Acordei. Na verdade eu nem tinha dormido muito, tinha dormido durante uma hora mais ou menos porque fiquei pensando naquela noite que eu definiria...maravilhosa. E também naquele maldito beijo, o que era péssimo, porque eu estava morrendo de sono agora.

Fui me olhar no espelho e minha cara estava horrível, eu tava com uma cara de noite mal dormida do caramba. Não que a minha noite tenha sido ruim, mas meu sono foi interrompido porque eu tinha que voltar pra casa, e isso não é muito saudável. Fiquei mais um tempo me olhando até que me lembrei que hoje era o dia que Dakotah viria aqui em casa pra fazer alguma coisa no meu cabelo, eu estava precisando urgente mudar aquilo, tinha muita loira naquela escola. Sem contar que o meu cabelo como estava agora não era completamente meu estilo. Eu gosto de coisas mais radicais, que apresentem forte personalidade, porque é assim que eu sou.

Fui tomar um banho pra ver se eu “acordava”, mas digamos que não adiantou muita coisa, depois que eu me sequei e me troquei eu continuava me arrastando, estava realmente parecendo um zumbi. Desci pra cozinha e minha mãe já estava acordada (não fazendo meu café, obvio) e acho que ela percebeu aquela minha cara de sono.

- Ué Hayley, você foi dormir tão cedo ontem, era pra você estar com uma energia do caramba hoje... o que aconteceu ? Teve uma noite ruim ?

- Não mãe, minha noite foi ótima, nunca dormi de um jeito tão confortável (mal sabia ela que isso era a verdade, mas não a verdade dela)... mas já ouviu falar naquela história que quanto mais você dorme, mais sono você tem ? Então, acho que é isso.

- Ah sim, sei lá, por um segundo pensei que você era sonâmbula.

- Eu ? Por que ? - perguntei.

- Ah, não sei... você foi dormir cedo, acordou mal e de madrugada eu acho que ouvi uns passos aqui em casa.

Engoli seco.

- Passos ? De madrugada ? Os únicos passos de madrugada aqui são seus, mãe.

- Engraçadinha. Mas foi depois que eu já tinha chego, sei lá, tenho certeza que ouvi.

- Credo mãe, para com isso – fingi uma cara de assustada – você fica me assustando assim... como você acha que eu vou ficar quando tiver sozinha aqui com as minhas irmãs ? Credo, se ficar ouvindo esses sons do além aí, não compartilhe comigo, por favor.

- É, não deve ter sido nada. Mas vamos ver, essa noite vou ficar de olho.

Oh shit – pensei.

- Você não vai comer nada ? Tem que ir de estomago cheio pra escola, porque senão você vai passar mal – perguntou.

Minha mãe era uma boa pessoa apesar de tudo, ela não era tão egoísta assim, se preocupava com a gente e tudo, mas eu tenho que ser sincera e falar que ela se preocupava mais com ela, pelo menos era o que aparentava. Mas de certa forma tem uma coisa boa nisso tudo... ela realmente confiava em mim, então ela não conseguia perceber quando eu estava mentindo. Eu sei que trair a confiança dela era errado, mas eu não ia contar da minha noite com o Josh, sem chance... até porque ela também deve ter feito um monte de coisa que nunca falaria pra mim e nem pras minhas irmãs.

Fui até a cozinha, mas dessa vez peguei umas torradas invés do cereal, não podia mais ver aquilo na minha frente, argh. Quando eu acabei de comer a última torrada, a campainha tocou. Deixei minha mãe atender, mas fiquei de olho no que ela ia falar, porque minha mãe é cheia de me fazer pagar um mico.

Ela abriu a porta e Josh estava lá, sorridente e com o rosto mais lindo do que nunca. Só eu que fiquei com essa cara de zumbi mesmo.

- Pois não ? - minha mãe perguntou pra ele.

- É, ahn, eu vim acompanhar a Hayley até a escola – ele estava corado e olhando pro chão.

- Como é seu nome, rapazinho ?

- Josh.

- Hayles, o Josh está na porta – minha mãe gritou pensando que eu não estava assistindo a cena.

- Já vou, mãe. Pede pra ele esperar um pouco – eu já estava pronta, mas eu queria saber que tipo de assunto minha mãe iria puxar com ele, e também a reação dele, a cena estava bem engraçadinha.

Minha mãe voltou a falar.

- Gostei do cabelinho, cabelo grande é lindo, bem rocker.

- O-obrigado – ele disse olhando pros pés.

- Então, você curte um Guns ? - pra minha surpresa ela começou a cantar e imitar o Axl Rose.

