A Liv levava-me até à sua sala de aula. Seguíamos por uns corredores com imensos trabalhos dos alunos e meio coloridos. Até que chegámos a uma porta que dizia “1º Ano – Professora Camille Stevens
- É aqui, amor? – Perguntei-lhe. Ela apenas afirmou com a cabeça e bateu de levezinho à porta. Ouvimos um “entre” abafado e depois a mãozinha da Liv rodou a maçaneta para abrir a porta.
- Professora, a minha mãe está aqui. – Disse a Liv num tom nervoso. A professora levantou-se da cadeira onde estava sentada e veio cumprimentar-me.
- Boa tarde, Sra. Cullen! – Disse ela estendendo a mão para eu apertar.
- Boa tarde. A Olívia disse-me que a senhora queria falar comigo. – Falei apertando a mão dela.
- Sim, quero. Vamos ali para a minha secretária. – Disse ela. Antes de seguir a professora, disse para a Liv ficar ali sentada, sossegadinha. Ela apenas afirmou com a cabeça e sentou-se. Fui com a professora até à sua secretária, que ficava na outra ponta da sala e sentei-me na cadeira que a professora ofereceu.
- O que se passa? – Perguntei preocupada.
- Há algum problema em casa? – Perguntou a professora.
- Não. Está tudo bem. Porque pergunta? – Disse confusa.
- A Liv está com um péssimo desempenho na escola. Nunca trás os trabalhos de casa completamente feitos. Estás com dificuldades em todas as matérias e está sempre distraída nas aulas. Já tentei falar com ela para ver o que se passa, mas ela diz que não se passa nada. – Explicou a professora. Olhei completamente chocada para a senhora. Eu sempre perguntava se tinham acabado os trabalhos de casa e a Liv respondia-me sempre que sim. – Pensei que poderia ser algum problema em casa. Muitas vezes, quando as crianças estão com problemas em casa, tendem a baixar o seu desempenho, mas se esse não é o problema da Olívia não sei.
- Ela não me disse nada! – Comentei com a professora. – Sempre lhe pergunto como correu o dia e se a escola foi boa e ela sempre responde que sim. E também diz sempre que fez os trabalhos de casa. Não sei o que se passa. – Disse com um tom preocupado para a professora.
- Ela distrai-se com muita facilidade e isso não ajuda. Mas o que é estranho é que ela não se distrai com os colegas, como normalmente acontece. Ela mete-se a desenhar ou então fica a encarar o parquinho pela janela e não ouve nada da aula.
- Sim, eu já tinha percebido que ela se distraía com muita facilidade. Ela sempre foi assim, distraída, mas não sabia que isso a estava a afetar na escola. – Comentei. Eu também era assim quando era pequena mas como tinha a Rose na minha turma, ela ajudava-me muito.
- Eu queria ajudar a Olívia a melhorar mas para isso preciso que ela depois do tempo escolar diário, normal, que ela fique mais um tempo comigo. Acho que sozinha comigo, será mais fácil ensinar-lhe. Ela é muito inteligente, Sra. Cullen, mas se ela não presta atenção no que eu digo e nos exercícios que eu faço para a turma, ela não consegue aprender.
- Eu sei disso. Disponibilizaria o seu tempo para ajudar a Olívia?
- Sim, com o maior prazer. Sei que ela vai apanhar a matéria num instante. – Disse a professora um pouco pensativa. – O mais estranho de tudo é que no início do ano, o aproveitamento dela era muito melhor. Não sei o que se passou.
- Eu vou falar com ela para resolver isto tudo. Muito obrigada por falar comigo. – Agradeci.
- De nada. Também estou preocupada com a Olívia. – Disse a professora simpaticamente. – Adeus, Sra. Cullen e o resto de um bom dia.
- Para si também. – Respondi sorrindo.
- Adeus, Olívia. – Disse a professora simpaticamente para a Liv. Ela apenas acenou com a mãozinha e murmurou um adeus. Peguei na mão dela e saímos da sala em silêncio. Ela continuava nervosa. Eu acho que ela estava com medo que eu ralhasse com ela. Acariciei a sua mãozinha e sorri para ela. Assim que chegámos perto do carro, levei-a até um banquinho que se encontrava próximo dele e sentei-a. De seguida, sentei-me ao lado dela e acariciei a sua bochecha.
- O que se passa, amor? – Perguntei. Ela continuava nervosa e o olhar dela ficou um pouco triste.
- Vais zangar-te comigo? – Perguntou ela baixinho, torcendo os seus dedinhos. Peguei nas suas mãozinhas carinhosamente.
