Lembro de perguntar onde o lugar ficava para Ares e sair de casa logo depois.

- Sem arranhões, sacou? Senão vou descontar tudo em você, Kelly. – Alertou ele apontando para mim. Assenti sem ligar e saí.

Eu andei bastante até chegar ao local. Não era muito difícil de notar, para ser sincera. Era um lugar largo, que ocupava quase todo o centro do quarteirão. O pequeno letreiro de neon com desenhos vermelhos de cerejas, os vidros com insufilm preto que tornavam impossível ver o lado de dentro, e a placa “+18” na porta, mostrava claramente que não era um simples clube noturno.

Provavelmente, uma boate de strip. Não fazia diferença para mim. Eu só tinha que pegar a droga da moto e ir embora.

Infelizmente, o lugar não tinha estacionamento. Onde ele poderia ter deixado ela então?! Andei até a porta do clube. Era provável que eu teria que entrar e perguntar á alguém sobre a moto, mas eu não estava nem um pouco afim.

Devia ser mais ou menos umas 5 da tarde, mas o lugar já estava aberto. Da porta eu podia ouvir a música alta tocando.

Revirei os olhos e acabei abrindo a porta. Fitei rapidamente o chão, para não ter que olhar para o palco onde provavelmente algumas garotas dançavam.

Olhei para os cantos sem reparar os detalhes. Tinham várias mesas de madeira, e tinha gente sentada. Isso eu sabia. Um balcão. Devia ser o bar.

Fui até lá e olhei para o barman. Ele foi o primeiro barman que eu vi que não estava limpando um copo. Enquanto tocava uma música eletrônica, ele olhava fixamente para o palco. Nojo...

- Ei. Eu... Queria perguntar uma coisa. Aqui não tem estacionamento, né? – Perguntei e ele olhou para mim.

- Aqui? Não. Por quê? – Perguntou ele.

- Um... Amigo. Deixou a moto dele por aqui. Ele pediu para eu buscar, mas eu não... – Fui interrompida.

- O Smith? – Quis saber ele.

Ares e seus nomes estúpidos...

- Ahm... Têm vários Smiths por aí. Esse que você fala tem mais ou menos uns dois metros, músculos enormes, e vive de óculos escuro? Provavelmente... Ele bebeu whiskey. – Eu o descrevi o ele assentiu confirmando.

- Você deve ser a Cherry. – Disse ele.

- Cherry... – Repeti com uma repentina vontade de socar Ares – É. Sou eu.

- Aqui. – O barman jogou as chaves da moto para mim, e eu as segurei com raiva – Tem um beco aqui do lado. Acho que ele deixou a moto lá. Falou que... Ele disse que você vinha pegar.

Eu assenti com raiva de Ares, mas sorri para o barman.

- Obrigada. – Disse. Eu estava quase saindo, quando uma das dançarinas parou no bar também. Ela provavelmente ouviu o nome falso de Ares, porque acabou mandando um recado para ele.

- Ei, Cherry! Fala para o Smith que estou com saudades dele. – Disse ela em um tom de voz levemente sensual. Depois ela disse mais algumas coisas, mas como a placa na porta dizia “+18”, vou respeitar isso e não repetir para você ler.

Saí (finalmente) daquele lugar e fui para o tal beco ao lado do clube. Lá estava a moto. Ela não estava tão grande quanto antes. Ares deve tê-la deixado menor (menor é a mesma coisa do que uma moto normal) para que eu pudesse levá-la.

Assim que montei na moto e liguei o motor, fui surpreendida.

- Ora, ora se não é a garota da guerra. – Comentou alguém na minha frente. Ergui os olhos da moto e vi dois garotos, cada um encostado em uma parede do beco. Todos os dois tinham sorrisos tortos e maldosos no rosto – Também gosta de vir aqui?

Phobos e Deimos.

Phobos que tinha feito a pergunta. Ele era um pouco mais magro que o irmão, mas mesmo assim era muito musculoso. Deimos riu um pouco para mim, imaginando a possibilidade de eu gostar de ir á um clube daqueles.

- Isso é coisa do seu pai, e não minha. – Respondi – Agora se mandem.

- Uh... Irritada, hein? – Zombou Deimos – Está com pressa, é?

- Para falar a verdade, sim. – Falei.

- Ela deve estar com pressa para ficar com o namoradinho dela. – Zombou Phobos – Fala aí, Alice. É por isso que você quer nos deixar assim tão rápido?

- Não. É porque vocês são dois idiotas. Igual ao pai. – Respondi – Agora saiam da frente para eu poder ir embora.

- Desculpe, princesa. Mas tudo tem um preço. – Disse Deimos cruzando os braços e rindo um pouco.

- É. Se quiser passar, vai ter que pagar pedágio. – Comentou Phobos – Que tal um beijinhos, hein?

Os dois fizeram biquinhos para mim e depois começaram a rir.

