___ Vamos, Damian, não resista... Eu estou aqui, beba... Eu lhe imploro ___ a voz da meretriz acentuava um tom sensual extremamente provocante.

Seus suspiros eram pesados, queria gritar para que o aperto em seu peito fosse quebrado de algum modo, mas sabia como se livrar da dor, da culpa, das lágrimas, a resposta estava ali, tão pura e tão densa, a cura tinha cor avermelhada e gosto de vinho tinto e com fortes garras o puxava para ainda mais perto.

A moça sentou em seu colo pendendo a cabeça para o lado, uma das mãos do adolescente segurou sua fina cintura enquanto os dedos da outra envolviam o níveo pescoço manchado de vermelho, um delicado fio escorrendo sensualmente até os seios dela, esperando para que saciasse sua tão dolorosa sede.

A cada instante esperando, tudo dentro do corpo do rapaz doía, até dentro de seus ossos a dor era sentida e ecoava ainda mais forte por cada extremidade, os segundos eram longos e a vontade de se entregar apenas aumentava e antes que pudesse cravar os caninos brancos na macia e perfumada pele feminina, ouviu a voz da prostituta murmurando em seu ouvido:

___ Não se preocupe... Você não vai me ouvir gritar.

Aquelas palavras lhe arrepiaram como um vento gelado entrando por uma janela aberta no ponto mais alto da madrugada, tudo voltou a adormecer em seu interior, a fome, a sede, a vontade, sua consciência fora retomada com extrema velocidade, como se a frase que acabara de ser dita fosse um estalar de dedos para despertá-lo de seu transe.

Saltou imediatamente da cama jogando a mulher entre os lençóis e a encarando com imensa perplexidade, porém sem saber o que dizer. Percebia que a prostituta o fitava pedindo por uma resposta a este inesperado gesto que cometera.

Em silêncio, saiu rapidamente pela porta ouvindo a mulher repetir três vezes a pergunta Aonde vai? e o pedido Espere!

Desceu as escadas em pulos apressados indo em direção à sala de estar, deteve-se por um instante, pensou que se abrisse subitamente as portas poderia estar incomodando Benjamin, afinal fora ele quem chamara as prostitutas para se divertir e entreter o garoto, mas estava tão assustado, em estado de nervos e a dor não parava de incomodá-lo, uma dor que lancinava não só na carne e nos ossos, porém também na alma.

Parou por um segundo, precisava pensar muito bem no que havia acontecido, precisava ter argumentos convincentes para quando o amigo lhe revidasse com agressivas palavras por flagrá-lo em algum momento íntimo pudesse ter como se defender, todavia não conseguia pensar em nada. Fora tudo tão complexo... O modo como a mulher falou, como se o conhecesse tão profundamente e pôde ver dentro dos olhos dela, por algum momento, pelo menos por um centésimo de segundo, ela sabia o que ele era. A resposta estava clara como o dia, bem ali, naqueles olhos castanhos.

Andava de um lado a outro sendo impedido pelas grandes portas de madeira que davam para a luxuosa sala de estar, estava tão nervoso e ofegante que não percebeu que a sala estava tão silenciosa, perdido entre seus medos e preocupações não poderia perceber que nenhum som era emitido, nem ao menos o ruído da lenha crepitando dentro da lareira.

Parou centralizado às duas portas, cabisbaixo, reuniu todo o fôlego que possuía, utilizaria todo o resto do ar em seus pulmões para criar a coragem necessária para enfrentar a ira do amigo se fosse flagrado ou incomodado, tocou as maçanetas delicadamente como se estivessem quentes, abriu de uma vez ambas as portas entrando na ampla e escurecida sala de estar já começando um diálogo ainda sem encarar o rapaz, preferiu assim para não deparar-se com algum indesejado momento:

___ Ben, desculpe incomodá-lo, mas preciso tratar de um assunto sério, eu...

Quando seus olhos finalmente encontraram a figura do amigo, suas palavras morreram em seus lábios boquiabertos. A forte dor e aflição de segundos atrás não mais passavam de uma leve pontada em sua cabeça, estava surpreso demais para sentir-se dolorido e melancólico, o que via diante de seu rosto empalidecido era ainda pior que seu drama anormal.