O Jasper sorriu abertamente para mim. Ele estava feliz com a decisão que eu tinha tomado.
- Queres falar com ela quando? – Perguntou ele acariciando a minha mão. Ele não me queria pressionar, eu percebia isso.
- Amanhã. – Respondi dando um pequeno sorriso. – Podes falar com ela? Para ela vir cá? – Perguntei.
- Claro. Vou ligar-lhe agora, está bem? – Perguntei. Eu afirmei com a cabeça. – Quero que saibas que ela vai ficar felicíssima com a tua decisão. Eu sentia que tinha tomado a decisão certa. Algo cá dentro me dizia isso. Ter uma boa relação com a minha mãe, sempre foi o meu sonho. Eu desde pequenina que via como a Esme se comportava com a Rose, o Jasper e o Edward e eu queria ter uma mãe como a Esme. Uma mãe que se preocupasse comigo e que acima de tudo me amasse. O Jasper foi lá fora para ligar à minha mãe. Tanto ele como a Esme acreditavam que ela estava arrependida. Eu acreditava neles. Amanhã iria falar com ela e esclarecer tudo.
- Ela vem amanhã, depois de almoço. De manhã está a trabalhar e não consegue pedir para faltar. – Informou-me ele, mal entrou no quarto. – Quando ela chegar, vou um pouco a casa da Rose ter com a Amber e a Liv. Vocês precisam de privacidade para conversarem e resolverem tudo.
- Obrigada, Jasper. – Agradeci. O Jasper tem me ajudado tanto nestes dias. – Amo-te. – Disse olhando nos seus olhos. Eu queria que ele soubesse a verdade que estava por detrás daquelas palavras. Ele sorriu lindamente e uniu os nossos lábios num singelo beijo apaixonado.
- Agora, vais dormir para descansares. Quero a minha mulher e o meu filho o mais rápido possível, em casa. – Disse ele sorrindo. Como já estava cansada não resmunguei e ajeitei-me melhor na cama para dormir. Ele deu-me um beijo na testa e eu fechei os olhos, acabando por adormecer um tempo depois. Acordei, no dia seguinte, com claridade no quarto. Esfreguei os olhos e sentei-me cuidadosamente na cama. Ainda tinha algumas dores. O Jasper ainda estava a dormir e eu decidi não fazer barulho para não o acordar. Ele também precisava de descansar. Passado um bocado, uma enfermeira veio trazer-me o pequeno-almoço. Comi em silêncio e depois liguei a televisão num som baixo para me entreter.
- Bom dia! – Disse ele se espreguiçando e sorrindo para mim.
- Bom dia. – Respondi.
- Já estás acordada há muito tempo? – Perguntou vindo para o pé de mim.
- Há algum. Mas não te quis acordar. Estavas a dormir tão bem. – Ele sorriu com o que eu disse e ajeitou-se ao meu lado na cama. Aconcheguei-me nele e ficámos a ver televisão até a enfermeira trazer o almoço. Comi apenas um pouco. Ainda não estava com fome e a comida do hospital não é propriamente boa. Depois de comermos, fomos ver o Will um bocadinho. Ele estava acordado. Eu adorava quando ele estava acordado.
- Olá, pequenino! – Disse mexendo na sua mãozinha. – A mamã e o papá querem tanto pegar em ti. Tens de ficar bom num instante.
- Ele vai ficar, Alice. Qualquer dia, não pára quieto em casa e temos que andar atrás dele para ver se ele não faz asneiras. – Disse o Jasper sorrindo.
- Espero que sim.
Ficámos mais um bocado com ele e depois voltámos para o quarto. A minha mãe devia estar quase a chegar. Eu estava nervosa. Não sabia o que se ia passar, não sabia o que ia acontecer. Eu queria resolver tudo com ela. Queria que tudo ficasse bem entre nós, mas ainda tinha medo que ela me magoasse. Eu não queria sofrer mais.
- Não é preciso ficares tão nervosa, vai correr tudo bem, Alice. – Disse o Jasper pegando nas minhas mãos.
- Não consigo evitar. – Respondi.
