Josh estava me chamando.


– O que você quer ? - fiz umas mimicas pra ele e acho que ele conseguiu me entender.

Ele continuou fazendo sinal pra eu descer. Eu fiz um sinal positivo, nem troquei de roupa, só coloquei meu all star (sim, eu estava de pijama e all star, coisa bonita) e já fui descendo as escadas. Tentei descer sem fazer muito barulho, não queria que minha mãe visse eu descendo pra conversar com Josh, mas pra minha infelicidade ela me viu bem na hora que eu já estava com um pé pra fora de casa.

– Vai fazer o que lá fora mocinha ?

– É, eu.... eu ouvi um barulho estranho e não consegui ver nada, então desci pra ver o que era – menti.

– Aham, entendo. Mas pode subir que eu mesma faço isso e depois falo o que é, ok ?

– Ah, não precisa não mãe, acho que não é nada demais.

– Não me engane Hayley, eu sei o que você tava tentando fazer.

– Sabe é ? - gelei

– Claro. Tava tentando fugir um pouco de mim e pensar sozinha, ter um tempo pra você... eu faço isso direto. Mas agora você não vai sair porque EU vou e alguém tem que ficar com as suas irmãs.

– Ahh, era isso mesmo. - menti – não é que você me entende ? - menti mais – bem, então eu vou dormir mesmo.

Subi pro meu quarto, INFERNO, minha mãe tinha que sair de novo justo hoje ? Ahh mas eu ia dar um jeito de sair, nem que eu pule a janela, sei la. Eu sei que podia ser perigoso pras minhas irmãs, mas qual é, ninguém vai entrar e roubar algo ou sequestrar elas duas, a gente não tem nada de muito valor mesmo.

Fiz um sinal negativo pra Josh. Eu consegui ver sua expressão de decepção, mas em seguida a cara dele melhorou, ele esticou os braços como se estivesse pronto pra me pegar, pedindo pra eu pular a janela. A janela não era tão alta assim, mas dá medo do mesmo jeito. Eu estava insegura... mas queria sair de casa a todo custo, ainda mais agora que a minha mãe iria sair... então, fui colocando meus pés pra fora e sentei na janela. Fiquei um tempo lá pensando na cagada que eu iria fazer, mas o máximo que podia acontecer era o Josh quebrar algum osso ou ele desviar e EU quebrar algum, ninguém ia morrer... então eu pulei. Josh conseguiu me pegar, e nós dois caimos no chão. Quer dizer, ele caiu no chão e eu no colo dele. Fiquei olhando ele por um tempo até que eu me lembrei que eu tinha que me levantar, então me levantei num salto. Quando me lembrei que eu podia tê-lo machucado.

– Tá tudo bem ? - olhei com preocupação.

– Tá sim – ele deu uma risada – você é levinha, relaxa.

Óbvio que ele estava bem, com aquele corpo todo, era praticamente obrigação dele me aguentar (parei).

– Então, o que o traz aqui ? - perguntei.

– Eu vim te chamar pra sair, sei lá, queria fugir da neurose do povo lá de casa.

– Chegou em boa hora, eu estava quase surtando de tanto tédio, tanto que já ia dormir agora...

– Deu pra perceber – ele disse apontando pro meu pijama e depois riu.

– É então, acho que não vai dar pra eu sair com você hoje.

– Dá sim, o lugar que eu pretendo ir não é muito movimentado, ninguém vai reparar na sua roupa.

– Mas no caminho vão reparar sim, não dá pra sair andando no meio da rua de pijama, Josh.

– E quem disse que a gente vai andando ?

– Ele apontou pra moto estacionada na frente da minha casa. Fiquei um pouco surpresa, Josh não fazia o tipo que pilotava uma moto. Eu estava com um pouco de medo também (eu sei, não tenho medo de pular a janela mas tenho de andar de moto) porque a ultima vez que eu andei foi com o JUMENTO do ex da minha mãe (só andei porque não tinha opção) e a gente tomou um rola daqueles.

– Eu não sei não, Josh.

– Confia em mim.

Ele disse com aqueles olhinhos lindos olhando diretamente pros meus, qual é, isso é golpe baixo... com aqueles olhos eu até plantava bananeira pelada na chuva (ok, exagerei de novo).

– Tudo bem, vá – eu disse com cara de decepção – mas se nós cairmos, eu nunca mais olho na sua cara.

Ele riu.

– Óbvio que eu nunca vou te deixar cair - ele acariciou meu rosto – já disse, confia em mim.

Tive a leve impressão de que ele não falava da moto. Mas resolvi esquecer esse pensamento.

– Vai ficar a coisa mais bonita você pilotando com uma garota de calça de ursinho atrás – eu ri.

