POV Harry

Voei nos testralios até Londres, esse tempo inteiro estava concentrado da maior maneira possível formando um plano para salvar meu padrinho. Ele era quase a minha família inteira, eu tinha que protegê-lo. Não era uma visão formada, eu sabia. Horas antes da Umbridge nos pegar eu havia falado com Monstro, Sirius não estava em casa. Foi tudo o que precisei para ir ao Ministério. Queria que Snape tivesse ajudado, por mais que eu o odiasse, ele era da Ordem, poxa! Uma rixa antiga, grande desculpa para deixar alguém morrer.

Descemos em Londres, fomos em direção à entrada de visitantes do Ministério que o Sr. Weasley me levou no ano passado para minha audiência, fomos aos elevadores e chegamos no andar certo. Ao abrirmos a porta com que tinha sonhado, vimos uma sala com dezenas de portas. Assim que entramos, ela começou a girar, Mione disse que era para nos despistar. Depois de entrarmos em muitas salas erradas, achamos a correta, com globos brilhantes em prateleiras empoeiradas. Fomos até o local em que vi Sirius, mas ele não estava lá. Neville me chamou a atenção.

–Harry...- Disse ele. -Seu nome... seu nome está nesse globo.

E estava mesmo. Era um globo pequeno, com bastante poeira e tinha um tipo de névoa dentro, como uma pequena bola de cristal. O peguei em minha mão, não era tão frio quanto achei que fosse, e tinha um brilho estranho...

–Potter...- Falou uma voz atrás de mim. -Você veio.

Pois é, Sirius sendo torturado era uma visão, agora, eu estava cercado de comensais da morte pelo meu erro idiota. E ainda pus meus amigos em perigo, nada me deixou pior que isso.

POV Michael

Não sei como não caí, aqueles bichos eram muito rápidos e a altura, com toda a certeza, era tão grande que um simples olhar para o chão já garantia uma boa morte, antecipada de muito medo durante a queda. Bem, na verdade não havia chão, era água. O oceano para ser mais exato. Eu e os semideuses estávamos o atravessando para poder chegar no centro da Gerra e deter Cronos. Eu não sabia o que esperar quando chegássemos lá, tanques de guerra? Catapultas? Fileiras e fileiras de arcos e flechas?

E como é que se derrota um Titã? Que eu saiba, precisou ser um deus da última vez. Nenhum de nós é um deus, somos só metade. Bem, eu sou diferente, mas vocês me entenderam! E os monstros? Iriam ter muitos monstros, eu nunca consegui lutar com um deles antes e sair ileso, ou até mesmo matar um deles, como iria lutar em uma guerra? Como iria vencer como os outros esperavam? Bem, a única coisa que eu sabia, era que tinha que chegar lá sem morrer estatelado no chão. Ou na água. Que seja, eu não podia morrer.

Depois de bastante tempo, vi o chão se aproximar, era grande o bastante para ser Manhatan. "Finalmente, eu vou viver o bastante para morrer no chão!" Pensei feliz. Ou quase. Voamos mais algum tempo antes de pousarmos próximos a um prédio incrivelmente alto, provavelmente o Empire State. Me falaram que era grande, mas nunca imaginei que era tão gigantesco, o topo parecia uma fina agulha que tocava de leve algumas nuvens, como se as espetasse e prendesse ali.

–Uou...- Deixei escapar.

–O Olimpo fica ali.- Disse Percy em resposta a minha reação.

–Tá brincando, como é que uma agulha aguenta um palácio?- Perguntei.

–Você é que é o bruxo aqui.- Falou Tese. -Responda.

–Hilário.- Disse.

–Como se sua piada tivesse graça.

–Pessoal!- Gritou uma garota vindo do prédio. -Aqui.

–Aline!- Gritou Annabeth de volta. -Como está indo tudo?

–Estamos aguentando, só ocorreram pequenos ataques até agora, nenhum para se preocupar, são avisos.- Ela olhou para mim. -É ele?

