Ao chegar a casa, viu que Viorica bordava sentada sobre a poltrona da sala, ela apenas levantou os olhos sem fazer muita cerimônia, apenas disse:

___ Bună ziua, senhor Petrescu.

___ Bună ziua ___ respondeu o garoto com um toque exausto em sua voz.

___ Seu pai está na ferraria.

___ Tudo bem, estarei lá em uma hora.

___ Ele disse que não quer que vá hoje.

___ Por quê?

___ Quer lhe dar um dia de folga depois... Depois da sua glória.

___ Sendo assim, vou subir e descansar.

Depois de subir alguns degraus, ouviu a criada insinuar:

___ Não descansou na mansão da viúva Voiculescu?

O rapaz deteve-se encarando a garota que estava cabisbaixa, com o olhar direcionado à toalha que estava decorando com flores de diferentes cores, ainda bem que não estava vendo-o, pensou ele, pois havia enrubescido-se com aquela pergunta.

Ao entrar em seu quarto, fechou a porta e desmanchou-se sobre sua cama amarrotando os lençóis, enterrando a cabeça em seu humilde travesseiro, um quarto nada comparado ao da viúva com quem passara a noite, mas lhe era agradável, confortável, aconchegante, tudo que precisava naquele momento.

À noite, na hora do jantar, o silêncio fora quebrado por uma questão pronunciada euforicamente e sem pensar da boca de Ionel:

___ E então, fiul meu, como passou a noite na mansão Voiculescu?

___ Isto não é assunto para o jantar, tata ___ respondeu o garoto com o rosto escarlate.

___ Não há razão para sentir-se envergonhado, fiul meu, só estava curioso, îmi pare rău.

O jovem encarou a criada no canto da sala de jantar, percebera que não parava de fitá-lo com um olhar sério, podia jurar que estava com raiva, porém não sabia o porquê.

Naquela madrugada, estava sentado sozinho no escuro, apenas com a chama mortiça de uma vela lhe fazendo companhia na cozinha, estagnado e pensativo, com seus olhos de safira encontrando-se com o brilho carmesim do pequenino rubi em suas mãos, tateando com a ponta de seus dedos a superfície da pedra.

Toda vez que encarava aquela linda joia, a imagem do misterioso lorde Benjamin Grigore lhe vinha à mente, aquilo era uma espécie de portal que o levava diretamente para perto daquele homem, um sujeito tão peculiar, nunca vira alguém como ele caminhando por aquele vilarejo tão comum e até tedioso, ele era diferente, era educado, bem vestido, um ser belo, porém intrigante, não se esqueceria dele nem que se passasse um milhão de anos, cada detalhe daquele homem ainda fervilharia em sua mente como se tivesse acabado de fitá-lo.

Damian nunca estranhou ter tais pensamentos sobre Benjamin, o que achou estranho foi ele nunca mais ter retornado à ferraria para perguntar sobre sua encomenda, a preciosa adaga de prata com um solitário rubi adornando-a, às vezes pensou até em desistir de fabricá-la, pois se o homem não mais viera interessar-se por seu pedido, por que deveria continuar dedicando-se a ele?

Por mais que quisesse parar não conseguia, algo lhe dizia para continuar seu trabalho, dando a ele toda a sua atenção e capricho necessários, nunca fizera algo tão sublime quanto esta arma branca, havia uma riqueza em detalhes, alguns o próprio ferreiro tomara a liberdade de fazer pensando que o lorde iria apreciar sua fértil imaginação.

Estava quase chegando ao fim, porém a mantinha em segredo de tudo e todos, uma sensação de que o rico homem não gostaria que ninguém soubesse de sua preciosa arma de bolso o incomodava, então optou pelo silêncio.

Seus pensamentos afastaram-se ao ouvir passos aproximando-se da porta da cozinha, rapidamente guardou o rubi no bolso de suas calças levantando-se num movimento súbito, sentiu-se um tanto aliviado quando vira que era apenas Viorica.

___ Ah, é você ___ suspirou sentando-se novamente à mesa.

___ Sim, apenas eu, quem pensou que fosse, senhor?

___ Nada... Ninguém.

___ Estava perdido em pensamentos?

___ Talvez...

___ Claro isto não é da minha conta, senhor Petrescu.

___ Por que está acordada, Viorica?

___ Já está amanhecendo, vou preparar o café para o senhor e seu pai.

___ Oh, meu Deus, não acredito que passei tanto tempo aqui!

___ Sem sono novamente, senhor?

___ Da.

Havia certa rispidez na voz da garota que Damian nem ao menos percebeu, estava alheio e sonolento demais para se prender em uma simples mudança no timbre de voz de alguém.

___ Bem, vou deixar você trabalhar em paz.

___ Não seria incômodo tê-lo como companhia.

___ Mesmo?

A órfã sacudiu positivamente a cabeça com um sorriso tímido brotando em seu semblante.

___ Então está bem, eu lhe faço companhia enquanto prepara o café.

Assim como todos, a adolescente não resistiu por muito tempo e logo sorriu ao encarar o formoso sorriso do rapaz, os olhos, apesar de cansados, brilhavam tanto quanto as estrelas, a pele alva e delicada como asas de querubins nos quais a garota só vira em livros de contos, aliás, quem não conhecesse o jovem Petrescu, diria que saíra de um romance medieval no qual não passava de um solene anjo imaculado.