“–Tudo bem, Anna. Está tudo bem agora. – ele disse, quando ela enfim conseguiu se acalmar.

–Não, não está. –a menina murmurou, irritada, contra seu peito, a voz abafada. –Nada está bem porque eu não quero ficar com Lui, mas eu não quero magoá-lo. Eu não sei o que fazer.

–Mas, se você não quer -hesitou ele-, então porque você está com ele esse tempo todo?

–Porque eu achei que assim fosse ser mais fácil! Eu achei que se eu estivesse com ele eu não sofreria! Achei que ele cuidaria de mim e que assim eu não sentiria tanta dor por você escolher ficar com Christine em vez de ficar comigo! Eu amo você, Erik, mas eu não quero sofrer! – Anna explodiu.

–Anna- ele disse, também aumentando o volume da voz-, será que você não pode me escutar de uma vez por todas? Eu amo você! Eu jamais escolhi Christine. Ela me ameaçou, está bem? Ela disse que se eu não ficasse com ela, daria um jeito de Raoul te expulsar daqui e que facilitaria as coisas para que Phillipe te estuprasse! Eu me distanciei para tentar te proteger porque eu não aguentaria te ver machucada.

A voz dele ressonou nos ouvidos da menina. Era muita informação para assimilar de uma só vez.

–Mas, Erik... Eu preferia ser expulsa se isso significasse que eu ainda podia estar com você. Eu preferia até... – Erik a interrompeu brutamente.

–Não diga que você preferia ser estuprada, Anna! Você não sabe do que está falando.

–Mas eu já não fui? – ela sussurrou, abaixando a cabeça.

Tomado pelo impulso, o Fantasma envolveu a menina em seus braços novamente. Por alguns minutos, nenhum dos dois ousou quebrar o silêncio que se formou. Até que Erik se fez ouvir novamente.

–Anna- ele chamou num sussurro, vendo ela afastar o rosto de seu peito para olhá-lo nos olhos. Aproximou um pouco seu rosto, tirando uma das mãos das costas da meninas para acariciar-lhe a bochecha-, eu vou te beijar agora, tá?

Ela assentiu, quieta, fechando os olhos em antecipação.”

Ela podia sentir a respiração quente sobre seu rosto, um leve roçar de lábios sobre os seus. Tinha ansiado por aquele momento por semanas. Enquanto seus lábios se tocavam, Anna tentava entender como tinha ficado tanto tempo sem Erik. Quando o beijo se aprofundou e os braços dele a apertaram contra si, ela teve certeza de que não conseguiria mais continuar brincando de faz-de-conta com Lui – principalmente depois do que acontecera na noite anterior. Ela passou os braços por seu pescoço, puxando-o para mais perto. Queria poder ficar desse jeito para sempre, mas sabia que assim que saíssem do terraço, Erik voltaria para Christine e ela voltaria para Lui, até saber como dizer que não queria mais ter um relacionamento com ele.

–Erik – ela sussurrou contra seus lábios -, o que vamos fazer agora? Quanto à Christine e Lui?

Ele hesitou.

–Vamos fugir. –sussurrou.

–Como assim? Erik, não podemos deixar tudo pra trás.

–Podemos, sim! Eu tenho uma casa fora da cidade, ninguém nos acharia lá. Se a gente fugir, vamos poder ter paz. – ele afirmou, orgulhoso por ter tido uma ideia tão boa.

–Não sei, não... Me parece loucura fazer uma coisa dessas.

–Pensa, Anna. Só eu e você, sozinhos, sem Christine ou Lui para nos atrapalhar. Vai ser perfeito.

A menina suspirou, nervosa. Não gostava muito de sair de usa zona de conforto, e aquela seria uma grande mudança.

–Tudo bem. Quando você quer ir?

–Podemos ir hoje mesmo! Vá arrumar suas coisas e me encontre na casa do lago daqui a meia hora. Christine está na cidade com as Giry, então não terá como sermos descobertos. – disse Erik, se levantando e ajudando-a a fazer o mesmo. Ele a beijou novamente antes de seguirem caminhos opostos.