–Ah, vocês falaram de mim para ela?- Perguntei e passei a mão pelos seus ombros. -Olha, querida, eu adoraria ficar com você, mas acho que devemos esperar um tempo mais apropriado, não?

Ela me olhou como se eu tivesse acabado de falar besteira em outra língua.

–Vocês estão de brincadeira.- Disse ela para os outros.

–Foi nossa mesma reação.- Explicou Clarisse.

–Poxa, é bom saber que vocês me apoiam.- Falei tirando o braço dos ombros da garota.

–Esquece, temos que nos preparar.- Disse Frank. -Qual o plano?

Enquanto Aline explicava o que estavam fazendo até o momento, íamos na direção do prédio. Franzi a testa quando eles pediram para ir ao 600º andar, que obviamente não existia. Mas um ano atrás monstros também não existiam, então esquece. Entramos no elevador, não vi nada de divino naquele lugar, só coisas trouxas até o momento. Ficamos esperando dentro daquele espaço confinado por muito tempo, já estava começando a me irritar, mas o meu cérebro meio que derreteu quando chegamos e eu vi o Olimpo.

–A ambrósia e o néctar estão bem estocados e em boas quantidades, mas só temos para alguns dias se todos se ferirem gravemente.- Aline dizia. -Nós, filhos de Hermes, conseguimos roubar comida de alguns lugares, bastante fast food. Quando acabar vamos achar mais.

–Temos alguma arma sobrando?- Perguntou Annabeth.

–Não sei, vão ter que perguntar aos malucos lá do Ares. Foi mal, Clarisse... Eles sempre tem alguma extra.- Ela respondeu. -Por que?

–Ele precisa de uma arma.- Disse ela. Senti as duas olhando para a minha cara de cérebro derretido enquanto eu observava o Olimpo. -Ele precisa MESMO.

–Ele não tem uma varinha mágica? Ou alguma pedra mística da sorte não?- Ela perguntou.

–Ei.- Reclamei. -Eu não sou uma fadinha trouxa!

–Tá, mas você tem mágica.

–Err... a gente descobriu que a mágica deles não é muito eficaz contra monstros.- Respondeu Tese.

Ela olhou pra mim com decepção.

–Sabe fazer alguma coisa?

–Eu sei fazer você nunca esquecer de mim.- Então dei um dos meus sorrisos, só que não deu certo.

–Você não está ajudando.- Sussurrou Percy no meu ouvido.

–Eu sei como usar uma espada.- Respondi sem muito entusiasmo.

–E isso nos dá a mínima esperança possível.- Disse Annabeth.

–Vocês querem parar de me zoar?- Perguntei.

–Não.- Respondeu Aline. -Você merece.

–Ei, aqui não está meio quieto?- Perguntou Percy.

–Hm? Como assim?- Perguntei.

–Ah, sim. Morfeu veio para a cidade, colocou todos os mortais em um estado de sono profundo, não conseguimos acordá-los.- Disse Aline. -Por isso está tão quieto.

Percy ficou mal com essa notícia, mas seguimos em frente. Quanto mais eu andava, mais eu me impressionava com aquele lugar. Era incrível. Os outros semideuses estavam numa espécie de quintal do Olimpo, não dentro dele. Todos ajudando os feridos, alguns fazendo planos de guerra, outros cuidando de armas... não era a cena de guerra que eu esperava, era como uma calmaria, e todos eram adolescentes. Só de imaginar essas poucas crianças indo para a guerra me encheu de medo. Não foi pena, nem tristeza, foi medo.

Eles conseguiam brigar com um exército de monstros, titãs e sei lá mais o que, poucos se feriram, nenhum morreu. Eles pareciam adolescentes normais, com roupas esfarrapadas e mal cuidadas, mas normais, e depois de anos treinando conseguem acabar com os monstros. Eu não tinha nem um ano de treinamento, mágica não ia me ajudar em nada, eu não tinha poderes divinos como os outros, e por causa dessa profecia maléfica aí, claro que eles iam me por frente a frente com o chefão. Eu ia morrer no primeiro dia!

–Michael.- Chamou Clarisse. -Temos algumas armas extras, você vem pegar ou não?