- Tenta relaxar. – Aconselhou ele. Tentei fazer o que ele disse mas o nervosismo não ia embora. Passado uns minutos, ouvimos bater à porta. O Jasper mandou entrar. Era ela. A minha mãe. Ela vinha com um pequeno sorriso no rosto. – Bem, eu vou indo. – Disse o Jasper. – Voltou ao fim da tarde, está bem? – Perguntou-me ele. Afirmei com a cabeça e beijei-o. – Até já. – Despediu-se saindo do quarto. Os primeiros minutos a sós com ela passaram-se em silêncio. Eu não sabia o que lhe dizer e parecia que ela não queria forçar. Mas eu preferia que ela começasse a falar. O silêncio estava a tornar-se desconfortável.
- Olá, Alice. – Começou ela receosa. Percebi que ela também estava um pouco nervosa.
- Olá. – Disse simplesmente. Isto não ia ser fácil. Eu nunca tive que falar com ela em toda a minha vida. Ficámos mais um bocado em silêncio.
- Alice. – Começou ela. – Eu sei que não mereço que me perdoes assim do dia para a noite. Sei que deve ser complicado para ti, mas eu queria mesmo que tentasses perdoar-me por tudo o que eu te fiz. Foi horrível, eu sei. Ninguém merece passar por aquilo que eu te fiz passar. Eu, neste momento, só queria poder voltar atrás e mudar tudo o que fiz, todas as minhas escolhas. E quero dizer-te uma coisa muito importante. Quero que saibas que nunca te odiei. Além de não ter consciência disso desde sempre, hoje é a minha maior certeza. És minha filha e como tal eu amo-te.
- Então por que é que me disse todos estes anos que me odiava? – Perguntei num tom baixo. Eu não queria nenhuma discussão, queria apenas perceber as coisas.
- Tu eras a pessoa em quem eu descontava todas as minhas frustrações. Num fundo, eu odiava-me a mim mesma, odiava todas as decisões que tinha tomado. Eu não admitia, por isso, dizia que te odiava e culpava-te por tudo. Mas tu nunca tiveste culpa de nada. Quero que isso fique esclarecido. A culpa de tudo sempre foi minha e do teu pai.
- O que aconteceu para mudar de ideias em relação a isso?
- Foi o que tu disseste naquele dia no parque. O que disseste, fez-me pensar durante algum tempo e aí percebi o mal que te tinha feito. Falei com o teu pai, tentei chamá-lo à razão mas infelizmente, ele não me deu ouvidos. Aí eu percebi, que era infeliz ao lado do teu pai e nunca iria ser verdadeiramente feliz se continuasse ao lado dele. Por isso, decidi separar-me. Não fiquei triste, senti-me apenas aliviada. Que não havia amor no nosso relacionamento, toda a gente já tinha percebido.
- E a Cynthia? – Perguntei. Nunca mais tinha ouvido sobre nenhum dos dois.
- Ficou do lado do teu pai. Sabes como eles são. Ela virou-me as costas e não quis saber mais de mim. – Explicou ela. Sim, eu sabia como eles eram. A Cynthia e o meu pai eram iguais. Só pensavam neles mesmos e eles é que eram importantes. Toda a gente tinha que se preocupar com eles. Eu conseguia ver que a minha mãe tinha realmente mudado. O que o Jasper e a Esme tinham visto, eu também já tinha reparado. A minha mãe estava realmente arrependida, queria refazer a sua vida e queria que eu fizesse parte dela. Foi aí que eu percebi que tinha de a perdoar. Tinha que lhe dar outra oportunidade e sabia que desta vez iria correr tudo bem.
- Mãe. – Chamei-a. Ela olhou para mim. – Eu perdoo-te. – Disse-lhe. Nos primeiros segundos, ela olhou para mim como se não acreditasse no que eu tinha dito mas depois abriu um enorme sorriso e abraçou-me. Abracei-a de volta. Sabia bem, estar nos braços da minha mãe. Era a primeira vez que ela me abraçava.
- Obrigada, Alice! – Agradeceu ela. – Nem sabes como eu estou feliz. Nem sei como te agradecer.
