“Sua mão girou a chave e, com um pequeno ruído, a porta estava destrancada. Lui estava a sua frente, sorrindo, cabelo absolutamente bagunçado, cara vermelha, hálito de álcool.

Não, não,não! Ele estava bêbado. Anna sabia que Philippe seria uma péssima influência.

–Oi, Anna. – a voz dele se prolongou na última sílaba de seu nome. O hálito bêbado roçava-lhe o rosto. –Puxa, como você está linda!

Ele fez menção de entrar no quarto, de forma um pouco alterada.

–Lui, você está bêbado! – exclamou a morena, como se fosse um argumento bom o bastante para impedi-lo de penetrar em seus aposentos. Obviamente, não era. O garoto já estava bem acomodado, com o braço apoiado na poltrona perto da cama, de pé, encarando-a com olhos brilhantes.

–Só bebi um pouquinho... Você tem que aprender a se divertir, menina. – a língua atropelava as palavras, que saíam quase indecifráveis de sua boca. Então, ele a olhou de cima a baixo, observando que ela vestia apenas uma camisola leve, que não era capaz de esconder sua pele macia de pêssego e rosas. Olhava-a de forma gulosa. –Só vim para te dar um beijo de boa-noite.

E ela não pode pensar numa desculpa convincente para recusar seu beijo, enquanto ele se aproximava, aos tropeços. Suas mãos ficaram inertes a seu lado; as dele, se enroscaram no meio daqueles sedosos cachos negros. Lui colou a boca na de Anna, ora lambendo, ora sugando, ora mordendo seus lábios. Ela se obrigou a repousar as mãos na nuca dele e, na mesma hora, sentiu as mãos dele descendo por seu pescoço, nuca e ombros, até chegar em seus seios e apertá-los com vontade.

–Eu te amo, Anna.

Os dedos dele voltaram para os ombros dela, em busca das alças da camisola, que logo caiu no chão, deixando-a nua. Com um longo suspiro, Anna se encontrava na cama, o corpo dele sobre o seu, a língua faminta em seus seios, e simplesmente deixou que Lui fizesse como bem entendesse, por não saber que outra opção tinha.”

Os olhos de Anna se abriram lentamente. Lui roncava sonoramente ao seu lado, o rosto esmagado contra o travesseiro, o bafo de álcool fazendo cócegas na bochecha dela. Menos de cinco segundos foram o suficiente para concluir que ela nunca se sentira tão suja, em toda a sua vida, quanto estava se sentindo naquele momento.

Não era apenas o fato de Lui tê-la forçado, em sua bêbada inconsciência, a fazer sexo com ele que a incomodava. Sabia que aquilo aconteceria mais cedo ou mais tarde, se ela mantivesse suas intenções de continuar aquele teatro. Mas o fato de eles terem feito sexo, e não amor, quase partia o seu coração, que já estava em pedaços.

Ela não duvidava do amor de Lui, não era isso. Mas na noite anterior, Anna não sentira nada. Bom, nada além de nojo - e agora sentia-se extremamente imunda. Sentia-se, também, usada, como se fosse um objeto que ele pudesse usar quando tivesse vontade. Óbvio que agora, ele se sentiria mais próximo, mais íntimo para tomar certas liberdades com Anna que ela agora tinha certeza que não queria. Teria que terminar tudo com ele e encarar seu coração partido de frente, sozinha.

Saiu da cama, tomando cuidado para não acordá-lo, e deixou o quarto depois de ter se vestido rapidamente. Precisava de um pouco de ar fresco. Dirigiu-se ao terraço.

–Amor, vou até a casa das Giry. Meg me convidou para ajudá-las a comprar novos vestidos. – Christine anunciou, com ar importante. –Juro que volto logo, não precisará sentir minha falta por muito tempo. – se despedindo dele com um rápido beijo nos lábios, a soprano saiu aos pulos pelos escuros corredores subterrâneos.

Erik mantinha-se em silêncio. Desde Christine passara a viver com ele, a casa do lago tornara-se uma prisão. Não era mais seu lar, não lhe oferecia conforto algum. Ele se sentia quase sufocado.

Levantando-se, seguiu pelos longos e sinuosos corredores, resolvendo ir ver como estava Anna. Embora não se falassem a mais de um mês –já haviam se passado cinco semanas desde sua ultima conversa, para ser exato -,Erik tinha criado o hábito de observar a menina quando lhe era dada a oportunidade.

Mas Anna não estava em seu quarto, ele observou. Em sua cama, jazia apenas aquele moleque maldito, completamente despido e descabelado. O coração do Fantasma deu um pulo em seu peito. Era claro que ele não podia esperar outra coisa, mas saber, pelos próprios olhos, que o menino estava desfrutando do mesmo corpo que ele desfrutara semanas antes... Aquilo doía demais.

Agora Erik definitivamente precisava tomar um ar. Desistindo de procurar Anna, ele começou a vagar pelo Teatro, com um destino em mente.