– Já disse que a roupa é o de menos – ele riu – mas se bem que é engraçadinho esse seu pijama – ficamos em silencio - ... mas então, chega de enrolar, vamos antes que sua mãe te pegue.

Nós fomos até a moto dele. Reparei que ele carregava uma mochila nas costas, então me ofereci pra levar porque senão ela iria ficar batendo na minha cara. Coloquei ela nas minhas costas e sentei. Josh acelerou e bateu um vento frio, que com a velocidade da moto foi ficando mais frio ainda, então eu percebi que eu podia ter demorado mais um pouco e ter trocado de roupa porque eu estava com MUITO frio.

Depois de um tempo, o caminho começou a ficar cercado de árvores, o que só fazia eu ter mais frio ainda... quando Josh percebeu que eu já estava tremendo, ele disse que nós já tinhamos chegado. Ele parou a moto num lugar gramado, cercado de árvores e escuro. Se Josh não tivesse um coração bom (que eu sei que tem) eu diria que ele ia me estuprar ali, porque era muito deserto.

Nós descemos da moto e ele me conduziu até um campo cercado de árvores, com a grama bem baixa, e com um laguinho logo a frente. Eu acho que aquele lugar era frequentado por pessoas durante o dia porque era muito bem cuidado. Ele pegou a mochila dele e estendeu uma espécie de manta no chão perto de uma árvore, que era pra gente sentar, logo depois tirou uma garrafa térmica, uma outra manta só que mais grossa e um lampião (aquelas luzes que o Harry Potter usa, manual). Eu ri.

– Cara, quem tem um lampião hoje em dia ?

– Ahh, para de zuar tá, ele é bem útil – ele fez um biquinho.

Nós dois nos sentamos, Josh encheu dois copinhos (daqueles que vem junto com a garrafa) de chocolate quente e me deu um. Eu já estava tremendo de frio, então ele pegou a manta mais grossa, me cobriu e me abraçou. Naturalmente eu o afastaria e diria pra ele que estava tudo bem, que não precisava dele me abraçar... mas o calor do abraço dele era tão bom, se eu pudesse não saia dali nunca.

Engoli o chocolate praticamente em um gole só, tava muito gostoso e quentinho também. Depois que nós tomamos o chocolate decidimos finalmente conversar.

– Da próxima vez, pega o numero do meu celular e me manda uma mensagem invés de ficar tacando pedras na minha janela, ela poderia estar aberta e a pedra ir direto na minha cara, sabia ?

Ele riu.

– Vai ter próxima vez ? - um sorriso abriu em sua boca.

Fiquei nervosa.

– A-ah, eu não sei, ué, eu só, quando a gente for sair algum dia, essas coisas.

Ele pegou meu celular e registrou o número na agenda do celular dele.

– Pode deixar que da próxima vez eu mando uma mensagem.

Ficamos em silêncio por mais um tempo.

– Então, eu já falei um pouco da minha vida pra você... aquele meu problema todo com garotas, e você ? Não me falou nada da sua vida amorosa ainda – ele disse.

– Ah, não tem muito o que falar, eu nunca namorei... só fiquei com uma pessoa ou outra. Mas não pense que eu sou piriguete igual a Jenna falou que eu sou, foram poucas pessoas, três, pra ser mais exata.

– Na sua vida inteira ?

– Sim. Eu sempre fico machucada por causa de tudo que eu vejo a minha mãe fazer, então não quero me igualar a ela.

– Entendo... só que tem uma coisa que é engraçada.

– O que ?

– Eu também só tive três pessoas na minha vida, a diferença é que uma vez eu namorei, o pior erro que eu já cometi.

– Então você também não acredita em compromisso ?

– Não, eu até acredito, mas eu errei a pessoa.

– E você realmente acredita em achar a pessoa certa algum dia ?

Ele olhou nos meus olhos.

– É, acredito sim.

Eu corei, simplesmente não dava mais pra continuar aquele assunto com Josh senão eu iria agarrar ele ali mesmo ou então enfiar minha cabeça na terra de tanta vergonha. Ele começou a falar de novo.

– Aé, me desculpe sobre hoje de manhã... ter feito você passar aquilo com o professor não foi muito agradável.

– Ah, tudo bem, era só implicancia dele, a gente não tinha feito nada e nem ia fazer. Sem contar que eu fui salva pelo sinal. A única coisa que vai diferenciar é que agora ele vai ficar pegando no meu pé.

– Hayles, eu não sei se você sabe, mas beijo é proibido em sala de aula.

– Eu não ia te beijar – fiz uma cara marrenta.

– Não é ? - ele fez uma cara maliciosa.