- Não, amor. A mãe só quer perceber o que se passa nessa cabecinha. Eu sei muito bem que tens capacidades para tirar boas notas, só não sei porque começaste a não te preocupar com a escola. – Disse-lhe. Ralhar com ela, não ia dar em nada. Ela já estava suficientemente nervosa para que eu ralhasse com ela e conseguia perceber que algo se estava a passar. Sabia que ela era inteligente. Quando ela entrou no primeiro ano, já sabia ler minimamente, tinha aprendido com a Amber e quando começou a escola, era muito dedicada e vinha sempre feliz da escola. Uma coisa que eu tinha notado, é que de uns tempos para cá, ela não vinha com a mesma animação mas eu pensei que era por a escola já não ser novidade.
- Não se passa nada, mamã. – Mentiu ela. Quando ela mentia não conseguia olhar nos meus olhos. E quando ela disse que não se passava nada desviou o olhar.
- Olívia Cullen, sou tua mãe e sei perfeitamente que algo se está a passar. Sei que não é em casa, então o problema deve ser na escola. O que aconteceu, amor? A mãe só quer entender, mais nada.
- Eles odeiam-me, mamã! – Disse ela com uma voz de choro.
- Quem, amor? – Perguntei um pouco assustada com a sua frase.
- Os colegas da minha turma! – Respondeu ela. – No início do ano, eu já sabia coisas que eles não sabiam, então eles começaram a dizer que eu era estranha e que sabia coisas que a professora ainda não tinha ensinado. – Disse ela fungando. – Eu tentei-lhes explicar que foi a Amber que me ensinou mas eles não quiseram ouvir e a partir daí, só se riam de mim. Então, eu passei a não ligar à escola para ver se eles começavam a ser meus amigos, mas eles agora chamam-me de burra e continuam a rir de mim. – Disse ela à beira do choro.
- Ó amor! Não tens que mudar por ninguém. Se eles não querem ser teus amigos tenta arranjar outros, existem outras crianças na escola. – Disse abraçando-a. – Só não quero que te despreocupes com a escola. Agora, vais ter que estar mais tempo na escola para aprenderes a matéria que não aprendeste antes porque estavas distraída.
- Mamã, eu não quero vir mais à escola. Eu podia ficar contigo e com o Will, ou com a avó Esme, ou então com a avó Let. – Disse ela com uma voz chorosa.
- Não, amor. Tu precisas de vir à escola, para aprender. Todas as crianças precisam de vir à escola. – Respondi. Por mais que me custasse, ela tinha mesmo que vir à escola. Eu sabia que as crianças podiam ser más umas com as outras e a Liv estava a ser alvo disso, mas também sabia que ela conseguiria superar isso, nem que eu pedisse para ela trocar de turma.
- Está bem. – Disse com uma voz triste, baixando a cabeça.
- Princesa, eu não te quero ver triste. É mesmo necessário vires à escola, se não fosse, a mãe tirava-te daqui. A mãe não te quer ver triste. – Disse-lhe. – Porque é que nos intervalos, não tentas conhecer crianças que não sejam da tua turma? De certeza que há muitas que querem brincar contigo.
- Está bem, vou tentar fazer isso. – Disse ela ainda fungando e limpado uma lágrima que escorria pela sua bochecha.
- E a partir de agora, quero-te mais concentrada na escola, está bem?
- Está bem, mamã! – Disse ela.
- Anda cá, princesinha! – Disse abrindo os braços para a abraçar. Ela não hesitou, abraçou-me fortemente e escondeu o seu rosto na curvatura do meu pescoço. Acariciei os seus cabelos castanhos que se encontravam enormes, com a intenção de a acalmar um pouco. Aos poucos ela foi acalmando e quando já nenhuma lágrima caía do seu rosto, fomos até ao carro e eu dirigi até casa da Esme. A Liv foi calada o caminho todo, também não quis insistir com ela. Quando cheguei a casa da Esme, estacionei o carro e saí com a Liv. Batemos à porta e a Esme veio atender.
- Olá. – Disse a Esme sorrindo assim que nos viu, mas o seu sorriso murchou um pouco quando viu a Liv. Sabia que ela tinha percebido que a Liv estava triste. Entrámos as duas e a Liv foi até à sala dos brinquedos, enquanto eu fui para a sala, onde estava a Rose sentada no sofá.
- Então, Alice? – Perguntou a Rose preocupada.- O que a professora queria falar contigo?
- O que se está a passar? – Perguntou a Esme preocupada.
- A professora da Liv quis falar hoje comigo. – Respondi à Esme. – A Liv está com problemas na escola. A professora diz que ela está constantemente distraída e que o aproveitamento dela piorou bastante desde o início do ano. Ela vai ter que ter aulas extra para aprender a matéria que não sabe. – Expliquei. – Mas o pior é porque é que isto aconteceu. A Liv diz que na turma dela, os colegas não gostam dela, que se riem dela e lhe chamam nomes. – Disse-lhes. – Ela está tão triste, até me pediu para não ir mais à escola, que poderia ficar comigo ou com uma das avós. – Falei preocupada com a Liv.