Anna entrou no seu quarto tentando ser tão quieta que nem sua respiração fosse audível, para que Lui não acordasse. No escuro, se dirigiu até o armário, jogando todos os seus pertences – que não eram muitos – dentro de uma mala surrada de viagem que antes pertencera a Madame Giry. Era difícil executar tal tarefa tentando manter-se absolutamente silenciosa, mas a menina obteve êxito e Lui permaneceu adormecido. Deixou o quarto e imediatamente começou a se encaminhar a seu destino. Observava, distraída, as pinturas nas paredes, os vitrais, as pessoas apressadas que passavam sem ao menos notar sua presença. Ela provavelmente sentiria saudades daquele lugar. Todas as memórias boas que tinha estavam presentes no ar que respirava ali, tudo de bom que vivenciara acontecera no Ópera Populaire. Suspirou. Também sentiria saudades de Lui. Ele fora seu único amigo por muito tempo, e ela não podia deixar de se sentir mal por sumir tão de repente. Mas era o que precisava fazer se quisesse ser feliz. Feliz com Erik.

Deslizando por uma das várias passagens secretas do teatro, Anna fez seu caminho pelo breu dos túneis. Chegou e fez uma breve pausa para observar a Casa do Lago. Ela sentia que pertencia àquele lugar, tão escuro e tão belo. Tão Erik. Mas era fácil sentir que alguma coisa havia mudado ali, a atmosfera estava diferente por causa de Christine. Era o cheiro dela, e não de Erik, que estava impregnado no recinto. E provavelmente fora também Christine, e não Erik, que tivera a ideia de mudar alguns móveis de lugar e encher vasos com flores coloridas... Definitivamente, o ambiente ali estava mudado. Curiosa, ela adentrou os cômodos da casa, descobrindo outras pequenas mudanças.

–Anna? – a porta do quarto se abriu e logo o Fantasma apareceu a sua frente. –Você está pronta?

Anna assentiu. Erik sorriu e beijou-lhe brevemente antes de voltar a falar:

–Venha comigo, deixei minhas coisas na sala.

Os dois se dirigiram num silêncio confortável até seu destino, pegaram a mala e deram meia-volta. Já estavam quase alcançando a saída quando ouviram uma voz aguda.

–Erik? O que você pensa que está fazendo?

Ao ouvir a voz de Christine vir da saída de um dos túneis, Anna pôde jurar que seu coração parou de bater, ao menos por alguns segundos. Erik estava paralisado ao seu lado.

–Erik, eu falei com você. Me responda.

Ele se virou lentamente, a raiva o estava fazendo borbulhar por dentro.

–Eu vou embora, Christine. Anna e eu vamos embora. – murmurou entre os dentes, controlando-se para não gritar.

Anna não sabia como reagir, permanecendo parada ao lado de seu amado; olhos arregalados, respiração difícil.

–Como? – a soprano berrou, se aproximando com passos barulhentos –Depois de todas as noites de amor que tivemos, você está pronto para me largar por essa putinha imunda?

Dois pares de olhos se arregalaram perante aquela sentença. Erik não planejara que sua menina soubesse o que acontecera entre ele e Christine durante todo aquele tempo. Ele sabia que estava errado – mas era um homem, e homens tem necessidades. Embora não tivesse afeto por Christine, ela era uma mulher bonita, e ele estava carente. Anna, por outro lado, sentia a raiva borbulhar em todos os seus poros. Nunca se sentira tão humilhada em toda a sua vida sofrida. Não podia acreditar que confiara tão cegamente em Erik por todo aquele tempo. Ela tinha sofrido tanto por não poder estar com ele; pensou que ele estivesse sofrendo também – ao menos era o que ele fazia parecer. Mas, obviamente, ela não significava nada para Erik. Foi preciso muita força e uma boa dose de concentração para que não começasse a se debulhar em lágrimas na frente de Christine.

–Christine! – Erik repreendeu, aumentando consideravelmente o volume de sua voz como uma forma de deixar a raiva escapar.

–O que foi? Não se faça de vítima, Erik, eu sou a vítima aqui. Você está me largando. Eu pensei que você finalmente tivesse começado a sentir algo por mim.

–Mas é claro que não, Christine, você me forçou a tudo isso! – ele berrou.

–Eu não te forcei a ir pra cama comigo. Nós dois sabemos que você queria tanto quanto eu.

–Não é verdade, não é verdade. Eu odeio você. – obviamente, o Fantasma estava um pouco fora de si.

–Não odeia, não. Você não pode odiar a mãe do seu filho, pode?