Minha Viagem Infernal

Trabalho pela frente


Enquanto Ares estava na cozinha, eu continuei parada na sala. Não tinha idéia do que fazer. Bem... Eu ia para Paris! Finalmente! Isso era algo que merecia ser comemorado.

Mas... A condição de Ares ainda me deixava um pouco insegura. O que ele ia planejar? Provavelmente não tentaria nada comigo. Não. Ele se divertia muito mais me infernizando e tornando a minha existência uma droga.

De qualquer modo... Eu tinha concordado. O que estava feito, estava feito e não tinha como voltar atrás.

Estava pronta para subir as escadas e trocar de roupa para ficar mais confortável, quando Afrodite entrou pela porta de casa.

- Alice! Aaaawn! Você conseguiu! – Ela me abraçou e eu fiquei surpresa. Como o portal da cozinha não tinha porta, Ares (que estava sentado á mesa comendo) pôde ver claramente o que estava acontecendo na sala – Sabia que você conseguia ser persuasiva se tentasse.

Olhei rápido para Ares no outro cômodo, e depois para ela.

- O que você disse a ele? – Perguntei.

- Eu disse para ele te dar uma chance de ir a Paris, e eu tornaria a viagem mais agradável para ele. Mas o resto, foi com você. – Disse ela com um sussurro em meu ouvido.

Então Ares inventara por vontade própria a última parte?! Idiota! Ele me fez aceitar seus termos mesmo já tendo decidido ir á Paris.

- O que mais você veio fazer aqui? – Perguntei.

- Olá-á?! A viagem é daqui a dois dias. O que significa que temos muito a fazer. Eu voltei com uma coisa que aposto que você vai gostar. – Ela sorriu para mim, e eu senti medo. Ai, droga... Aposto que estava ferrada... – Suas roupas para a viagem!

- O que? Ahm... Não precisa. Eu tenho as minhas roupas. – Disse delicadamente. Da última vez que ela mexera em minhas roupas eu acabei chamando a atenção de todos os caras do hotel. Não mesmo.

- Acho que não preciso nem dizer que é uma ordem minha, não é? Você simplesmente vai usar essas roupas em Paris. Eu mesma vou garantir isso. – Sorriu ela erguendo uma sobrancelha para mim. Revirei os olhos.

- Lá vai você de novo, mexendo no meu guarda-roupa. Afrodite... Eu quero ir com as minhas roupas! – Pedi.

- Essas roupas são suas, querida. – Disse ela como se aquilo melhorasse toda a situação – Vai lá encima e experimente. Aposto que vai gostar. Elas vão te deixar maravilhosa.

O “maravilhosa” dela me deixava com medo. Afrodite piscou para mim, entregou as sacolas e foi para perto de Ares na cozinha. Ela cochichou algo em seu ouvido e ele sorriu malicioso para ela.

- Vamos? – Perguntou ela.

- Primeiro as damas. – Riu ele levantando-se da mesa. Os dois passaram por mim e saíram de casa. Ótimo. Pelo menos experimentaria as roupas dela sem ninguém para zombar da minha cara.

Subi as escadas e fui para o meu quarto.

Ok... Como posso descrever as roupas que ela comprou para mim? Bem... Eram bonitas. Mas... Acho que Afrodite queria mesmo mudar o meu jeito de me vestir, pois nenhuma daquelas roupas seria escolhida por mim naturalmente.

Os vestidos eram lindos, mas curtos e com decotes. Tudo aquilo valorizaria o meu corpo, só que talvez um pouco mais do que eu realmente quisesse.

Eu vesti um vestido bonito. Ele era amarelo claro com notas musicais desenhadas na borda. Alguns detalhes em preto davam a ele um charme. Assim que me olhei no espelho, notei que ele fazia a minha cintura parecer bem mais fina e acentuada. Minhas pernas ficavam bem a mostra também.

- Ah... Não vou nem poder me mexer com isso. A não ser que queira mostrar o que tem debaixo da saia. – Comentei para mim mesma, olhando a bainha curta do vestido.