- Basta estar presente na minha vida e na vida dos meus filhos. – Ela voltou a sorriu.
- Claro. Era tudo o que eu mais queria.
Abraçamo-nos outra vez e era como se eu me sentia completa. Percebi a falta que a minha mãe fazia na minha vida. Ela começou a perguntar tudo sobre a Amber, a Liv e o Will. Ela queria ficar a par te tudo a que se referia aos netos. Eu contei-lhe tudo. Eu mesma queria que ela os conhecesse. Ia ser bom para eles terem mais uma avó. Depois de contar a vida toda dos meus filhos, ela perguntou sobre a minha vida nos últimos anos, nos anos em que tivemos sem nos ver. Contei-lhe desde que saí de casa. Eu não queria esconder-lhe nada. Ela ouviu tudo atentamente sem interrupções. Depois de contar sobre tudo, começámos a falar sobre amenidades e ela começou com a ideia de eu me arranjar minimamente para o Jasper, mesmo estando num hospital.
- Mãe, para quê? – Voltei a perguntar. Eu não percebia porque é que ela teimava comigo sobre esse assunto. Eu estava num hospital e não estava com espírito nenhum para isso.
- Para te animares e animares um pouco o Jasper. Ele merece isso, Alice.
- Mas mãe! – Teimei.
- Alice, estás muito pálida. Um pouco de blush e um pouco de batom não vão fazer mal a ninguém. Vai dar-te logo outro aspecto. Vais ver. O Jasper vai adorar.
- Está bem. – Cedi. Não valia a pena teimar mais, ela não se ia calar com isto até eu aceitar.
- Mas primeiro, vamos tomar um banho. – Disse ela. Ela estava animada e feliz. Eu conseguia perceber isso. Eu também estava feliz. Tinha adorado estar a conversar com a minha mãe. Nunca o tinha feito na minha vida. Era a primeira vez. Ela ajudou-me a levantar e levou-me até à casa de banho. Ajudou-me a despir-me e começou a lavar-me o corpo com uma esponja embebida em água, visto que eu não poderia tomar um banho normal. Depois de me lavar o corpo cuidadosamente, lavou-me o cabelo. Passei o tempo todo de olhos fechados para saborear a sensação que estava a sentir. Não conseguia nomeá-la, mas era tão boa! Quando acabou de lavar o meu cabelo, ela ajudou-me a vestir e depois levou-me de volta ao quarto. Sentou-me na poltrona do quarto e começou a secar o meu cabelo com a toalha. Passado um bocado, parou de secá-lo e começou a pentear calmamente.
- O que achas de eu fazer um trança de lado? – Perguntou ela concentrada nos meus cabelos que nos últimos anos tinham crescido consideravelmente.
- Não sei. – Respondi um pouco mole e aproveitando a sensação do pente a passar nos meus cabelos.
- Eu acho que é uma boa ideia. Fica bonito e não desmancha quando te deitares na cama. Queres que eu te faça? – Perguntou ternamente.
- HumHum. – Concordei simplesmente. Ela separou o meu cabelo em três e começou a fazer a trança. Os dedos dela eram ágeis e parecia que ela tinha muita prática em fazer tranças porque acabou a minha num instante. Acabada a minha trança, como ela tinha me dito, passou um pouco de blush nas minhas bochechas para elas ficarem com uma cor mais rosada e por fim passou um batom clarinho nos meus lábios.
- Linda! – Comentou ela quando acabou. Corei um bocado com o elogio dela. – Se eu soubesse que coravas com um elogio, já te tinha elogiado. – Disse ela na brincadeira. Ri-me.
- E agora, o que achas de andar um pouco? – Perguntou.
- Andar? – Perguntei surpresa e um pouco horrorizada com a ideia.
- Sim, andar, Alice. Precisas de andar para recuperares.
- Mas andar dói, mãe. – Resmunguei.
