Murmúrio

Sonhos Parte II


Após o telefonema de Scott comecei a me arrumar. Coloquei um vestido preto e justo, quatro palmos acima do joelho e com mangas de renda. Bonito. Calcei um scarpin, sequei os cabelos e terminei a produção com rímel e gloss.
- Nossa, Nora. - Minha mãe me observava da porta. - Está tão linda… Scott vai gostar.
- Mãe? - Eu não pude deixar de rir, parecia uma das conversas que tínhamos anos atrás. - Não estou me vestindo para Scott. - E era verdade, eu esperava encontrar Patch.
Nos despedimos e eu desci. Scott esperava na porta. Estava bem arrumado.
- GREY? - Seu queixo caiu. - Meu Deus… Grey?
- O que? - Eu não pude deixar de rir, enquanto trancava a porta.
- Você acha que vou conseguir dirigir com você assim do meu lado? - Seus olhos me observavam, arregalados.
- Sem problemas, eu dirijo. Você também está muito bonito. - Tentei ser agradável.
Entrei no carro, tirei os sapatos e coloquei o cinto.
- Pare de olhar para as minhas pernas, Scott. - Eu disse. Ele mal disfarçava.
- Não consigo. - Ele riu, parecia vidrado. - Olha… use essa roupa no dia da reunião do exército. Todos vão lhe obedecer.
- Que reunião? - Droga, lá vinham minhas obrigações de novo.
- Falaremos disso durante o jantar. - Estávamos chegando. - Tem certeza de que quer comer lá? - Ele parecia confuso. - A comida é ótima, mas está tão arrumada e tudo mais.
- Absoluta. Eu amo aquele lugar. - E era verdade. Principalmente pelos funcionários.
Saltamos e os mariates vieram nos receber. Enquanto Scott escolhia a mesa meus olhos sondavam o salão. Sentamos na mesma mesa da noite em que descobri que Patch trabalhava ali.
- O que vai querer? - Scott observava o cardápio.
- Quero um daiquiri de morango. Você deveria experimentar . - Eu estava doida para que o garçom viesse. Venha, Patch, venha.
- Experimentarei. - Ele se virou e procurava pelo garçom. Patch saiu de lá de dentro. Meu corpo recebeu um choque, e no momento que nossos olhos se encontraram ele desapareceu no corredor com a mesma velocidade que havia aparecido.
- Scott, me dê um minuto. - Levantei.
Corri, eu falo sério. Corri mesmo, o corredor levava até o banheiro.
Entrei, esperando encontrar Patch lá dentro, mas eu estava sozinha. Quando sai dei de cara com um rapaz que falou gracinhas devido meu vestido, dei de ombros e voltei a andar pelo corredor. No seu final havia uma varanda, imaginei logo que fosse o lugar que os cozinheiros usavam para fumar. Apressei-me haviam passos lá. A medida que eu me aproximava do final, o escuro ia prevalecendo, tateei as paredes até encontrar um interruptor, mas não encontrei nenhum. Continuei a andar.
Quando cheguei a varanda, estava totalmente escura, eu só podia ver o céu negro e as estrelas. Porém mais a frente, eu podia distinguir uma figura na escuridão. Estava de costas pra mim, mas não importava eu reconheceria aquela silhueta a quilômetros de distância.
- Eu sei que está ai. - Sussurrei. - Eu sinto a sua falta… estou tentando resolver as coisas da forma mais fácil, mas tudo se torna complicado quando você está longe. - Minha voz estava embargando novamente.
Ele se virou. Eu podia ver seus olhos, podia ver o brilho e o calor que emanavam, mas ele não disse nada.
- Eu sonhei com você hoje, Patch. - continuei murmurando. - E acho que eu nunca desejei tanto que um sonho fosse real em minha vida. Eu sei que com você é diferente, mas… - Eu não queria mais falar, queria ouvi-lo. - Eu amo você, Patch.
Ele não estava mais ali. Ou estava? Eu não conseguia mais diferenciá-lo. Patch esteve mesmo ali ou eram apenas alucinações? E lá estava eu, com a cabeça explodindo em dúvidas, olhando as estrelas e imaginando se Patch estaria me observando de algum lugar.
- Eu amo você… - Repeti mais uma vez, enquanto minha voz ia se perdendo ao vento.
Dei as costas e voltei a caminhar pelo corredor. Os passos continuaram, olhei ao meu redor e não vi ninguém. Quando voltei para a mesa, Scott estava com a mesa cheia de bebidas.
- Já que você recomendou. - Ele riu. - Não sei se já disse, mas você está maravilhosa, Grey.
- Obrigada. - Assenti.
Ele esteve ali, eu não estava doida. Ele ouviu palavra por palavra do que eu disse, ele também sentia a minha falta, mas eu não podia fazer nada. Eu poderia apenas me divertir ali com Scott, porque em algum lugar meu anjo estava cuidando do lado negro das coisas.