– Não mesmo, sem chance, você não é meu tipo – menti.

Ele começou a rir e depois o assunto foi embora. Estávamos nós dois ali, abraçados olhando pro nada. Estava muito confortável, tão confortável que eu adormeci, e acho que ele também.

*****


Algum tempo depois (lê-se algumas horas depois) eu acordei, e ainda estava nos braços de Josh. Me dei conta de que o tempo que tinha passado não foi pouco mas pelo menos estava escuro, então eu comecei a cutucá-lo.

– Josh, JOSH. - chamei.

Ele acordou.

– Hayles, eita, a gente dormiu.

– Disso eu já sei né pessoa esperta. Mas eu preciso saber que horas são, imagina se a minha mãe vê que eu não estou eu casa, eu nunca mais saio.

– Peraí – ele disse e pegou o celular dele no bolso, os olhos dele arregalaram.

– Fala logo.

– Quatro e meia da manhã.

– A gente tem que ir. AGORA – falei.

Eu gelei. Não sabia se agia como uma desesperada, se eu mantinha a calma, se eu saia correndo, se eu fazia drama e falava que é má influência e a culpa era toda dele... eu estava FERRADA.

Preferi manter a calma, agir com desespero agora só ia me trazer mais problemas, então ajudei Josh a guardar as coisas na mochila, saímos correndo em direção a moto. Chegamos até a moto e montamos nela. Josh tentou ligá-la mas ela não ia.

– Calma Hayles, ela vai pegar – Josh disse tentando me acalmar.

Ele tentou mais algumas vezes até que ela ligou, um peso saiu de mim depois disso... eu pensei que ela não ia andar com toda a “sorte” que eu tinha, sacomé.

Josh acelerou pra caramba, mas dessa vez eu nem tava me importando com o frio, eu só queria chegar em casa sã e pensar em algum jeito de conseguir fazer com que minha mãe não me visse, já tava cheia de arranjar problemas lá em casa.

*****


Depois de um tempo nós chegamos, Josh parou a moto em frente a minha casa mas não a desligou. Ele me acompanhou até a porta.

– Obrigado por ter vindo comigo. E se eu te meter em alguma confusão, é só me ligar que sei lá, eu do um jeito de te ajudar – ele disse.

– Não se preocupa. Eu consigo me virar aqui – sorri – mas e você ? Vai ficar tudo bem lá na sua casa ?

– Vai sim, o único que pode ter sentido falta de mim é o Zac, mas ele não fica me questionando.

– Tudo bem então.

Dei um abraço nele e virei a chave na porta (sim, eu estava com a chave esse tempo todo), quando eu ia entrar, Josh me puxou pela mão e me juntou pra perto dele, segurou minha cintura. Meus olhos se encontraram com os dele novamente, e dessa vez ele me segurava firme, não tinha como fugir. Seu rosto foi ficando mais próximo do meu, e à medida que ele chegava mais perto, eu conseguia sentir mais o seu perfume, o que me deixava praticamente drogada. Ele chegou mais perto ainda até que nossos lábios finalmente se encontraram. O beijo era suave, mas me deixou arrepiada a forma como as nossas linguas se entrelaçavam, era um encaixe perfeito, era a melhor coisa que eu já tinha experimentado na vida. Eu queria que aquilo nunca terminasse, mas o ar fez questão de acabar com a graça. Nós nos separamos e então eu pude dar conta do que tinha acabado de fazer. Os olhos dele brilhavam e não se desviavam de mim... aquilo me deixou com muita vergonha, então eu falei olhando pro chão.

– Agora eu tenho mesmo que entrar, mais tarde a gente se fala.

– Tudo bem. Posso passar aqui pra gente ir junto ?

Só assenti com a cabeça e depois entrei em casa... fiquei parada em frente a porta. Tinha acabado de fazer o que não era pra ter feito... tinha medo dele sair espalhando isso pra todo mundo agora e eu levar fama de algo que não sou. Eu não entendia como ele conseguia ter aquele poder sobre mim, era algo fora do normal, só podia... será que ele também era mutante ? (PAREI). Eu só sei que eu o queria mais, apesar de tudo isso, de todo esse medo de ter causado a impressão errada, a minha vontade de estar perto dele era ainda maior a cada segundo que passava.

*****


Voltei à realidade. Pra minha sorte minha mãe não me pegou, então eu subi até meu quarto e tentei voltar a dormir, mas aquele beijo não saia da minha cabeça. VOCÊ TEM QUE DORMIR, HAYLEY. – pensei. Tinha que aproveitar esse tempo que eu ainda tinha pra dormir antes de ir pra escola, senão eu ia ficar parecendo um zumbi o dia inteiro.