— Svetlana! Sério, Castle? Depois de tantos best-sellers é isso que você conseguiu criar?

Richard estava deitado, com o corpo coberto apenas por um lençol de seda, creme. O dia já estava quase amanhecendo e o clima naquele quarto era de pura cumplicidade e desejo. Kate já estava de pé e começando a se vestir. Por mais que a vontade de ficar ali estivesse entorpecendo seus sentidos, ela não podia. Não podia colocar o disfarce em risco.

— Aonde você vai? Pensei que poderíamos tomar café da manhã aqui, escondidos como dois contraventores. O Dr. Livingstone pode ser um espião Russo e a Svetlana uma contrabandista de pedras preciosas. Eles são amantes e comparsas!

Kate aquiesceu, enquanto posicionava o coldre na cintura, sorrindo apenas com o olhar. É impressionante a capacidade que o Richard tinha de a fazer sorri, mesmo nas situações mais complicadas.

— Talvez você tenha razão...

O celular dela tocou, e nesse momento os dois já sabiam que o café da manhã teria de ser adiado.

— Beckett! Tudo bem, estou a caminho. – Falou enquanto flexionava os lábios, e arqueava um pouco os ombros olhando para o Castle.

— Tenho que ir.

— Também te amo. – Ele respondeu enquanto recebia um beijo rápido, pouco antes de rolar na cama desapontado.

O mais difícil nessa situação era não poder acompanha-la.

Assim que a Kate saiu do elevador da delegacia, o Ryan e o Esposito a esperavam.

— Bom dia Capitã! Pelo que parece, dormiu bem noite passada né? - Esposito questionou com um olhar malicioso.

Os dois se entreolharam, questionando o motivo daquele sorriso no rosto da chefe. Ignorando a pergunta dele Beckett respondeu secamente.

— O que estão olhando?

— Por acaso você viu o Castle hoje de manhã? – Ryan foi o que teve coragem de perguntar.

— O Castle!? Claro que não. – Foi por pouco que não se entregou nesse momento. – Por que o teria visto?

— É que você só passou a sorrir a essa hora da manhã depois que começou a dormir na casa dele. E, além disso… tá com a mesma roupa de ontem. - Falou disfarçando em um acesso de tosse.

Beckett lançou para os dois, aquele olhar, ao mesmo tempo intimidador e debochado. Tomou a pasta das mãos do Esposito e caminhou até a Copa, enquanto os dois a passavam o resumo do caso.

— Ao que parece foram dois tiros a queima roupa. Ainda não achamos a carteira nem o celular da vítima. A única coisa estranha foi o que a Lanie encontrou abaixo do corpo.

Esposito e Ryan, falaram com um cômico ar de mistério, e ficaram esperando ansiosos que ela perguntasse.

— Ok! Eu pergunto... Que coisa estranha a Lanie achou? Beckett falou revirando os olhos e sorrindo.

— Ossos!

— Ossos enterrados, abaixo do corpo, ossos tipo... humanos.

Beckett mordeu a lateral do lábio inferior e franziu um pouco a testa, observando aqueles dois que pareciam crianças entusiasmadas, olhando para ela e balançando as cabeças em um sinal positivo. E foi impossível não pensar em mais alguém que iria adorar aquele mistério.

— Tudo bem, depois de resolverem o assassinato, poderemos pensar nesses ossos. – Deu um gole no café que tinha acabado de preparar, e estava horrível! E a mesma pessoa surgiu novamente em suas lembranças.

— E fiquem os dois sabendo, que apesar de não ser da conta de vocês. Eu posso ter passado a noite com o Dr. Livingstone. - Beckett dá as costas e sai para sua sala, se divertindo com as caras ranzinzas dos dois.

— Ah antes que eu esqueça - ela fala antes de continuar andando - vão até a cena do crime para ter a certeza de que não deixaram passar nada.

— Cara isso é muito errado!

— Totalmente errado.

— Espo! E se por um acaso o Castle ficasse sabendo do misterioso caso dos ossos encontrados? - Ryan fala apertando os olhos e sorrindo cúmplice para o amigo.

— Claro! Se ele descobrir sobre isso, não temos como o impedir de… assumir o caso, já que não é a prioridade da delegacia. - Os dois passam pela sala da Kate, olhando para ela através do vidro e acenam com as mãos, fazendo um sinal de continência.