“ Welcome to the jungle...we got fun and games, we got everything you want...”

- MÃE ! - gritei – você vai assustar ele desse jeito, sabia ?

Não consegui conter a risada.

- Vamos Josh, antes que essa doida comece a imitar outra pessoa.

Passei pela minha mãe e finalmente saí de casa. Josh estava rindo.

- Gostei da sua mãe.

- Ahn, ela pensa que é adolescente, então vai se acostumando com esse tipo de comportamento.

Ele começou a rir e depois pegou minhas duas mãos.

- Então, como foi sua noite ?

- Ah, parte foi boa, a outra foi um pouco ruim.

- Nossa, uma noite dividida em duas partes ? Me conte mais sobre isso.

- Josh, você sabe muito bem do que eu estou falando.

- Eu ? Eu não sei de nada.

No começo eu não entendia porque ele estava agindo daquele jeito, mas depois saquei tudo. Ele queria ouvir da minha boca como foi aquela noite, pra saber se ele agiu certo ou não... mas achei melhor deixar um suspense do que falar que ele foi simplesmente PERFEITO. Ele poderia ficar se achando ou sair se gabando pra algum amiguinho por aí... eu sei que a forma como ele agia comigo passava segurança, mostrava que ele não era o tipinho que saia contando vantagem, mas não dava pra confiar assim, de graça. Então achei melhor não falar mesmo.

- Qual é, não vo cair nesse joguinho. Você nunca vai ouvir da minha boca o que eu achei da noite de ontem – disse.

- Nunca, é ? - ele fez uma cara maliciosa.

- Não mesmo – fiz cara marrenta.

- Aham, acredito – ele deu uma risada.

Ficamos nos olhando por uns cinco segundos.

- Então, acho que a gente tem que ir pra escola né ? A gente vai ficar atrasado – falei.

- Aé, a escola. Até me esqueci.

Ele pegou minha mão, como fez todos esses dias e nós fomos.

*****

Chegamos na escola e tivemos a mesma rotina de sempre...Hoje eu não teria aula com Josh, nem Dakotah e nem Jeremy. Nada de interessante tinha acontecido, até que na quinta aula, Taylor e Kathryn entraram na mesma sala que eu. Taylor sentou ao meu lado, mas Kathryn não. Eu fiquei curiosa o porque disso tudo e resolvi perguntar ao Taylor.

- Tay, você sabe por que a Kathryn não fala comigo ?

Taylor fez uma cara confusa.

- Ela não fala com você, Hay ? Foi mal, eu nem reparei, de verdade.

- É, por exemplo... agora. Por que ela não veio sentar com a gente ?

- Ah, normal. Ela sempre senta na frente, diz ela que é melhor porque assim ela consegue focar mais na aula.

Ok, focar mais na aula. Mas eu tinha certeza que ia além disso. Nem olhar na minha cara ela não olhava, e só me cumprimentava na frente deles. Resolvi esquecer esse assunto.

- É, você foi o único que eu não conheci direito ainda.

- Ele abriu um sorrisão.

- Ah, sacomé né Hayles, sou um homem ocupado.

Eu ri.

- Ocupado é ? como ?

- Muita gente pra falar, não dá pra ficar dando atenção pra todo mundo – ele riu.

Sim, Taylor era popular pra caramba. Mas não era o tipo que se achava, ele era humilde... cumprimentava todo mundo todo dia e nunca esquecia de ninguém, estava sempre brincando, sorridente, e fazendo piadinha com qualquer coisa. Era realmente bom passar um tempo com ele, fiquei rindo a aula inteira.

Nem percebi as horas passando, a aula já tinha acabado. Estava saindo do colégio e vi Josh, parado, quando ele me viu veio caminhando até mim.

- É, hoje você tem companhia pra voltar também – estendeu a mão pra eu pegar.

Eu só sorri. Peguei na mão dele e começamos a andar.

Eu não tinha muito o que falar com Josh. Não dava pra falar sobre ontem (hoje) porque ainda era muito constrangedor e eu não queria passar por momentos constrangedores, ainda mais na luz do dia, então resolvi falar da matéria ou sobre qualquer outra coisa com Josh, mas mesmo assim consegui notar que os olhos dele olhavam de um jeito diferente pra mim, e isso de certa forma me assustava.

Chegamos até a minha casa, então chegou a hora da despedida. Dei um abraço em Josh, e quando me soltei nós começamos a nos olhar e ele começou a se aproximar mais ainda de mim. Quando vi que nós estávamos tão perto que chegava a ser perigoso, num impulso me afastei dele e corri pra dentro de casa, tinha escapado, pelo menos dessa vez.