- Que tal eu passar por cima dos dois? Isso conta como pedágio? – Perguntei acelerando a moto. Os filhos de Ares desapareceram antes que a moto atropelasse ele, e eu saí daquele beco.

Virei para a direita e já estava na rua. De começo, pensei que não seria mais perturbada por aqueles dois animais, mas vi que estava totalmente errada quando os dois apareceram novamente.

Em questão de minutos eu estava no meio de Deimos e Phobos. Os dois estavam de moto também, só não sei como.

- Ei, Phobos! Que tal derrubarmos ela? – Perguntou Deimos como se eu não pudesse ouvi-lo.

- Acho uma idéia divertida, Deimos. – Respondeu Phobos sorrindo.

Os dois chocaram-se contra mim no mesmo momento, me emprensando no meio das duas motos.

- Ah! – Gritei ao notar que iria perder o controle da moto. Joguei todo o meu peso para o lado de Phobos, já que ele era mais magro, e pude notar que ele foi chegando para o lado. Acelerei mais ainda e não parei para olhar se o sinal estava aberto ou fechado.

Os dois me seguiram, mesmo ficando um pouquinho para trás. Aquilo tinha doído. Minhas pernas deviam estar com hematomas naquela altura. Eles conseguiram me alcançar novamente, e se posicionaram do meu lado de novo.

- Somos nós que levamos a moto do Deus da guerra! – Exclamou Deimos – E não uma musa de Apolo! Volte a brincar com a sua música, princesinha!

- Ares mandou eu levar a moto para casa. – Respondi trincando os dentes – Não faço a mínima questão de tomar o único trabalho em que vocês dois são bons.

- Você se acha demais, não é, docinho? – Disse Phobos do meu lado – Mas vai se dar mal agora.

Deimos diminuiu a velocidade, e Phobos me deu uma cotovelada. Eu virei a moto ligeiramente para a direita, pois perdi um pouco de equilíbrio. Dei um chute de volta nele, mas Phobos não se machucou.

- Vai cair, garota da guerra! – Riu ele me dando outra cotovelada para o lado. Eu virei a moto com toda a minha força para a direita, já que aquela já era a rua da minha casa. A moto deslizou pelo chão, e pude ver o meu braço direito quase arrastando no chão da rua. Lembrei de quando aquilo aconteceu uma vez comigo e de como doeu.

Por sorte, eu consegui me manter longe do chão. Consegui parar a moto no gramado de uma casa vazia, e desci dela. Phobos passou por mim voando em alta velocidade, e parou a moto dele bem mais a frente.

Eu comecei a empurrar a moto de Ares em direção á casa, sem me importar com o que ele iria fazer.

- Ei! Não me ignore, garota! – Exclamou ele – A moto é nossa, já disse isso. Vai querer roubar mesmo? Filha de Hermes!

- Cala essa boca! Vou entregar a moto para Ares, e depois você faz o que quiser com ela. – Respondi.

- E se eu não deixar você entregar a moto? – Perguntou ele parando na minha frente. Ele segurou guidão fazendo-me parar, e olhou para mim com o mesmo sorriso torto de Ares – Você vai levar uma bela bronca, não é?

- Não é da sua conta. – Respondi – Mas se você quer correr o risco de ter o seu traseiro chutado pelo seu papai... Via em frente. Leve a moto.

- Acha que ele vai reclamar comigo? Não... Ele tem você. – Disse Phobos rindo – Alice Kelly é que vai levar toda a culpa, como sempre.

- Se você quer roubar a moto de mim para me ferrar, eu vou ferrar você, ouviu? – Reclamei empurrando ele para trás – Agora deixe eu passar. Tenho coisas melhores para fazer do que perder o meu tempo com filhos de Ares.

- Sinto muito, docinho. Mas... Não. – Phobos me empurrou para trás com muito mais força. Eu caí no chão e ele começou a rir. Levantei rangendo os dentes e fiz aparecer o meu arco e flechas. Apontei uma diretamente para a testa de Phobos, e ele parou de rir – Acha que consegue acertar, derrotada? Tsc. Se toca. Não sei nem porque o meu pai mandou você pegar a moto dele. Você é muito fraquinha, Alice.

- Não disse onde eu ia acertar. – Comentei. No último segundo, eu mirei no pé de Phobos, e ele foi pego de surpresa. Pude ver ele pulando em um pé só, cheio de dor.

Aproveitei para pegar a moto e levar para casa, mas na metade do caminho... Algo chocou-se contra ela. Eu caí no chão por baixo da moto, e tive que fazer força para conseguir me levantar.

- Deimos! – Exclamou Phobos com os olhos arregalados – Olha o que você fez, seu animal!

Deimos desceu a moto dele e correu para perto da de Ares. Eu me levantei e notei o que ele tinha dito. A moto estava com um arranhão enorme na lateral. Enorme mesmo.

- Ares vai te matar... – Murmurei olhando para ele.