No loft, Castle estava fazendo panquecas, ainda vestia apenas um hobby, e não dava sinais de que faria nada produtivo aquele dia. Até que alguém toca a campainha e quando ele abre a porta tem apenas um bilhete escrito com as palavras “Mistério, ossos, Beacon Hills Park, P.S. não conta pra Beckett”

Assim que Richard olhou para o papel seu rosto se iluminou. Ele deu um daqueles sorrisos, apenas com um lado da boca, e fechou a porta. Passou pelo balcão da cozinha, pegou uma das panquecas e foi em direção ao quarto.

O sol estava forte, naquela manhã de verão, seria um desperdício passar dia inteiro em casa como ele havia planejado. E em menos de 1 hora ele já estava na cena do crime, os primeiros rostos que viu foram os de seus cúmplices.

— E então garotos, o que vocês têm pra mim?

— Ele tá falando com a gente Ryan?

— Acho que sim…

— Ei, Castle, não somos seus garotos, e você não devia está aqui.

Richard fez um tipo de careta e arregalou os olhos, como se não estivesse entendendo.

— Mas foram vocês que…

— Shiiiiiiiiiiiih… - Ambos o interromperam fazendo sinal de silêncio antes de ele terminar de falar.

— Não fomos nós nada! Não fizemos nada, e nem sabíamos que você viria até aqui, por causa do mistério dos ossos… Entendeu Castle?

— Ahhh! Claro que entendi. - Ele deu um sorriso de cumplicidade e piscou o olho para os dois.

— Eu descobri através das minhas fontes, que não são vocês dois, é claro! Que existia um mistério a ser resolvido nesta cena do crime.

Todos se fizeram de desentendidos, e os dois policiais apenas mandaram que ele não os atrapalhasse. Após um período observando a cena Castle pergunta ao Esposito.

— E então, podem me dizer o que aconteceu com ele?

— Nós? Não sabemos ao que tudo indica os restos mortais estavam aqui há um bom tempo. Bem antes da nossa vítima “cair” sobre ele. E ainda não conseguimos encontrar nada que possa nos dizer o que o matou.

— O esqueleto ou a carne fresca?

— O esqueleto!

— Achei que não estavam interessados no caso dos ossos... – Castle incitou irônico, recebendo dos amigos carrancas mal-humoradas.

— Ao que parece, nossa vítima estava tentando enterrar alguma coisa, e acabou sendo baleado pelas costas e abandonado no local. Quando a perícia estava fazendo a varredura, acabou encontrando o nosso amiguinho soterrado nesta cova rasa. - Ryan aponta para o local onde se encontrava os ossos humanos.

O corpo da vítima do assassinato já havia sido retirado do local pelos legistas e provavelmente já estava no necrotério sendo preparado para a autópsia. No entanto no local ainda estavam alguns policiais colhendo depoimentos, bem como uma equipe responsável pela coleta do segundo cadáver. Além de Laine que ainda permanecia em busca de mais evidências. Ela se aproximou de onde os três conversavam e com as mãos na cintura e a sobrancelha, levemente, arqueada perguntou.

— Castle, a Beckett sabe que você está aqui?

— Bom... Então Lanie - disse ignorando a pergunta - O que você pode me dizer do nosso amigo ossudo ali?

— Nada que os meninos já não tenham lhe dito. Ainda não consegui identificar uma data exata da morte e nem a sua causa, mas posso adiantar que considerando o estado desses ossos, cuja carne já foi totalmente consumida é que ele morreu há pelo menos uns 15 anos. Vou ter que levá-lo para o necrotério, para tentar conseguir mais algumas informações.

A nova informação só serviu para deixar o Castle ainda mais fascinado. Um corpo enterrado há mais de 15 anos, um crime nunca solucionado, é o tipo de mistério que ele gosta. A primeira coisa a fazer era...

— O estranho caso de esqueleto esquecido!

— Você acabou de criar um nome para esse caso?

— Ainda preciso melhorá-lo, mas por enquanto sim.

A Lanie e o Esposito deram as costas revirando os olhos, enquanto o Ryan adorou a ideia.

Quando finalmente retiraram os ossos da cova, Castle pôde examinar o local com maior atenção, a equipe forense ainda estava finalizando o trabalho, batendo fotos, remexendo o solo e colhendo amostras para serem analisadas, quando o sol refletiu algo em meio a escavação e Castle percebeu um brilho incomum.

— Ei Ryan! Acho que achei alguma coisa. - Ele puxou uma caneta do bolso e com seu auxílio apanhou o pequeno objeto brilhante que chamou sua atenção.

