Paulina e Paula imediatamente se afastam assustadas com o grito. Paula não esperava encontrar o marido em casa naquele horário, imaginou que o mesmo estaria em algum bar ou cassino como sempre fazia.

— ME RESPONDA GAROTA! - continua Renato indo até elas furioso.

— Não grite com a minha filha! - enfrenta Paula com sangue nos olhos entrando na frente de Paulina.

— Responde minha pergunta Paulina! - insiste renato inquieto ignorando a esposa.

— Eu não devo satisfação a você! - dispara Paulina com ódio, enquanto secava seu rosto.

— Mas é claro que deve, quem você pensa que é? E como assim seu casamento acabou? - questiona Renato alterado.

— Acabou, vamos nos divorciar. - diz Paulina sem paciência.

— O que você fez? - pergunta Renato andando pela sala nervoso.

— E por que tem que ser eu a culpada? Já parou pra pensar que ele pode ter feito alguma coisa? - rebate Paulina se segurando para não cair no choro novamente.

— Eu te conheço menina, sei que queria acabar com esse casamento e não é de hoje. - diz Renato indignado com o que estava acontecendo.

— Ai já chega! Isso não diz respeito a você, e se acostume com a idéia de que não verá mais a cor do dinheiro dele. - provoca Paulina sendo amparada pela mãe que observava a cena em silêncio.

— Abaixe o tom para falar comigo sua mimada! - adverte ele a fuzilando com os olhos.

— Você deveria focar na empresa ao invés de ficar enchendo o saco do Carlos Daniel, até por que ele não tem obrigação nenhuma de sustentar a SUA FAMÍLIA. - provoca Paulina com ódio.

— CALE A BOCA! - grita Renato erguendo a mão para bater na filha.

— Não ouse tocar nela! - intervém Paula mais uma vez, enquanto puxava a filha para seus braços.

— Ela precisa de uma lição. - diz Renato sério.

— Se você encostar um dedo nela eu te garanto que será a última coisa que fará na sua vida. - ameaça Paula com uma coragem admirável.

— Está me ameaçando? - pergunta Renato com os dentes cerrados.

— Entenda como quiser, mas você está avisado. - rebate Paula o lançando um olhar mortal.

— Vamos acabar por aqui, eu não quero que briguem. - pede Paulina tentando evitar mais uma discussão dos pais, apesar de tudo Paulina não gostava de ver seus pais brigando, Renato não tinha limites e tinha o costume de ofender Paula e isso Paulina não aceitaria.

— É melhor mesmo. - concorda Paula ainda encarando Renato.

— Filha, acho melhor você subir, precisa descansar... - propõem Paula olhando para filha ternamente.

— Sim mamãe, você me acompanha? - convida Paulina pois não queria deixar os dois sozinhos.

— Sim meu amor, vamos. - diz Paula a puxando pela mão e indo até a saída.

— Nossa conversa ainda não acabou! - informa Renato sisudo.

— E nem vai acabar, aliás, não deveria nem ter começado. - debocha Paulina sem olhar pra trás.

...

• Quarto Paulina •

— Tome um banho filha, eu vou até a cozinha preparar algo para você comer. - avisa Paula mirando a filha.

— Não precisa mãe, eu não estou com fome. - diz Paulina se sentando em sua cama.

— Tem que se alimentar filha, não pode dormir de barriga vazia. - insiste Paula com preocupação.

— Fique em paz mãe, antes de dormir eu desço para comer alguma coisa. - tranquiliza Paulina forçando um sorriso.

— Tem certeza? - pergunta Paula atenciosa.

— Sim mãe, não se preocupe. - garante Paulina.

Paula concorda com a cabeça e se senta na cama ao lado da filha.

— Tenho uma boa notícia para lhe dar. - diz Paula sorrindo, mudando de assunto.

— E qual é? - pergunta Paulina curiosa olhando para a mãe com expectativa.

— Sua irmã ligou, e disse que amanhã estará de volta! - anuncia Paula sem conter a felicidade.

— Paola vai voltar? - pergunta Paulina sem acreditar.

— Sim, ela me disse que amanhã de manhã estará aqui, eu fiquei tão surpresa quanto você. - explica Paula.

— Que bom mamãe, eu sinto tanto a falta dela, ela viajou e nem se despediu de mim. - diz Paulina magoada.

