Damian sempre preferia ir para a ferraria a pé, observando a natureza que o cercava, admirando suas misteriosas belezas e entrando em contato com seus profundos pensamentos, passava por uma estrada silenciosa a qual existia apenas ele e sua sombra tímida como companhia, procurava não encarar os primeiros raios do alvorecer então baixava a cabeça deixando seus negros cabelos ocultarem sua face como cascatas de uma linda cachoeira.

Começou a avistar o vilarejo, embora todos estivessem trabalhando duro para montarem as barracas para a feira, abrirem as portas de suas lojas para em questão de minutos os primeiros fregueses surgirem, um delicioso silêncio reinava infindo e supremo sobre aquele lugarzinho ainda adormecido. Passava por todos cumprimentando-os com um largo sorriso conquistador em seu semblante, não havia motivos para estar triste.

Ao chegar à ferraria, deparara-se com seu pai arrumando os instrumentos e ferramentas para mais um dia de trabalho pesado, logo ele iria para os fundos do estabelecimento, apenas gostava de ajudar o filho para não se sentir algo sem valor, o jovem então permitia tudo sem dizer uma só palavra, não suportava ver o homem abatido.

___ Bună ziua, tata.

___ Bună ziua, fiul meu.

Seus lindos olhos apenas acompanhavam atentos os movimentos do velho, até que eles arregalaram-se ao notar que Ionel estava aproximando-se de um baú de ferro que ficava escondido sob barras de bronze e moldes de armas, o moço saltou na frente do sujeito e gritou:

___ Tata, deixe que eu continue arrumando estas coisas, já estou aqui e não é trabalho nenhum fazer isto.

___ Mas, Damian, eu...

___ Tata, pode ir para os fundos, eu cuidarei de tudo ___ insistiu o garoto fazendo com que o brilho azulado de seus olhos adentrasse fundo no peito do homem mais velho.

___ Como quiser ___ assentiu Ionel de forma serena, porém decepcionada, pois realmente queria ser útil.

O pai fizera a vontade do filho e fora andando calmamente até os fundos do estabelecimento já se preparando para decorar um vaso feito de porcelana e após o jovem verificar que o homem não podia vê-lo, pegou as barras de bronze e os moldes colocando-os de lado, abriu o baú e viu que a adaga estava lá, faltando pouco para terminá-la. Seu brilho prateado reluzindo em seus olhos azuis, atraindo-o de uma forma sem igual, adoraria tê-la para si e pensara que se Benjamin nunca mais retornasse para buscá-la, ela então seria sua somente sua.

Passou a tarde toda dedicando-se somente a ela, dando forma ao seu gume, detalhando com precisão seu cabo, banhando-a no fogo e na água, deixando-se levar por seu fulgor e sua beleza, entregando toda a sua atenção, até finalmente, com extremo desvelo, colocar no centro do cabo bem perto da lâmina, o solitário, pequenino e precioso rubi.

Um estranho e espontâneo sorriso se abriu em seu rosto, seu trabalho estava concluído, após tantos dias e noites torturando-se com isto, esta bela arma prateada estava pronta, ele a queria... E como a queria! Pensou até querê-la mais do que almejara uma balestra, como pediu no silêncio das madrugadas solitárias que o abastado lorde não mais voltasse para reclamá-la.

O moço a embrulhou delicadamente em um pano amarronzado guardando-a novamente no baú, tudo feito com severo cuidado para que seu pai nada visse e que de nada suspeitasse.