“ -Eu vou embora, Christine. Anna e eu vamos embora. – murmurou entre os dentes, controlando-se para não gritar.

Anna não sabia como reagir, permanecendo parada ao lado de seu amado; olhos arregalados, respiração difícil.

–Como? – a soprano berrou, se aproximando com passos barulhentos –Depois de todas as noites de amor que tivemos, você está pronto para me largar por essa putinha imunda?

Dois pares de olhos se arregalaram perante aquela sentença. Erik não planejara que sua menina soubesse o que acontecera entre ele e Christine durante todo aquele tempo. Ele sabia que estava errado – mas era um homem, e homens tem necessidades. Embora não tivesse afeto por Christine, ela era uma mulher bonita, e ele estava carente. Anna, por outro lado, sentia a raiva borbulhar em todos os seus poros. Nunca se sentira tão humilhada em toda a sua vida sofrida. Não podia acreditar que confiara tão cegamente em Erik por todo aquele tempo. Ela tinha sofrido tanto por não poder estar com ele; pensou que ele estivesse sofrendo também – ao menos era o que ele fazia parecer. Mas, obviamente, ela não significava nada para Erik. Foi preciso muita força e uma boa dose de concentração para que não começasse a se debulhar em lágrimas na frente de Christine.

–Christine! – Erik repreendeu, aumentando consideravelmente o volume de sua voz como uma forma de deixar a raiva escapar.

–O que foi? Não se faça de vítima, Erik, eu sou a vítima aqui. Você está me largando. Eu pensei que você finalmente tivesse começado a sentir algo por mim.

–Mas é claro que não, Christine, você me forçou a tudo isso! – ele berrou.

–Eu não te forcei a ir pra cama comigo. Nós dois sabemos que você queria tanto quanto eu.

–Não é verdade, não é verdade. Eu odeio você. – obviamente, o Fantasma estava um pouco fora de si.

–Não odeia, não. Você não pode odiar a mãe do seu filho, pode?”

Um silêncio mortal preencheu todos os cantos da sala. Christine esperava uma resposta, Erik não sabia como reagir e Anna estava desesperada, chocada demais para dizer qualquer coisa. Depois de um longo momento de debate interior, beirando as lágrimas, ela se virou e correu o mais rápido que suas pernas a podiam levar.

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Anna chegou ao seu quarto, ofegante e agradeceu silenciosamente por Lui não estar mais lá – estava chacoalhando com seus soluços e se afogando nas próprias lágrimas. Trancou a porta com mãos trêmulas e se jogou na cama, enterrando a cabeça no travesseiro. Por mais que tentasse ser silenciosa em tudo o que fazia, não conseguiu conter o volume de seu choro. Naquele momento, pouco importava se o barulho de seu sofrimento incomodasse aqueles que passassem pelas proximidades. Chorou, inconsolável, até pegar no sono.

Erik sabia que, dessa vez, realmente corria riscos de perder a confiança de Anna. Ele cometera um erro grave, e sabia disso – mas não percebera que esse erro poderia assombrá-lo para sempre, na forma de um bebê. Não que a culpa fosse da criança, claro. A culpa era de sua própria estupidez. Devia ter percebido que Christine usaria sua fraqueza para conseguir o que queria.

Mesmo assim, ele tinha que falar com Anna. Tinha que pelo menos tentar dar uma explicação decente, ela merecia.

–Anna? – a menina ouviu, seguido por duas batidas na porta. –Posso entrar?

Ainda exausta, Anna abriu os olhos lentamente, sentindo uma ardência causada pelo excesso de choro. Levantou-se, ainda que indisposta, e destrancou a porta. Girou a maçaneta, e um puxão bastou para que desse de cara com Erik. Ela o encarou por alguns demorados momentos, até decidir voltar pra cama, deixando-se cair na cama após arrastar-se sobre um par pernas preguiçosas e deixando o homem parado na porta.