— O que é? - Ryan indagou.

— Parece uma espécie de uma pulseira de chapa dourada, e olhe - disse apontando – parece ter um tipo de inscrição, mas está muito deteriorado.

— Me deixe ver, Castle?

— Ah! Me desculpe, mas não tem a ver com o seu caso e sim com o meu. Quando eu tiver alguma informação falo com vocês. – Castle falou enquanto guardava a evidência, sorrindo debochado.

As perguntas ferviam na mente do Castle. O assassinato teria alguma relação com o cadáver encontrado, ou era apenas uma coincidência? De quem era aquele esqueleto e o que seria a inscrição da pulseira de ouro? Ele ainda não tinha nenhuma das respostas, mas de uma coisa tinha certeza, iria ser divertido descobrir. Voltou para o seu escritório para decidir qual o próximo passo.

De volta à delegacia Ryan e Esposito fizeram o relatório para a Beckett, sobre as novas informações do caso. A partir da identificação da vítima puderam constatar que ele se chamava John Florick e que estava devendo dinheiro para um suposto traficante daquela área, provavelmente foi o acerto de uma dívida não paga. Uma das testemunhas disse ter visto uma briga na noite anterior envolvendo o Sr. Florick e o seu assassino, próximo do local onde ele foi encontrado. Logo após a discussão o suspeito entrou em um Chevrolet vermelho - que parecia ser um carro antigo, daqueles clássicos que sempre chamam atenção - e fugiu.

Ryan conseguiu localizar as câmeras de segurança próximas do parque que permitiram identificar a placa do veículo, ele pertencia a uma senhora chamada Mirian Gold, 78 anos.

A senhora de cabelos curtos e extremamente brancos, tinha um rosto comum e angelical, com óculos de grandes lentes e armação arredondada, o perfeito estereótipo de uma boa e doce vovó americana.

— Então vocês dois acham que esta velhinha é nossa assassina? – Beckett perguntou, tentando conter o sarcasmo. – Ela pode ter usado agulhas de tricô, isso se nossa vítima não tivesse sido baleada, é claro.

— Nós ainda estamos investigando, ok. E ela me parece bem suspeita ninguém iria desconfiar da velhinha. – Ryan falou tentando manter a dignidade, e recebeu do Esposito uma cotovelada no braço.

— Nós vamos até a casa dela interroga-la. – Esposito falou enquanto caminhava, puxando o Ryan.

— Peguem leve com ela. – Kate sorriu com escarnia, se calando no momento em que os dois a olharam de cara fechada.

Enquanto isso no escritório, Castle passou a tarde tentando desvendar o estranho caso de esqueleto esquecido, o fato da Beckett não estar no caso não era o tipo de estímulo que ele gostaria, no entanto algo o dizia que esse mistério estava apenas começando.

Alexis entrou no escritório com algumas das informações que conseguiu coletar, os restos haviam sido levados para o necrotério, e foram identificados como de um homem, provavelmente, de meia idade. No entanto nada mais que isso pôde ser constatado, até então.

— Filha, você consegue… de alguma maneira… adquirir as fotos que a perícia fez da ossada?

— O Sr. quer dizer, hackear um órgão do governo e roubar as fotos?

— Eu não usaria essas palavras, mas… - Castle falou entre um sorriso, e um abraço, cúmplice, enquanto a filha retribuiu com um olhar na mesma intensidade.

— Aqui está pai. - Alexis jogou um envelope com as fotos que o pai acabou de pedir, mostrando que sempre está um passo a frente e saindo confiante da sala.

Sozinho em sua mesa, Castle olhou as fotos e por alguns segundos se perdeu no próprio pensamento.

Ryan e Esposito descobriram que a Sra. Gold tinha um filho chamado Sebastian Gold, 38 anos. Que segundo ela tinha saído com seu carro e estava desaparecido a cerca de uma semana. Ela chegou a prestar queixa na delegacia local, mas como o filho tinha passagem na polícia, não deram muita importância.

— Arrombamento, violência doméstica, assalto a mão armada, tráfico de drogas. Acho que ele deve ter adicionado assassinato neste currículo, Ryan.

— Vamos pedir para o Vikram tentar rastrear o celular ou o carro, e descobrir onde o senhor ficha suja está escondido.

Richard estava tão envolvido com as informações que se assustou quando chegou uma mensagem de Kate no seu celular, só então ele percebeu o quanto estava tarde, guardou as fotos, pegou a pulseirinha, prova encontrada junto ao esqueleto, e voltou para casa.