–Beleza.- Respondi indo atrás dela.

Ganhei uma armadura, e acabei escolhendo uma espada mesmo, mas peguei uma lança quando os filhos de Ares não estavam olhando. Ela parecia uma varinha, só que gigante e com uma ponta afiada. Lancei um simples feitiço de encolhimento e a enfiei em meu bolso. Tinha um pequeno plano para ela, se ninguém desse falta podia funcionar. Eu não ia conseguir nada me remoendo por dentro achando que ia morrer, se eu não queria morrer eu iria tomar providências, era o que todos estavam fazendo. Eu era um grifinório, eu devia ter coragem, devia ajudar todos e defendê-los.

Fui até um canto isolado, ninguém me seguiu, todos estavam ocupados com alguma coisa. Mas eu não estava contando com a presença daquela pessoa. Nem de qualquer pessoa.

–Zoë!- Falei. -O que está fazendo aqui?

–Contatando as Caçadoras, não vamos conseguir fazer isso sozinhos.- Respondeu. -E você?

–Eu? Nada, só andando. Esse lugar é gigante! Será que tem jardim nos fundos?

–Muito engraçado, mas você devia estar treinando com os outros.

–Eu devia estar na escola, o período letivo ainda não acabou. Mas eu estou na América, então... acho que é dia de quebrar regras. Sou bastante à favor de quebrar regras.

Ela revirou os olhos.

–O que está fazendo?

–O que a faz pensar que estou fazendo alguma coisa?- Perguntei.

–Além do seu amor por quebrar regras?

Poucos segundos depois, a lança dentro do meu bolso cresceu, rasgando minha calça. A ponta saiu pela frente e apontou para Zoë, a parte de trás atravessara minha calça de algum jeito. Fiz burrada. Não lembrei que aquele feitiço era imprevisível, e minha habilidade com feitiços não era a melhor. Agora a minha calça estava morta e esburacada, e eu teria que contar a Zoë meu plano secreto. Essa coisa não estava prestando. Ela deu uma risada mas abafou com a mão, eu devia estar ridículo com aquilo pendurado na minha perna.

–Isso ajuda.- Disse ela.

Ela me ajudou a tirar a lança da calça, que descobri que ainda estava viva, mas com dois buracos esquisitos no bolso. Disse pra Zoë que não era nada demais, eu só queria ter uma arma extra, e ela disse que eu não devia deixar os filhos de Ares saberem disso, eles odiavam gente que roubava deles. Ela saiu depois, esperei um pouco até colocar meu plano em ação. Eu não tinha a menor ideia se ia funcionar, mas eu tinha que tentar. Quando terminei, saí de lá e vi que tínhamos tido bastante progresso, Percy tinha até um plano, metade dele já estava sendo seguida.

Descemos do Olimpo, Percy dividiu os chalés e os enviou para todas as entradas de Manhatan, ele estava bastante confiante. As Caçadoras chegaram rapidamente, atendendo o chamado de Zoë, mesmo fora ela ainda tinha uma grande influência. Ela e Thalia foram ajudar as ex-colegas. Percy disse que eu e ele iriamos até os rios protegê-los dos navios que estavam chegando. Annabeth também ia, e logo, cada um foi para o seu canto. Pegamos alguns meios de transporte para chegarmos mais rápido, Percy e Annabeth foram em uma vespa vermelha, eu fui sozinho em outra.

Percy me convenceu a mergulhar com ele naquela água suja, disse que queria mostrar como se falava com deuses. Usei um feitiço cabeça de bolha, pois não sabia se conseguiria respirar, e mesmo se conseguisse, eu não iria respirar aquilo. Tinha lixo demais, eca.

–Caraca, ninguém aqui nunca ouviu falar em faxina? Ou filtro?- Falei vendo aquela sujeira. -Até que um cloro ia bem...