–Acho que precisamos conversar, não é mesmo? – ele indagou, e se aproximou, sentando-se numa poltrona.

–Converse você sozinho, eu vou dormir.

–Anna! – Erik exclamou, surpreso. Sabia que ela não estaria feliz, mas não esperava aquele comportamento.

–Que foi? Você que me acordou, a culpa é sua.

Ela se virou embaixo das cobertas e pôs-se a encarar o teto. Sabia que não voltaria a dormir, só estava teimando em ser desagradável. Queria que o Fantasma se sentisse desconfortável e fosse embora, de uma vez por todas.

Os dois ficaram quietos num silêncio bastante incômodo por alguns minutos.

–Anna, me desculpe. De verdade. Eu não queria te machucar. Eu nunca quis te envergonhar ou te ofender com meus atos. Eu não estava pensando direito. – ele prosseguia com desculpas desesperadas.

Ela nem sequer prestou atenção. Sua mente só se questionava como aquele homem podia ter tanta ousadia em exigir uma conversa depois de tê-la enganado de forma tão cruel. Mas seu coração já não sentia mais nada. Depois dos acontecimentos dos últimos dois dias – ser praticamente estuprada pelo melhor amigo bêbado e descobrir que o único homem que já amara engravidou outra mulher -, Anna sentia-se praticamente anestesiada.

–Não importa, Erik. Vá embora.

–Como não importa, Anna? O que eu sinto por você não importa? Não importa o fato de eu estar arrependido? Nada do que passamos juntos tem valor pra você? – ele disse, a voz instável, aumentando de volume.

–Você devia ter pensado nisso antes de fazer amor com Christine. Se nenhuma dessas coisas te impediu, então nada disso tem valor pra mim, Erik. Ao que me parece - tudo o que você sente por mim, e o que passamos juntos -, era tudo falso.

O Fantasma, desesperado, deixou algumas lágrimas rolarem por suas bochechas.

–Não era falso, Anna, não era falso – ele repetia continuamente, como se a repetição fosse convencê-la de que ele estava sendo sincero. –Eu amo você. Você é tudo pra mim.

–Erik, vá embora. Eu quero ficar sozinha. – Anna falou, tentando controlar sua raiva.

–Não, Anna, me escuta – o lado violento de Erik começava a aparecer, o lado que ele deixava aparecer quando se sentia ameaçado ou machucado. Ele agarrou o braço da menina com força–Foi um erro, eu sei, eu admito. Mas eu estava carente! É assim que eu fico quando não posso te ver, absolutamente carente, largado. Homens tem suas necessidades... Eu fui fraco, mas isso não diminui os meus sentimentos por você.

–Sim, Erik, isso diminui seus sentimentos por mim. – a menina disse, e aproximou seu rosto da face mascarada do homem a sua frente. –Vamos só lembrar- ela falava baixinho em seu ouvido – que enquanto você transava com Christine, eu estava bem aqui, nesse quarto mesmo, lamentando por não poder te ver e sendo praticamente estuprada pelo meu melhor amigo. E lembre-se também que você estava carente por que ela queria que fosse assim. Ela quis te manter afastado de mim. Esse deve ter sido o plano dela o tempo inteiro, te manter tão solitário que você teria que ficar com ela. E você caiu nesse plano como uma criancinha. Sinceramente, Erik, eu esperava mais de você. Nunca imaginei que você fosse capaz de ceder à sua carcereira. – Anna não se sentia maldosa daquele jeito desde que cometera o assassinato no circo, mas admitia que não se arrependia de agir daquele modo. Ele merecia. Ela aumentou o tom da voz, se afastando dele. – Eu tenho nojo de você, Erik. De verdade. Eu nunca mais quero te ver na minha frente. Larga o meu braço e vai embora.

Surpreso e tremendamente aflito perante a idéia de causar repulsa à única pessoa que tinha significância em sua vida, o Fantasma deu meia-volta e foi embora, deixando as lágrimas jorrarem livremente.