, uma criança presa no corpo de uma mulher, um anjinho que perdera ainda tão cedo tua inocência e não, não poderia suportar ainda mais lástima em seu nefando trajeto. Aquilo, inevitavelmente, o fizera lembrar-se de Andreea.

Deteve-a carinhosamente segurando seu rosto entre suas alvas mãos e buscando seus opacos olhos de mel, aquele olhar direcionado ao do rapaz lhe dera ainda mais pena, como se fosse um livro aberto, estava tão claro, toda a sua vida dissoluta gritava através daqueles olhinhos maquiados.

___ Não faça isso ___ falou ele brandamente.

___ Mas eu preciso ___ disse a prostituta com a voz de quem está cumprindo um dever, mesmo contra a sua vontade.

___ Não esta noite.

Ele a jogou suavemente sobre os lençóis levantando-se, antes que pudesse sair do quarto, o ferreiro ouviu a voz alterada da mulher:

___ Não me vire as costas, Damian!

Petrescu franziu as sobrancelhas e virou-se para a meretriz.

___ Como sabe meu nome?

___ Eu conheço a sua vida, assim como passou a conhecer a minha instantes atrás.

___ O quê?___ inquiriu o rapaz desentendido.

___ Não me abandone, Damian, venha... ___ falou ela inclinando a cabeça para o lado, a bochecha avermelhada quase tocando o ombro.

O menino ficara sem fala, apenas observando-a retirar uma pequena lâmina do decote de seu vestido e passá-la suavemente em seu pálido pescoço fazendo com que um fio de sangue começasse a fugir e a escorrer vagarosamente até entre seus seios.

___ O que significa isso?

A meretriz começou a se aproximar calmamente do moço e assim como ele fizera, segurou seu rosto assustado entre as pequeninas e delicadas mãos e sorriu inclinando mais uma vez a cabeça:

___ Beba.

Ele a empurrou e tentou se afastar, confuso e assustado com tal gesto.

___ Mas o que significa isso?!

___ Vamos! Eu sei que quer.

___ Não, não posso. Eu não quero!

___ É claro que pode, é claro que quer!___ insistiu ela chegando mais perto ___ Basta apenas uma mordida... E eu serei sua.

___ Não... Isso é loucura.

___ Loucura é tentar fugir do que você é.

Aquelas palavras o provocaram, Damian encarou a mulher com um ar de interrogação em sua face.

___ E o que eu sou?

___ Você é tudo que quiser ser... É mais do que pensa, draga mea.

A cada palavra, a prostituta ia aproximando-se fazendo com que Petrescu começasse a sentir-se tentado pelo cheiro suculento de sangue tão vermelho e dardejante escorrendo profundamente e sem previsão para coagular.

___ Apenas uma mordida, meu querido.

___ Não, eu não posso.

___ Pare de resistir, não há razão para isto, é tudo de que precisa.

___ Eu iria matá-la.

___ E quem se importaria?

___ Eu! Eu não sou um assassino.

___ E eu não sou uma vítima! Estou me oferecendo de corpo e alma, esta é minha vontade.

___ Por quê?

___ Pude ver em seus olhos... De algum modo conheceu meu penoso caminho, que outro destino posso querer depois de tudo, se não a morte?

___ Encontre-a de outro modo, eu não farei.

Damian sentou-se à beira da cama, a moça ajoelhou-se sobre o colchão e passou seus braços pelo tronco enrijecido do rapaz, o odor de seu sangue tão próximo às narinas dele, queria fugir, mas ao mesmo tempo não queria livrar-se dos braços dela e nem distanciar-se daquele delicioso aroma que começava a dominar todo o seu âmago.

___ Será um intenso prazer... Para ambos. Eu quero... Você quer. Não lute contra o que é mais forte que você. Por favor, faça! Eu lhe imploro.

O ferreiro sentiu seu coração apertado, os batimentos doíam e a respiração parecia diminuir como se seus pulmões estivessem atrofiando, apenas um cheiro entrava pelas suas narinas fazendo com que todos os órgãos de seu corpo trabalhassem para um fim, apenas um. Sabia que aos poucos estava novamente entrando em um estado de frenesi e que chegaria um ponto em que não iria controlar-se.

Deixaria que o desejo o dominasse? Tentaria resistir? Havia tão pouco tempo para pensar, a cada segundo sem fazer nada era mais uma célula tomada pela sede, estava tão perto... Irresistivelmente suculento, podia já sentir o líquido rúbido descendo quente e agridoce por sua garganta, apesar de uma parte de si ainda sentir repulsa, ela era completamente anestesiada pela parte faminta e sequiosa.