— Não liga pra isso filha, você sabe como sua irmã é. Eu estou tão aliviada por ela estar voltando, vai saber como ela vive por aí. - comenta Paula recordando da filha.

— Isso é. Sabe mãe, Paola mudou muito, as vezes eu não a reconheço. - diz Paulina olhando para a mãe.

— Sim, ela não é a mesma. Ela não pensa na família dela, é uma sem juízo e não é nenhum pouco responsável, isso me preocupa muito. - concorda Paula angustiada.

— Carlos Daniel a conhece, digamos que ela é bem conhecida na capital, ele me disse que ela costuma sair com alguns amigos dele. - explica Paulina não querendo imaginar o que mais falam da irmã por aí.

— Alguns? Não quero nem pensar quantos são. - diz Paula desanimada.

— Sim mãe, e você já deve imaginar qual é a fama dela... Não entendo como ela consegue sair com tantos caras assim, eu não me submeteria a viver como ela. - comenta Paulina torcendo o nariz.

— Sua irmã sempre foi assim, nunca me obedeceu, quando me dei conta ela já tinha fugido do meu controle, eu só peço a Deus para que ela se cuide. - conta Paula nervosa.

— Me desculpa mãe, eu não devia ter dito isso. - pede Paulina vendo que magoou a mãe.

— Não tem problema filha, eu melhor do que ninguém conheço a Paola, e só não a julgo por que ela é igualzinha mim, quando eu tinha a idade de vocês deixava meu pai quase louco, só sosseguei por que tive que me casar com o pai de vocês. - relembra Paula rindo tentando se animar.

— Sério? Por essa eu não imaginava! - indaga Paulina sorrindo.

— Seríssimo, eu era terrível, qualquer dia eu te conto mais sobre... - diz Paula com ar de mistério.— E você só não é igual por que não provou ainda minha filha, mas irá descobrir logo logo. - zomba Paula deixando a filha corada.

— Credo mãe, até parece que não me conhece, nesse caso eu não me pareço com vocês mesmo. Talvez nessa questão eu tenha puxado a família do papai, talvez a vovó Clélia. - brinca Paulina rindo, pois sabia que a mãe não iria gostar.

— Deus me livre minha filha ter puxado aquela cobra. - pragueja Paula revirando os olhos.

Clélia era a mãe de Renato, não passava de uma velha amargurada que só sabia reclamar da juventude atual, ela amava criticar e dar palpite na vida de Paula, e julgar as pessoas era o que ela fazia de melhor.

— Por que não gosta da vovó mãe? - pergunta Paulina olhando para a mãe.

— Você ainda pergunta? Aquela mulher é uma cobra, não gosta nenhum pouco de mim e nunca escondeu isso. Vivia falando que eu não era mulher pro filho dela, como se seu pai fosse um santo. Ela acha um absurdo eu ter tido outros namorados antes de me casar com seu pai, para ela toda mulher deve se casar virgem. - explica Paula de má vontade.

— Deve ser por isso que o papai morre de ciúmes de você, ele dá um de durão mais é visível que ele te ama. - conclui Paulina pensativa.

— Ele ama o que eu represento a ele. - diz Paula sem dar muita importância, já havia se acostumado com o jeito do marido.

— Eu não acredito que seja só isso mãe, ele sempre demonstrou amar a senhora, hoje não mais, porém quando eu era pequena me lembro dele sempre carinhoso. Já comigo ele nunca demonstrou muito afeto. - admite Paulina baixinho tentando esconder a tristeza.

— Não é bem assim meu amor, seu pai ama você e sua irmã. - diz Paula se sentindo mal pela filha.

— A Paola sim, já a mim... Ele nunca se importou comigo, e isso é notório, nunca agiu como um pai, sempre me criticou. - murmura Paulina olhando para o nada.

— Seu pai é assim mesmo filha, ele é das antigas, ele pensa que se demonstrar o que sente o fará menos homem.

Paula já havia percebido a diferença com que Renato tratava as filhas e isso cortava seu coração, mas ela preferiu não dizer nada para não magoar Paulina, ela queria acreditar que lá no fundo Renato amava sua família.

— Seu pai não era assim, eu jamais me casaria com um carrasco, ele era uma homem bom, cheio de vida, e você pode não se lembrar, mais ele sempre brincava com você e sua irmã, e você era a mais apegada a ele, não o largava um minuto. - conta Paula deixando Paulina surpresa.