Meu comentário fez com que os deuses que procurávamos aparecessem bem zangados, mas Percy os acalmou com uma espécie de moeda de areia. Eu achei que eles não iam querer dinheiro para nos proteger, mas descobri que aquilo ajudava a limpar a água. Eles ficaram maluquinhos com aquele negócio e concordaram em ajudar. Também, se eu ficasse sujo daquele jeito eu iria implorar pra que alguém me desse um banho, ou pelo menos sabão. Aquele ali devia ser o sabão deles.

Assim que saímos de lá, Annabeth falava com alguém no celular e parecia preocupada, ela desligou e nos avisou que o chalé de Apolo precisava de ajuda. Muitos monstros estavam na ponte, e o Minotauro estava lá. Legal, só podia ser aquele bicho, mas não fomos de moto dessa vez, alguns pégasos ajudaram de novo a nos locomover. Olhei para baixo e vi muito monstros! Cães infernais à mulheres cobra assustadoras que lançavam dardos flamejantes. Era um reforço pequeno, mas era reforço, e eu estava vendo a hora de aquele lugar explodir com tanto fogo.

Atacamos, ou eles nos atacaram. Uma daquelas mulheres cobras foi para cima de mim, mas girei e a acertei com a espada a transformando em pó, um cão infernal se aproximou e tive que desviar dele antes de acertar-lhe a lâmina. Annabeth parecia pular em cima de qualquer coisa que se aproximasse, pelo canto do olho, acho que vi algum deles correr dela. Percy acabou pegando o Minotauro, que parecia ter uma raiva absoluta dele, pois a cada ataque o touro parecia ficar mais violento. Ele usava um machado duplo dessa vez, nada muito agradável para alguém que pode te matar com um tapa.

Tá, eu sei que eu devia estar prestando atenção a minha própria luta, tinham muitos monstros tentando me matar, acredite. Mas eu não pude deixar de ter medo por Percy, o touro pegou o machado e brandiu loucamente para os lados tentando acertá-lo. Quando a área onde eu estava pareceu mais limpa, ajudei alguns filhos de Apolo a tirarem mortais de carros próximos sem serem atacados. Depois que Percy abateu o Minotauro, não sei como, porque perdi, os outros monstros vieram com mais fúria.

As flechas dos filhos de Apolo acertavam alguns, outras explodiam locais e botavam fogo em monstros. Outras emitiam ruídos tão altos e estranhos que nunca mais vi flechas do mesmo jeito. Com um arranhão feio no braço e muita sorte, desviei de alguns dardos flamejantes das dracanaes e matei algumas, mas senti um puxão em minha perna, seguido de muita dor e uma tombada no chão. A coisa que agarrou minha perna começou a me puxar me balançando muito, como se quisesse arrancá-la. Me virei e vi aquele cão infernal, ele me olhava como se eu fosse lanche.

Chutei seu focinho para tentar me livrar de seus dentes, mas eles pareciam enfiar com mais força toda vez que eu fazia isso, ele estava determinado a ter uma refeição. O cão infernal estava me afastando, podia ouvir as coisas acontecendo ao longe e queria que ele me largasse para eu poder ajudar. Então eu me lebrei da minha varinha. Minha magia não matava monstros, mas podia deixá-lo confuso o bastante para que me livrasse de seus dentes e usasse minha espada. Peguei-a e gritei o mais alto que meus pulmões conseguiram aguentar.
–Estupefaça!- E o raio de luz atingiu o focinho do monstro.

Ele foi lançado para trás, mas ainda segurou minha perna, então fui arremessado também. Ele bateu contra a parede de um prédio e me soltou, mas eu também bati na parede. Fora nas costas, a dor se espalhou por todo o meu corpo, mas estava bem. O cão infernal pareceu tonto e saiu correndo e ganindo, me sentei e olhei para minha perna, não estava tão ruim. Nada como um feitiço de cura e logo eu estaria bom, mas eu tinha que deixar isso para depois. Me levantei e, mancando, voltei na direção da batalha.