- Não sejas assim, Alice. Eu sei que andar dói mas se nunca começares e se nunca te levantares dessa cama, o médico não te vai dar alta assim tão cedo. Se não fizeres muito esforço, não vai acontecer nada e até vais melhorar mais depressa. Vá, vamos. Pelo menos até ao final do corredor. – Disse ela ajudando-me a levantar. Comecei a andar devagarinho, com passos pequenos e lentos. Como eu lhe tinha dito, doía. Parei um pouco, apoiando-me na minha mãe. Voltei a andar lentamente até à porta. A minha mãe abriu a porta e fomos para o corredor, onde estavam outros doentes com familiares. Demorou muito tempo para chegar ao fim do corredor. Eu dava passos bem pequenos e muito lentos. Fazer movimentos rápidos, fazia-me sentir mais dor. A minha mãe não demonstrou impaciência. Esteve o caminho todo a incentivar-me a continuar para eu não parar a meio do caminho. No fim do corredor, ela deixou-me sentar um pouco. Ela sabia o esforço que aquela caminhada tinha exigido de mim. Ficámos um pouco sentadas a falar e depois fizemos a caminhada de volta também lentamente. Quando cheguei ao quarto, eu só me queria deitar. Estava exausta, só por ter andado este bocadinho. A minha mãe ajudou-me a deitar na cama e mal repousei a cabeça contra a almofada, fechei os olhos. Senti a minha mãe acariciar-me a cabeça carinhosamente e sorri com isso. Era um sentimento tão bom. Eu não queria adormecer, ainda queria estar um pouco com o Jasper, quando ele chegasse.
Passado um bocado, entrou uma enfermeira no quarto com o meu jantar. Não sabia que era tão tarde. Sentei-me cuidadosamente na cama e comi. Já estava com fome. Depois de ter jantado o Jasper chegou.
- Bem, está na hora de eu ir. – Disse a minha mãe. – Depois volto para fazer uma visita e dessa vez quero ver o meu neto.
- Está bem, da próxima vez vamos ver o Will. – Respondi sorrindo. Eu estava tão feliz por estar a dar-me bem com a minha mãe.
- Então, até manhã, Alice. – Despediu-se dando-me um beijo na testa.
- Até manhã, mãe. – Despedi-me sorrindo. Ela despediu-se também do Jasper e depois foi embora.
- Então, como correu o teu dia? – Perguntou o Jasper, acariciando a minha mão.
- Correu muito bem. Andei um pouco e tudo. – Informei-o.
- Que bom que tudo correu bem. Fico feliz por te ver assim.
- Assim como? – Perguntei sorrindo.
- Tão feliz.
- Nota-se assim tanto?
- Nota-se. – Comentou sorrindo abertamente. – Tenho uma coisa que a princesinha Liv fez para ti. – Disse ele tirando um papel do bolso e desdobrando. Era um desenho, comigo e o Will já em casa. Sorri para o desenho e meti-o na minha mesa-de-cabeceira.
- E a Amber? – Perguntei preocupada.
- Está na mesma. Continua um pouco abatida, mas já brinca um pouco. – Informou-me o Jasper. – Estive a falar com ela hoje, para ver se ela percebia que já estava tudo bem.
- E a Rose? No outro dia quando ela saiu daqui, achei-a um pouco abatida. – Comentei.
- Não sei, anda um pouco estranha. Está visivelmente abatida e cansada. Tive que obrigá-la a dormir de tarde. O Emmet também anda abatido.
- Sabes se se passou alguma coisa? – Perguntei.
- Além de tu e o Will estarem aqui no hospital, não sei de mais nada. Mas se se passou, eles hão de nos contar.
- Espero que sim.
- Mas agora, está na hora, de descansares.
- Mas Jasper, queria estar mais um pouco contigo. – Resmunguei.
- Tens, amanhã o dia todo. – Disse ele sorrindo.
- Então deita aqui ao meu lado. – Pedi.
- Está bem. – Disse, deitando-se cuidadosamente ao meu lado. Aconcheguei-me nele e fechei os olhos. – Ah! – Exclamou ele como se estivesse esquecido de alguma coisa. – Estás linda! – Comentou ele beijando-me carinhosamente. Sorri um pouco depois do beijo e fechei os olhos para adormecer.