- Alice, sabes que as crianças conseguem ser mazinhas quando querem, é só uma fase, vai passar. – Acalmou-me a Esme. – Vais ver que tudo vai melhorar.
- Espero que sim, Esme. – Respondi suspirando. Eu só não queria ver a minha menina a sofrer. Eu sofri bastante na minha infância, não por problemas na escola mas por problemas familiares. Não queria que a Liv também sofresse na sua infância, queria que a sua infância fosse feliz.
Fiquei mais um pouco em casa da Esme e depois decidi ir para casa. A Amber e a Liv ainda tinham que fazer os trabalhos de casa e eu tinha que me preparar para ir para a faculdade. Estava nos últimos dias. Já só me faltavam alguns exames e depois formava-me, claro, se passasse nos exames. Assim que cheguei a casa, mandei-as fazer os trabalhos de casa e fui dar um banho ao Will, que, hoje, estava elétrico. Ele estava tão bonito. Tinha uns caracóis loiros como o pai e os meus olhos, a juntar com a pele branquinha e o sorriso lindo que tinha, que era absurdamente igual ao do Jasper. Assim, que acabei de lhe dar banho e vestir o seu pijama, pedi à Amber, que já tinha acabado de fazer os trabalhos de casa, para ficar um pouco com ele. Ela, prontamente, aceitou e eu fui ter com a Liv para a ajudar. Entrei no quarto dela e ela encontrava-se com o cenho franzido a olhar para o livro.
- Princesinha, precisas de ajuda? – Perguntei. Ela apenas afirmou com a cabeça. Fui até ela e sentei-a ao meu colo. Ela estava com o livro se matemática aberto num exercício de somas. Parecia ser bastante fácil mas ela não o estava a conseguir fazer.
- Mamã, eu não percebo nada de números! – Resmungou ela.
- Calma, a mãe ajuda-te. – Peguei no estojo de lápis de cor dela para facilitar o exercício. – Vamos fazer assim: Aqui está, cinco mais dois, não é? – Ela apenas afirmou com a cabeça. – Então vamos juntar um montinho de cinco lápis. – Disse. Deixei ela fazer isso. – Agora faz um montinho com dois lápis. – E ela fez. – Agora conta-os todos.
- É sete, mamã! – Disse ela sorrindo um pouco.
- Sim, amor, é sete. Agora faz o mesmo para as outras contas.
Ela foi fazendo o mesmo para as outras, levando o tempo que precisava. Às vezes, tentava fazer sem a ajuda dos lápis, mas errava de vez em quando. Quando chegou às de subtração, ela voltou a franzir o cenho.
- E agora, mamã? – Perguntou ela.
- Então, aqui está seis menos quatro. Junta um montinho de seis. – Pedi e ela fez prontamente. – Agora, desse montinho retira quatro lápis e vê quantos fica.
- Dois! – Exclamou ela.
- Sim. – Incentivei-a. Ela continuou o exercício e não demorou a acabá-los. – Percebeste tudo, amor? – Perguntei.
- Percebi. – Respondeu ela, sorrindo.
- Tens mais alguma coisa? – Perguntei.
- Sim, mas já fiz. Podes ver? – Perguntou.
- Claro, mostra à mãe. – Ela saiu do meu colo e foi até à mala buscar outro livro e abriu na página do trabalho de casa. Era simples, era apenas fazer algumas letras que pediam e depois tentar escrever algumas palavras pequenas. Estava tudo bem. – Se já está tudo, agora vai tomar um banho para depois ires brincar com a Amber e o Will. – Disse. Ela sorriu para mim e foi até à casa de banho para tomar um banho. Fui ver da Amber e do Will e eles estavam os dois a brincar no quarto dele. De seguida, fui até ao meu quarto, tomei um duche rápido e vesti-me. Estava quase na hora de ir para a faculdade. Assim que saí do quarto, vi que a Liv já estava a brincar com os irmãos de banho tomado. Entrei no quarto do Will e pedi para a Amber ir tomar banho também. Ela foi prontamente e a Liv e o Will vieram para baixo comigo, para brincarem na sala. Não demorou muito para que o Jasper chegasse a casa. Assim que as crianças o cumprimentaram e voltaram para a sala, contei-lhe sobre a conversa que tive com a professora e com a Liv. Ele ficou preocupado e disse que ia falar, hoje, com ela sobre isso. Despedi-me de todos e fui para a universidade, já estava um pouco atrasada. As aulas passaram rapidamente e mal acabaram, fui para casa. Quando cheguei, a casa já estava silenciosa, já estavam todos a dormir. Fui até ao meu quarto, fazendo o mínimo de barulho. Vesti o meu pijama e enfiei-me na cama. Também estava cansada e queria dormir.