Olhei para os sapatos que ela tinha comprado para mim e vi que eles eram todos saltos altos. Ah, droga... Onde estavam os meus tênis de corrida, ou as minhas sapatilhas rasteiras?! Não ia conseguir andar direito.

Bem... Mas eu já tinha enfrentado coisa pior, não? Eu já tinha sobrevivido a muita coisa nos últimos meses, e não seria um par de saltos altos que me derrubariam.

Eu os coloquei e resolvi treinar andar com eles. Pelo modo que Afrodite e Ares saíram de casa eu podia apostar que demorariam bastante tempo até voltarem.

Comecei a andar pela sala de estar, treinando me acostumar ás dores provocadas pela altura adicional. Não estava indo assim tão ruim. Consegui manter o meu equilíbrio por bastante tempo sem que meus pés doessem.

Eu estava quase na metade da escada quando acabei pisando errado e caí para trás. De costas no chão e fiquei lá por alguns segundos, tentando respirar normalmente de novo. Fiquei sentada ainda sentido um pouco de dor.

POV Apolo

Tinha acabado de pegar os filmes na locadora, quando abri a porta e tive uma surpresa. Assim que entrei na casa vi Alice sentada no chão, como se tivesse caído. Ela estava sentada de modo desajeitado, com as pernas levemente abertas.

Uou. Voltei na hora certa.

- Alice? – Perguntei sem pensar. Ela olhou para mim colocando uma mão nas costas, e imaginei que ela deveria ter batido com elas. Bem... Na hora eu estava um pouco mais focado nas pernas dela e no que estava por baixo do vestido, mas...

- Apolo. – Falou ela, mas então notou como estava e se pôs de pé rapidamente. Droga... Seu rosto ficou vermelho, e ela cruzou os braços para mim – Não precisava ficar olhando, sabia?

- Desculpe. Não deu para evitar. – Deixei escapar, mas então notei as suas roupas – Ahm... Por que está usando um vestido desses?

- Afrodite. – Respondeu ela com um sorriso de desgosto, e eu entendi – Ela... Mudou todas as minhas roupas para Paris, então eu vou ter que usar coisas desse tipo. Mas enquanto estiver aqui, acho que ainda posso vestir minhas peças normais.

- Então por que...? – Não precisei terminar a frase.

- Eu queria me acostumar com elas. E resolvi aproveitar que eles dois saíram, para ninguém ficar pegando no meu pé. – Respondeu ela. Alice foi para o sofá se sentar com uma cara de dor.

- O que houve? – Perguntei, mas então me lembrei do possível tombo – Você caiu feio, né? – Ela assentiu – Ok. Eu posso dar um jeito nisso de novo.

- As minhas costas. – Disse ela apontando, e eu passei a mão por ela para curar a dor. Fazia parte da mágica, mas quem disse que não era agradável? Eu sorria para ela de modo suave, e Alice desviava o olhar com o rosto um pouco vermelho.

- É aqui? – Perguntei colocando a mão no alto de suas costas.

- Não. Um pouco mais para baixo. – Disse ela. Eu deslizei a minha mão para o meio de suas costas, mas não consegui me controlar, por isso ao invés de parar eu continuei. Alice notou isso – Ahm... Mais para cima, Apolo.

- Ahm? Ah. Tá. Tudo bem. – Disse voltando ao planeta Terra. Subi as mãos e fiz sua dor passar. Alice sorriu para mim e agradeceu – Não foi nada.

Segurei seu queixo e dei-lhe um beijo. Nossa... Ela era linda mesmo. Adorava aquela garota. Mais do que muitas que conheci. Seu cabelo estava um pouco bagunçado, mas ficava perfeito mesmo assim. Seu rosto levemente corado mostrava toda a delicadeza que ela tinha, e para mim era um dos meus pontos favoritos.

- Eu vou trocar de roupa para nós podermos ver o filme. – Disse ela levantando do sofá. Eu parei na sua frente – O que foi?

- Acho melhor te ajudar a subir as escadas. – Disse.

