Benjamin Grigore era obviamente diferente, não se parecia com nenhum dos outros rapazes do vilarejo, concluía-se facilmente de que se tratava de um burguês audacioso à procura de propriedades, um donaire e peculiar lorde que assombrava os pensamentos do humilde ferreiro, o garoto sentia-se diferente somente pelo fato de estar perto daquele sujeito, sentia um frio arrepio indo dos pés à cabeça e propagando-se tão velozmente como o soar do sino da igreja.

Damian ao mesmo tempo em que sentia-se assustado, também era capaz de sentir uma espécie de conforto, aquele rapaz de rosto extremamente pálido e roupas sóbrias lhe transmitia paz, algo que há tempos não sabia o que era.

Admirava Benjamin como se fosse o mais bravo dos cavaleiros, o mais sábio dos idosos e o mais poderoso dos reis, todavia com um toque de malícia e sobriedade que faziam suas safiras brilharem intensamente. Ele era um herói, porém também era um vilão, lhe fazia rir e chorar apenas com o dom da fala, já não bastassem os terríveis arrepios apenas tendo-o por perto, o pomposo lorde tinha de articular soturnas palavras que pareciam ser a letra que faltava para a mórbida marcha fúnebre, sem mencionar sua grave e estável voz.

Como era estranho. Não havia mais perfeita palavra para descrevê-lo. Completamente estranho, mas surpreendentemente encantador, algo naquele lorde atraía Damian, em seus pensamentos apenas um rosto, em seus lábios apenas um nome... Benjamin Grigore.

Qual era o nome desta sensação? Este fogo que se alastrava por todo o seu corpo ruborizando as bochechas e o fazendo balbuciar na presença de tão solene figura? Sua aparência intimidadora poderia ser uma pista...

Olhos de um claro azul penetrante, apenas alguns segundos olhando diretamente para eles e podia-se jurar que ambas as pupilas dilatavam e o tom fraco do azul ganhava um brilho intenso e inimaginável, seria loucura se pudesse acontecer.

Os lábios como os de uma dama, as linhas eram tão curvas e delicadas e de um vermelho tão vivo tal qual de suaves pétalas de uma rosa recém-desabrochada, movimentavam-se lentamente e a voz que ecoava de sua boca para o mundo era tão inebriante quanto uma taça do mais envolvente absinto. Podia sentir o fogo correndo pelas veias antes mesmo que o amigo concluísse uma única frase.

Um nariz afinado um pouco na ponta e um tanto alongado, porém ainda assim era perfeito e este toque singular contribuía para sua imagem de sujeito esnobe. O queixo pouco fino dava-lhe um contorno oval, que dificilmente era percebido quando usava uma negra e lustrosa cartola deixando seus cabelos de cor semelhante ao acessório caírem sobre seus ombros.

Sua pele era branca como a neve que vinha atormentar o vilarejo, tempo onde muitos morriam por conta da cruel pneumonia. Dava para ver claramente as veias sob sua tez, quiçá o sangue correndo por elas, aquilo tinha um toque atrativo, a excessiva palidez não lembrava apenas um adormecido cadáver, mas também um delicado objeto de porcelana tão frio e tão frágil, como se com apenas um simples toque pudesse quebrar em pedaços. Aquilo era magnífico!

Suas vestes eram exuberantes tal qual a de um autêntico inglês. Notavam-se com facilidade os delicados bordados, os pontos de linhas douradas em seu fraque, a tímida pérola reluzindo em seu plastron, um colete rico em detalhes cheios de graça e movimento, pareciam-se com caules espinhosos de uma florida roseira. Sempre tão elegante e imutável como uma estátua de mármore, estagnada suportando tudo dando de ombros, assim era Benjamin.

Seus movimentos eram leves e lentos, como se o mundo precisasse dele para girar, ao vê-lo andar, falar e inclinar a cabeça sutilmente, concluía-se que parecia um cavalheiro de no mínimo quarenta anos, porém o rapaz aparentava não ter mais do que vinte e cinco. Damian vivia intrigado, realmente aquele jovem recebera uma impecável educação. O que um sujeito como Ben queria com um pobre aldeão feito Damian?

Por vezes, Petrescu pouco se importava com o interesse de Grigore em sua pessoa, queria aproveitar o quanto pudesse a companhia do rapaz, sabia que burgueses como Ben viajavam por diversos condados negociando com comerciantes locais vendendo e comprando mercadorias e propriedades, fazendo qualquer coisa para aumentarem suas fortunas. Sentia-se a vontade ao lado do amigo educado e não conseguia para de admirá-lo como se fosse a imagem de uma estranha, porém fascinante divindade.

Apesar de todos os seus atributos, na noite passada Ben se mostrou um ser frio e cruel quanto à pobre Mary. A cena ainda estava fervilhando em sua mente, não iria esquecê-la tão fácil, após revelar ao amigo seu mais sombrio segredo, ele então fez de tudo para ajudá-lo, mas será mesmo que Grigore queria ajudar? Parecia estar forçando Petrescu a cometer um ato inimaginável, matar uma pessoa inocente, beber o sangue dela até secar por completo suas veias, não suportava pensar na cena de forma teórica, mas não sabia qual modo mais lhe assustava.

Sabia que Benjamin era assustador desde o momento em que surgira na ferraria encomendando a adaga para ser um adorno que levaria em seu bolso, mas nunca passaria por sua cabeça que aquele sujeito tão admirável pudesse ser capaz de tal loucura, estava pasmo e confuso somente em relembrar dos fatos ocorridos na noite anterior.

Por mais que quisesse odiá-lo e temê-lo não conseguia, alguma coisa vinda de dentro para fora dizia que fizera apenas um bem para Damian, dizia que Ben só queria ajudá-lo, ajudar... Nada mais. Não parava de pensar na pobre Mary e no asqueroso Tristan e de qualquer forma, era impossível ter pelo menos um pingo de ódio do rapaz, não conseguia afastar o sentimento de afeto e conforto em relação a Grigore e isso lhe causava incômodo.

Será que gostava e precisava tanto daquele lorde que seria capaz de ocultar o crime que cometera de forma tão brutal para continuar tendo-o por perto? Não sabia responder, não achava as palavras certas, mas tinha apenas uma certeza... Não queria que Benjamin fosse embora, nunca mais.