*****

Subi pro meu quarto e liguei pra Dakotah, perguntando se ela realmente viria aqui e ela confirmou. Então, pra passar o tempo, comecei a fazer alguns exercícios vocais porque em dois dias seria meu ensaio com a banda, então não queria ficar enferrujada.

Parei no meio dos exercícios. Comecei a lembrar daquele maldito beijo. A cena se passava perfeitamente na minha cabeça. A maneira como ele me tocava, aquele cheiro viciante, os lábios suaves e cuidadosos dele... eu não podia ficar quieta cinco segundos que aquela cena voltava à minha cabeça. Fiquei parecendo uma besta lá no meu quarto, olhando pro além, até que a campainha tocou.

Desci correndo e olhei no relógio, eram 15hrs, se Dakotah for pontual, só podia ser ela. Abri a porta e lá estava ela com uma sacola cheia de coisas que não dava pra definir muito bem o que era. Aquele monte de coisa me deixou meio receosa, se ela estragasse meu cabelo eu seria uma pessoa bem triste. Acho que minha cara de assustada ficou bem explícita, porque ela começou a falar.

- Calma, você não vai ficar careca. Sei muito bem como usar esses produtos. E eu queria perguntar se você vai querer que eu corte seu cabelo também, acho que ele tá precisando, tá muito grande.

Pensei um pouco, mas já que eu ia mudar, que fosse por completo.

- Meu cabelo fica em suas mãos hoje, faça o que quiser.

Pegamos uma cadeira na cozinha e a levamos até o meu quarto. Ela me fez sentar na cadeira e tirou o espelho da minha frente pra que eu não visse o que ela estava fazendo, assim eu não iria opiniar. Senti ela penteando meu cabelo, repartindo, e depois senti a tinta melecando a minha cabeça. Fiquei pensando se aquilo era uma boa ideia, mas bem, agora já tinha ido. Tinha que puxar algum assunto senão eu ia continuar pensando merda, mas estava dificil arranjar algum.

Dakotah continuava mexendo no meu cabelo, mas eu sei que qualquer coisa que eu falasse ela me ouviria com atenção, eu acho que ela realmente gostava de mim. Ela sim, me transmitia confiança de uma maneira única, então eu resolvi contar da noite passada pra ela.

- Dak... eu vou te falar uma coisa, mas jura que não vai ficar zuando ?

- Ok, ok, conta Hays.

- Eu passei a noite passada com o Josh.

Ela parou de mexer e arregalou os olhos.

- CALMA, não do jeito que você tá pensando, ele me levou pra uma espécie de parque e eu acabei adormecendo nos braços dele sem querer, daí quando me dei conta já estava de madrugada.

- Ahh tá, que susto Hays.

- Mas quando ele veio me deixar aqui, a gente se beijou.

Os olhos dela brilharam.

- Aaawn, que lindo amigs.

- Que lindo nada, agora quero evitar isso o máximo possível. Imagina a impressão que eu vou causar se a gente continuar desse jeito, eu estou aqui à pouquíssimo tempo.

- Isso amiga, continua assim, não deixa mole – ela sorriu – mas eu SABIA, vocês dois pareciam dois bobos se olhando no intervalo, só faltavam babar.

Nós rimos.

Continuei contando a história pra ela, só que tudo mesmo o que aconteceu, até que por fim, ela terminou meu cabelo. Fui me olhar no espelho e, caramba, eu era outra pessoa. Estava simplesmente INCRÍVEL. Ela sabia mesmo como fazer o cabelo de alguem. Ficou perfeito pra mim aquele cabelo laranja com a franja loira, sem contar do corte, aquele desfiado era muito a minha cara (como em Misery Business).

- AHHHH, TÁ PERFEITO ! - a abracei – cara, te amo. Obrigada MESMO.

- Sério mesmo que você gostou ? Que lindo, tu vai arrasar amigs.

Nós ficamos lá amando o meu cabelo até que deu a hora de Dakotah ir embora. Fui levar ela até a porta.

*****

Quando subi de volta pro meu quarto, vi meu celular apitando, tinha chego mensagem do Josh. Mas pra minha surpresa não foi algo muito bom de se ler, tive a leve impressão que ele tinha mandado a mensagem para o número errado.

“É sério Jerm, ela fez isso mesmo. Mas não conta nada pra Hayley sobre isso, ok ?”

Senti uma raiva em mim. Ele ia falar pra todo mundo, eu nunca mais iria olhar na cara dele. Sentei na berada da cama e senti uma lágrima escorrendo em meu rosto.