- Não precisa. Eu consigo subir. – Falou ela tentando passar por mim, mas eu a peguei no colo. Uma de minhas mãos estava nas suas costas e a outra estava na parte atrás do seu joelho – Apolo! Não precisa mesmo.

- Então finja que precisa. – Disse eu rindo – Gosto de te levar assim.

Ela revirou os olhos rindo e apontou para a escada.

- Então pode ir. – Disse ela ainda apontando – Vamos logo.

- Mandona, hein? – Falei brincando, mas pude ver que ela estava agindo da mesma forma que eu. Nós dois rimos enquanto eu subia as escadas com ela. Parei quando chegamos ao seu quarto e a coloquei no chão em pé – Pronto. Nossa! Quanta roupa! Afrodite é mesmo muito consumista.

- Jura? Eu nem notei. – Falou ela indo até as roupas – Vou trocar de roupa.

- Ok. – Disse sorrindo para ela. Alice virou-se de costas para mim e desabotoou um dos botões do vestido, mas antes de terminar virou-se para mim novamente. Ao ver que eu ainda estava ali, ela parou e cruzou os braços. De começo não entendi, mas depois saquei o que ela quis dizer – Ah. Tá bom... Eu saio.

- Obrigada. – Sorriu ela forçadamente. Fechei a porta do quarto e desci as escadas. Liguei a TV e coloquei o filme. Eu tinha escolhido “Caçador de recompensa”, pois morria de rir com aquele filme. Apostava que esse seria o mesmo efeito provocado na Alice.

Assim que ela desceu as escadas e correu para sentar-se do meu lado no sofá, eu fiz surgir um pote de pipoca cheio e comecei a comer com ela.

- Esse filme é engraçado. – Riu Alice ao ver o nome aparecer na tela.

- Você já viu? – Perguntei sorrindo.

- Aham. Eu adoro ele. – Afirmou ela. Assistimos o filme até a metade. Ainda estava no começo da tarde, de modo que tínhamos bastante tempo livre. Em certa parte, eu deslizei minha mão para o ombro direito dela, esticando o meu braço, e comecei a a acariciá-la. Alice riu baixinho e olhou para mim – O que está fazendo?

- Nada. – Respondi pegando mais pipoca com a outra mão. Continuei acariciando ela, e resolvi descer meu braço para sua cintura. Ela olhou para mim novamente, mas antes que pudesse perguntar dessa vez, eu a beijei com vontade.

De começo ela tentou se afastar, mas depois acabou abraçando meu pescoço. Alice retribuiu o beijo, e nó continuamos até não ter mais ar.

- Quero muito ir á Paris com você. Ficar perto de você... – Disse em um sussurro, e Alice sorriu.

- Eu também. – Confirmou ela me beijando novamente – Vai ser divertido.

- Ah, pode apostar! – Exclamou uma voz atrás de nós. Nós dois demos um leve pulo no sofá e derrubamos o pote de pipoca no chão. Olhamos para trás e vimos Ares apoiando seu cotovelo no sofá. Tinha um sorriso torto quando foi falar com Alice – Aaawn, eu atrapalhei alguma coisa? Desculpe! Pode continuar agarrando seu namoradinho, Filhinha de Hermes.

Alice pegou uma das almofadas do sofá e jogou em Ares, mas ele desviou a tempo e ficou de pé.

- Desde quando você chegou? – Perguntou ela com raiva.

- Faz uns minutos. – Respondeu ele ainda rindo.

- Então porque você não entrou pela porta como uma pessoa normal?! – Perguntou ela com mais raiva ainda.

- Ah! Acho que nós dois sabemos que não seria tão engraçado se eu entrasse pela porta. – Riu ele para ela. Alice trincou os dentes e voltou a olhar para a TV. Idiota! Tinha que atrapalhar os meus melhores momentos?!

- Voltando ao filme... – Murmurei olhando para a tela novamente.

- Pode esquecer. – Disse Ares negando com a cabeça – Quero um favorzinho seu, Filhinha de Hermes. Levanta do sofá e vem aqui.