- Eu...! Eu...! – Deimos gaguejou um pouco, mas depois sorriu para mim – Alice! Olha só o que você fez!

- O que?! – Exclamei com raiva.

- Oh, não, princesa! Acho que isso foi demais, não? Bem que dizem que garotas não sabem dirigir. – Comentou Phobos – Acho que Ares vai ficar muito desapontado com a sua garota da guerra.

- Foram vocês. Eu não fiz nada! – Exclamei – Se você pensa que pode jogar a culpa para cima de mim...!

- A culpa já é sua. – Disse Deimos rindo – Você vai se dar muito mal.

- Talvez ele dê uma lição em você. Não gostaria disso, princesa? – Riu Phobos levando a frase para o duplo sentido. Dei um soco nele, mas Phobos desviou.

- Vocês dois não prestam! – Rugi com raiva.

- Aaah, vamos embora, Deimos. Antes que a pobre musa de Apolo comece a chorar. – Zombou Phobos rindo. Os dois sumiram e me deixaram com a moto arranhada.

Sem arranhões, sacou? Senão vou descontar tudo em você, Kelly.” Lembrei de Ares falando isso. Droga... Eu estava ferrada. Tudo culpa daqueles dois imbecis!

Levantei a moto e comecei a empurrá-la em direção á casa. Deixei-a parada logo na calçada e entrei em casa.

Ares estava levantando peso em uma única mão, quando fechei a porta. Ele virou-se para mim.

- Então? Cadê a moto? – Perguntou. Tive vontade de sair correndo. Ele estava com um peso de sei lá quantos quilos ou toneladas na mão. Poderia jogar em mim com facilidade se eu contasse uma notícia ruim.

- Está lá fora. – Contei.

Ares olhou para as minhas roupas e eu gelei. Droga... Elas deviam estar sujas ou rasgadas por eu ter caído umas duas vezes.

- Deixa eu adivinhar... Phobos e Deimos te acharam? – Perguntou ele rindo.

Olhei para ele por um minuto sem entender.

- Como você sabe disso? – Perguntei.

Ares riu um pouco mais e trocou o peso de mão. Ele não precisava responder. Sabia exatamente o que ele queria dizer com aquilo.

- Você armou isso tudo, não é? Sabia muito bem que eles iam... – Não consegui completar a frase de tanta raiva. Só perguntei a única coisa que eu ainda não sabia ao certo – Por quê?

- É a minha vingancinha por você ter acabado com os meus planos para o Alabama. – Respondeu ele sorrindo maldosamente.

Peguei a chave da moto no meu bolso e joguei com força contra Ares. Ela bateu em seu peito, mas ele não deve ter sentido dor.

- Da próxima vez, chame outra pessoa para participar dos seus jogos sujos. – Disse com raiva – Espero que goste do arranhão na sua moto.

Eu ia começar a subir as escadas, quando ele segurou o meu punho com força e me puxou para perto dele.

- Eu disse sem arranhões, Kelly. – Falou ele rangendo os dentes – O que vfoi que você fez com a minha moto?!

- Agradeça aos seus filhos maravilhosos! Deimos arrebentou a lateral e fez um arranhão enorme, mas eu duvido que você acredite que eu não fui a culpada disso. – Respondi tentando puxar o meu braço.

- Você é mesmo uma inútil, Kelly! – Exclamou ele perto de mim – Era para eles atacarem você, e não a minha moto!

- Sinto muito se eu ainda estou inteira. – Resmunguei irritada.

- Sinta mesmo! – Exclamou ele – Ah... Se manda!

Ares me lançou par ao chão com força e virou-se para continuar andando. Eu estava com tanta raiva que nem pude me controlar quando coloquei o pé na sua frente, fazendo-o tropeçar e cair de cara no chão.

Me levantei pronta para correr, mas Ares fez o mesmo.

- Sua lesada! – Berrou ele com ódio.

- Imbecil! – Berrei de volta.

- Retardada! – Rugiu ele se levantando.

- Cretino! – Rugi de volta.

- Você só consegue dar golpes baixos, não é? Sua derrotada! – Gritou ele.

- Você só consegue infernizar os outros. Você é mesmo muito detestável, Ares! – Exclamei com raiva.

- Sua...! – Ares tinha levantado o punho pronto para me dar um soco, que provavelmente quebraria todos os ossos do meu corpo de uma vez só, mas então se conteve e sorriu maldoso para mim – Ótimo. Continue. Me incomode até não agüentar mais. Você deve estar se esquecendo de que quando você chegar á Paris, você vai ser minha. Vai fazer o que eu quiser. Minha vingança vai ser bem pior, Kelly. Me aguarde.

- Eu não tenho medo de você. – Disse rangendo os dentes.

- Deveria. – Disse ele.

Ares virou-se e entrou na cozinha. Ainda tinha um grande vontade de bater nele, mas não tinha mais a oportunidade.