Antes mesmo de chegarem à delegacia Vikram enviou para seus celulares a localização do Sr. Gold. Um posto de gasolina desativado, próximo a cena do crime. Ryan e Esposito partiram direto para o local e quando chegaram logo puderam ver o carro, um Chevrolet Impala 1967, vermelho.

No instante em que se aproximaram para inspecionar o veículo, a silhueta de um homem foi vista tentando fugir, Esposito gritou, mandando que ele parasse, o que não aconteceu. E assim começou a perseguição.

— Parado aí! NYPD!. – A correria atrás do meliante só parou quando o Ryan, que tinha dado a volta no posto, o interceptou com um salto, derrubando o fugitivo e sendo rendido pelo Esposito apontando a arma na direção do suspeito.

— Eu estava quase conseguindo. – Falou o Esposito, tentando recuperar o ar.

— Claro que estava. – Ryan respondeu arqueando a sobrancelha em direção ao amigo.

— Eu não queria matar, foi um acidente, foi um acidente. – O homem confessou, aos gritos, mesmo antes de ser questionado. O caso estava resolvido.

Em casa o Castle recebeu outra mensagem da Kate, a Svetlana, não ia poder se encontrar com seu amante médico e contrabandista de joias naquela noite.

— Ela tá me saindo uma ótima escritora, Lucy.

— Não seria bom namorar uma escritora, assim como você Castle? – Respondeu a voz eletrônica.

Foi aí que ele se lembrou de uma noite de autógrafos em Washington DC, muitos anos atrás, quando conheceu uma jovem escritora, que quase lhe fez perder o juízo. Sorrio sozinho e deu-se a recordar.

Tinha acabado de assinar 47 livros, numa noite de autógrafos em que apenas autores de romances policiais estavam presentes. Seu Personagem, Derrick Storm, só disputava o ranking de mais aclamado com a personagem Kathy Reichs de uma autora tão renomada quanto ele.

Na época tudo o que tinham em comum era o mundo dos best-sellers, seus livros estavam entre os mais vendidos da lista do The New York Times. E ninguém seria mais qualificado, para ajudá-lo nesse caso dos ossos misteriosos.

Castle pegou seu telefone e procurou pelo seu número na lista de contatos, A voz do outro lado atendeu no terceiro toque.

— Brennan!

— Boa noite, me desculpe ligar assim tão tarde. Mas preciso muito da sua ajuda...

— Antes de pedir a minha ajuda, você poderia me dizer quem é? - Ela perguntou confusa.

Castle fico um pouco desapontado ao perceber que ela não havia lembrado dele, mas pelo modo direto que falou, e sem se preocupar com o trato social, só indicava que a mulher do outro lado da linha continuava a mesma pessoa. Sendo assim, eles ainda iriam se dar muito bem.

— É o Richard, Richard Castle de Nova Iorque. - Respondeu ele esperançoso.

— Richard Castle !! - Ela exclamou - Quanto tempo… Está em Washington? Antes de dizer o que quer, tem que saber que eu agora estou casada, sendo assim não podemos mais nos envolver sexualmente. Minha relação com o meu marido é extremamente monogâmica. Agora pode falar o que quer.

— Uau! Er... claro. - Castle arqueou a sobrancelha direita e franziu o lábio superior para cima - Eu também estou casado, bom... teoricamente pelo menos.

— Não entendo como alguém pode estar casado apenas em teoria. Você não está falando coisa com coisa.

— Esquece… - Ele ensaia um sorriso sem graça.

— Esquecer? Mas você acabou de me falar, levarei um certo tempo para esquecer essa informação. O cérebro humano não funciona desta forma, seriam necessários...

— Brennan! – Ele a interrompe.

— Eu só quis dizer que não liguei para fazermos sexo. Na verdade eu preciso de sua ajuda, em um caso de assassinato que aconteceu há 15 anos, e que só tenho um esqueleto como pista.

— Ah! Devia ter ido logo ao ponto. Ossos são a minha especialidade, vai ser um prazer te ajudar, e não me refiro a um prazer sexual.

— Ok, ok... eu entendi! - Arregalou os olhos, mas sorriu por se recordar do quanto se divertia com aquela mulher que levava as palavras sempre ao pé da letra. - Vou te mandar um email com as informações sobre o caso, e amanhã conversamos.

— Tudo bem. E não deixe que ninguém mexa nos ossos, antes que os veja. Podem destruir evidências.