— Vai ver então esse é o motivo por ele não me suportar, deve ter enjoada de olhar pra minha cara. - brinca Paulina esboçando um sorriso.

— O vício estragou seu pai, desde o primeiro dia que ele frequentou uma casa de jogos ele ficou ficou diferente, frívolo e por fim, virou um viciado. - lembra Paula com amargura.

— Será que foi só por isso mesmo mãe? - questiona Paulina pensativa.

— Provavelmente sua avó Clélia colaborou um pouco, aquela vaca. - diz Paula fazendo a filha rir.


...

Quarto Paula e Renato

Paula entre em seu quarto e o marido já se encontrava deitado, estava lendo um livro, ou fingindo que lia pois o mesma estava de ponta cabeça, fato que chamou a atenção de Paula que achou graça.

— E desde quando você lê livros? Ainda mais ao contrário... - zomba Paula rindo internamente.

Renato ajeita o livro visivelmente sem graça e retorna a sua "leitura" fingindo que a esposa não estava ali. Paula deu de ombros e foi até o closet, pegou sua camisola, a vestiu e retornou ao quarto, e Renato continuava lendo.

— O que Paulina fez para Carlos Daniel a dispensar assim? - pergunta Renato quebrando o silêncio.

— Se cansou de ler? - pergunta Paula irônica.

— Ande logo, me diga. - ordena Renato impaciente.

— Por que você a culpa sempre? Talvez o Carlos Daniel que tenha errado você não acha? - questiona paula em defesa da filha.

— Eu conheço bem a filha que tenho e sei como é geniosa. - justifica Renato.

— Foi apenas uma briga de casal, não dê tanta importância a isso, ela é nova e recém casada, ainda não aprendeu como resolver problemas assim. - conta Paula querendo dar um basta no assunto.

Paula realmente acreditava que se tratava de uma briga boba e irrelevante, ela sabia que Carlos Daniel amava sua filha e não desistiria dela tão fácil.

— Espero que seja algo passageiro, aquela garota não pode por tudo a perder, eu duvido ela encontrar um partido tão bom quanto esse. - peegueja Renato sério.

— Sério que é essa a sua maior preocupação? Sabe Renato às vezes eu dou total razão a Paulina, ela diz que você não a ama, e a cada dia que passa você confirma essa teoria. - alfineta Paula brava.

— Ela te disse isso? - pergunta Renato sem graça.

— Sim, ela acabou de me dizer, e eu acredito que seja esse o motivo pelo qual ela te enfrenta, ela não aceita o fato de você a tratar com indiferença, ela sente que você ama somente a Paola. - conta Paula tentando abrir os olhos do marido.

— Não é bem assim, o amor que sinto por minhas filhas é igual. - murmura Renato pensativo.

— Você deveria dizer isso à ela! - aconselha Paula, se virando para apagar o abajur e enfim dormir.

...

Fazenda Bracho- Quarto Carlos Daniel

Já era de madrugada, Carlos Daniel não havia conseguido pregar os olhos, rolava na cama, e em sua mente só dava sua amada, como ele queria que tudo fosse diferente. Ela poderia estar ali, em seus braços, já estava arrependido, Paulina era sua vida e sem ela não conseguiria viver.

— Eu sou um inconsequente! Por que eu fiz isso? Eu amo aquela mulher mesmo que não seja recíproco. - sussurra Carlos Daniel com tristeza para si mesmo.


...

Dia seguinte - Quarto Paulina

Era bem cedo, Paulina dormia tranquilamente, sua expressão era de serenidade, ela havia dormido tarde na noite anterior, apesar da exaustão ela não conseguiu pegar no sono fácil, sentia falta do marido.

Paola adentra o quarto com cuidado, acabara de chegar de viajem e após passar um tempo com a mãe, foi atrás da irmã. Ela para próxima a cama e se põe a observar Paulina. Aparentemente não tinha expressão, e seus pensamentos e sentimentos eram uma incógnita.

Paulina aos poucos vai despertando, e tinha a sensação de que alguém a observava, assim que abre os olhos dá de cara com a irmã, ela se assusta de imediato.

— Paola! - diz Paulina surpresa.

— Olá irmãzinha! - cumprimenta Paola com um sorriso marcante.