- Até parece que eu vou te ajudar em alguma coisa. – Resmunguei.

- Até parece que eu te dei opção. – Disse ele puxando o braço de Alice. Ela se levantou obrigada e eu fui logo atrás.

- Ares, não estrague mais ainda! – Reclamei – Estamos vendo um filme!

- Pode ter o seu momento romântico a qualquer hora. – Falou ele – Agora eu preciso da garota da guerra.

- Musa de Apolo. – Corrigi.

- Garota da guerra. – Insistiu ele para irritar Alice. Ela revirou os olhos e cruzou os braços para ele.

- O que você quer? Fala logo e me deixa em paz. – Disse ela.

- Quero falar com você. – Sorriu ele, mas depois olhou para mim – Á sós, de preferência.

Estava prestes a reclamar, quando Alice me impediu.

- Esquece. Ele não vai nos deixar em paz até não falar logo comigo. – Disse ela olhando para mim – Você pode voltar depois, não é?

Engoli alguns adjetivos não muito bonitos para Ares, e respirei fundo. Olhei para Alice e sorri um tanto forçado.

- Posso. Claro. – Respondi.

- Pois é. Se manda. – Riu Ares. Eu revirei os olhos e fui embora, infelizmente.

POV Alice

- Espero que seja algo importante. – Disse olhando para Ares com raiva. Ele tinha estragado um momento perfeito com o Apolo.

- Não venha falando comigo desse jeito. Quem manda aqui sou eu, e não você. Se fosse algo inútil, teria que ouvir do mesmo jeito e sem reclamar, pirralha. – Disse ele olhando para mim – Mas... É realmente importante. Pelo menos se você quer ir á Paris ainda.

- O que você fez agora? – Perguntei imaginando que ele tinha feito algo para estragar a viagem.

- Nada. Só que preciso cuidar de umas coisas na minha lista antes de viajar. Quase tudo já está resolvido, mas para as coisas andarem mais rápido, preciso que me dê uma mãozinha. – Disse ele dando de ombros.

- Não confio em você. – Comentei estreitando os olhos para ele – O que você quer que eu faça?

- Você é desconfiada demais, hein? Que droga, Kelly. – Reclamou ele – Só quero que você vá a um lugar, pegue a minha moto e a traga de volta para casa.

Franzi o cenho sem acreditar que era mesmo aquilo que ele queria.

- Fala sério. Você quer mesmo que eu busque a sua moto? Por que você mesmo não vai lá e pega ela? – Perguntei sem entender.

- Porque eu não estou afim. – Respondeu ele voltando a ser grosso – Se que pudesse ou quisesse eu ia e dava um jeito, e não mandava uma pirralha mimada que nem mesmo sabe dirigir direito buscá-la. Além do mais... Tenho que resolver as outras coisas para poder viajar.

- Tanto faz. Vou pegá-la. Só fala o nome do lugar. – Disse me dando por vencida em um suspiro.

- Hotter than hell. – Disse ele. Continuei parada esperando que Ares dissesse o nome do lugar, mas acabei me tocando que… Aquele era o nome do lugar.

- Que nem a música do Kiss? – Perguntei franzindo o cenho, mas então me lembrei do nome – Espera... É uma boate noturna, não é?

- Clube noturno, é o nome certo. – Corrigiu ele.

- Como você deixou ela lá? – Perguntei sem entender.

- Quer mesmo saber? – Perguntou ele com uma risada maliciosa – Ok. Eu estava lá, aí uma das garotas perguntou se podia pegar na...

- Ah! Chega! Eu não quero saber! Não me interessa! – Interrompi antes que ouvisse mais do que meu estômago suportava – Eu pego a droga da sua moto, mas sem detalhes, por favor.

Ares começou a rir, e eu olhei para ele.

- O que foi? – Quis saber.

- “Por favor”. Há Há! Otária. Você é mesmo uma pirralha, Kelly. – E com isso ele subiu as escadas me deixando com o meu mais novo trabalho – Ossos do ofício! Quem mandou ser a garota da guerra?

- Ninguém merece... – Resmunguei.