Os monstros sumiram, agora haviam semideuses com bandeiras de Cronos na ponte. Um deles estava segurando uma foice, Percy lutava com ele. O semideus da foice mal parecia estar se esforçando, então eu entendi que era Luke, o garoto que Cronos possuiu. Pelo o que entendi do que me contaram, Percy agora estava lutando com um amigo, e esse "amigo" estava prestes a matá-lo. Ele bateu a foice no chão, todos que estavam na ponte desequilibraram com o tremor, achei que a ponte ia cair, Percy fora arremessado para longe e caiu no chão fora da ponte.

Cronos se aproximou, ele parecia triunfante, iria dar o golpe final em Percy, e ele estava sozinho. "Magia pode funcionar com titãs?" Pensei olhando para a minha varinha. Carvalho, 30 centímetros, pouco flexível, corda de coração de dragão. Minha varinha era como um órgão para mim, não podia viver sem. Ou funciona, ou não funciona. "Que se dane, vou tirar atenção dele o suficiente." E tinha algo que podia me ajudar. Olhei de volta para a cena, Percy já se levantara e Cronos estava a 10 metros dele, se aproximando.

Lancei-o, o raio de luz do feitiço cobriu nossa distância rápido, o Senhor Titã não estava esperando por essa. O feitiço o atingiu e a luz se expalhou pelo seu corpo, mas logo sumiu, ele olhou para os lados tentando entender o acontecido. Parecia mais que uma mosca havia batido em sua orelha. Então vi seus ombros começarem a se mexer, como se estivesse tendo um ataque, então ele pendeu a cabeça, e, segundos depois, dobrou o corpo ainda tremendo. Percy estava estático, vi sua cara confusa sobre o que tinha acontecido. Cronos simplesmente estava gargalhando.

Funcionou! O feitiço que lancei funcionou! Iria durar pouco, mas até os inimigos pararam confusos, isso iria dar bastante tempo para nós. Alguém atrás de Percy falou com ele, e o semideus saiu do choque, ele enfiou a espada nas rachaduras da ponte e de lá saiu um jato gigantesco de água. A ponte ruiu rapidamente, pude ver Cronos do outro lado ainda rindo, mas com um olhar assassino. Alguns caíram na água, mas poucos, e podiam estar bem. Me aproximei de Percy mancando, ele ainda estava confuso, e quando me viu, ficou mais ainda.

–Ele está no corpo de um mortal!- Falei.

–O... o que...?

–Ele está no corpo de um mortal.- Repeti. -Isso o deixa vulnerável.

–Err... eu sei disso. Mas sua mágica...

–Exatamente.- Falei para ele. -Esses seres tem alguma coisa nos corpos que repelem minha magia, mas como Cronos está dentro de um mortal...

–Você pode atingi-lo.- Ele raciocinou. -Mas, tem um problema.

–Qual?

–Nico ligou por MI e disse que ele mergulhou no Estige, então Cronos está com a Maldição de Aquiles. Ele não pode ser ferido, exeto no ponto fraco.

–Bem, não posso ferir ele, mas existem muitos outros feitiços e azarações que posso usar. Como esse, era um feitiço de cócegas.

–Temos que contar isso aos outros.

Percy me ajudou a voltar para o Empire State enquanto mancava, esperamos todos se reunirem. Cronos decidiu atacar novamente em 12 horas, então tínhamos algum tempo para discutir sobre o que fazer em seguida e tratar dos feridos. Como eu. Não me arrisquei a comer a comida e beber a bebida dos deuses, pra mim eu continuava tão mortal quanto antes. Recorri à feitiços de cura, que nunca falhavam, mas as marcas dos dentes eram muito profundas, acho que precisaria de um pouco de essência de Ditamno. Problema, eu não tinha nenhuma.

Peguei uma das garrafas de água que os filhos de Hermes roubaram e bebi, eu estava morrendo de sede. Nunca me senti tão bem e relaxado quando bebi aquele água. Olhei de novo para meu ferimento, estava melhor, mas feitiços de cura básicos não previniam a infecção. Observei a garrafa pela metade, comecei a imaginar se eu conseguiria fazer algo parecido com o que Percy fez na noite em que vi o Minotauro pela primeira vez. Afinal, eu tinha alguns genes de Poseidon, e não custaria nada tentar.