Assim que chegou ao terraço, Erik pode ver seu vulto. Ela estava de costas para ele, sentada na beirada do edifício, olhando o movimento das ruas. Por um momento, ele quis simplesmente sair dali e evitar qualquer sofrimento para seu já-sofrido coração. Mas ele não conseguiu juntar forças para dar meia volta e deixá-la ali.

Caminhou silenciosamente, parando a alguns passos de distância.

–Anna. –chamou, sua voz grave num sussurro.

Ela se virou bruscamente, com os olhos arregalados. Ele não soube muito bem como agir.

–Desculpe, não era minha intenção te assustar.

Anna assentiu, acalmando sua respiração e voltando sua atenção para a rua lá embaixo. Ele se aproximou, sentando-se ao lado dela. Fez-se silêncio por alguns minutos.

–Como você está, Erik? – ela perguntou, de repente.

–Eu estou bem, eu acho. – ele hesitou um pouco. Já tinha tentado explicar como estava sendo obrigado a ficar com Christine tantas vezes que agora já não via mais motivo para tocar nesse assunto. Anna não queria entender, não queria confiar nele. Não adiantaria tentar esclarecer a situação novamente.

Eles caíram no silêncio novamente.

–E você, Anna? Está tudo bem. – Erik voltou sua atenção para ela e, observando-a de perto pela primeira vez em semanas, pode perceber que algo estava errado. Ela não estava soluçando desesperadamente, com o rosto vermelho, como no último dia em que eles haviam conversado. Mas estava pálida, muito magra e ele podia ver marcas secas de lágrimas em seu rosto. Ele não via tanta tristeza em seus olhos desde que Madame Giry a salvara.

Anna desviou o olhar, assim que notou que Erik a estava examinando. É claro que ele perceberia que as coisas não iam nada bem para ela. Por medo de ficar sozinha, ela tinha caído no erro de se prender a um relacionamento falso, a sentimentos que nunca existiram. Tudo o que ela mais queria era poder pertencer a Erik novamente, mas se estava tudo bem com ele, era provável que o sentimento não fosse mútuo. Ela sentiu lágrimas se formarem novamente em seus olhos e lentamente escorrerem por suas bochechas, num choro silencioso.

–O que aconteceu, Anna? – a preocupação era evidente na voz dele. A menina se manteve em silêncio, sem saber como expressar o que estava sentindo. –Aconteceu alguma coisa com Lui? Ele te machucou?

Ela hesitou.

–Ele... Ele estava bêbado. – Anna sussurrou. –Ele não escutava nada do que eu dizia e então eu tive que... – um soluço interrompeu sua fala, e o corpo da menina começou a tremer. O choro aumentara e ela não conseguia falar mais nada.

Erik já podia entender o que tinha acontecido. Ao ver a menina tremer, não hesitou em abraça-la, tentando oferecer algum conforto. Envolveu-lhe com os braços enquanto uma mão acariciava-lhe os cabelos cacheados.

–Tudo bem, Anna. Está tudo bem agora. – ele disse, quando ela enfim conseguiu se acalmar.

–Não, não está. –a menina murmurou, irritada, contra seu peito, a voz abafada. –Nada está bem porque eu não quero ficar com Lui, mas eu não quero magoá-lo. Eu não sei o que fazer.

–Mas, se você não quer -hesitou ele-, então porque você está com ele esse tempo todo?

–Porque eu achei que assim fosse ser mais fácil! Eu achei que se eu estivesse com ele eu não sofreria! Achei que ele cuidaria de mim e que assim eu não sentiria tanta dor por você escolher ficar com Christine em vez de ficar comigo! Eu amo você, Erik, mas eu não quero sofrer! – Anna explodiu.

–Anna- ele disse, também aumentando o volume da voz-, será que você não pode me escutar de uma vez por todas? Eu amo você! Eu jamais escolhi Christine. Ela me ameaçou, está bem? Ela disse que se eu não ficasse com ela, daria um jeito de Raoul te expulsar daqui e que facilitaria as coisas para que Phillipe te estuprasse! Eu me distanciei para tentar te proteger porque eu não aguentaria te ver machucada.

A voz dele ressonou nos ouvidos da menina. Era muita informação para assimilar de uma só vez.

–Mas, Erik... Eu preferia ser expulsa se isso significasse que eu ainda podia estar com você. Eu preferia até... – Erik a interrompeu brutamente.

–Não diga que você preferia ser estuprada, Anna! Você não sabe do que está falando.

–Mas eu já não fui? – ela sussurrou, abaixando a cabeça.

Tomado pelo impulso, o Fantasma envolveu a menina em seus braços novamente. Por alguns minutos, nenhum dos dois ousou quebrar o silêncio que se formou. Até que Erik se fez ouvir novamente.

–Anna- ele chamou num sussurro, vendo ela afastar o rosto de seu peito para olhá-lo nos olhos. Aproximou um pouco seu rosto, tirando uma das mãos das costas da meninas para acariciar-lhe a bochecha-, eu vou te beijar agora, tá?

Ela assentiu, quieta, fechando os olhos em antecipação.