Coloquei um pouco da água na mão e, hesitante, passei sobre a mordida. Ardeu um pouco, mas achei normal. O ferimento continuou igual, mas, por precaução, joguei o resto da água em cima, ela poderia limpar um pouco mesmo que não me curasse completamente. Me levantei e fui até onde estavam sendo discutidas as estratégias, queria saber de tudo o que estava acontecendo, eles não iam me tratar como um cara que ficou feridinho e não pode mais nem levantar. Esse papel vai ser de outro cara sinto muito.

–Qual a contagem de feridos?- Perguntou alguém para um filho de Apolo, eu já estava saindo da enfermaria improvisada.

Deviam estar vendo quantos perderam, ouvi a lista e só reconheci alguns nomes. Poucos. Eles com certeza iam se recuperar. Quando eles chegaram nos mortos e/ou desaparecidos diminuí o passo, não tinha visto muitos desde que cheguei e fiquei preocupado. A lista não era longa, e eu torci para que nenhum amigo estivesse nela. Enquanto ouvia os nomes, minha respiração voltava ao normal, deaconhecidos. Mas quando eu já estava saindo...

–Connor Stoll, Jason Grace, Zoë Doce-Amarga...- Disse ele.

Foi um soco no meu estômago. "Connor? Jason? Zoë? " Não, eles não podiam ter desaparecido. Eu parei de andar com o choque, fiquei encarando o chão de boca aberta enquanto meu cérebro tentava processar a informação. "Connor... Jason... Zoë..." diziam uma voz na minha cabeça.

–O QUE?- Gritei me virando para eles. Eles me olharam assustados.

–Michael, sua perna...- Um deles tentou falar.

–É, eu sei, tentaram arrancar minha perna a mordidas. POUCO IMPORTA!- Gritei de volta. "Sumiram, desapareceram." a voz continuava, era a do filho de Apolo. -Você disse que Connor, Jason e Zoë sumiram?

–Michael...

–Eu não ligo pra essa perna imbecil, eu quero saber dos meus amigos!- Falei me aproximando deles.

–Michael, sua perna sarou!

–Q...?

Olhei para baixo e congelei. Só havia cicatrizes vermelhas onde antes haviam marcas de dentes inflamadas e sangrando, a água funcionara? Só que de um jeito mais lento que o de Percy. Soltei o ar que prendi nos pulmões, aquilo era ao mesmo tempo legal e estranho, mas logo me lembrei que meus amigos haviam sumido no meio de uma guerra perigosa.

–Você comeu ambrósia?- Perguntou um deles.

–Não, eu só... lavei.- Respondi baixo. -Tenho que ir.

Me afastei o máximo que pude daquele lugar, eu precisava clarear minha cabeça, digerir a informação de pouco tempo atrás. "Sumiram..." Dessa vez era a voz do meu pensamento. "Desaparecidos... mortos... não!" Me recusei a pensar que poderiam estar mortos. Eles deviam estar feridos em algum lugar, e decidiram que era melhor passarem a noite quietos do que se movendo. Cada um tinha um pouco de Néctar, logo eles voltariam bem. Na pior das hipóteses, estavam presos em algum lugar, mas não mortos. Íamos encontrá-los. "Zoë..."

–Michael! Ei, Michael!- Gritou Piper.

–O que?- Respondi tentando não parecer abatido.

–O que está fazendo aí?- Perguntou.

–Nada, só olhando.- Respondi. -Temos alguma estratégia nova preparada?

–Quase, ainda não está pronta.

–Beleza, vamos ver o que estão guardando para mim.

Segui Piper para o local onde estavam fazendo as estratégias, eles me explicaram tudo o que conseguiram até o momento. Tivemos algumas discussões sobre alguns pontos e algumas ideias, a redistribuição dos semideuses foi mais difícil, cada chalé por si só não era muito bom, alguns tinham poucas pessoas e seria muito pesado para eles. As defesas iam ser melhores da próxima vez. Mas tivemos que interromper a reunião pois um bando daqueles pássaros que comiam carne estava chegando.